
As Bailarinas das caixinhas de música
Data 23/08/2011 00:58:42 | Tópico: Poemas
| Morro porque os pássaros cantam seus sonhos, E eu simplesmente ouço, Sem ao menos saber cantar os meus, Como se o meu canto Fosse meu repetitivo Destino – Melodia de uma caixinha de música.
Morro, pois não sei morrer, Desfaleço, desfaço-me em letras, Como lágrimas minhas no teu rosto ausente, Lágrimas que queimam a superfície da folha, Acalmando as ondas que não existem em mim Mas que me arrastam até afogar-me em tantas cinzas – Bailarinas caindo da caixinha de música.
São todas palavras não-minhas, Não-novas, Microorganismos vivos Que não-vivem, E que me matam a cada linha escrita, Corroendo-me por dentro dos ossos Até o âmago das músicas que ouço lá fora e em mim.
Morro, morro, morro e ainda vivo.
Não sei cantar meu tutano, Não sei encantar-me com meu não-canto, Não sei cantar meus sonhos: Esses barquinhos de papel que queimo Por ter posto as mãos no fogo Dos teus olhos tão frios Que vejo deslizarem suavemente Na superfície da folha da minha pele em branco.
Os pássaros Esses continuam cantando aqui dentro do texto Nesse infinito tão vago Gaiolas abertas para que não voem Formando figuras que me desfiguram completamente Músicas em uma harmonia desarmônica Deixando-me a sós com o que há de mais verdadeiro em mim, Minha imperfeita felicidade, Minha alegria tão desumana, Minha insanidade tão prazerosa, Gaiolas em chamas para que eu não voe – Rodo com as mãos a engrenagem para ouvir a música. Bailarinas dançando comigo enquanto sonho.
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