
Pipa
Data 14/01/2012 15:59:09 | Tópico: Poemas
| Se a lesta pipa passar em frente, Num dia claro, da tua janela Com franca vista do pôr-do-sol, Estica o braço para pegá-la, Mas não a apare no pleno vôo; Sente a rabiola passar apenas Pelos teus dedos, ligeira e breve, Pois se sustenta no ar tão somente Por brisa e linha fina e volúvel. E se outra vez o acaso do vento, Pela janela do apartamento Em que tu moras, encaminhá-la, Perceba bem que já não há linha Que a leve leve por estes céus, Sem deus ou nuvens a organizá-los; Somente um vento que forte e doido Mexe febril em toda a paisagem E a pipa arroja contra a janela De um edifício que muito lembra Adamastor no silêncio grave Do aço, concreto, viga e fastio. Portanto, deixe que adentre anônima, Sem epopéia, cantor ou fama: Ave abatida, louca avoada, Em desafio contra fachada De mil janelas sempre fechadas, No breve instante de um vento leste.
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