
Presente em papel pardo
Data 25/01/2011 03:31:34 | Tópico: Poemas
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Estávamos na sala de aula, Como sempre ela estava calada e ficava aninhada, deixando o mundo passar à sua volta sem nada dizer, apenas observava...
Tinha uns olhos grandes, o coração que carregava no peito batia no chão de tão pesado que era. carregava o seu amor, e o amor daqueles que dele se alheavam...
Era a entrega de presentes, estávamos no final de mais um ano lectivo, todos se aproximavam, com grande alarido atropelavam-se uns aos outros.
Ela observava tranquila, mas estava feliz! Os pensamentos voavam mas não enxergava nada diante do seu nariz, porque sonhava...
Quando se deu conta, chamavam pelo seu nome e de repente acordou de mais uma viagem, agora que estava a colher uma flor e a acertar os ponteiros do relógio do mundo foi sacudida com furor...
Olharam-na com desprezo, olhando para a caixa grande com o último presente, e disseram: -Este é o teu, e riram-se...
Olhou para todos,os lados, com os olhos cheios de lágrimas, todos os embrulhos eram coloridos e tinham um grande laço, exibiam-nos humilhando-a com gritos, insultos e empurrões...
Ela segurou o seu presente embrulhado em papel pardo, abraçou-o entre os seus bracinhos pequenos e ali ficou à espera, com os olhos pregados no chão.
Era a hora de cada um abrir os seus presentes, quando chegou a sua vez rasgou o embrulho e os seus olhos felizes brilhavam, enquanto desembrulhava um tesouro da literatura contemporânea.
A menina do mar, de Sophia de Melo Breyner Andersen!
Olhou para a professora e os dois pares de olhos cúmplices estavam cheios de lágrimas...
Era o livro que tanto queria, era um tesouro que agora possuía!
Olhavam-na agora prestes a arrancar-lhe o livro mas ela a menina dona de um silêncio onde cabia a paz e o amor sem lamentos, apertava o livro junto ao coração que o protegeu das batidas frias que dos corações emanavam.
Feliz, começou a ler, a devorar e a sonhar e nunca mais quis acordar, hoje sonha escrever um livro para oferecer em papel pardo...
Alice Barros
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