[A Cruz Pagã da Solidão]

Data 25/10/2011 04:29:33 | Tópico: Poemas

Meus olhos escavam o vazio,
quase mordo o painel do carro...
Fechou-se agora a noite espessa
no aço frio de cravos duros...

Nos bares vazios,
e nas ruas já desertas,
um blues me crucifica
ainda mais: prega-me,
sem contemplação
e ao som de copos e garrafas,
de vozes sensuais, quentes,
na cruz pagã da minha carne...

Morte, mortificação atroz;
absurda expiação... mas de quê?!
No lugar de onde venho, morreram até
as ervas daninhas, as pragas todas!

Sou um ingênuo mesmo:
levei décadas para aprender
que a cruz era apenas
um divertimento de pagãos;
eu entre eles todos...
_________
[Desterro, 24 de outubro de 2011]



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