
Deixa que me abisme
Data 20/09/2007 19:17:38 | Tópico: Poemas -> Sombrios
| Deixa que me abisme na falésia íngreme do desterro, que seja sangue putrefacto no mar aberto do silêncio.
Este cansaço com que me deito e que me acordo, este eco a vibrar vazio dentro de mim, esta vontade mórbida de me retalhar em espinhos, nos silvados dos teus e meus caminhos, de morder pétalas rubras de rosas, as que antevejo nas minhas mãos depostas sobre o peito e, amado, num momento de delírio póstumo, ser de ti, elo perdido entre a tília e o jasmim…
Deixa que me assombre e tombe no avesso do verbo em que te inscrevo, no verso pérfido que me degola a fala que me estripa a alma na mais pálida escuridão.
Mas deixa...
E que, no jardim florido desta dor, renasçam cinzas, sílicas, poeiras cósmicas.
Renasçam carícias em forma de forjas e que, em inflamação acesa, tacteie a pele em urdidura indómita, em chagas, nas mais profundas queimaduras, estas que em vida me consomem e me imolam na cegueira que me coabita
… para que me esqueça, amado, quem sou, quem fui, por fim.
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