
Naquele corredor gelado antes da anestesia geral
Data 06/05/2012 00:48:30 | Tópico: Poemas
| Quem fechou a janela dos meus olhos? Hoje só vejo o céu com os olhos dos outros Rezo para ainda sair sangue Quando eu me cortar ao barbear-me
O sonho de todos nós é mudar o mundo Enchendo primeiro a geladeira com dinheiro Depois quem sabe eu tenha tempo pra viver Quando descobrirem alguma doença terminal no meu espírito?
“Deixe o jovem sonhar em ser feliz Daqui a pouco ele descobre algum programa legal na TV Ou alguém jovem, divertido e bonito Que o faça rir dos cadáveres que encontra pelas ruas”
Faço como todas as pessoas de bem Deixo meus sonhos fugirem pelo ralo Junto com os fios do meu cabelo E os últimos Nós do meu vocabulário
Tudo que importa é que semana que vem tem uma festa Não quero chegar lá com o rosto sujo de sangue Nem com pregos nos pulsos Estarei apenas com minhas coroas militares Por ter matado as mães de alguns inimigos E assim serei um herói para todos Um exemplo para as crianças Quem sabe um dia elas também virem assassinos Com seu lugar garantido no céu da sociedade? Ou com seus retratos pendurados Nos altares de alguma universidade? Quem sabe eu não ache alguma blusa bonita Com uma estampa colorida sobre amar o próximo Ou algum slogan imbecil que soe bem?
Sou capaz de cortar os pulsos com a minha língua E já entendi, está tudo certo: Mais importante que o amor é conseguir um bom emprego Só não posso dizer isso em voz alta Pois me mostrarão o sinal vermelho Ligarão para a polícia e eles realmente aparecerão Em todos os meus pesadelos
Não tenho tempo para imaginar desenho em nuvens Posso pedir para o meu computador fazer isso Quando estiver trancado no útero do meu quarto
Comprarei uma camisa nova para disfarçar meu desespero Ou um ingresso para ver crianças serem fuziladas Verei pessoas chorando lágrimas artificiais Tão certas como a vela derretendo perto do fogo
Certa vez perdi a memória Olhei nos olhos dos meus pais sem saber quem eles eram Logo em seguida lembrei de tudo Meu nome, minhas doenças e psicopatias Eu sempre soube que era tudo mentira Uma questão de lembrar minhas falas E os nomes dos outros personagens
Nunca mais me preocupo com a morte Ela ainda nos põe em contato com a nossa natureza E garante aplausos e lágrimas em filmes e velórios
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