
A chegada da caixa de abelhas (Sylvia Plath)
Data 29/10/2011 02:44:07 | Tópico: Poemas -> Introspecção
| Encomendei esta caixa de madeira Clara, exata, quase um fardo para carregar. Eu diria que é um ataúde de um anão ou De um bebê quadrado Não fosse o barulho ensurdecedor que dela escapa.
Está trancada, é perigosa. Tenho de passar a noite com ela e Não consigo me afastar. Não tem janelas, não posso ver o que há dentro. Apenas uma pequena grade e nenhuma saída.
Espio pela grade. Está escuro, escuro. Enxame de mãos africanas Mínimas, encolhidas para exportação, Negro em negro, escalando com fúria.
Como deixá-las sair? É o barulho que mais me apavora, As sílabas ininteligíveis. São como uma turba romana, Pequenas, insignificantes como indivíduos, mas meu Deus, juntas!
Escuto esse latim furioso. Não sou um César. Simplesmente encomendei uma caixa de maníacos. Podem ser devolvidos. Podem morrer, não preciso alimentá-los, sou a dona.
Me pergunto se têm fome. Me pergunto se me esqueceriam Se eu abrisse as trancas e me afastasse e virasse árvore. Há laburnos, colunatas louras, Anáguas de cerejas.
Poderiam imediatamente ignorar-me. No meu vestido lunar e véu funerário Não sou uma fonte de mel. Por que então recorrer a mim? Amanhã serei Deus, o generoso – vou libertá-los.
A caixa é apenas temporária.
Sylvia Plath, poema traduzido por Ana Cândida Perez e Ana Cristina César.
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