
Aos Emigrantes
Data 18/03/2011 21:29:14 | Tópico: Poemas -> Dedicatória
| Saíram da terra prometendo retornar, Sem nunca se virar, foram para a França. Não tinham nada nos bolsos nem na pança, Apenas a ilusão de ricos se tornar.
Quando chegaram ao destino, tamanha Foi a decepção que a saudade os invadiu. Povo maltratado, tratado de vadio, Trabalhaste duro e não caíste na manha.
Alojados em sujos bairros de lata, Sem água, sem luz, sem sequer segurança, Rezavam à Deus com aquela esperança Que caracteriza quem a dor não mata.
Com o fruto do labor saíram da condição De escravos para serem livres de escolha. O homem podia ser mecânico ou trolha, O que importava era fugir à maldição.
Os anos passaram e os filhos nasceram Num meio confortável, de nada lhes faltou. O pai conta como a fronteira ele saltou E como viu o amor pela mãe crescer.
Agora podem voltar todos os Verões Para familiares e amigos abraçar, Defuntos, velhos e doentes visitar; Recordar o rico passado nos serões.
Cada ano sabe a pouco, não dura nada. Na hora do regresso o coração aperta, Deixa todo o ano uma ferida aberta Que não pode curar nenhuma pomada.
Chegam a fronteira começando a recordar A primeira vez que saíram de Portugal, A terra, a fome e o passaporte ilegal. Mais uma vez, comprometem-se em retornar.
Dedico os meus melhores versos aos meus pais e a todo a comunidade emigrante onde quer que esteja. Alguns só sentem desprezo por vós mas acho que vocês são o nosso maior orgulho. Fui emigrante, e de coração, emigrante sempre serei.
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