
Grito calado
Data 09/09/2011 23:02:37 | Tópico: Poemas
| Não vou arrancar de ti nenhum fruto que me valha Se tuas raízes fixaram-se no abandono, no descaso. Não vou colher das tuas mãos nenhum gesto de carinho Se na tua desventura amputaram-te a alma. Tenho vertido um choro quente, Um caudaloso rio nascido da tua rudeza, Filho de um fio d’água Saído de uma pedra bruta e insensível. O curioso é que nos teus olhos, No brilho que eles transmitem, Há um quê de amor... Mas não um amor aberto e oferecido, E sim o amor amordaçado, Um grito calado de socorro. Amo-te assim mesmo no meu desespero. Não me desvencilho das tuas amarras, Pois elas garroteiam meu sangue Que pulsa no compasso de um coração que é teu. E assim eu caminho. Pé pós pé. Dia pós dia. Numa desenfreada loucura, Que a despeito do meu sofrimento, Insiste em ser a razão nesta estrada vã.
Frederico Salvo
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