
A morte absoluta (Manuel Bandeira)
Data 15/03/2011 22:02:05 | Tópico: Poemas -> Introspecção
| Morrer. Morrer de corpo e de alma. Completamente.
Morrer sem deixar o triste despojo da carne, A exangue máscara de cera, Cercada de flores, Que apodrecerão - felizes! - num dia, Banhada de lágrimas Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.
Morrer sem deixar porventura uma alma errante... A caminho do céu? Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?
Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra, A lembrança de uma sombra Em nenhum coração, em nenhum pensamento, Em nenhuma epiderme.
Morrer tão completamente Que um dia ao lerem o teu nome num papel Perguntem: "Quem foi?..."
Morrer mais completamente ainda, - Sem deixar sequer esse nome.
Manuel Bandeira (1884-1968), poeta pernambucano.
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