
Meus versos vão revoltos… (Jose Martí)
Data 07/04/2012 22:37:59 | Tópico: Poemas -> Intervenção
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Meus versos vão revoltos e acesos como meu coração: bom é que corra manso o arroio que em fácil plano entre gramas frescas desliza: Ai!; mas a água que do monte vem arrebatada; que por fundas fendas desce, destroçada; que em sedentos pedregulhos tropeça, e entre rudes troncos salta em quebrados borbotões, Como, despedaçada, poderá logo qual cão de salão, jorrar submissa no jardím podado com as flores, ou em aquário de ouro ondear alegre para o querer de damas cheirosas?
Inundará o palácio perfumado, como profanação: entrará como fera pelos brilhantes gabinetes, onde os bardos, lindos como abades, fiam tenras quintilhas* e rimas doces com agulha de prata em branca seda. E sobre seus divãs espantadas as senhoras, os pés de meia suave recolherão, – enquanto a água turva, falsa, como tudo o que expira, beija humilde o chapín** abandonado, e em bruscos saltos alterada morre!
José Martí, poeta e revolucionário cubano. *: forma poética de 5 versos **: calçado exótico, típico da nobreza Imagem: Estátua de Jose Martí em Havana.
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