
Lembrança (Friedrich Holderlin)
Data 10/04/2012 21:44:30 | Tópico: Poemas -> Intervenção
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Sopra o nordeste, O mais grato dos ventos: Grato a mim porque é cálido, e aos marujos Porque promete fácil travessia. Eia, saúda agora O formoso Garona E os jardins de Bordéus Lá coleia na íngreme ribeira A vereda, e no rio Se despenha o regato; mas acima Olha o par generoso De álamos e carvalhos.
Ainda me lembro bem e como As largas copas curva O olmedo sobre o moinho. No pátio há uma figueira. E nos dias de feriados, Pisando o chão sedoso Passeiam mulheres morenas No mês de março Quanto o dia é igual à noite E nos lentos caminhos De áureos sonhos pejados Sopram brisas embaladoras.
Mas estenda-me alguém, Da escura luz repleto O aromado copo Para que eu possa descansar; pois doce Seria o sono à sombra. Também não fora bem Privar-se de mortais Pensamentos, que bom É conversar; dizer O que se sente, ouvir falar de amores, De coisas passadas.
Porém que é dos amigos? Belarmino E o companheiro? Muitos Têm medo de ir à fonte. É que a riqueza principia No mar. Ora, eles Reúnem como pintores As belezas da terra e não desprezam A alada guerra não, Nem desdenham morar anos a fio Sob o mastro sem folhas, onde à noite Não há as luminárias da cidade, Nem dança e música nativa.
Mas hoje aos Índios Foram-se os homens, Ali, na extremidade Das montanhas cobertas de vinhas Donde baixa o Dordonha, Acaba o rio no Garona Largo como o Oceano. Todavia O mar toma e devolve a lembrança. O amor também demora a olhar debalde. O que perdura porém, fundam-no os poetas.
Friedrich Holderlin, poeta alemão, poema traduzido por Manual Bandeira.
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