
Portugal ao contrário
Data 28/04/2011 22:28:15 | Tópico: Épicos
| Como se pode começar Aquilo que já acabou Como se pode acabar Aquilo que não começou Triste fado o fado nosso O fado de um povo triste Que nem a rezar pai-nosso Evita este alegre despiste O de ser ex-povo poeta Porque virou nobre pateta
Ó meu querido Portugal Que me dás o dia inteiro A possibilidade de funeral E todos os dias de nevoeiro De afonsos sem qualquer dom Sem segundos nem penúltimos Porque agora sobes o tom De sermos os primeiros dos últimos Como cantar então a tua glória Se só na derrota cantas vitória
Deste destino não me livro De tanto bruxedo e feitiçaria Narro-te em trovas de um livro Porque é negra a tua magia Desfeito dos teus feitos heróicos Que te dilataram a fé e o império Agora um punhado de paranóicos Armados em heróis a sério Cambada de panascos importantes Que além do mais são praticantes
Já não acredito em querer Que um dia vá acreditar Na fé desse grande crer Que me possas salvar E me faças outra vez de novo Filho de gente que sente Gente de gente, gente do povo Do povo de nação valente E agora vai pior que mal Numa estupidez imortal
Onde raio estão nossos irmãos Para onde fugiram nossos amores A quem dar as nossas mãos Num país de desertores Viraram-se todos ao contrário Fugindo apressados à realidade Montados neste triste cenário Sem esperança na saudade E do amigo ficou o esboço Do inimigo a apertar o pescoço
Ó Portugal da mensagem Já sem rosto de Pessoa De Camões sem linhagem Sem Porto e sem Lisboa Virou fantasma o Viriato Sebastião um morto-vivo O teu povo no estrelato Tua pátria um nado-vivo E já nem o velho do restelo Te idolatra como camelo
Foste castelos de tantas quinas De reis e governantes além-mar E agora hipotecas as salinas Porque te esquivas ao teu mar Foste o senhor de tanta guerra Em busca do além-mundo E agora enterras a tua terra Enterrando o machado bem fundo Que será de ti ó Portugal Que só de besta se faz bestial
Reina e impera a estupidez Governa a avidez e a ganância E de olhos fechados tu não vês Que a tua prol é ignorância Que a votar não vota bem Que a não votar vota mal Porque o voto vota alguém Que não te vota Portugal São votos brancos, votos de chulos São tudo votos, votos nulos
Canto-te assim o fim do império Numa poesia de raiva e dor Que te prova muito a sério O tanto de tão pouco amor E que te vê a desmaiar Em queda tornada coma Num hospício a tratar E à venda na vandôma A Europa desfigura-te o rosto E o teu vinho sabe a mosto
Ó Portugal moribundo A afogar-se à beira-mar Destes mundos ao mundo Sem o mundo nada te dar Vais agora de vento em popa Rumo à morte com certeza Das migalhas fazes a sopa Restos cozidos-à-portuguesa Eis Portugal ao inverso Lagutrop do meu verso
JSL
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