
CORTANDO O MAL PELA RAIZ
Data 20/03/2011 08:46:47 | Tópico: Poemas
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No saci eu dei rasteira Na sereia pus a saia, Noutra sorte mais ligeira A palavra não me traia, Lobisomem; sexta feira A morena nua, a praia, Caminhando a noite inteira, Vou caindo na gandaia, Da cobra bebo o veneno, No Capeta dei um nó, Na saudade me condeno Encontrando o mesmo pó Que pudera ser ameno, Mas me deixa sempre só.
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Serenata eu fiz para ela E decerto nem me ouviu, Violão quando revela Um ponteio mais sutil, Em São Jorge noutra sela O cavalo que fugiu, Se a verdade não apela Rocim igual, ninguém viu. Atropelo quem viera Na verdade o que se via Muito mais que a própria fera Feita em muita galhardia, Nestas garras de pantera Sem cabeça, a mula havia.
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Dando corda pro enforcado, Num anseio sem igual, Outro sonho revelado, Traz o velho ritual, E decerto consolado Um cenário em funeral, Noutro passo o meu recado Traz deveras sempre o mal, Não me importo, pois com isso, Satanás não quer conversa, Onde seja movediço Todo o passo já dispersa, Dando nó do corrediço, Voador tapete, persa.
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Ansioso por saber Onde possa ter de fato, O caminho a se tecer Nele a sorte hoje eu constato Exaurido de prazer, Noutro tom o que resgato Da ventura de querer, Tendo cheio, sempre o prato, Não pudesse ser assim, Mas se fosse diferente Não havia dentro em mim O que tanto me sustente, Vou correndo no sem fim, Sem ter nada que me alente…
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Engravido a própria lua E parindo nosso filho, A danada continua Com beleza em mesmo brilho, Mas se vejo desta rua, Sem saber de um empecilho Vejo a deusa sempre nua, Com vontade então me pilho. Estrelas diversas vindo Outras tantas com ciúme No caminho mais infindo Já sem nada que acostume, De repente distraindo Confundindo então tal lume.
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Sem ter limo nos meus pés Percorri tantos lugares, E se vejo de viés Procurando nos altares Entre as moças mais fiéis Delicadas, tantos pares, Vejo a vida sem revés Quando tu mal me notares, Vou seguindo sem reforma, Sempre pela bola sete Coração agora informa Da verdade de arremete, Não suporto qualquer norma, Meu amor é canivete.
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De jagunço e coronel Não suporto nem ouvir, Mandei tantos para o Céu Ou pro Inferno divertir, Vou cumprindo o meu papel Sem penar e sem carpir, Da mocinha já sem véu, O prazer a repartir. Mas a vida tem seu preço A razão perde o juízo, Tantas vezes eu me esqueço Do que vivo em Paraíso, E se tanto num tropeço Tombo novo ora impreciso.
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Prejuízo acumulado, Resta pouco, mas prossigo, Tendo a sorte do meu lado Neste Inferno o meu abrigo, Quando o céu é constelado, Na verdade em paz persigo O caminho enluarado, Tatu quer buraco antigo, Mas se vejo no horizonte Este sol duro e raivoso, Meu cenário desaponte, E não quero o perigoso Que decerto quando aponte, Impedisse o doce gozo.
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Quando Iara eu conheci, Indiazinha mais bonita, Coração em frenesi, A verdade sempre agita, E decerto mereci, Esta sorte mais aflita, Caminhando por aí, Sem saber de uma pepita, Garimpeiro sem sucesso Sem brilhante diamante Noutro tempo em retrocesso Nada tendo doravante, Mas decerto eu recomeço Minha sanha me garante.
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Se eu caminho em paralelo Com a sombra de quem quero, Na verdade quando anelo Outro tempo mais sincero, No final nada congelo Boto fogo e nem espero, Meu momento ali eu selo, Mesmo quando seja fero. Nada mais eu poderia Senão isto e na verdade Outro sonho ou fantasia Traz a mesma realidade, E se tente ou deveria, O desejo já me invade.
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Mas perdendo o que carrego Já não pude desvendar Os segredos, quase cego Sem saber onde encontrar, Noutro mar quando navego A incerteza de chegar Se as estrelas já não pego E sequer qualquer luar, Na velhice que aproxima, Dando enfim tanto trabalho, O que fora de alta estima, Agora se mostra falho, Minha sorte já não prima, Virando penduricalho.
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No insucesso acostumando, Já não posso reclamar, Outro tempo bem mais brando Meu caminho irá de achar Devagar eu vou pousando, Não devesse me cansar, Noutra sorte desde quando Aprendi a navegar, O timão perdendo a rota, A palavra não se faz Da maneira que me esgota Mesmo quando sou capaz, O cenário da derrota É deveras mais mordaz.
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O problema é vaidade Disse um grande amigo meu, Não entendo na verdade O que enfim aconteceu, Vaidade? Com saudade Do caminho em apogeu, Vivo noutra realidade, Aí tudo percebeu. Vai idade já passando, Nada mais posso fazer, O gigante desabando Não consigo mais conter, Nos meus pés estou molhando, Como dar algum prazer?
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Nem a sorte que pudera Ser diversa ou mais feliz, Nem milagre na quimera Que deveras nunca quis, O momento destempera Corte o mal pela raiz, Nada mais ainda espera Meu passado? Cicatriz, Desta mula sem cabeça Nem sinal, da sorte rara, Muito mais do que ofereça Nem a lua se escancara, Isso mesmo me pareça A vingança desta Iara.
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Vou vingar este fastio, Já cansado de lutar, Contra tanto desafio, Nada tenho e sem parar, Vou descendo o velho rio Sem saber se existe mar, Noutro passo ou desvario, Este mal vai terminar. Olhando para infeliz Que dormindo já se empaca, No cenário onde eu não quis, Esta de cara de babaca Atacando na raiz, Afiada esteja a faca.
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