
O lugar do medo
Data 02/09/2012 23:29:21 | Tópico: Poemas
| Estou aqui Onde a noite se precipita Líquido como um beijo Leve como o vento Sou a sombra que não vês Numa rua que nunca cruzaste.
Rodopio, como num turbilhão Desloco-me à velocidade do pensamento Mas o pensamento morreu! E agora... O que ainda faço aqui?
Existes tu.. Existo eu... Muitos mais guardam-se ainda Dentro do pensamento que morreu
Além, nada mais existe Só uma utopia Só uma ausência Só um silêncio E então? Para quê?
Para nada! Um vão ser... Um espaço incolor À procura de um espectro E os olhos, onde estão?
Os olhos, esses, redondos, vidrados, num "flow" permanente... Para que lado estão voltados afinal, no momento em que deixas de respirar?
Será que olham para as paisagens inventadas em cartolinas recortadas com formas da natureza? Será que se preenchem das visões cinematográficas de quem foram? Serão ainda capazes de olhar? E o lado de dentro? Onde está o céu azul a enfeitar-te do lado de dentro?
Mas... Há qualquer coisa que persiste Um dedilhar de cores Um frenesim dentro do sangue a fervilhar Um correr de alegria atravessando-se ao tempo A melodia em crescendo a acompanhar-me Um breve sorriso, o Sol a encadear-te os olhos As tuas pernas tão perto das minhas pernas A janela paralela ao infinito Um piano a tocar... e os dedos nas teclas... acorde após acorde E o amanhã, sempre ali, ao alcance de um salto! Mas o salto nunca acontece Onde está o medo. E agora...?
Agora, estou aqui, numa estranha espera Onde a vida se precipita Líquida como um beijo Leve como o vento Sou uma cor que não vês Numa rua onde nunca foste além da esquina dos teus medos. Mas a vida é prisioneira Onde está o medo.
E qual será o lugar do medo?
Pedro Barão de Campos Pedro Barão de Campos Poema retirado do livro de poesia "Intensidade" editado em 2012.
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