
Não me peçam (Pablo Neruda)
Data 07/04/2012 22:25:10 | Tópico: Poemas -> Reflexão
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Pedem alguns que este assunto humano com nomes, sobrenomes e lamentos não os aborde nas folhas de meus livros, não lhes dê a escritura de meus versos.
Dizem que aqui morreu a poesia, dizem alguns que não devo fazê-lo: a verdade é que sinto não agradar-lhes, os saúdo e lhes tiro meu chapéu e os deixo viajando no Parnaso como ratos alegres no queijo.
Eu pertenço à outra categoria e só um homem sou de carne e osso, por isso se espancam a meu irmão com o que tenho a mão o defendo e cada uma de minhas linhas leva um perigo de pólvora ou de ferro, que cairá sobre os desumanos, sobre os cruéis, sobre os soberbos.
Mas o castigo de minha paz furiosa, não ameaça aos pobres nem aos bons. Com minha lamparina busco aos que caem, alivio suas feridas e as fecho.
E estes são os ofícios do poeta, do aviador e do que trabalha na pedreira: Devemos fazer algo nesta terra porque neste planeta nos pariram e temos que arrumar as coisas dos homens porque não somos pássaros nem cachorros.
E bem, se quando ataco o que odeio ou quando canto a todos os que amo a poesia quer abandonar as esperanças de meu manifesto, eu sigo com as tábuas de minha lei acumulando estrelas e armamentos.
No duro dever americano, não me importa uma rosa mais ou menos. Tenho um pacto de amor com a formosura, tenho um pacto de sangue com meu povo.
Pablo Neruda, poeta chileno.
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