
[E de Todas as Horas, a Cinza Fina, Fria...]
Data 13/09/2011 17:18:39 | Tópico: Poemas
| O tempo, esse inexistente que eu crio apenas com o meu olhar, me fez assim: cada vez mais desconfiado do que penso saber, cada vez mais necessitado de silêncios, e cada vez mais perceptivo da inutilidade de falar às pessoas.
O tempo, essa avantesma do meu olhar ansioso e mortal, girando sobre seus circuitos sempre misteriosos, trouxe-me [de volta] um dos sentidos primitivos das minhas mãos: comer... comer com mãos, partindo os alimentos em pedaços, apanhando o bocado simples do meu sustento.
O tempo, essa lubrificação com que o meu olhar faz correr os dias mostrou-me que escrever é lançar cordas sobre abismos, é estender tentáculos sobre a face escura do nada... e para nada! Não há deus, não há ser que me salve de mim mesmo: sou abandono...
O tempo, essa consumição de meu olhar em vazios celestes, trouxe-me [de volta] algo que eu havia perdido: a clara noção de que os desertos não me devolvem a voz, e que a secura de tanto falar é perda, é desutilidade...
O tempo, essa pesada mó, essa máquina infernal de destruir sentidos que o meu olhar tenta, em vão, instituir no mundo, ensinou-me que a solidão é incriada por todos, é vício, ou é destino natural da espécie humana, e só os loucos, os alienados não a sentem!
O tempo, vem do Nada o olho-do-cu desse redemoinho que sopra, eternal, na Grande Avenida da minha infância... O Tempo, implacável ginete desse vento, tem me ensinado que eu só fabrico inutilidades, e que, de todas as horas minhas, só faço cinza fina, fria — os que se aproximam de mim que se cuidem!
[Penas do Desterro, 12 de setembro de 2011] __________ PS. tá bom, tá bom! Se eu não te esquecer, mais tarde eu penso nisto. Por agora, deixa assim!
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