
MÃE DA HEROÍNA FILHA DA DROGA
Data 06/10/2011 22:43:48 | Tópico: Poemas -> Droga
| Um olhar sobre tudo o que é belo Uma flor um pôr-do-sol o desenrolar do novelo Vives a vida na forma real Mas não chega e procuras algo especial No fim de contas és dona do teu corpo E o prazer vende-se em cada esquina em cada copo O cigarro é bom mas não chega para sentir o prazer A vida real não presta e ficas cega de querer aprender - Hoje à uma festa queres vir? - Bute aí vai ser ganzar até cair E acabas de nascer numa mãe adoptiva Não queres saber quem ela é mas queres ser sua filha - Que se lixe quem me deu à luz e me viu nascer Pois é bem melhor esta mãe desconhecida que me dá prazer Como é? Hoje não à festa? -Não, a ganza acabou e o dinheiro pouco me resta Mas a tua mãe te chama para mais uma alucinação O dia vira noite e a tua companhia é a solidão E vem um amigo com uma dose de hipocrisia Não interessa como ele conseguiu e vai de fumar mais um dia Acordas com as ondas a bater no teu rosto como setas Com quem dormiste? A quem te vendes-te? Não te interessas E a tua mãe dá-te uma filha a conhecer Já não fumas, agora, é chutar até esquecer Mas tu amas a tua filha e não passas sem ela A rua é a tua casa e a lua a tua vela O dinheiro acabou e ficas na sarjeta da vida Vendes o teu corpo, amas o ódio, e a seringa é a tua amiga Acordas no hospital num corpo sem alma nem proteína Olhas para a janela e chamas a tua filha de heroína E voltas de novo para o mundo de vida morta Gritas o silêncio de uma lágrima perdida de uma calma revolta A tua mãe vem de novo – O que fazes agora? -O que se pode fazer quando a nossa mãe é a droga?!! Mais um dia em que te lembras de esquecer Dos olhares cegos que te estão a ver Das amizades inimigas de um dia de trevas Julgam-te sem justiça por seres o que não eras Chegou a noticia, que mentira fosse Mais um amigo teu, nos caixotes, morreu de overdose Raiva de tudo e de todos que se lixe tudo isto Não sabes para onde ir e a droga é o teu isco Passam-se algumas semanas e decides pôr fim à tua vida Vais até há ponte para acabar com a tua família fingida Um passo na berma as lágrimas correm sem parar Salgando o mar da droga que por tua mãe se fez passar E o salto da morte surge e o dia fica em trevas No silêncio acabou o roubar o prostituir o comer nas sarjetas Mas um aviso dentro de ti te fez acordar para a vida Tua barriga mexia, algo, dentro de ti te deixou confundida O que temias bateu-te à porta que não dava para fechar Mal tinhas dinheiro para o chuto muito menos para abortar
Bates-te na porta da inimiga da droga Pedis-te ajuda há tua mãe biológica Agora tinhas duas filhas para escolher A que te pedia vida e a que te pedia para morrer Chegou o dia de nascer de novo para a vida Fechas-te num quarto e o desejo te consumia Quando saís-te a tua mãe foi te perguntar -Então a tua filha ajudou-te a desintoxicar? As tuas lágrimas da vida te davam as boas vindas A tua filha heroína tinha morrido e enterras-te as seringas Foste ao jardim e pegas-te numa flor Olhas-te para ela e admiras-te o que à de melhor Meses depois nasceu a razão de tu viveres Aquela criança que pedia para amares e não para morreres As tuas palavras foram: -Não sei quem é o teu pai mas sei que és minha filha Nunca te vou trocar por nada desta vida Nasces-te para me mostrar como tudo pode ser belo Uma flor um pôr-do-sol o desenrolar de um novelo Mãe da heroína filha da droga foi o que eu vivi Mas vou estar ao teu lado para te dizer como foi bom quando te senti Obrigado quando te mexes-te naquela ponte Impedindo-me de conhecer a morte.
|
|