
Nevoeiro
Data 10/01/2012 16:24:45 | Tópico: Poemas
| Nevoeiro O nevoeiro descia na cidade e a Avenida tornava-se num cais, de penumbra e mistério… Então, eu saía pressurosa para a rua e ia tarde fora, a descobrir os vultos que cruzavam comigo estranhos e ligeiros… na penumbra tão nua. Na névoa cerrada da Avenida, deslizavam pessoas como nuvens a tremer, aos pedaços, em estranha corrida. E, eu pensava: - Lá vem, lá vem, agora é um fantasma… um duende…uma fada… uma mulher sem pernas… ou um homem sem braços… Se for uma criança, há de trazer no cabelo caído, uma trança com laços, e um longo vestido…
Lá ia eu a sonhar maravilhas: - é que os fantasmas, os fantasmas vindos no nevoeiro, descem à cidade enevoada, certamente a chorar à procura das filhas… - é que os duendes que moram na Avenida penduram-se nas tílias e dançam em rodopio, sem medo, sem cansaço, sem frio. - é que as fadas que percorrem Braga, vestem de rendas, de tule e de brocados, dançam à roda, à roda, à roda, nas ruas, nas varandas, pendentes dos telhados.
No nevoeiro, no nevoeiro da Avenida, eu encontrava sempre um pouco de mistério, um nada de poesia…
O nevoeiro descia na Avenida… Eu tinha quinze anos! Linda cidade! Amor, sem desenganos! O meu pincel era uma estrela, a rua, a minha tela, e na tarde enevoada e fria, tão misteriosa, escura surgia uma pintura.
Inédito – Maria Helena Amaro Braga, novembro de 2009.
http://mariahelenaamaro.blogspot.com/2011/11/nevoeiro.html
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