
POEMA PORTUGUÊS
Data 01/11/2011 20:08:49 | Tópico: Poemas
| Ao Xavier Zarco, poeta e meu amigo
vejo-te num café qualquer de coimbra a conversar com pascoaes e o'neill mas só as águas do mondego as paredes do mosteiro de santa clara e inês de castro envolta em seu xaile podem escutar o que conversam eu cá tão longe tento apenas adivinhar falam do amor e da morte das viúvas e dos órfãos falam também de um relógio imaginário que ao tempo nunca obedeceu
penso que o mundo parou de girar de repente e as notícias que os jornais tinham prontas ficaram dois séculos mais velhas a verdade pá é que estamos todos mortos e distraídos não percebemos e continuamos aqui à mercê do vinho e da poesia objectos de palavras inúteis que mendigamos como côdeas de pão amanhecido
à tua frente o'neill está a rir-se como que a debochar do silêncio que cruza o arco da almedina à semelhança de uma pomba atordoada que parece voar sem rumo uma mulher que não fazia parte do poema surge aproxima-se de pascoaes e o beija "Com os lábios que a terra já desfez." (*)
(*)Verso do poema Idílio, de Teixeira Pascoaes
_________ júlio
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