
Como uma lambreta véia desgovernada
Data 14/04/2012 00:20:32 | Tópico: Poemas
| Como uma lambreta véia desgovernada (Mauro Leal)
Uma jovem mulher e mãe no martírio do transporte coletivo, retornava cansada de seu prazeroso ofício de lecionar, adormecida e recostada na lata velha com a cabeça caída, a boca entreaberta e a baba pelo queixo escorrida, não se continha, visto que a exaustão aniquilou as funções de seus sentidos, a tal ponto que os gases explodiam descontroladamente e se propagavam semelhantes aos estampidos de uma véia lambreta desgovernada, assustando a si e aos passageiros que apertados disputavam o espaço ao redor.
De canto de olho, percebendo os rumores de insatisfação e indignação, permaneceu na inercia sobre os braços do Morfeu, como que estivesse "apagada”, até a chegada da sua tão almejada parada.
Envergonhada e com as mãos amareladas, suadas, e geladas, sutilmente contorcia e torcia que o "busão" reto varasse e logo chegasse pra que os retorcidos, espremidos e assustáveis "treques treques, a li não mais disparassem. mas infelizmente ainda estava tão distante, muito adiante, bem alémmmmm, era lá no trinta da sonhada Araquém, e toma-lhes pum, purum, pumpum sem olhar a quem e a ninguém.
Em maus lençóis seu calafrio agasalhou, profundo respirou, concentrou, expulsador trancou, torceu, como que desmaiada permaneceu.
Mas no frear para apear, era o que mais temia, pois pressentia que pelo estado da rodinha enrugadinha ao trono sem coroa não chegaria e que por ali mesmo, nos degraus a guerra perderia. Então ainda na descida da lotação, como rojão de São João, uma inevitável e assustadora explosão, tamanha era a fúria do vulcão em erupção embaraçada e desesperada com a calça borrada na fragrância de buchada requentada, saiu em disparada, atirando feito uma "motoca" envenenada, espalhando as larvas enfumaçadas sobre o lindo brilho da casa sintecada.
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