
[Cabeça]
Data 26/07/2011 03:58:47 | Tópico: Poemas
| Os meus olhos, extenuados desse meu viver, estão fartos da inexorabilidade dessa roca doida que trama, no giro maluco de um eixo sem tempo, o fio das gerações que me antecederam...
Tento exalar o aperto de uma dor sem nome, dor que soluça, sem saída, no fundo do peito; dor do corte do modo de ser de uma praça onde as coisas, incognoscentes de si mesmas, oferecem-se, plenas de seu tempo, aos meus sentidos.
São formas de uma dureza permanente porém, frágil de tanta humanidade... Sua essência, negada ao imediatismo dos passantes, constrói-se dos sentimentos estéticos que latejam em todos os inconscientes de alguma época —, o visgo da teia dos homens de todos os Agoras!
Porém, incompreendida, incompreensível, a minha cabeça se lança num vôo inútil: e então, o meu olhar pondera que a alguns foi dada pelo Destino a posse dos bens; herdade que usufruem ao gume do egoísmo, no escoar do enredo fútil de suas vidas, na mesquinharia insensível à mão do tempo!
Demoro-me a olhar a praça vazia e penso: a mim — pobre de mim, que dor!— foi me dada essa cabeça... essa maldita cabeça que não aprendeu a usar o saber acumulado para também fruir, sossegada, inconsequente, esse sentido vazio de ter, tão duramente estatelado aos meus sentidos pelas obras das mãos de outras eras!
______________
Da minha coletânea "Cavalos da Noite", ilustrada por Paula Baggio
|
|