
A Morada do Nada
Data 20/10/2007 19:50:02 | Tópico: Poemas
| A morada do nada
(...) fujo para ignorar, mas não posso ignorar que fujo, e a fuga da angústia não passa de um modo de tomar consciência da angústia. Assim, esta não pode ser, propriamente falando, nem mascarada nem evitada. Fugir da angústia e ser angústia, todavia, não podem ser exatamente a mesma coisa: se eu sou minha angústia para dela fugir, isso pressupõe que sou capaz de me desconcentrar com relação ao que sou, posso ser angústia sob a forma de “não sê-la”, posso dispor de um poder nadificador no bojo da própria angústia. Este poder nadifica enquanto dela fujo e nadifica a si enquanto sou angústia para dela fugir. (SARTRE)
Primeiro a brisa, Tocou meu corpo moído, Dos embates, Desfazimentos,
Esfriou o rosto molhado, Das lágrimas vãs.
Depois o vento Agitou os braços vencidos, Das perplexidades cansadas, Secou o olhar, Das lonjuras sonhadas Encarquilhou os desejos, Das noites passadas, Congelou os pés, Das tentativas frustradas.
Então o vendaval, Tirou-me do chão. Vôo sem rumo, Pipa sem linha, Folha flanando.
Nada onde agarrar, Nada!
Só ventania, Só o mar, Escuro, Agonia.
Não há vendaval, Nem vento, Nem brisa.
A água fria, Recebe o que sobrou. Nau sem rumo, Pedaços. Não há moia. Nada sou!
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