
Pessoa me visitou...
Data 21/12/2011 14:34:41 | Tópico: Poemas
| Pessoa me visitou...
Havia sim, havia dito...
Dito não, havia pensado! (sem saber, tolo, que pensar é mais que dizer) Sim, havia pensado!
Não, não apenas não conheço Pessoa...
Não conhecer é simples, basta-me, para tanto, não tê-lo visto!
Não cria!
Não me era possível, simples assim, que tal gênio existira!
E segui impassível, em pensamento, e afirmando aos quatro ventos, que Ele, que Aquele Poeta, jamais existira...
Eis então, que, sem mais, nem menos, abro a porta!
Não, não a da frente, tampouco a dos fundos que, cá entre nós, jamais existiu...
Mas a de dentro, sim, a de dentro!
Sim, aquela mesmo!
Que ainda sem chave, tranca, lacra, encerra...
Sim, que encerra...
Toda a multidão, confusa e em polvorosa, de sentimentos que nos guia!
Eis que ali, logo ali, está a figura...
Diz-me:
"Eis-me aqui, ainda que amador, (ama a dor), poeta..."
"Duvidas ainda de mim?"
Calo-me, sincera e solenemente!
Digo:
"Poeta... Caro Poeta... Que fazes de fronte à porta? À porta de que jamais, em toda esta breve e longa vida, jamais suspeitara?"
Ele pára, pensa...
Puxa um cigarro!
Ora, Pessoa fumava?
Bom, o meu...
O que me visitou, sim, sim...
Fumava!
Vi o rosto iluminar-se, de repente, ante a efêmera chama...
Seguiu-se um longo, e pausado, diga-se de passagem, trago!
Soltou fumaça e palavras...
"Que sabes tu, patético poeta, de teus sentimentos?"
Calei-me, nem sei como, mais uma vez...
Tive um palpite, que embora arriscado, mostrou-se certo, de que ele, o Poeta, diria mais...
E disse...
"Sabes tu, por acaso, mais de teu amor, que ele de si próprio???"
Da segunda vez, confesso, não foi, sequer preciso que pensasse...
Logo, sem entrelinhas, prosseguiu meu ilustríssimo visitante:
"Achas ainda, que antes e depois de tudo, encerras o que sentes, sem nada dizer, absoluta, e definitivamente, no que escreves?"
Tive medo!
Sim, medo enorme e terrível!!!
De contradizê-lo...
De afastá-lo...
Calei-me...
E aguardei!
Qual explosão festiva, fez-se iluminar, mais uma vez, (outras virão), o rosto do Poeta, ante o puxar urgente, e calmo, de sua boca, meio que abraçando, aconchegando, carinhando, o cigarro!!!
"Ora não sejas tolo!"
Disse-me, penso, em claro tom de advertência...
Escutei-o!!!
"Deixe-os, teus sentimentos, viverem por si!!!"
Poeta, Poeta...
Ouça-me!
É urgente, garanto, que me ouças...
O Poeta, naturalmente, não ouviu...
E prosseguiu:
"Não sejas tolo, perceba, que as palavras, sempre elas, livres que são, nos prendem, acreditem, como ninguém!"
Mas como?
Pensei...
E o fiz, prudentemente desta vez, calado!!!
"Não perguntes, não indagues..."
Respondeu-me o Poeta, calmo e tranquilo, sem saber de meu espanto...
Prosseguiu o Poeta:
"Nada há de saber delas, sempre delas, das cousas, mais que elas, confie, de si próprias!!!"
Comecei, de novo e em vão, a pensar...
Disse-me o Poeta:
"Não penses... Viva!!! Viva e nada mais!"
Segui, por hoje, ao fim e ao cabo, seu conselho...
Não pensei...
E vivi...
Ilitch Kushkov Indaituba 20 de Dezembro de 2.011 - 23:38h
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