
Magistério Primário - Escola
Data 26/06/2012 09:55:43 | Tópico: Poemas
| Magistério
Na Avenida Central, se a memória não falha num edifício altivo, sobranceiro muito encostado à cangosta da palha ficava a nossa Escola - Magistério. Escola dos passeios, escola dos tormentos das festas, dos trabalhos, dos trapos e sessões escola dos cortejos e dos divertimentos que encheu de saudade os nossos corações. Havia a turma A, de meninas gentis de muitas brincadeiras elas eram capazes Havia a turma B, meninas senhoris, tinham por sua conta onze rapazes. No Curso havia ruivas, louras e morenas De toco erguido e de trancinha ao lado, Muito atinadas eram boas pequenas com pensamentos e rabo de cavalo. Não correr nos gerais... e não parar Não conversar no átrio ... e nos recreios... não abrir a janela e espreitar ir a todas as festas e passeios... Estar presente em tudo a qualquer hora não discutir tarefa, nem momentos O nosso curso tão vigiado, embora, até deu namoros, casamentos... Havia cargos e cargos divididos era uma empresa bem organizada Caixa escolar, com quotas e recibos e a malta a pagar desesperada. Era a Irene a Ção Rego, a Idalina sempre metidas em tanta papelada Era a D. Ilda e a Carmo, na cantina entre tachos e panelas escalada. Era a Candida Lima florista a pôr flores nas salas e salões Era a Farinho com as suas mãos de artista a desenhar algarismos e cifrões.
Era a Helena Braga a dar ao pé a chefiar as festas, receções Pois cada festa era um grande banzé comes e bebes e muito foliões. Era o intercâmbio... as cartas recebidas idas e vindas, eram bem censuradas, não fosse às vezes tornar-se repetidas e transformar-se em mensagens amadas. Era a Biblioteca... lembro agora... Só tinha livros que não faziam falta E o Sr. Moreira, com calma sofredora a pedir silêncio e a calar a malta. Era o Sr. Pontes em dias semanais a resmungar com todos por tudo e por nada naquelas aulas de trabalhos manuais em que nem se aprendia nem se fazia nada... Eram as tardes de torreira nas Anexas a vigiar alunos comportados O sobe e desce nas escadas complexas até ficarmos doentes e cansadas. Era a caravana, castigo aterrador eram os pontos terríveis ameaças Eram as aulas sem preço e sem valor e todos nós a inventar trapaças. Era a Nídia alegre e prazenteira a estender com um grito o seu Ao Largo e nós sem dinheiro na carteira a dizer-lhe com um gesto: hoje não pago! Havia a «Escola Remoçada» faroleira Jornal da caserna quinzenal Fernando Soares e Lopes de Oliveira, Gil Duarte, Carmo e Laura Vale. Maria Helena Amaro Inédito, maio 2004
http://mariahelenaamaro.blogspot.pt/2012/06/magisterio.html
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