
UM NOVO PROMETEU
Data 04/03/2011 18:33:12 | Tópico: Textos
| O Teatro clássico era feito em versos, principalmente em alexandrinos. este formato de um drama ao qual chamei UM NOVO PROMETEU, confeccionado em sonetos, creio ser o primeiro da história da literatura, espero que gostem e se tiverem notícias de outras peças desta forma me digam por favor. abraços marcos
UM NOVO PROMETEU
PERSONAGEM
RICARDO – HOMEM DE MAIS OU MENOS 50 ANOS
ATO I
CENÁRIO – A sala de uma casa em fraca luz, década de 80 com pouquíssimos móveis. Um sofá puído e uma estante desarrumada. O que se vê é a janela sempre fechada não dando para discernir direito se é noite ou dia, como se fosse num eterno crepúsculo.
Durante o tempo todo o personagem fala como se alguém o escutasse, olhando vez em quando para a platéia.
CENA 1
A vida se traduz aonde nada resta Somente o que buscara em leda e frágil fresta Restando a voz sofrida embalde sonhadora De quem tanto se fez e quando além já fora
Mergulha no que possa e tenta alguma festa Do medo quando a luz encontra a mais infesta Vontade de vencer a sorte sofredora E nisto se deslinda a luta tentadora,
Não pude ser feliz e nada mais traria Sequer o que buscasse em luz e fantasia E o verso adentra a noite embalde e sem proveito,
E mesmo quando audaz o passo se desfaz Gerando o que inda busca e deixa para trás Apenas o que tento e nem sequer aceito.
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Já nada caberia ao passo mais veloz De quem de uma alegria expressa a louca voz Marcada pelo incêndio em dores mais sutis Deixando para trás o que deveras quis,
No corte que se vê o mundo segue após E tenta sem sentido o mesmo canto, algoz Do marco que pudera em atos mais gentis Seguindo sem defesa apenas por um triz.
O prazo determina o fim de cada verso E nisto se pudesse ainda quando imerso Nas tramas deste engano apenas contumaz.
Vestindo o que me coube, apenas um bufão, Olhando para trás sem rumo e dimensão, O pouco que inda sobra o tempo ora desfaz.
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Amigo me perdoe, estúpido poeta Que tanto falastrão gerara a mais completa Insensatez e atroz bebesse este vazio Aonde o que inda possa espúrio desafio
Marcando o que inda tenho e nada mais repleta Nos ermos da esperança apenas mera seta, E nisto o que pudera atravessando o rio Imerso neste passo ainda que sombrio,
Reveste cada engano em ledas farsas, sonho. E no final do dia o que trago e decomponho Gerasse tão somente a ausência de outro porto;
Embora sem saber dos dias que virão O todo se desnuda e sem a dimensão Do quanto imaginei, prossigo semimorto.
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Não pude acreditar e nem mesmo o quisera Sabendo desta vida em luta amarga e fera Galgando imprecisões e nada mais se vendo Somente o que se fez apenas o remendo,
O mundo se pudesse em voz clara e sincera Marcando o quanto vejo em noite mais austera, Depois de caminhar em rumo tão horrendo O verso sem sentido aos poucos recorrendo
Do infausto sonhador em leda temperança A vida sem sentido invade e já me alcança Brumosa noite escusa em meio aos temporais
As rosas que busquei, mortalha em duro estio, O tempo se anuncia e nele o corte espio E vejo tão somente o mesmo tom: jamais.
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Angustiadamente o quanto se percebe Sem nexo ou sem proveito em cada dura sebe Vestindo a hipocrisia e nada mais tramando Somente o mesmo passo atroz enquanto infando,
E o vento em minha face, amor teima e recebe. Mas quando da ilusão sem nexo agora bebe O verso se presume e tenta anunciando Um rumo em desvario e sempre desabando
Depois do mero caos em noite tenebrosa Ousando em duro espinho adivinhar a rosa Ecoas sem saber o quanto dói em mim
Viver o que inda possa e ter além do fim O mundo mais sutil ou mesmo em plena paz. Sabendo o que me espera: a mão de Satanás...
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O verso sem juízo invade a tempestade E bebe o que inda resta, ao menos liberdade E nada do que possa ainda se apresenta Vencendo a vaga noite imersa em tal tormenta,
Voando muito além do quanto queira e agrade O mundo se anuncia e nele a ansiedade Enquanto se decifra o todo que alimenta A morte noutro passo e nisto me apascenta.
O prazo terminando e o canto sem proveito Toando dentro da alma o quanto não aceito E mesmo redimisse enganos costumeiros,
Apresso cada passo e busco os derradeiros Momentos onde eu possa agora ser feliz Deixando para trás o quanto o contradiz.
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Nascendo nas Gerais em meio ao desafeto Prenunciando a vida aonde me depleto Nos ermos mais banais desta alma solitária Viceja outro jardim na noite imaginária.
E quando noutro rumo o passo ora completo O sonho determina o prazo em ledo veto, E nada mais pudesse a sorte solidária Sabendo do que resta em noite amarga e vária.
Mas tendo na esperança além da mera sombra Que tanto quanto ajuda às vezes nos assombra Encontro o meu caminho imerso noutro engano,
E sei do que pudera e quando assim me dano No pranto sem sentido e o tempo sem provento Esqueço o que sofri; ao menos isto eu tento...
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A vida em sortilégio expressa o que inda tento E brindo com meu sonho ao claro provimento De quem se fez além de mero desencanto E tramo novo dia embora em vão quebranto,
E quando me aproximo e nisto agora invento O prazo se extermina e sigo contra o vento Depois do que viria e nada além do canto Regendo o pensamento e o fim ora garanto.
Não tendo o que pudesse ainda me acalmar O medo se apresenta após raro luar Deixando como herança um raio mais sutil,
Porém inutilmente o todo se prevendo Ousando ser bem mais que mero e vão remendo Do quanto desejara e nada mais se viu...
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Deixando para trás as tantas inclemências Porquanto acreditar além das penitências Gerasse no meu sonho a rubra fantasia E nela o que pudesse e mesmo até teria
Erguendo sem temor a vida em ingerências Diversas do que trago em lutas, consciências Matando o quanto vejo em leda alegoria E nada mais se vê; apenas a agonia.
Pudesse até voar e fosse bem distante Do quanto se desenha e nada mais garante Na imensa liberdade em canto ou esperança;
Porém quem tanto quis e nada conseguira Expressa a realidade enquanto a vida gira E tanto que quisera, ao fim pára e se cansa.
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No prólogo da vida a peça se encenando Em rumos mais sutis e nisto desde quando O todo não pudera em expressão diversa Falar do que em verdade o tempo desconversa
Castelo de ilusões? Percebo-o desabando E o vento noutro rumo aos poucos entornando O quanto se quisera e agora se dispersa Enquanto em pesadelo a sorte nega e versa.
Resulto deste vão e nada mais teria Senão este caminho em busca da alegria Utópica senhora, em luz ou na penumbra
E o quanto se quisera a sorte mal vislumbra Deixando para trás a luta sem final, Vestindo esta esperança em rústico sinal...
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Acordo e nada vendo além desta geleira Que tomando a janela expressa a derradeira Vontade do que fora e nunca mais voltara Deixando eterno inverno em toda esta seara
Matando o quanto pôde a sorte verdadeira E nem sequer presumo ainda uma lareira, Somente a solidão e nela se prepara A morte a cada ausência e a luta não prepara
Apenas diminui a chance de quem sonha Numa expressão mordaz, atroz quanto medonha Vestindo na medida a justa sensação
Do fim que se aproxima em clima dolorido E o quanto inda me resta, ao fim de tudo olvido E bebo sem sentido, a viva podridão...
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Ausente juventude e a noite se transborda E nada do que pude ainda segue à borda Do sonho mais feliz que nunca fora meu E o que deveras trago aos poucos se perdeu.
Minha alma solitária estúpida recorda Do quanto imaginara e nada mais acorda Somente a dor do vento e nele o imenso breu Gerando o que tentara e há tanto se escondeu.
Pousando mansamente em sonhos noutro cais, Esqueço num instante os rudes vendavais E bebo da esperança, espúria companheira
E o verso sem sentido e mesmo em dor e tédio A vida se presume e mostra sem remédio E pelos dedos sinto enquanto além se esgueira...
CENA 2
O mesmo ambiente, o personagem está de pijama, sentado no sofá e se vê jornais jogados pelo chão da sala.
Quem sabe a morte seja a sorte que prometes As gotas desta chuva atrozes canivetes. E neste vil cenário o rumo se desenha, Ainda que eu pudesse em leda brasa e lenha
Tentar seguir o passo; a sorte comprometes E deixa para trás as dores quais vedetes Da festa que ilusão ainda que a convenha Encontra num resumo o quanto não mais tenha.
O tempo não prepara e traz a velha queda E o pranto noutro pranto aos poucos já se enreda Deixando no passado apenas a ilusão
Restando dentro em nós a verdade cruel E dela o que anuncia expressa o seu papel Matando sem sentir os dias que virão.
Porquanto a vida fora espúria e sem juízo Na solidão que adentro e sei quanto matizo Os bares noite afora, um pária e nada mais Expresso o que buscasse além dos temporais;
Acumulando enfim diverso prejuízo E nada mais pudera ao ser sempre impreciso Braseiro da esperança, em dias desiguais Responde no final, em mesmo tom: jamais...
Um dia a mocidade ou mesmo o sortilégio Gerasse noutro encanto um tempo em privilégio E o vago deste sonho encontra o fim de tudo.
Negaceando o passo em volta do vazio E quando sem sentido algum deveras crio Apenas se apresenta o quanto desiludo...
Em noite mais bravia a sorte desandara E quanto mais dorida a vida atroz e amara Traçando sem proveito o verso mais sutil, O mundo desabando aonde o vão previu.
E nada do que possa agora se prepara Vencendo em destemor a sorte que se ampara No corte mais dorido e sei decerto vil, Deixando para trás o todo que não viu
Senão a tempestade e nela o que se espera Apenas o vazio em bote da quimera E o prazo determina o fim de uma ilusão
Quem dera ser feliz, ou mesmo acreditar Que em meio à farta bruma ainda algum luar Trará em turvo olhar, ao menos um clarão.
Perder o que se tem, decerto é dolorido A vida perde o chão e o tempo dita o olvido E resta tão somente o fim que não previra Traçando a tempestade aonde adentre e fira.
Porém o que hoje sinto em passo resumido Não traz esta verdade e toma este sentido, O prazo que findara, apenas é mentira A Terra ora caminha e sei do quanto gira,
Mas quando na verdade o fim fora mostrado Bem antes do começo e dele não me evado Vestindo a carapuça em lágrimas, terror.
Aonde não sentira as tramas de um amor Acordos entre nãos e mortes tão somente O quanto se anuncia e sei que se apresente.
Cena 3
Uma claridade bruxuleante adentra o mesmo cenário.
Da lua e dos sertões, imagens distorcidas- A seca de minha alma ainda dita as vidas E nelas o que penso ou mesmo poderia Não mais me permitindo o sonho e a fantasia.
Do quanto em vendaval as horas resumidas E delas o que vejo em noites consumidas Na busca pelo cais que nunca mais veria Felicidade? Eu sei... Apenas utopia.
Mas quando se presume o fim sem qualquer chance De ter noutro momento a paz que nos alcance A dor se multiplica e gera o imenso caos.
Os dias sem proveito e neles outros graus Vicejam no vazio ainda que se tente Mudar o descaminho, atroz e imprevidente...
O fim se aproximando; e nada mais consigo Somente o quanto é rude a vida em desabrigo E tento caminhar lutando contra a fúria Da vida sem proveito e mesmo em tal lamúria
O canto se apresenta e nele outro perigo O verso sem segredo o mundo onde persigo E embora se anuncie ao fim tanta penúria A luta se aproxima e nisto a velha incúria
De quem se fez poeta e tanto quis o brilho, Sabendo a solidão que agora em vão palmilho Expresso o que não veio e nunca mais virá
Tentando descobrir o mundo desde já Diverso do que a vida apenas me traria Matando o que restasse ainda em fantasia.
O caos de quem se fez em noite mais brumosa Enquanto a sorte vem e nisto se antegoza A morte em solidão e nada mais se visse Senão a mesma dor e nela esta tolice
Deixando a minha estrada espúria e pedregosa Matando em tanto espinho a amena e bela rosa, O prazo determina além de uma crendice Vagando sem sentido aonde se não revisse
Sequer uma esperança, ou mera juventude, E tanto que pudera ainda quanto ilude O velho sonhador sem eira, beira e cais,
Acende-se a fogueira e nesta mansa frágua O todo que viera, agora em vão deságua Traçando apenas isso: anseios desiguais.
Meu medo se anuncia após o que não veio E sei do que pudesse e neste vão receio Anseio sem saber o quanto ainda resta Da vida sem sentido ou mesmo atroz, funesta,
O canto que se fez em ledo devaneio O prazo que termina e nisto outro permeio Gerando do vazio além do que se empresta Matando pouco a pouco e sei quanto detesta.
Não tive qualquer sorte e sei do destempero O mundo sem caminho expressa o desespero Deste que fora aquém do quanto desejara,
A luta cansa e mata e nada mais se vendo Senão a mesma face em tom diverso e horrendo Abrindo no meu peito; imensa e funda escara.
Espectro de um passado ainda me rondando E o tempo modifica? Apenas duro e infando Meu mundo se perdera em bares e sarjetas As sortes mais gentis, somente são cometas,
E quando noutro caos o todo transformando A luta sem cansaço, o amor em contrabando E ainda quando em riso o que ora me prometas Prepara; a vida em dor, somente tais falsetas.
Não posso mais negar o quanto desejei Tentando adivinhar diversa e calma grei, Porém mera ilusão e nisto o que se vê
Não deixa que perceba ainda algum por que Ou mesmo novo rumo em senda confortável, O todo que sonhei? Alheio e degradável...
(Um ruído seco se escuta ao longe)
Escuto a voz do tempo e nada mais o cala A morte se aproxima e toma inteira a sala, O verso sem proveito, o canto desvalido E quando só me deito, o todo enfim o olvido,
Porém a solidão ao ver alma vassala Não deixa mais a paz e quanto mais escala Andaimes da lembrança ausente algum sentido O corte se aprofunda e ao nada enfim regrido.
Espectros do passado, ou mesmo a mera ausência De uma esperança toma inteira a consciência E mata o que pudesse em expressão sutil
Dizer do quanto quis e o tempo repartiu Vagando sem destino em vida virulenta Quem sabe esta mortalha, ao fim já me apascenta?
Falar do amor? Mas, como... A vida fora ingrata E nada do que tento a sorte em paz constata Invisto o passo quando a luta em tal contenda Não traz o que inda queira ou mesmo se desvenda
A mão que se anuncia a mesma que maltrata E traz a imensidão aonde a dor retrata No prazo que se quis amor conforme lenda Perdido em descaminho, a sorte sem emenda,
O nada após o nada e o fim ditando o tudo, O canto que inda venha; imerge enquanto iludo O coração sombrio e até mesmo patético
Resumo do que outrora ainda quis eclético E vejo se perdendo em tramas desiguais Deixando como rastro os dias mais venais.
(levanta-se e dirige à platéia)
Platéia? Para que? A luta se desenha Sem nada que aproveite e mesmo o que contenha Expressa a solidão de um vago marinheiro Num mar onde pensara apenas mensageiro
Do todo sem juízo em clara e mansa ordenha, Porém a mendicância alcança quem desdenha Da sorte mais sutil, no verso derradeiro Matando o que se viu, qual verme em hospedeiro
Rascunho da esperança, o verso sem proveito E tanto quanto pude ainda ser aceito No tempo mais fugaz ou mesmo imaginário,
O canto se anuncia e traz feito um corsário O pânico a quem tenta apenas calmaria E sabe muito bem, que enfim nunca a veria.
Perdoe se desnudo a face mais vulgar De quem pudesse além apenas caminhar Sem tanto vão tropeço em paz e calmamente Ainda quando muito o sonho ora se ausente
E deixe sem sinal algum o que expressar No pranto derradeiro aonde sem luar A luta se moldara e nada mais consente Quem tanto quis o dia em tom iridescente.
Nas ermas ilusões, apenas o vazio E quanto mais reluto, em vão, pois desafio O verso sem proveito, a noite em vaga luz
O quanto que pudera ainda sem descanso Demonstra este sombrio espaço aonde avanço, E sei da sorte feita em tédio, medo e cruz...
Quisera ser diverso em verso e dia a dia No tanto que pudera a vida me traria Apenas a verdade e nada mais ou menos Dos dias entre sonho ou passos mais amenos.
Seria no final a amarga fantasia Que tanto fere atroz e marca em utopia Fazendo da esperança os duros vãos venenos Tentando do bem pouco; instantes quase plenos.
Mas sei do quanto é rude a vida de quem ama E nisto o que pudesse além da mera chama Viver em fogaréu ou mesmo em clara paz,
Agora no final, apenas não compraz Quem tanto quis o brilho e nada mais se vira Somente a luta atroz expressa em vã mentira.
( senta-se novamente)
Durante muito tempo ainda acreditei No amor como se fosse a sorte imensa, a lei E o verso se mostrara em tom bem mais gentil, Castelo de ilusão, aos poucos me traiu
E o que pensara ser quem sabe mesmo um rei Agora se anuncia aonde não terei Sequer outro caminho, ainda quando vil, Vagando sem saber do quanto se previu
Jogado neste mar imerso em solidão, O verso se aproxima e dele se verão Ausências mais sutis e o nada dita a voz
Do quanto se queria, ou mesmo logo após Naufrágio da esperança o canto sem provento, O medo se anuncia imenso e torpe vento...
Já não pudesse mais vencer os meus enganos E sei que acumulando a vida em tantos danos Resumo cada verso em sonho e nada mais, Ainda quando vejo o quanto vens e trais
Não tento caminhar em ermos desumanos E nem modificar da sorte os duros planos Restando apenas crer em dias desiguais Deixando para sempre os cantos magistrais
Se a carne dilacera e nada mais permite O verso se anuncia e sem qualquer limite Embarco no vazio e nada mais possuo
O quanto solitário um dia quis ser duo E trouxe esta mentira a mais em sofrimento, Cansado desta luta, agora nada tento...
Cena 4
Mesmo cenário. O tom se obscurece um pouco mais e se houve o vento assobiando fora da casa, mas a janela continua fechada.
Ah! Noite sem estrela, apenas turbulência Da vida sem sentido em louca penitência Vagando noite afora ocasionando a queda Apenas ao sombrio o passo se envereda
E o quanto se quisera em nova providência Matando em nascimento ou trazendo a demência A quem se tanto quis agora a sorte veda Marcando o quanto trouxe em podre e vil moeda.
Jamais pude entender o sonho em esperança, Pois sei que a cada dia o fim sempre se avança E toma plenamente o que quisera crer
Na turva escuridão, buscar o amanhecer? No olhar de quem sonhasse eu vejo algum farol, Mas sei quanto é distante o dia em belo sol.
Liberto cada espectro em leda fantasia E sei do quanto posso e nada mais teria Senão este vazio aonde me adentrara Marcando com temor a leda e vã seara,
O corte se apresenta e não mais me traria Sequer o que procuro e mesmo até queria No quanto a cada queda a sorte desampara, Deixando sem sentido a senda que quis clara,
E navegando ao léu no carrossel das dores, Aonde com certeza eu sei que já propores Vestir em ilusão meu passo em rutilância,
Porém aumenta assim a imensa discrepância Do quanto pude e tenho e o todo que busquei Tornando sem sentido a turva e opaca grei.
Não pude constatar sequer uma esperança Após a minha vida em meio ao nada Depois do que tentara apenas a alvorada O canto sem proveito ao fim ora se lança
E trespassando o peito, a solidão em lança Deixando para trás a luta desenhada No quanto se aproveita da sorte emaranhada Nas tramas do vazio aonde o verso alcança.
Sombrias noites vejo e delas cada verso Expressa o que em verdade apenas mal disperso E vendo sem caber o quanto pude crer
No tanto que inda resta ou mesmo conceber O canto sem proveito e o fim se aproximando Marcando o que se fez em ar duro e nefando...
Cadenciando a vida, um dia imaginei Vencer o descaminho embora fosse a lei Mais costumeira e rude aonde o nada tive Semente do passado e nela me retive.
E caprichosamente o todo que busquei Expressa a solidão e nele mergulhei Ainda quando em dor a sorte mal convive Trazendo o que somente agora já me prive
Do verso e da alegria, embora nada veja Somente o que pudera e quando em malfazeja Verdade sem sentido e mágoa sem razão,
Os dias que puder e neles se verão Ausência de esperança ou mesmo em amplitude O quanto desejei e sei que desilude...
( dirige-se à platéia)
Perdoe a persistência em verso sem proveito Da vida que decerto ainda dita o leito Do velho sonhador embora sem saber Do quanto se anuncia ou marca algum prazer,
No vento onde se entranha o rústico que aceito Talvez a morte seja o derradeiro jeito E nela o que se cresse ainda possa ver No caos após a queda o fim em desprazer.
Gerando dentro em pouco apenas tempestade O mundo em ilusões deveras já se evade E marca com terror o verso mais sutil,
Ainda quando o quis, o todo não previu Sequer uma saída ou mesmo em alegria Senão esta mortalha imensa em agonia...
Apresentado à dor enquanto fosse assim A vida que pudera esvai e toma o fim Marcando em nebulosa a noite sem progresso E nisto o quanto quero ainda em vão confesso
Tentando descobrir as flores de um jardim Há tanto amortalhado ou morto dentro em mim, E sei do que percebo em luta e retrocesso Vestindo o quanto pude e em cada passo meço.
O rumo desta história apenas se perdendo No tétrico caminho e nele em dividendo Potencialmente a queda e dela sei do nada
Invisto cada sonho e tento a caminhada Em meio ao que inda vejo e sei do final quando Meu mundo sem sentido; o vejo desabando.
Insisto, mas sei bem do quanto nada resta Sabendo aproveitar a mera e leda fresta Por onde poderia ao menos ver a sorte Diversa da que trago e tanto desconforte.
Ainda que pudesse a vida já não gesta Sequer a fantasia audaz e mesmo honesta Marcando com ternura alguma o duro norte Prepara a cada instante apenas para a morte.
Nefasta imagem vejo e nada mais me abriga Somente a solidão, embora turva amiga Esqueço o que vivi apenas por instantes
Sabendo desde já o quanto mal garantes Vencido caminheiro em busca da esperança Quem tanto procurava agora enfim se cansa...
( o barulho do vento aumenta paulatinamente e o personagem retorna o seu olhar para o vazio)
O vento explode e traz consigo o sofrimento Um náufrago somente ainda busco e tento Sentir os pés no chão e sei que não terei A sorte de seguir em paz a mansa grei,
Meu verso se completa em puro desalento E sei do que pudera enquanto esteja atento, Mas nada do que entranha a vida moldarei Quisera a sensação que nunca mais verei
Do tempo em plena paz ou mesmo mais suave E quando na verdade o verso em dor agrave O pranto, busco aonde o templo em raro altar
Trazendo o quanto pude apenas desenhar Na sórdida expressão sem rumo e sem sentido Enquanto o verso atroz somente o que lapido.
Através da janela a imagem do meu sonho Morrendo pouco a pouco, em passo que medonho Expressa tão somente o quanto me restasse Mostrando sem sentido a dura e amarga face
Do preço que se paga enquanto mal componho O tempo sem destino e sei quanto enfadonho Ainda que decerto o prazo não findasse Regresso do vazio e bebo o que marcasse
Em carne viva a vida, apenas sem sentido E o todo sem destino enquanto mal olvido O verso em tom cruel atroz realidade,
E o prazo determina o quanto ora se evade Do manto já rasgado e mesmo inutilmente O que mais desejara ao nada se apresente.
Pergunto a quem quiser ou mesmo por clemência Ainda me escutasse à luz da coincidência O quanto se desenha em tom surdo e venal Deixando como herança apenas temporal,
O medo se transcende e gera a imprevidência A luta se anuncia e dela a consciência Rasgando o quanto pude em tom consensual Vestir da hipocrisia um gesto mais banal,
E sei do que decerto a vida não prepara Deixando a cada passo apenas esta apara E quando penetrando a pele de quem sonha
A chaga que anuncia embora tão medonha Talvez seja o que reste a quem se fez aquém Da luta sem sentido enquanto a morte vem.
( De novo se dirigindo à platéia)
Convido-te a brindar, um gole ou pouco mais Embora no final; eu sei quanto me trais, E canto sem razão a luta onde se avança Deixando no passado a mera temperança
E quando se anuncia a vida em ermos tais Os dias que se vêm decerto são mortais E trespassando o sonho, apenas esta lança Tentando acreditar no fim numa mudança.
Mas todo o meu anseio expressa a solidão E dela novos cais deveras não verão Saveiro mansamente após a tempestade,
Naufrágios que conheço e sei do que degrade Matando sem defesa o sonho que me deste E agora o que me resta expressa a dor e a peste.
Já não me caberia ousar em novo canto E sei que se aproxima apenas desencanto Depois do novo dia em luz turva e diversa Meu passo sem sentido ao teu teimando versa.
E quantas vezes fui apenas o quebranto O fim do sofrimento? Eu sei que não garanto. A vida se renega e nisto desconversa Ainda quando muito ao fim já se dispersa.
Semeio a tempestade e bebo o vendaval Apenas para a morte ao menos um degrau E nele se vislumbra o ocaso da viagem,
E quando no horizonte encontro a paisagem Em trevas, nada mais, o tempo se anuncia Num traço mais voraz em dor e em agonia...
( volta o seu olhar para o nada)
Espectro do passado ainda me atormenta E traz em frenesi a vida tão sangrenta Enquanto a paz tentara em nova provisão Da sorte mais audaz ou mesmo em dimensão
Diversa da que vejo e não mais apascenta Quem sabe muito bem da sorte violenta. E embora sem sentido, os dias que virão Deveras sem caminho envolto em solidão
Restando muito pouco ou mesmo quase nada Da noite que julguei um dia enluarada, Cansado desta luta e nela sem proveito
O quanto desenhei e sei que quando deito Fantasma do que outrora em vão a vida lança Matando o quanto resta ainda de esperança.
Jamais pude viver ao menos o sorriso De quem ao desejar pudesse mais preciso O passo sem sentido imensa tempestade E nisto o que se vê apenas desagrade.
O mundo em tal tormenta enquanto ora matizo Meu verso solitário e nele o mais conciso Cenário se traduz além da realidade, Cruel e desvalida exposta ao que me invade.
Não pude acreditar nem mesmo em novo tempo A vida se expressando imenso contratempo, Verdugo de mim mesmo, o canto se resume
E tento acreditar ainda em algum lume, Mas sei desta sombria e imensa solidão Tornando o dia a dia atroz, sem solução.
Ousasse ser feliz enquanto mais provável Caminho se anuncia em tempo ora intragável Vestindo em ironia o quanto se quisera Depois de atravessando a sorte atroz e fera.
O quanto da esperança agora indecifrável Marcara o quanto quis em noite indisfarçável Seguindo o descaminho em luta mais sincera Deixando sem sentido a sorte noutra esfera,
O canto sem proveito e o mundo sem juízo, Das vendas da ilusão apenas prejuízo E o prazo terminando expressa o que não veio,
Resulto deste caos e sei do quanto alheio Meu mundo me traindo esgota alguma luz Deixando para trás cenário que eu propus.
Encontro tão somente as marcas do que fui Depois de tanto tempo, ainda a dor influi E gera sem sentido o passo aonde tento Vencer o quanto pude e sei do desalento,
Ainda quando muito o canto não conflui O todo que desejo aos poucos queda e rui Deixando como marca apenas sofrimento E nisto o quanto tenho expressa este lamento.
Enfrento o dia a dia e nada mais se vendo Somente este retrato e sei o quanto horrendo O mundo na verdade expondo cada estorvo
E quanto mais crocita a noite feito um corvo Presságios tão sutis em morte ou tempestade Negando uma esperança aonde o vão invade.
A vida se pudesse ainda me trazer A sombra do que fui envolto num prazer Ainda que talvez somente imaginário Mudasse num instante o velho itinerário
E o corte se anuncia aonde eu possa ver Restando dentro da alma algum mero querer E nada mais vencesse o risco temerário De quem se fez feliz ou mesmo apenas vário,
Não tento acreditar na redenção de um sonho E quanto mais mergulho, em vão eu me proponho Na luta que não cessa e dela tento o encanto,
Porém o que se vê traduz velho quebranto, E o frágil sonhador envolto no vazio, Ainda quando muito a solidão recrio.
O vendaval espalha as cinzas da esperança E quanto mais atroz em vão a vida lança O mundo que eu quisera e agora já não há Nem mesmo a menor sombra e sinto o que virá
Em tanta tempestade o quanto sem pujança A vida traiçoeira explode em tal vingança Marcando o quanto resta e sei que inda trará O todo que deixei aqui ou mesmo lá;
Meu verso inutilmente ainda busca a paz E sei da solidão enquanto o nada traz Somente esta desdita em dor e turbulência
Ainda quando bebo a amarga consciência Da vida inutilmente envolta no vazio E opaca fantasia o quanto em vão recrio.
Tentando acreditar no dia que não veio Seguindo neste ocaso em dor e devaneio. Incauto camarada a sorte não traria Sequer o quanto possa em nós a fantasia.
O mundo sem juízo o corte em vão recreio Persisto e me encontrando aquém e mesmo alheio Não vejo nosso amor qual fosse uma utopia. Sabendo que ao final, mera melancolia,
O canto se espraiando aonde o nada existe O olhar imaginário agora vejo triste E nada que se fez permite acreditar
Num rastro magistral envolto num luar, Somente esta semente aborto inevitável No solo da esperança atroz e nunca arável.
Das trevas escoltado ainda pela dor Vencido sem destino. Olhar dita o pavor E nada mais se visse além deste sombrio Caminho aonde tento e mesmo desafio
Ultrapassar o medo, embora em tal andor A sorte se desenha em luto e desamor, Não tendo outro caminho, apenas já desfio O tempo em verso rude e sei do quanto esguio.
Reparo cada estrela e sei que não terei Sequer a menor sorte nada dita a lei Do caos que mais sutil apenas a lembrança
Do amor que tanto quis e nunca mais teria Vestindo esta tormenta imersa na agonia O rumo tanto rege o passo que ora cansa.
Não pude acreditar apenas no que vejo E sei do meu caminho em luto e malfazejo, Cabendo muito pouco a quem quisera mais Sobrando tão somente em rudes vendavais
O medo sem sentido e a luz onde prevejo O fim da dura vida; em tétrico trovejo E o prazo se findando ainda em dias tais Sem rumo e qualquer nexo imerso em tons venais.
Pudera acreditar num ato consistente, Mas nada do que vejo ainda se apresente Somente a morte em vida e o canto sem proveito,
E quando em solidão, imensa ora me deito Espero sem saber o que jamais viria O amor ou mesmo a paz, inútil fantasia.
Ao terminar este ato aonde me desnudo, Encontro o desacato em tom atroz e agudo Um velho timoneiro envolto em tal procela A vida não sossega e nada mais revela,
Findando sem partilha o sonho quieto e mudo, Porém sem ter destino, eu vejo e já me iludo O barco na tormenta exposto em frágil vela Do quanto poderia a sorte dita a cela,
Teria outro caminho? Eu sei que mesmo em vão Tentasse acreditar nas sortes que virão Trazendo ou não a praia, a mansidão cobiça
Ainda quando seja apenas movediça; Em solilóquio sigo expondo-me deveras Aonde se veria a sorte em rudes feras...
SEGUNDO ATO
Mesmo cenário. É noite e a penumbra persiste.
Talvez meu nome importe, ainda mesmo assim Encontro no caminho as marcas de onde vim E sei que na verdade importam muito mais De tanta cicatriz aos atos mais banais.
História tem começo, e aguardo agora o fim Marcando em dissonância o que inda resta em mim. Quem sabe percebendo o quanto tu me trais Quebrando o que mais quis, inúteis meus cristais.
Durante esta incerteza aonde a vida rege Transborda no meu peito o mar atroz e herege Vestindo a solidão, quem sabe de tal forma
Ainda que sutil se veja esta reforma Por vezes desejada e nunca concebida, Mudando a dimensão fugaz da tosca vida.
Imerso no vazio aonde me criara A solidão decerto há tanto já rondara A casa em desencanto e o sonho prepotente De quem não tendo nada, ainda quer e sente.
Ensina-me a pescar, mas sem ter isca ou vara Apenas ao final a vida me prepara, O sol de uma esperança adentrando o poente, O fato de tentar ao menos, indigente,
Vestir a fantasia espúria da esperança, Bufão que em noite vã, sem rumo ora se lança, Depois de tanto tempo em busca de um sinal
Que possa permitir um novo ritual, Encontro-me decerto em sorte vaga e fria Matando o que inda resta ou mesmo poderia...
Depois de certo tempo imaginara a sorte Diversa da que vejo envolta no vazio E quando; sem saber, o mundo eu fantasio Ainda que talvez o sonho me conforte,
Ao fim somente tenho o aspecto em dor e morte Sem nada que pudesse ou mesmo a luz comporte, Descendo inusitado em rude desvario, A noite não traria as margens deste rio.
Amar é conceber ao menos num momento A placidez do canto, a mansidão de um vento Levando para frente o barco, o meu saveiro,
E neste delirar me entrego e vou inteiro. Semente que abortada em solo não arável Traduz realidade em sonho temerário...
Fortuna se apresenta em face mais diversa Daquela que busquei aonde o sonho versa Senão a rubra luta, a velha fantasia Que tanto imaginei e sei que não teria.
O tempo com o tempo, aos poucos desconversa E sei da vida tosca até rude e perversa Matando em nascedouro a mera poesia Que se produz do nada em clara autofagia.
O ser ou não poeta, o ser ou não feliz Trazendo tão somente o que a vida desdiz E gera em contra-senso este vazio na alma,
A bruma ronda a casa e a noite em gelidez Expressa com certeza o quanto agora vês E incrível que pareça, isto afinal me acalma...
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Depois de cada ausência ou mesmo em tom austero A vida temperando o quanto não mais quero E vendo a cada queda a luta se perdendo Num rústico cenário, espúrio e quase horrendo,
O fato de sentir o tom mais insincero Transcende ao que pudera e nisto o que venero Jamais se moldaria além de mero adendo, E o traje em rota luz não passa de um remendo.
Assim também o amor, que tanto desejei, Mudando a cada dia, expressa em torpe lei O vago sem sentido algum de uma esperança
E quando no sombrio engodo ora me lança Avança sem sentido, em tom diverso e rude Falando do que sei amar quanto me ilude.
Meus olhos no horizonte estúpido ou funesto, Dizendo da sombria estada aonde atesto O fim de uma ilusão, mergulhos neste caos, E sei dos dias vãos em rústicos degraus.
Do quanto imaginara apenas trago o resto E bebo gole a gole o quanto já não presto, Meus dias moldarão decerto rudes, maus Anseios sem sentido ao naufragarem naus
E nada mais contendo além da espúria voz De quem sonhara ouvir o dia logo após Melindres mais sutis ou mesmo hipocrisia.
Daquela que se fez e bem mais poderia Não fosse a prepotência em tétrica visão, Deixando como rastro, apenas solidão.
Aos olhos de quem vê a cena repetida Como se fosse o fim do que chamara vida Não tendo mais saída, o beco se fechando E nele o que se crê trazendo em ar infando
A luta sem proveito enquanto dilapida A morte a cada instante eu vejo sendo urdida, Deixando para trás o que pudera quando A vida se diverge em paz se desenhando,
Porém ao se mostrar sutil e melindrosa Cevando em espinheiro o que pensara rosa Trazendo em sortilégio o verso mais atroz,
Calando pouco a pouco o brilho dentro em nós Escuto como fosse a voz de quem se fora, Uma alma sem juízo, apenas sonhadora...
Agradecendo aos Céus somente por poder Vencer algum ditame e crer nalgum prazer Ainda que isto seja a velha fantasia Da vida em paz imensa e mesmo em sincronia,
Rondando pouco a pouco, adentrando o meu ser O todo se permite e faz sobreviver O vento da emoção que tanto se queria Agora se perdendo em rara hipocrisia.
Das melodias vãs ao fim que programaste A queda se anuncia e sei quando em desgaste Já nada me trouxera além deste sombrio
Caminho em treva e dor, gerado pelo ocaso, E vendo tal cenário, atento me defaso, Porém sobreviver é mais que um desafio.
Fechando este caminho aonde eu tento além Do que pudera sempre e sei que nada vem, Vestindo a mesma luta e sendo de tal forma A vida se mostrando enquanto não conforma
E traça tão somente o olhar com tal desdém Enquanto continuo e sei que vou aquém Do prazo que tentara apenas como norma Vencido este andarilho e nele amor deforma.
O vento que batendo em fúria nos umbrais Os sonhos mais sutis e neles desonrais Palavras, versos, luz; e nada mais restara
Senão a solidão comum em tal seara Charnecas dentro da alma; e a sorte não mais clama Deixando como rastro; o lodo, a cruz e a lama.
Cessasse de sonhar, quem sabe, eu poderia Trazer ao meu olhar a luz de um novo dia, Ou mesmo em amaurose o passo sem sentido O tanto quanto quero e mesmo dilapido
Transcende ao que virá em mera fantasia E nisto o quanto vejo explode em agonia, Nos ermos do caminho, ainda a vã libido Procura inutilmente o rumo já perdido.
Esfacelando o sonho envolto nos retalhos Os dias com certeza ainda serão falhos, E a morte até redima o quanto me negou,
Deixando para trás quem sabe aonde vou Enfrente temporais e creia noutro porto, Melhor do que seguir, deveras, semimorto.
( relâmpagos e trovões, além do vento mais forte)
Sob o furor do vento em franca tempestade O passo que inda possa o tempo já degrade E deixe tão somente as velhas cicatrizes E nelas o que vês e não mais contradizes
Expressam muito bem a dura realidade De quem se fez aquém da amável claridade, Em céus diversos vis, ou mesmo apenas grises Os sonhos não trarão senão as hemoptises
Eviscerando a sorte em sórdidos remendos, Os olhos sem porvir, os dias mais horrendos Espectros de uma vida imersa em podridão,
Os dias que se vêm apenas mostrarão O fim de cada verso inútil companheiro No canto que se ouvindo, atroz e derradeiro.
Os olhos que venais procuram cada olhar E nisto a sorte toma e marca este lugar Apenas no sentido espúrio da emoção Logrando melhor sorte em frágil dimensão,
Por vezes já cansado até mesmo lutar Ainda poderia e nada a me tocar, Mas quando no horizonte as noites que virão Trarão a marca atroz da intensa solidão,
Jogado sobre o caos inusitadamente O verso sem proveito, o quanto ora se ausente Do mundo em sofrimento e nada mais se visse
Senão a luta agreste, ou mesmo em tal crendice Vacante sensação do amor que nunca veio Olhando para além em puro devaneio.
Monólogo que em dor desfio em poucos versos Falando da incerteza em dias mais perversos, Disperso sonhador em noite inusitada Depois de certo tempo apenas trago o nada.
Criando em fantasia os vários universos Bebendo os mais sutis caminhos que diversos Trariam para mim, ao menos uma estrada Aos poucos já perdida e turva e desolada.
Não quero compreender nem mesmo ouvir a voz Daquela que se foi sem nada além e após Deixando tão somente a marca da pantera
Incrustada em meu peito e sei quanto insincera Moldara a face escusa e sem qualquer alento Num ato tão venal enquanto desatento...
Ouvindo a noite intensa em ritos mais doridos Os prazos que se vão, em rústicos sentidos Das lágrimas desta alma há tanto sem proveito, O quanto no final, em dor apenas deito,
Meus versos sem certeza apenas construídos Nos atos duros vis, e neles consumidos Seguindo de tal forma; atroz e contrafeito, Pensara ser feliz qual fosse algum direito.
Negaceando a sorte e nada mais trazendo Sabendo da verdade e nisto em tom horrendo A sorte melindrosa em rústico cenário
Produz ao fim de tudo o mesmo e temerário Caminho em tom mordaz ausência de sinal Que inda pudesse crer num mundo mais igual.
Ao ter, reparem bem, a face em fartas cãs Depois da noite rude; as vagas vozes vãs Expressam a verdade e nada mais consigo Sequer o que pudera ainda ser o abrigo,
Penetro vida adentro e sei destas manhãs Aonde o que se fez em lutas tão malsãs Traduzem com certeza o tom de tal perigo, Restando dentro da alma o sonho mais antigo.
Meu passo eu cadencio e sei que não viria Saber do quanto resta ao menos, poesia E ver ao fim da festa a face mais atroz
De quem se fez verdugo e gera sobre nós Apenas a influência agônica e insensata Do que decerto traz a dor que nos maltrata...
Não posso partilhar uma amizade rude Sequer o que talvez ainda nada mude E mesmo que mudasse o tom seria vão, Moldando em invernal a rude sensação
Do prazo que se dá e nada mais ilude Senão a solidão da antiga magnitude Do verso que decerto os dias não verão Deixando no caminho a luta em solidão.
Batalhas, guerras. Medo e o fim se aproximando O mundo se apresenta então bem mais nefando Cortantes noites vãs e sem qualquer motivo
Do todo que desejo agora ora me privo E visto esta mortalha, apenas, nada mais… Enquanto se prepara além meus funerais.
Tanta melancolia e nada por fazer, Somente a nebulosa expressão do querer Jogada sobre o cais em meio às vis borrascas Dos sonhos mais sutis não restam sequer lascas,
Ainda que eu pudesse ao menos merecer Enfim depois da noite um belo amanhecer As sortes são venais e delas meras cascas Enquanto cada tiro, errática tu mascas.
Já não comportaria a sólida expressão Do vento em minha casa, ou mesmo se verão Cenários onde a festa apenas começara
Deixando em desespero a sórdida seara, A morte me redime e nisto vida expressa O quanto se queria e a dor só recomeça.
Durante tanto tempo uma alma se expressando Nos tons diversamente aonde quis a paz, Excêntrico caminho a vida não mais traz Sabendo o quanto custa e nisto como e quando.
O tanto se redunda e nisto desabando O coração pesando em rude contrabando O verso sem sentido ou mesmo até fugaz A luta sem defesa em nada se desfaz.
Perdoem a insistência e nada mais faria Senão qualquer sorriso ainda hipocrisia Ou pura estupidez; ou cupidez de um nada
Jogado nesta praia há tanto, desejada E o vento sem limite, ao longe ainda espalha Fazendo do meu sonho um campo de batalha.
( volta-se para a platéia)
Não posso oferecer a ti a minha sorte E nisto talvez haja o quanto te conforte Depois da negação em atos repetidos Os sonhos do passado em nada refletidos,
O verso se adivinha e nisto bebo a sorte No canto já jogado em dor que desconforte Capaz de imaginar os erros resumidos Nas tramas mais venais espúrias dos sentidos.
Encontro cada rastro e nisto sigo além Do quanto poderia e sei que não convém Vivendo em discordância, e nisto o que cobiço
Expressa este cenário incerto e movediço; Tempestuosamente a vida não traria Sequer o quanto quis em mera fantasia.
Se eu ouso te dizer do quanto quis e nada Pudesse adivinhar além da velha estrada Jogado sobre o vão em noites desiguais Sabendo simplesmente a dor quando me trais;
Senhores; vejam bem, bandeira desfraldada A senda sem sossego há tanto abandonada E os ermos de meu peito em rudes rituais Mostrando por acaso os erros mais venais.
Não tive melhor sorte e nada impediria De crer até possível a vida em alegria, Cicatrizando o corte o verso num sorriso,
Mas quando me percebo em gris tom me matizo E faço do meu canto apenas um protesto E cada dia em sonho; expresso o que contesto.
Difícil acreditar num tempo mais suave, A vida a cada instante ainda toma e agrave O rumo sem proveito imerso em tais procelas Aonde sem saber apenas me revelas
Inútil se tentar somente como uma ave Ousando o pensamento, espécie de uma nave Vencendo escuro céu enquanto agora selas As sortes em corcéis, porém já desatrelas.
-Ricardo- a vida traz uma esperança além Do que deveras sinto e mesmo já provém Uma alma sonhadora e nada em claridade,
Somente o que se busca e sinto ora degrade Deixando como rastro as sombras do que um dia Pudesse imaginar bem mais que uma utopia...
( retorna o olhar para a sala)
Das artes que buscara a poesia fora Aquela que talvez pudesse desenhar O rumo mais sutil e nele mergulhar Esta alma sem proveito e tola, sonhadora.
A vida com certeza é mais que tentadora E quando se imagina a luz mais redentora As nuvens recobrindo as tramas do luar Traduzem a verdade inteira a se mostrar.
Durante certo tempo, acreditei fortuna E nada do que possa ainda em paz nos una Senão a sensação espúria em desalento
Ainda quando mesmo após um rumo eu tento, Negaceando o passo, a solidão se traz E nisto o quanto resta expressa o tom mordaz.
A vida tão comum deste comum burguês Que ainda em turva luz deveras sei que vês Na sala carcomida, estas infiltrações E nela a solidão enquanto ora me expões
Trazendo ao meu olhar a leda estupidez E vez por outra mesmo, um ar de insensatez Que impeça ao sonhador ao menos emoções E nelas outro rumo e assim me decompões.
A chuva persistente invade noite afora E o tanto que pudera apenas desancora O barco e no naufrágio anunciada a morte
Negando o quanto eu quis, sonega algum aporte Restando a quem se fez um mero expectador Falar do que não sabe: as tramas deste amor.
O tempo carcomera os olhos mais brilhantes E o quanto se quisera apenas por instantes Deixando como marca opacidade imensa, E quando na verdade uma alma se compensa
Apenas no vazio enquanto mal garantes Os versos sem sentido e nisto me adiantes O que pudera ser ainda a recompensa Deixando a noite fria, ausente e mesmo tensa.
Cansado desta luta e nada por fazer Somente perceber o tempo a percorrer Os veios da saudade e neles me entranhando
Rumando sem sentido e apenas ruminando O vento que não veio, a vida sem sentido, Um gole de conhaque e o templo destruído...
Não quero que me escute e nem tampouco veja A cena corriqueira e nela o que se almeja Apenas a verdade e nisto o quanto resta Não traz qualquer magia, a luz em leda fresta;
A sorte que se fez deveras malfazeja Que tanto se reflita aonde quer que esteja E assim do ledo fim, a vida ora me atesta Deixando sem proveito a sorte que se empresta
Ocasionando a queda e nisto o que virá Expressa tão somente o quanto e desde já Legado de uma sombra atroz e costumeira,
Derrama o que inda tento e sei que além se esgueira Fantoche de outro tempo, um eco do vazio, Aonde quis a chuva encontro o mero estio...
Já não mais comportando o quanto pude crer Depois de tanto tempo envolto em desprazer, Amigos; vejam bem o que esta vida trama Deixando tão somente o duro e mero drama,
Os velhos temporais, a vida aonde o ser Esbarra no vazio e teima em conceber Trazendo em cada olhar além do lodo e lama, Mas quanto mais se sonha a solidão exclama,
Resulto deste ocaso em vida sem proveito, E o que vier decerto ainda mesmo aceito Sem ter qualquer acento em luz ou esperança
E a noite dentro da alma enquanto rude avança Encontra sem resposta o que inda mais eu quis, Quem dera se eu pudesse; ao menos ser feliz.
Sentando nos sofás da sórdida lembrança O que inda me restasse, aos poucos já me cansa E a luta não termina e segue o seu destino, Enquanto a cada farsa enfim eu me amofino,
O olhar de quem se foi qual fosse fria lança Tocando dentro da alma, expressa sem pujança O que pudera ser em vida o cristalino Cenário onde buscara um tempo onde o domino.
Agora que esta sorte esbarra no vazio, Seguindo em turbulência, apenas desvario, Não pude ou poderia; amigos, com certeza
Vencer o quanto é rude e dura a correnteza E quando me desnudo em vórtices atrozes Os sonhos que inda tenho, ao fim serão algozes.
Depois de quase ter a sorte que buscara Nas ânsias tão sutis da rústica seara, O vento me levando além do que eu pudera Na noite sem sentido ou mesmo atroz e fera
Empreende este caminho e rege noutra escara O peso sob o sonho enquanto se escancara A luta sem proveito e o tempo que se espera Marcando em cicatriz a face da quimera
Depois de tanta perda, a vida não consola E o quanto ainda tenho aos poucos não decola Semente se abortando em árido jardim
O quanto mesmo quis agora morre em mim, Negando algum momento em plena liberdade E o que inda me traria, o tempo ora degrade.
Já vejo que se finda o tempo de existência E de tal fato mesmo embora com ciência Diversidade molda o fim sem benefícios Apenas entre queda o quanto em precipícios
Mostrara o dia a dia em torpe penitência Minha alma se desnuda e gera em consciência Somente os tantos vis, cruéis e ledos vícios Trazendo sem proveito os tétricos ofícios
E ao fim da caminhada – a vida – eu nada vejo E perco da esperança algum suave ensejo. Minha alma agora traz no olhar a fantasia
Que em cena reproduz o quanto mais queria, Embora me distando aos poucos deste todo, O amor, se ao fim existe, é mero e duro engodo.
Não quero acreditar sequer no que passasse Gerado pelo fim ou mesmo noutro impasse, Apresentando agora a vida de quem fez Caminho sem sentido ou mera insensatez,
Transito no infinito e nada se tentasse Gestando o que se visse em velha e rota face, E melindrosamente, ainda quando crês Na estúpida emoção, ou nesta espúria tez,
Encontrarás o sonho, aos poucos repartido. E quando a minha história enfim eu dilapido Arcando com engano e sei quanto é comum
Viver sem esperança ou mesmo tendo algum Momento em consonância, estreita noite vã Matando desde agora o quanto quis manhã.
cena 2 – mesmo cenário, olhando para a platéia com outro pijama mais puído que o anterior
Quando falo de amor. Vindo à cabeça Lara Que há tanto já se foi e nada mais deixara Somente este fastio e a turva noite eterna Memória talvez seja ao fim turva lanterna
E dela se espalhando uma esperança rara Domínios sem sentido e o corte desampara Enquanto no sombrio a vida ora se interna E bebo a solidão, por vezes sinto-a terna,
Mas nada além do sonho, as vozes se perdendo Juntando o muito pouco encontro em tal remendo As ânsias de quem fora um dia mais feliz
E agora já distante ausente do que eu quis Esbarro em todo engano e nada se apresenta Somente esta lembrança audaz, atroz, sangrenta...
Aonde houvera festa em noites claras... Sonho, Apenas o fantasma enquanto decomponho Anseios viscerais em versos sem sentido E o pouco que me resta, ainda dilapido
Deixando-se antever um dia onde medonho O passo se perdera e nisto o que proponho Inválido momento e quanto mais urdido Errático delírio, o corte resumido,
À bala ou num punhal, o tempo não permite, Que com certeza eu diga o quanto em tal limite Trouxera além do sangue exposto pela casa
O corpo lacerado, a vida não se embasa No amor de quem traísse e mesmo assim viera Trazendo num sorriso, a sarcástica fera.
Lara. Há quanto tempo. A vida não repete O grande amor, portanto, aonde o vão reflete Extasiada a mente em gozos e venturas Depois de tanta dor, ainda em tais loucuras
O corpo apodrecido; envolvo e me compete Falar desta fornalha imensa que complete A solidão desta alma envolta em inseguras Vontades mais venais enquanto me torturas.
E mesmo morta vens em noites turbulentas Trazer o que pudera e sei nunca apascentas Vestígios pela sala, a mancha no meu quarto,
E tenazmente traço enquanto mal comparto Os últimos sinais daquela que se fez O imenso e grande amor, enorme estupidez...
Há mais de um mês ou mesmo até quem sabe, um ano A face desmedida e vaga deste plano Sob as tábuas jogado o resto deste encanto, E nisto o que inda possa e nisto eu me garanto
Traçar o desespero em ermo desengano Do que restara enfim, do ser que fora humano E agora em rude face expressa este quebranto Quando medonhamente olhando em vão me espanto
Recebo por e-mail, a tétrica notícia Que além de me envolver nas tramas da sevícia Talvez me condenando ao que tanto busquei,
Deixando-me levar aos tribunais, à lei, Cessando de uma vez o inverossímil caso Tramando noutra face apenas meu ocaso.
Só resta muito pouco e nada mais faria, Somente o que virá e sem hipocrisia Entrego-me ao vazio e dele me propago A morte talvez seja o derradeiro afago.
A imagem deste encanto, esta mulher esguia O amor que tanto quis e enfim libertaria Na pútrida expressão de um tempo rude e vago No olhar já sem sentido o quanto agora trago
Dos erros de uma vida há tanto sem sentido, E o corpo deste amor, agora apodrecido Em tantas partes toma a casa por inteiro
O aroma nauseabundo, ainda onde me inteiro Dos erros ou do acerto envolto em tais loucuras, Deixando para sempre, as velhas amarguras.
Se um dia fui feliz? Bem sei do quanto o fui, Porém tudo que um dia enorme ascende, rui, E a queda se transforma em única lembrança E quando a tempestade aos poucos nos alcança
Já nada do que tive agora toca e influi Minha alma a cada instante em rota face pui, E incrível que pareça, uma alma segue mansa Condenação final; resiste em esperança
Deixando que termine esta agonia atroz Amortalhado sono, a paz se vendo após E o verme que caminha; envolto nos meus passos,
Depois de tanto engano, os sonhos são escassos E apodrecendo ao fim, já nada reconheço Somente o quanto vale a vida em adereço.
Restando quase um dia, ainda poderia Fugir ou me esconder, porém uma alegria Sem nexo e doentia adentra a minha mente E o que virá redime o engano, plenamente,
O quanto me restasse em dor ou agonia, Ou mesmo até no fim, numa imensa ironia O passo que se desse e nisto se apresente O fim somente em paz, de um ser tolo e doente
Tentando descansar, em alívio compondo Ao quanto não restasse e nisto correspondo Ao féretro de uma alma há muito apodrecida
Jogada pelos cais abandonando a vida Encontrará enfim, a merecida paz Que este verdugo, amor, já não fora capaz.
Chegada anunciada; há tanto que prevista De quem me salvará, marcando enquanto avista De Lara mero escombro ou restos pela casa Ao redimir minha alma, acende fogo e brasa,
Não tendo mais martírio, o quanto aquém insista O sangue como fosse a marca em clara pista. Porém o que se quer e assim já se defasa A cada instante mais, decerto ora se atrasa.
Minutos, horas. Tempo. E nada do que possa Determinar enfim, a salvadora fossa E nela este vazio, o desapego e o caos,
Olhando para trás, percebo tais degraus E neles a emoção diversa e mesmo rude, De quem a cada instante apenas desilude.
Cena 3 mesmo cenário, porém mais claro e o personagem deitado sobre o sofá.
A noite ultrapassada e ao fim nova manhã A luta se refaz na face mais malsã Do pálido cenário em brumas repetindo, O quanto imaginasse, enfim silente e findo,
Porém a vida traz a sorte amarga e vã E nada do que tento expressa a voz do clã Deixada no passado em ato refletindo O todo sem sentido e o tempo se abstraindo,
Talvez algum engano, ou mesmo um incidente Espero mais um pouco? O quanto se apresente Traduz desta maneira a sombra do que venha
E a liberdade da alma, enfim possa e contenha, Sabendo de tal fato, aguardo um pouco mais? Ou bebo sem cansaço, os rudes vendavais?
Já não mais comportando o quanto pude crer Depois de tanto tempo envolto em desprazer, Amigos; vejam bem o que esta vida trama Deixando tão somente o duro e mero drama,
Os velhos temporais, a vida aonde o ser Esbarra no vazio e teima em conceber Trazendo em cada olhar além do lodo e lama, Mas quanto mais se sonha a solidão exclama,
Resulto deste ocaso em vida sem proveito, E o que vier decerto ainda mesmo aceito Sem ter qualquer acento em luz ou esperança
E a noite dentro da alma enquanto rude avança Encontra sem resposta o que inda mais eu quis, Quem dera se eu pudesse; ao menos ser feliz.
Sentando nos sofás da sórdida lembrança O que inda me restasse, aos poucos já me cansa E a luta não termina e segue o seu destino, Enquanto a cada farsa enfim eu me amofino,
O olhar de quem se foi qual fosse fria lança Tocando dentro da alma, expressa sem pujança O que pudera ser em vida o cristalino Cenário onde buscara um tempo onde o domino.
Agora que esta sorte esbarra no vazio, Seguindo em turbulência, apenas desvario, Não pude ou poderia; amigos, com certeza
Vencer o quanto é rude e dura a correnteza E quando me desnudo em vórtices atrozes Os sonhos que inda tenho, ao fim serão algozes.
Depois de quase ter a sorte que buscara Nas ânsias tão sutis da rústica seara, O vento me levando além do que eu pudera Na noite sem sentido ou mesmo atroz e fera
Empreende este caminho e rege noutra escara O peso sob o sonho enquanto se escancara A luta sem proveito e o tempo que se espera Marcando em cicatriz a face da quimera
Depois de tanta perda, a vida não consola E o quanto ainda tenho aos poucos não decola Semente se abortando em árido jardim
O quanto mesmo quis agora morre em mim, Negando algum momento em plena liberdade E o que inda me traria, o tempo ora degrade.
Já vejo que se finda o tempo de existência E de tal fato mesmo embora com ciência Diversidade molda o fim sem benefícios Apenas entre queda o quanto em precipícios
Mostrara o dia a dia em torpe penitência Minha alma se desnuda e gera em consciência Somente os tantos vis, cruéis e ledos vícios Trazendo sem proveito os tétricos ofícios
E ao fim da caminhada – a vida – eu nada vejo E perco da esperança algum suave ensejo. Minha alma agora traz no olhar a fantasia
Que em cena reproduz o quanto mais queria, Embora me distando aos poucos deste todo, O amor, se ao fim existe, é mero e duro engodo.
Não quero acreditar sequer no que passasse Gerado pelo fim ou mesmo noutro impasse, Apresentando agora a vida de quem fez Caminho sem sentido ou mera insensatez,
Transito no infinito e nada se tentasse Gestando o que se visse em velha e rota face, E melindrosamente, ainda quando crês Na estúpida emoção, ou nesta espúria tez,
Encontrarás o sonho, aos poucos repartido. E quando a minha história enfim eu dilapido Arcando com engano e sei quanto é comum
Viver sem esperança ou mesmo tendo algum Momento em consonância, estreita noite vã Matando desde agora o quanto quis manhã.
Tentando algum contato, algo que me explicasse Vencendo com firmeza o que se fez impasse, Depois de tanto sonho, aonde visse a paz, Já nada me responde enquanto a vida traz
Retalhos deste fato e nele se moldasse A solidão em vaga e rude, mera face Trazendo o que se quer em forma mais tenaz Cerzindo do vazio o fim que satisfaz,
Mas nada, nem resposta. E tento o telefone, Já não suportaria a nova noite insone Terminando esta peça, ao menos poderia
Viver tranquilamente o quanto inda teria; Só restando esperar? O que possa fazer? Ó Lara, não torture; eu fiz por merecer?
( impaciente)
Procuro nos jornais. Ligo a televisão. E nada do que eu busco encontro. O tempo é vão… Dois dias, ledo atraso, um delírio se assoma E o quanto ainda resta? O pânico me toma.
A voz deste passado, a luta, a imprevisão, E quanto poderia e quantos mostrarão O que deveras sei; e o coração não doma E como num torpor e como em vivo coma
A vida se perdendo em rumos discordantes E nada do que possa ainda me garantes Somente a dor cruel do condenado à morte
Que busca sem sentido algo que inda o conforte, Uma semana e; nada. O telefone mudo E a cada nova ausência, apenas desiludo...
Em desespero escuto os passos pelas ruas Esta incerteza torna as sendas bem mais nuas As luas já se vão, e os sóis se arremessando Num ermo aonde o sonho explode mais nefando,
Angustiadamente as noites seguem cruas Semana após semana, agora já são duas, E o cômodo caminho aos poucos se afastando, Embora no verão, eu sinto-me nevando
Procuro uma resposta e nada se apresenta Somente este silêncio, a sorte mais sangrenta, O telefone toca. Engano e novamente
Um ermo se anuncia enquanto não se sente Sequer o que acalente ou mesmo me condene, E nesta paz atroz o quanto me envenene...
Cena 4 – ansiosamente sentado no sofá, a face totalmente transfigurada com os cabelos em desalinho.
Um mês e nada além do caos dentro do peito, Tentando descansar, inutilmente deito, O pesadelo ronda e toma cada instante Enquanto febrilmente a morte se agigante.
E Lara? E seu contato? A vida sem direito, Mudando a direção encharcando o meu leito A voz do vento ronda e torna mais cortante A ausência de futuro o nada doravante...
Tortura deste impune, um verme sem saída, Deixado sempre ao léu, na opaca e rude vida Mergulho na loucura e bebo cada gota,
Minha alma se perdendo, aos poucos bem mais rota Silenciosamente, o tempo se prepara Tomando sem defesa a imensidão de Lara.
Um único detalhe; ainda não desvendo, O que se fez audaz, agora em vão remendo Expressa a face escusa e torpe de um canalha Enquanto a ventania, além o sonho espalha,
E quanto mais no nada eu sinto me envolvendo O rústico fantasma aos poucos me bebendo No fio mais agudo e tosco da navalha A própria resistência expressa esta batalha.
Um peso sobre mim e o todo se anuncia Qual fosse do destino, apenas ironia, E a morte que redima, agora já não veio,
O olhar se perde ao longe em louco devaneio As garras adentrando o que inda resta em mim, Preparam num sorriso estúpido meu fim.
( som de telefone chamando )
E quando desistira após tanto não ser Escuto o telefone, e quando ao atender Na madrugada fria imerso em nuvem tanta A sorte se anuncia e assim chega e quebranta
Matando uma esperança e nisto posso ver O mundo que buscara, enfim se esvaecer. De Lara reconheço a voz que não espanta Apenas me tortura, e quando se levanta
Numa expressão feroz, e irônica detalha A morte de quem tanto um dia sem ter falha Viria redimir, o coração atroz,
Cessando em acidente, a derradeira voz. E a paz que procurava aos poucos se esvaia Deixando como rastro, apenas a agonia.
Procuro alguma chance e encontro o derradeiro Alento nesta bala em tiro que certeiro (puxa um revólver e mirando a cabeça, dispara um tiro) Trazendo em suicídio a paz que procurei Fazendo em minhas mãos, a dura e régia lei.
Um único momento, e o prazo onde me inteiro Sem farsa e sem disfarce, enfim um verdadeiro Caminho que me leve ao quanto eu esperei Trazendo finalmente esta esperada grei,
E nela o que se veja em paz ou mesmo inferno, Melhor do que o vazio aonde ora me interno E extremamente sinto o fim se aproximando,
No prazo decorrido, o tempo desde quando Momento crucial, e redentor viria Tramando além do vão um tempo em alegria...
Cena 5 deitado num leito de hospital, não fala nada, mas se escuta claramente a sua voz.
Maldita seja a vida. A bala em direção Diversa da que eu quis, leda transformação Não me trazendo além do quanto desconforte Negando sem proveito o que buscara: a morte.
Jogado neste quarto, ausente solução Apenas percebendo a tétrica ilusão E apenas se vislumbra o imenso e frio corte Traqueostomia traz da vida o frio aporte,
E Lara gargalhando, em volta deste leito, Imagem sem sentido; espúria, onde refeito Não sinto agora nada, e não me movimento,
Somente vejo além o corvo que crocita E bebe cada gota em dor quase infinita E enquanto ora eu definho, enfim eu me atormento.
Vingança? Não sei bem. Apenas a mereço E sei do que pudesse em tétrico adereço Tentando o fim do jogo e nada conseguindo, A vida se desenha enquanto me esvaindo
Aos poucos tento a sorte e nada mais esqueço Somente o tempo passa, e sei de out
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