
Desgosto de vinho
Data 03/01/2012 19:37:14 | Tópico: Poemas
| Não sei se sou incompetente Ou tentar pôr em versos a minha dor Que é impossível. Confesso que já sofri com Dorian Gray, Já chorei os reveses de Cândido, E sofri com Fausto e Margarida. Aprendi que a literatura é farta de vida E que eu, hoje, estou farto de ambos.
Também tive minha vida fáustica, Vendi minha alma a Deus e ao Diabo, Mas minha Margarida murchou: Secaram-me as lágrimas.
Amei além do que podia, E o que me restou? Agonia, saudade, desespero. Fiz tudo que não podia, Atravessei todo tipo de nevoeiro, Acreditei realmente que conseguiria dobrar o Cabo das Tormentas Para transformá-lo em Boa Esperança... Restaram-me apenas histórias e noites insones.
Restou-me desgosto com minha arte ruim. Restaram-me gosto de vômito e vinho. Restaram-me solidão e fantasmas.
Quero apenas um verso que alivie minha alma, Uma expressão que afaste de mim essa ausência de deuses... Uma imagem que clarifique meus sonhos Como quando apaixono-me por tudo e por todos...
Preciso de imprecisão nas percepções, Versos novos como vida após a morte, Um novo calendário sem datas e dias, Ter a mente límpida como um soneto ingênuo, Sorrir pra mim mesmo, mesmo sozinho.
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