
Canção das meninas mortas (Gabriela Mistral)
Data 17/07/2011 11:49:30 | Tópico: Poemas -> Tristeza
|  E essas pobres meninas mortas, escamoteadas em abril, as que surgiram e afundaram-se como nas ondas o delfim?
Onde é que foram e se encontram, a custo contendo o riso, ou escondidas esperando voz de um amante que seguir?
Diluindo-se como desenhos que Deus deixou de colorir, pouco a pouco afogadas como em suas fontes um jardim?
À vezes procuram nas águas ir recompondo seu perfil e nas carnudas rosas róseas quase começam a sorrir.
Nos campos elas acomodam o talhe, o vulto quebradiço. e quase logram que uma nuvem lhes dê seu corpo num ardil.
Juntam-se quase as desmembradas, quase chegam ao sol feliz. quase desfazem seu trajeto recordando que eram daqui.
Quase anulam sua traição e caminham para o redil. e quase vemos ao crepúsculo o divino milhão surgir!
Gabriela Mistral (1889-1955), poetisa chilena, Nobel de Literatura de 1945. Poema traduzido por: Teresa Almeida Pina.
Surreal and Morbid Paintings of Women by Fuco Ueda
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