
SOUTAMÉRICA
Data 07/04/2012 19:51:19 | Tópico: Poemas
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Na América do Diabo brilha a lua, inocente e bela sem saber que a espreitam espanhóis e portugueses somente por brilhar amarela.
Para trazer Deus aos silvícolas urgem espadas, algemas, arcabuzes bestas de todos os tipos. Cortez, Pizarro e outras delas, com a empunhadura em cruz das lâminas afiadas esfolam ouro nas peles que, dígnas, postaram-se contra a fidalguia esparolada dos cristãos que movem cruzadas ocultando ouro na fé, esmeralda e muita prata.
Em busca do Eldorado devastaram Potosí, Montezuma Ouro Preto. Venceu os índios o deslumbro, não a força ou medo.
A América do demo propiciou, com sua riqueza, o requinte das realezas, que se reerguessem reinos falidos às custas do negro e do índio.
Contraste que emociona o esteta: a morenez do índio o negrume do preto as pepitas amarelas que guardava o chão florindo sobre a terra riqueza de aluvião.
América, açúcar preparando ouro. Negro cativo, índio massacrado, ouro. Ouro abrindo as portas do céu expansionista financiando grandes conquistas. Acumulado na matriz gera empresas, centros urbanos Hércules de potentíssimos neurônios restando a América do abandono.
A América do inferno Édem terrestre de outrora esburacada, vazia, destripada, assesta seus milhões de famintos contra a América do sonho que, herdeira protestante da crueldade cristã espanhola, Escraviza, dizima, espezinha impera, destrói e desola.
A América, herdeira de Espanha e Portugal, ensarilha suas baionetas úmidas arma seus soldados comerciantes com desprezo por quem não lhe é igual.
Da América do sacrifício ouve-se a voz do índio: ‘Pai de todos os pobres, de todos os miseráveis e desvalidos, ajudai-me a fugir de Tinta!’
Clama a voz no fundo da mina. O pai de Todos não escuta clamores, adormecido no seio Inca. Mastigando coca, ouvindo tambores, esqueceu-se dos irmãos da Mita.
‘Pai de todos os tortos, entrevados e opressados nessa liça, ajudai-me a fugir da Mina’’ Clama outra voz no céu de Tinta
Túpac Amaru, para falar aos índios, necessita de língua, perdida em Wacaypata necessita de sua cabeça, em Tinta do braço direito, em Tungasuca do esquerdo, em Carabaya da perna esquerda, em Santa Rosa da direita, em Livitaca. Túpac quer seu tronco lançado em cinzas no Watanay, quer ouvir seus filhos, enviados para o lado direito do Pai. Amaru quer regressar à vida para tirar de dentro da Mita seus irmãos que clamam ajuda contra a força que os executa.
Túpac Amaru, sentado no chão batido de uma tribo no olvido das batalhas chora em Potosi, Zacatecas, Guanajanauto, Outo Preto, Colque, Porto, Andacaba, Huanchaca. Cura as feridas gangrenadas de Atahualpa, do Caribe, dos Maias, Tenochtitlán, Cajamarca, Cuzco, Cuauhtémoc, Guatemala.
Observa, com olhos sulfurados, Colombo, Fernão Cortez, Pedro de Alvarado, fere, com mágoa, a lembrança de Pizarro.
’Ó Pai de todos os mendigos, inimigo dos dueños de la tierra, ajudai-me a fugir dessa América!’ Gane uma voz no sétimo inferno da Mita com os pulmões endurecidos de sílica
Túpac Amaru, sem lágrimas ou ferocidade, abre seus braços de morto que dão a única fuga abrigando, em sua redoma, os irmãos da Mita que rapidamente ascendem aos céus de Tinta.
Os índios centro-sul americanos acolhem-se na morte aos braços da liberdade.
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