
O velho caipira Assuero
Data 21/04/2012 10:08:39 | Tópico: Poemas
| O velho caipira Assuero (Mauro Leal)
Um matuto marcegueiro, meeiro-agregado nos alqueires do meu saudoso e querido avô, o sinhozinho Antonico Leal, em São Mateus, no Município de São Pedro, RJ. Depois do dia na enxada, já noitinha passava troteando com o pangaré ou até mesmo arrastando o inchado e rachado pé pelas estradas à caminho da barraca do seu Atílio indo até à venda do seu Jairo, para suas comprinhas fazer. A tendinha de tudo, ficava encostada à igrejinha, ao campo de futebol que também era pasto pra animal, defronte ao pequeno e antigo Grupo Escolar, lá na rua do fogo, onde o lotação lotado corria batendo a lataria e levantando nuvem de poeira e fumaça negra, sinalizando sua passagem, e seguia deixando a entrada da macega de São Mateus, cruzando o bairro da Cruz e o trevo das Três Vendas, com parada final no Pau rachado, próximo à curva do vento. Lugares humildes de casinhas de taipas de sopapos, panelas de barro, galinha caipira com alfavaca e urucu, traíra, acará, mussum, caruru, mortadela frita, angu, farinha, guando/feijão, carne seca, são as refeições, o gás é a lenha, os aipins, as batatas doces, e as bananas assadas nas brasas, os pães, a rapadura o açúcar, os banheiros os matos e as embiras de bananeiras as limpadeiras.
Sem se desfazer do seu chapéu de palha surrado, da camisa batida, da calça pelo meio das canelas torcidas e do ferramental no jacá sobre o lombo do castanho jacarandá, e com seu semblante abatido e curtido pelo sol no roçado, chegava ao secos e malhados único do povoado, e apressado, estendia e rodava o chapéu, e com boa noti, cumprimentava, e bem rapidinho e com pouco sorriso já a sua lista pedia: seu Jaro, tiem farinia? - tiem. tiem feijão, jaro? - tiem, tiem fubá? - tiem, Eu quero tiambém um pedacinio de carne seca, uma esteira pra di noti se esticar, mortandiela e um lito de querusene pra encher o fogãozinio, a lamparinia e o lampião. Jaro, você tiem esse tudão? - tiem, seu Assuero! seu Jaro, tiem pão, tiem broa, sabão di pedra, bulacha e macarrão? - tiem, Você tiem mantiega, Jaro? - tiem, entião quano chegar em casa já vou já empetiecar os pão na mantiega, é isso mesmo vou pegar o pãozinio lascar e brear e mandiar pra dientro.
Olha Jaro! pra hoje basta, agora a régua passa, mas é pra escrever no cadierno, que diespois no final do megi quando o seu Antonico me dá o meu eu vem cá te acertar o teu, Ah, eu também estou precisado de um chapéu de paia desse aqui, e já vô chegano já, porque é o vento sudoeste que está entrano e o tempo passano e cada vez mais rim ficano, e quando a friagi vem com esse vento soprano forte de lá debaixo das banda do Rio, é ele, o sudoeste bateno, e é cirtinho, é batata, a chuva pra essas bandas aqui de cima não desmorar despencar, e eu já vou querer está em casa, quano começar já o relâmpo e trovão destrondar e começar a chuva arrear pra eu e os meu embruiu não moia, então já me vou, inté manhã, assim despedia dos peões que estavam a prosear com as caras inchadas e empanturradas de tanto pingunçar, e com as pernas bambeando, ziguezagueava, cavaco catava, e por entre a cachorrada cambalhotava pra lá e pra cá a ponto de se acabar.
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