
CANTO DA MADRUGADA
Data 24/05/2011 23:30:58 | Tópico: Poemas
| Eis me cercado por sombras e fotos antigas Dentro de uma madrugada insolúvel De um lado o desejo, do outro a tristeza De ver o fogo apagado, a chama extinta, A porta fechada, o beijo negado.
As recordações fuçam como ratos famintos Alguns conseguem furar meu crânio E devoram parte da minha existência Do que eu sou a madrugada consome O que resta? Talvez um homem.
Extraio do peito um veneno atroz Na intenção de calar um desejo torto Mas a cada vez que me ouço a voz Sussurra-me do além a voz de um morto
Cerrou a madrugada a sua madre Para que nenhum verso fertilize a musa E nenhum poeta manifeste a sua dor Porém esqueceu que às palavras É dado o poder da imortalidade E aos poetas o sentimento do amor
Eis me cercado por antigos troféus E modorrentas criaturas Que seguram a madrugada Com guardanapos de seda Transformando-a em uma grande sepultura.
Alude a alma ao canto sereno Da última estrela que morreu Prepara a cama com lençol vermelho Para que o canto do galo Sepulte de vez na manhã Esta madrugada doída.CANTO DA MADRUGADA
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