
SETECENTAS LÉGUAS
Data 09/05/2011 17:59:31 | Tópico: Poemas
| SETECENTAS LÉGUAS
Setecentas léguas segui caminho Corri, parei, andei, voei, rastejei... Por terra, mata, rocha e imensidão Faustoso filme de sortidos cenários De poder, fraqueza, nobreza e miséria Chuva e corredeira, poeira e barreira Tortuosidade, feiúra, beleza e exatidão... Viajei ileso por tantas sonoras doideiras De algumas mulheres abundadas de paixão... Chorei por excêntricos gestos desumanos E ri-me a valer junto a uns poucos homens bons... Acariciei crianças sujas e medradas Possuídas pelo terror das coisas da cidade Como quando um raio risca o céu em descarrego Vaguei em longas e perdidas noites de escuridão Deparei com raparigas, donzelas, ditosas e perdidas Dentro delas, natureza em fúria e humanidade Inocência, virtude, malandragem e penúria...
Por mais setecentas léguas percorri jornada De carona, a pé, no lombo da burrada Luzes em postes, fumaça em asfalto Casebres de tapera, bonitos edifícios altos Asseio e sujidade, delícia e podridão Continuavam, à minha revelia, sucedendo-se Viagem estranha dentro e fora do coração Povoados sucumbindo e cidades nascendo Moleques roubando, trabalhando e estudando Eles, de destinos traçados, apenas sonhavam... Dormi em rede. Também em cama e chão Antes do sono alguns oravam, outros gemiam Uns em silêncio sofriam, outros só padeciam... Acordava em dias gelados e mornos, em manhãs candentes Nuns ajudava, noutros atrapalhava, beijava e brigava Ilusões companheiras, amadas dedicadas ou ausentes Trajeto de alegrias e desventuras, prazer e mágoas Pujança da vida em desgraças afortunadas
Hoje preparo valise, corpo, alma e humor Para as próximas setecentas léguas Nunca saberei onde a trilha dá cabo Nem demarquei seu confuso início... Pois se esta velha estrada dá voltas Não reconheço nem o que é recomeço Pois o tempo sempre adultera a paisagem...
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