
Nas mãos de Deus
Data 12/04/2012 10:01:20 | Tópico: Poemas
| Bateu-me a morte à porta e eu abri… Lá fui com ela, doente, em convulsões. Lá fui com ela desamparada e só; longo era o túnel estreito escuro frio e lá no fundo, como o dia a nascer, havia um sol aurora boreal… suspensa sobre um rio. Ficava o corpo nu e a alma estarrecida, lutava em brasa, entre a morte e a vida, enfeitiçada por essa luz que me chamava e ria. Surgiam rostos de formas destorcidas, frio e calor, canções, suspiros, palavras, orações, até gemidos… Deixei para trás o corpo… e lá fui baloiçada em direcção à luz…
Mas, atrás de mim, havia braços grandes laços que prendiam e atavam ao chão a minha alma. Sentia o gelo o peso e a lisura da pedra tumular. Era um corpo sem forma e sem textura a boiar… a boiar… Ao atingir a meta, na luz do túnel longo, alguém gritou por mim, mas, não falei. Tanta gente, tanto choro à minha porta E eu dizia à alma «não estou morta», por favor, não me enterrem que estou viva, só quero apenas encontrar o corpo que perdi…
Se era a Luz de Deus que me chamava, então, eu não quis ir… Só me cansava. Houve um dia em que a luz do Túnel se apagou. Abri os olhos: “- quem sou eu? quem sou?” Não via nada. O corpo não mexia. Mas, a minha alma ciciava: «estás viva!». E, juntas de novo, iniciámos a jornada ao encontro da vida. Hoje, se me perguntam, se sei o que é a morte, eu digo que a morte não existe; a morte é a Luz daquele túnel cheio de brilho e vida… É colocar a nossa alma cansada e dolorida, sem medo e sem adeus, nas mãos de Deus.
Inédito – Maria Helena Amaro Braga – Novembro, 2009
http://mariahelenaamaro.blogspot.pt/2012/04/nas-maos-de-deus.html
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