
MEUS SONETOS VOLUME 131
Data 31/12/2010 10:32:23 | Tópico: Sonetos
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1
Pudesse te entregar cada momento Que ainda resta ao peito sonhador, Vivendo a cada instante tanto amor Entrego-me ao poder do sentimento.
Distante dos teus braços me atormento, Sem rumo e sem destino; num sol-pôr Minha alma anoitecida perde a cor E morre angustiada em vão tormento.
Por isso é que te peço: fique aqui Se tudo o que preciso vejo em ti Não posso mais seguir sem a certeza
De ter tua presença, ser teu par; Sabendo quanto é bom poder de te amar, Entrego-me aos teus braços, sem defesa... B
2
Pudesse te encontrar após a chuva Que cai a tantos anos dos meus olhos. No leito solitário de viúva As flores matariam seus abrolhos...
Ausente de teus braços. O que sou? Apenas um fantasma e nada mais. Se o barco da esperança naufragou, Aonde encontrarei meu porto e cais?
Retratos do que fomos; na parede, São sombras que jamais esquecerei. De tudo o que vivemos tenho sede No imenso desvario eu mergulhei...
Porém a chuva cai e nunca cessa, Estio não passou de uma promessa...
3
Pudesse te beijar, mil devaneios, Sentindo o teu perfume junto a mim, Na noite sem dar tréguas, sem receios, Ao desaguar vontades vou assim,
Tocando com meus lábios belos seios, Desta menina amada, ter enfim O mundo em que pretendo sem rodeios Ter toda esta alegria até o fim.
Sentir o teu respiro do meu lado, Depois do amor deveras tão bem feito Traçado passo a passo e deste jeito
Poder dizer que estou apaixonado Qual fora adolescente em meu outono, Calando junto a ti, meu abandono...
4
Pudesse te amparar na caminhada Que é dura, com certeza, mas nos traz Momentos de alegria. Porém nada Daquilo que sonhamos mostra a paz.
Buscando um raro brilho na alvorada, Perseverante segues, e tenaz Ou mesmo inconseqüente, sempre audaz Terás tua vitória assegurada.
E eu, velho andarilho em meio às trevas, Das minhas dores tantas, faço as cevas Que um dia florirão rosas mesquinhas.
Em meio a tal florada, o meu canteiro, Será meu companheiro derradeiro Tomado pelas ervas más, daninhas... Marcos Loures
5
Pudesse talvez ser quem mais querias, A vida não seria desse jeito, Tentando cultivar dentro do peito Apenas as maiores alegrias...
As noites sucedendo os mesmos dias O amor que imaginara mais perfeito Não sendo, com certeza o meu direito Recebo as madrugadas bem mais frias...
Aonde encontraria o amor sereno? Recebo em tua boca fel, veneno E teimo em partilhar uma esperança
Que; tola, inda ronda a minha cama, E enquanto a minha boca ainda te chama Ao vazio meu verso em vão se lança...
6
Pudesse talvez crer na solução De todos os problemas que enfrentei. Aonde uma esperança quis ser lei Apenas encontrei a solidão
Qual bólido que enfrenta o céu imenso, E explode num momento e se incendeia Mudando muitas vezes o que penso, A lua na minguante, nunca cheia.
Recheio os meus delírios com mentiras, Aguardo o fim do jogo, nada além, As velhas ilusões, agora em tiras, Procuro novamente, por ninguém...
Bebendo todo o fel que me legaste O cálice dos sonhos, tu quebraste...
7
Pudesse ser apenas um momento, A vida não teria solução Sem ter abençoado e raro ungüento Nascido nas entranhas da paixão.
Viver esta saudade. Triste alento, Pra quem sabe do abismo e da amplidão, Sentindo a força intensa deste vento, Que aos poucos vai tombando a embarcação
Percebo o cais distante e desejado, Angústia de quem teima e não mais vê Caminho pelo qual ainda crê
Num mundo diferente de seu Fado. Amar sem perceber quão solitário O coração vazio e temerário...
8
Pudesse novamente caminhar Sem ter estas algemas e correntes, Guardando, da esperança as vãs sementes, Qual onda que se dista assim do mar,
O tempo não se cansa de passar, Sabendo desde sempre que tu mentes, Carrego a velha faca entre meus dentes E sinto que jamais irás voltar...
Quem dera se isto fosse uma mentira, A mão que tanto deu, vem e retira O pouco que restou do quase tanto.
Não sei se inda consigo prosseguir, Minha ilusão morrendo qual faquir, Cevando tão somente o desencanto...
9
Pudesse eu te dizer quanto eu te quero! Talvez fosse um posseiro que grilando tudo, Destino num segundo, outrora fero, Agora mavioso, eu quero e mudo.
O sonho pelo qual me regenero, Sem ter sequer talvez, como ou contudo, Nos braços da morena eu me tempero Eterno carnaval, divino entrudo.
Seriamos além de um simples par, Tu bela colombina, eu arlequim, Na avenida dos sonhos, desfilar,
Brilhando como estrela em passarela, Dizendo da alegria, flor, jardim, Amor que cada estrela doma e sela. Marcos Loures
10
Pudesse eu declarar quanto eu te quero Em versos que tocassem coração. Além do que proponho ou mesmo espero A vida não teria um só senão.
O amor como um sublime e nobre Clero Merece muito além de adoração. Sentindo o teu perfume, sonhos gero, Farturas de alegria em sedução.
Desperta-se o desejo de te ter Bem junto de meus olhos sonhadores, Vivendo a plenitude do querer
Recolho dos jardins sublimes flores E faço como um mote o teu prazer Entoando em teu corpo os meus louvores.... Marcos Loures
11
Pudesse disfarçar calos e cascas Abençoando os ermos que percorro. Não vendo qualquer forma de socorro Pedaços do que fomos simples lascas,
E quando a fantasia tu descascas Veredas encantadas eu percorro, Não posso garantir se ainda morro Minha alma libertária; ris e mascas.
A farpa penetrando nos meus olhos, Adoça esta impossível solução Quisera maciez, ganhei abrolhos,
Espinhos costumeiros, nada além, E quando sinto próxima a razão. Alegoria estúpida já vem...
12
Pudesse descansar meu coração... Quem sabe ancoradouro nos teus braços Conhece da esperança, a mansidão, E estreita com a sorte firmes laços...
Não pude resistir à tentação E deito calmamente nos regaços Dos sonhos que professo em profusão Prazeres que terei jamais escassos...
Pra que dormir se o sonho é tão real? Insônia que bendigo a cada prece, O amor quando perfeito se oferece
Permite a maravilha sem igual Do doce ritual, felicidade, E espalha pela terra, divindade.
13
Pútridas as manhãs Às vésperas da morte Sem vida ou amanhãs Dispenso toda a sorte.
Vidas. Prá que; se vãs; Vasculho cada corte. Dores em noites cãs Raios de duro porte.
Esqueço estas palavras Forjo minha cantiga Morte que traz em lavras
A companheira antiga. Quem dirá que são parvas As urzes da caatinga...
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Putrefação em vida o que talvez espere Aquele que negando a carne agonizante A mata destruída, um fato que tempere A mesa em ironia abate neste instante
Os ideais do amor que em dor se degenere Matando sem defesa, o pobre viandante Que passe pela cerca. O desamor que fere Também destruirá a luz tão deslumbrante
Da criação divina em rápida estocada. Também foram dizer que a terra nos pertence... Às vezes imagino o que será sem nada.
Ao débil que acredita e disso se convence Que Deus nos deu poder de magnitude tal. Poder dizer: - Boçal, tu és um animal! Marcos Loures
15
Puteiros de minha alma, cadafalsos, As minhas mãos se cortam, pois impuras, Os dias que vivemos, ledos, falsos, Mentindo sobre lendas e ternuras,
Os pés que se espinharam vão descalços Os olhos se emprenhando na amargura A mão que acaricia, já me fura Aumentando em meu rumo tais percalços.
Nas pedras, nos espinhos, meu altar. Meu gozo é feito em lama incandescente. O beijo da serpente, amor e par,
Transborda em luxúrias e veneno. Amor em guizos prossegue impunemente Da fria guilhotina, um duro aceno...
16
Purificando em glória a poesia, Lapidas com fantástico talento Tornando a fantasia um elemento Aonde se destila em sintonia
Teu verso em emoção me propicia A beleza sem par deste momento, Usando da palavra ora fomento Um belo amanhecer, um raro dia.
E sei quanto é possível ser feliz, Bebendo deste encanto que me diz O mote em perfeição que assim me dás.
Eu vejo nos teus olhos o farol Que possa transmitir aos meus o sol Sublime de uma vida feita em paz.
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Punhais que trazes, louca, ensandecida Essências demoníacas, zumbis. Macabra sensação ser infeliz Na carne há tanto tempo apodrecida
O cerne da questão mal resolvida Os vermes nos teus olhos, podres, gris Vazios que deixaste, velha atriz Matando o que restou de cada vida.
Fétida garatuja que se expõe Enquanto em desamor se decompõe, Esgarça-se num último lamento.
Esquizofrênico delírio audaz No riso amortalhado, mais voraz Satânica expressão, venal tormento... Marcos Loures
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Pudesse traduzir o sentimento Que tantas mágoas traz ao coração; Palavras são levadas pelo vento, E perco no silêncio, a direção.
Usando da esperança/embarcação Por mais que tudo corra assim tão lento, Condeno-me à completa solidão E vivo em plenitude este momento.
Não tendo os argumentos que queria, A noite é rancorosa, insossa e fria, E a velha melodia se repete.
O amor foi mensageiro que perdeu O rumo se escondendo neste breu Que ao fim desta viagem me compete...
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Pudesse ter, quem sabe esta presença Que tantas vezes quis, mas fugidia... Um céu menos sombrio estamparia O amor que alma procura e tanto pensa.
Deixando bem distante a desavença Sustando num segundo esta sangria Vivendo finalmente uma alegria, Mudando com certeza a antiga crença
De um sonhador imerso em solidão, O amor sendo meu vinho, prece e pão, Fomento de um futuro mais feliz.
Carícias e carinhos – luzes tantas, Ouvindo este prelúdio que ora cantas Viver uma emoção que eu sempre quis... Marcos Loures
20
Pudesse ter as asas do albatroz Vencendo tantas milhas, céu e mar, Até chegar num instante à bela foz Aonde eu poderia te encontrar
Descendo as corredeiras, mais veloz, Nas margens com amor fertilizar, Sem nem querer saber se existe após Algum remanso aonde descansar.
Tivesse da andorinha o raro instinto, Levado em migração aos teus encantos. Sabendo decifrar tal labirinto
Aonde poderei ser teu Teseu, As marcas que deixaste pelos cantos Tramando o amor que, em glória se verteu... Marcos Loures
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Pudesse ter amigos aos milhões, Ser mais do que um momento, ser a vida. Lapido esta esperança com canções Na glória e na alegria repartida.
Apenas fantasia? Aos borbotões Estrela brilha pouco se perdida, Porém quando se dá, constelações Demonstra a força inata ali contida
Amiga, tal poder de claridade Se vê quando na força da amizade Podemos nos unir, seremos fortes.
Fazendo da esperança nossa guia, Um astro que tal luz sempre irradia, Conduz ao bem supremo vários nortes...
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Pudesse te levar com minhas mãos Aos mais sublimes prados da esperança, Mares paradisíacos, irmãos Fazendo na alegria esta aliança.
Cevando com carinho fartos grãos Enquanto a vida passa, e o tempo avança, Não serem mais os dias, tolos, vãos, E a dor, somente um fardo sem lembrança.
No céu azulejado o brilho imenso, Apascentando este ar, outrora denso, Alçando a plenitude em mansa aragem
Moldando no semblante a placidez, Arando com ternura esta aridez Que um dia dominou tal paisagem...
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Prazer feito moleque chega ao cume Olhando para baixo sem vertigens, Os corpos inda estão decerto virgens, Lambanças desaguando no ciúme.
Não tendo mais limite que me aprume No peito novas marcas de fuligens Deságuo em solidão, diversos gens Conforme antigo rito de costume.
Depois de ter brincando com estrelas As peles tão cheirosas que revelas De noite em algum canto da ilusão.
Somando os corpos nus, em pensamento, Até que o dia chegue e num momento Transforme todo o sim em negação.
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Pranteia o coração de um vate triste Sonhando com a dona dos seus versos, Momentos seguem falhos e dispersos, Não sei se a poesia ainda existe...
Mas sei que esta emoção firme, resiste, Vagando por milhares de universos, E mesmo enquanto os dias são perversos, O encanto de saber-te a tudo assiste.
Arranco das gavetas meus escritos, E teimo em procurar sinais benditos Que possam me trazer tua presença.
Pois saibas quanto eu quero este luar Que possa novamente me mostrar Ternura tão sublime quanto intensa...
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Pranteando esse amor que já se acaba, Deixando essa existência sem sentido... Lágrima, testemunha que desaba, Reflete quem se fora, desvalido!
Qual índio que perdeu a sua taba, Qual vida que morreu num triste olvido, Que vale este chapéu que não tem aba? Que vale quem jamais houvera sido?
Pranteando esse amor, a mocidade Esvaindo se deixa naufragar... Procuro tão somente teu olhar...
A morte me castiga, na saudade... Quem fora mansidão despreza o fruto, Quem fora uma alvorada, veste luto... Marcos Loures
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Pra viver do outro lado desta vida É preciso com certeza descobrir, Por mais que a dor mereça ser sentida O sofrimento engana o que há de vir.
Não vejo labirinto sem saída Apenas o temor pode impedir, Mas ela chega às vezes distraída Não resta sequer tempo pra sorrir.
Por isso a vida deve ser vivida Com toda honestidade e com paixão. Aquela que se esconde, está perdida
Merece na verdade, a compaixão, Mesmo que seja frase repetida A vida só é plena com tesão!
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Pra ti eu dediquei a vida inteira, Meus versos, as canções que tanto gosto. Ao ver dentro do peito a companheira Imagem refletida de teu rosto.
A vida do teu lado, mensageira Do amor que a cada dia vai exposto, Nos olhos de quem amo, esta bandeira Fazendo da alegria o seu encosto.
Eu falo desta imensa calmaria Que toma os meus sentidos vida afora, Ouça a declaração de quem te adora
E sabe deste amor, quanta magia Espalhas nos momentos que vivi, Por isso é que hoje canto para ti... Marcos Loures
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Pra tendinite um anti-inflamatório Compressas sei que ajudam, minha amiga. Melhor te examinar no consultório Assim um bom remédio não periga.
Tu sabes quanto eu quero ver-te bem Sem ter as dores todas que hoje trazes. Na queda se machucas, bom também Um belo curativo pede gazes.
Espero que não seja necessário Fazer depois de tudo, cirurgia. Te aguardo sem marcar sequer horário, Quem sabe talvez fisioterapia.
Mas falo sem segredo, todo dia Pra mal do coração; só poesia...
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Pra sempre não habito nem concebo, Apenas quero o beijo mais audaz, Somente o teu desejo satisfaz Na fonte da ilusão que anseio e bebo.
O amor não pode ser só um placebo, De tudo com certeza ele é capaz, Transformando este velho num rapaz Carcaça carcomida vira um Phebo.
Nas glebas mais longínquas da emoção As podas permitiram novos frutos, E os passos quando outrora foram brutos,
Mudaram novamente de estação. Querências milagrosas inebriam, Enquanto os sonhos cercam e viciam...
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Pra quem não sabe amar; com piedade Eu vejo a covardia dominando A cena que retrata deformando Um quadro distorcido, sem verdade.
Abortos que encontrei sem liberdade, Não sabem nem porque, tampouco quando, O mundo sem ter base desabando, Caretas vêm fugir felicidade.
Dedilho esta cantiga, um velho blues, Pesando em minhas costas feito cruz Ao ver este vazio pelas ruas.
Estrelas esquecidas, matam céus, Sem frios, sem remédio ou fogaréus, Jamais se mostrarão inteiras, nuas... Marcos Loures
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Pra que o amor seja perfeito É preciso uma viola Que de noite me consola E me deixa satisfeito,
Coração dentro do peito, Passarinho tão gabola Se a morena me dá bola, Minha vida toma jeito.
Vou vivendo esta alegria Que não canso de cantar Fazendo da poesia
O meu céu, mar e luar, Companheiro passarinho, Volte logo pro seu ninho...
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Pra não perder a vida desta amada Que vai agonizando pelas ruas. Ao vê-la gorkiana, abandonada Relembra destas carnes, belas nuas.
O coração burguês muda a calçada, Porém sangue operário ao ver bem cruas Verdade que se expõe, tão demarcada, Impede, meu amigo, que já fluas
E traz na mão a força soberana Que emerge com total disposição. E o peito se levanta e assim se ufana
De enfim ter aprendido esta lição, Mais forte que a nobreza, a vida humana Mais nobre que a riqueza, uma paixão...
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Pra dor de cotovelo não receito Senão um beijo audaz ou mil carícias Quem toma este remédio deste jeito Descobre no final tantas delícias.
Ainda me recordo de um sujeito Que me trouxe depois boas notícias. Garanto, que este cabra é insuspeito Nem usa de mentiras nem malícias.
Enquanto a cachorrada vai latindo, A caravana passa mansamente. A lua no meu céu já vem surgindo
Deixando para trás tarde cinzenta. Por isso, minha amiga, rindo agüente A língua dessa gente. Não esquenta... Marcos Loures
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Pruridos em minha alma, teus sorrisos, Provocam; contumazes mentirosos. Os dentes que me mostras mansos, lisos, No fundo são ferozes, perigosos...
Mordendo, não costumam dar avisos. Mordiscam sorrateiros, majestosos. Pois não adiantou teres os sisos, Pois sempre mostrarão mais venenosos...
Sorrisos com tais dentes não desejo. Muito menos da boca peço o beijo.. Tuas farsas me deram tanto nojo.
Restando só aplausos para o arrojo Com que, mordendo tentas me beijar. Sufocas me roubando, então, meu ar...
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Pru mais que em minha vida imaginei Um dia em que pudesse ser filiz O coração matrero nunca diz De tudo que sozim eu pércurei.
Catano nus caminho, eu já nem sei Se um dia inda terei o que mais quis Curano essa firida, a cicatriz Fazeno da esperança a minha lei.
Sá dona, na verdade eu discunheço Adonde pode havê quarquer tropeço Do peito apaxonado dum sujeito
Que véve sem parage por aí, Mas juro que o amô eu discubri E agoro vô viveno sastisfeito! Marcos Loures
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Provoca a mais total disparidade O lusco fusco intenso desse jogo Queimando pouco a pouco a liberdade, Não ouve da verdade qualquer rogo.
No quanto que eu desejo a noite invade, Tramando o desencanto em que revogo O sonho de saber felicidade Na trama dos delírios eu me jogo.
As teias se entrelaçam, devagar, Não posso e nem consigo divagar Sobre os momentos úteis desta sanha.
Palavras vão girando em minha mente, O quanto que inda quero se desmente Deixando uma verdade tão tacanha... Marcos Loures
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Proverbiais as formas que me mentes, As forças naturais já não conheces, As hordas que perseguem-te, dementes, Não consegues conter, nem tuas preces...
Forças divinas, lépidas urgentes, São companheiras frágeis que não teces, Nas lutas que combates, finges crentes, Num segundo qualquer já nem padeces...
Minha senhora, fazes tuas lendas, Desérticas areias, velhas tendas. As pútridas feridas que me deixas,
Nas camas são mentiras enganosas, Perfumes que garantes, ser de rosas, No fundo falsificas até queixas... Marcos Loures
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Provar deste banquete em mil talheres Festança que não cansa enquanto esgota Do jeito e da maneira que vieres Decerto mudará caminho e rota.
Na frota destes barcos, quero o cais Extremas soluções, desejos tantos, No corpo finas taças de cristais Na cama se derramam mil encantos.
Feridas que apagamos noite afora, Findando com a dor, glória suprema Quem tem a luz divina se decora Na graça feita amor, rara e suprema.
Beijando tua boca, mote e vela, Uma esperança adentra na janela. Marcos Loures
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Provar desta maçã, fruto proibido, Roçando a tua pele com tesão Delírio derramando na libido Causando em nosso amor, ebulição.
Do gozo consumado, consumido, Orgasmo transformado em furacão, Num beijo mais voraz, mais atrevido Enchente num momento de explosão.
Bebendo cada gota de saliva, Tocando com furor o teu rocio. Umedecida senda latejante.
Teu corpo uma delícia que me criva Dos ópios e desejos, louco cio, Num jogo tão audaz e fascinante... Marcos Loures
39 Pudesse eu ter comigo a rara estrela Em cujos raios traço o meu destino, Inóspita paisagem se revela, Andrajos de minha alma...e me alucino...
Enquanto em desafio, o sonho sela Legando ao coração, tal desatino Romper dos dissabores grade e cela Herética ilusão em desafino...
Do abismo, os paradoxos me amortalham Mergulhos num vazio criam asas. Os olhos devorados pelas brasas
Opalescentes tramas já retalham As frágeis esperanças que, cadentes, Espalham trevas densas, envolventes... Marcos Loures
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Pra que complexidade eu te pergunto, O verso vai fluindo normalmente, Não quero mergulhar mais neste assunto Escrevo o que passar em minha mente.
Se gostas ou não gostas, não me ajunto Ao que já diz de nós toda essa gente. A crítica se mostra qual defunto Que teima em me mostrar seu podre dente.
Mordendo minha língua vez em quando Quem fala por demais, só diz besteira, O amor em tantas fases vai mudando
A sorte vai me dando uma rasteira, Porém ao me sentir já desabando Eu tenho na alegria uma liteira... Marcos Loures
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Purgando as imundícies de minha alma, Aceito, meu pastor o sacramento, De tudo não restou sequer um trauma, Agora vou liberto em pensamento.
Vomito em pecadores, só me acalma Certeza de não ter mais sofrimento Aquele que, servil, estende a palma E sabe que o castigo é seu alento.
Eu dançarei em festas de louvores Os hinos cantarei, vou por inteiro, Deixando para trás outros pastores
Somente servirei ao meu pastor, Amaldiçôo o podre e vão dinheiro Pois encontrei enfim, o vero amor... Marcos Loures
42
Prazer em cada canto desfrutar, Fazendo do quintal, meu louco vício, Comendo todo o fruto do pomar, Não deixo depois disso nem indício.
O mel de cada fruta vem mostrar O bom de se lavrar, sagrado ofício. No solo promissor eu quero arar Sabendo quanto é bom desde o início.
A moça que remoça um moço velho, Um poço de esperanças traz a glória, Sorriso sempre franco de vitória
Estampa o coração em pleno espelho. Assim, somando prós no dia-a-dia, Eu faço mais suave, a cantoria. Marcos Loures
43
Qual lastro que permite ao navegante Seguir em mar cruel, tempestuoso, Buscando este farol tão fabuloso De brilho mavioso e fascinante
O afeto que recebo do meu Pai Em meio às turbulências naturais Momentos que concebo magistrais Mesmo quando o que quero em vão se esvai
Se eu tenho esta certeza, a fortaleza Enfrenta a mais terrível correnteza Trazendo no final, a mansidão.
Senhor, a minha força está em Ti, Tudo o que necessito tenho aqui, Motivos para crer na Salvação!
44
Qual tolo acreditei no amor perfeito, Preceito que hoje afasto lentamente. A nuvem se entornando no poente Prenuncio de vazio no meu leito.
Eu sei que tanto errei, isso eu aceito, Pensara ser feliz e, francamente, O quanto tudo muda de repente Jamais me sentiria satisfeito.
O fato é que deveras quis demais. Estrelas derramando dos bornais Deixando um rastro claro em meu caminho.
Mas, cego, não sabia da existência Da rara maravilha em florescência, E agora vou seguindo assim, sozinho...
45
Qual um sonho de pedra, minha vida, Passada sem ter brilhos nem esperas. Deitando sob as luas já perdidas, Tragando nos meus ares, as quimeras.
Os rotos sentimentos dispersados, Parecia desfeito em versos ocos. Os cantos escondidos, mal guardados, Caindo pouco a pouco, meus rebocos.
No coração de névoas enlutado, Resquícios esquecidos de paixão. Atado a tantas dores do passado, Vivendo sem sentir uma emoção...
Mas vejo, no final, um frágil lume, Trazendo em manso amor, tanto perfume...
46
Qual um pássaro voa no céu, A minha alma também quer voar. Ao sentir os teus lábios de mel, Sensação tão gostosa de amar.
Liberdade traduz esperança Esperança de ser mais feliz. Se voando, minha alma te alcança, Rebrilhando, tão belo matiz.
Tenho o gozo feroz do desejo Satisfeito demais, em te ter. Sei que quero viver cada beijo, Libertário tal qual deve ser.
Nestas asas, minha alma, paixão. Se sustenta na pura ilusão....
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Qual último alimento de minha alma, A morte se mostrando pertinente, Atravessando um peito penitente, Punhal que me trespassa já me acalma.
Farnel que assim carrego; pleno em trauma, Enquanto a fantasia me alimente O fim da longa estada se pressente Na curva traduzida; a mão, a palma...
Vou célere buscando algum sustento, Expondo o coração ao forte vento Que enfim terminará tão longo idílio...
Vivera neste fútil, louca busca, E agora a noite escura que me ofusca Promete o derradeiro e sacro exílio...
48
Qual Teseu, me encontrei no labirinto, Nossas noites ficaram mais escuras... Procuro teu calor, simples instinto, Não quero percorrer tuas loucuras...
Nosso vinho tal sangue, corre tinto, Mordemos a maçã, tantas canduras, Ariadne, teu Teseu anda faminto... Espera sem demora, t’as ternuras...
Amor que vai brilhando, incandescente... Não posso penetrar teus sentimentos... Não peço que sejas condescendente,
Apenas não transtorne meu radar... Meus passos vão seguros, porém lentos, És a brilhante estrela, meu quasar... Marcos Loures
49
Qual sino que dobrasse dentro em mim Saudades vão minando a resistência Relembro nos teus olhos inclemência E o vago que deixaste em meu jardim.
Não posso mais fugir da penitência Herdada pelo quanto quis assim. A noite de minha alma chega ao fim. O resto? Obnubilando a paciência...
Às vezes mitigando o sofrimento Recordo de teus olhos, tua pele Sorrio, nem que seja um só momento.
Mas logo a consciência me repele E volto qual um náufrago sedento Oásis da saudade assim compele...
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Qual simples andorinha vou a esmo, Em busca do descanso tão sonhado. Desejo que bem sei, é sempre o mesmo, Viver tão calmamente do teu lado.
Mas voas, borboleta, sem destino... Revoas por caminhos tão distintos. Te quero, meu amor, desde menino Entranho sem pudor, os meus instintos...
E sinto as ilusões mais passageiras Retratos do passado, primaveras... Paixões que sempre foram verdadeiras Dominam pensamentos, me temperas...
E corro te buscando pelo espaço, Vagando, um novo rumo, louco, traço...
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Qual silfo vagueando no vergel, Busco encontrar silêncios, paz, brandura... Olhando para os zéfiros, no céu, Sorvendo desses anjos, a candura.
A vida me permite ferrão, mel; As dores que eu herdei, tanta fartura. Se sou tanatofóbico, teu véu, Reascende pavor, por tal alvura...
Mas teimo em resistir, esse flagelo, Teu corpo piamente, quando velo; Na verdade é destino que apavora...
Nas melodias, féretros sinais, As fantasias nunca, nada mais Do que sentir chegar a final hora... Marcos Loures
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Qual sílfide, delícia encantadora... Trazes a languidez das brancas rendas. Na boca carmesim tão tentadora, Ardor pecaminoso invade as tendas
A noite em que chegaste, redentora, Caminhos, espirais, dolentes lendas. Sonora melodia sedutora Lascivas, sensuais divinas sendas...
Sonatas e perfumes, canção, rosa.... Veludos, maciez; camurça e gozo. A mão que te procura, carinhosa.
Palácios dos prazeres, catedrais. Desejo de viver, voluptuoso, Tua beleza rara, meus cristais...
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Qual sapo jururu sem ter carinho, Do brejo que me deste como herança Eu sonho com teu colo, e já me aninho Nos braços magros, torpes da esperança.
Herpético, o meu lábio, de mansinho Querendo um beijo teu, mas com pujança Sonegas com tal asco este beijinho, Que apenas o vazio vem, me alcança.
Do amor que prometeste, esta sucata Que agora me restou tanto maltrata; Eu sei que sou apenas tabaréu.
Quem dera general, ao menos cabo, Nas redes das intrigas eu me acabo Tão reles, na verdade, o meu papel... Marcos Loures
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Qual rocio que molha um duro chão A luta que se faz no dia a dia, Vencendo já nos traz fecundação Do sonho que se fez em poesia.
Plantamos com soberba devoção Em versos todos plenos de alegria, Colheita prometida em cada grão, Sementes que vieram da harmonia...
Molhadas com as lágrimas doridas Em carnes torturadas no passado, Sonhando transformar as nossas vidas,
Nos olhos confiantes, lavrador Que usou sua esperança como arado Colhendo na aridez o puro amor....
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Qual rio que correndo para o mar Encontra nas cascatas seus obstáculos, Assim também ocorre quando amar Se prende sem querer pelos tentáculos Dos ciúmes, dos medos... Quero estar Na boca dos mais lúcidos oráculos Que possam meu futuro adivinhar Fazendo dos meus dias espetáculos. Vem comigo querida; não se esqueça Do bom que nesta vida hei de viver Não deixe que esta angústia me enlouqueça; Não quero mais amor de outra pessoa, Eu quero só teu mundo no meu ser. Não deixe mais que vire essa canoa...
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Qual rio que caminha para o mar E sabe das cascatas, cachoeiras, Depois se entrega aos raios do luar, Nas pratas que alumbraram corredeiras,
Eu sei o quanto é bom poder te amar, Em emoções sutis e verdadeiras, Desfraldas deste amor, suas bandeiras E mostras a delícia de encontrar
O que buscamos tanto pela vida, Trazendo até no fim uma certeza Marcando cada passo, com beleza.
Quem fora prisioneiro da tristeza Agora percebendo uma saída, Na mão tão carinhosa e decidida... Marcos Loures
57
Qual pútrido canino que rasteja Atrás de sua dona, rua abaixo. Às vezes meu amor, eu também acho Que é desta forma imunda que deseja
Lambendo a bota suja, mas sobeja Eu vago sem destino, então me agacho Em busca do que resta, mesmo um facho Da lua aonde finges sertaneja.
Um verme talvez fosse mais presente, Ao menos poderia ser malvisto. Não sabes na verdade, nem se existo,
Apenas me quiseste na corrente, Porém mesmo este cão quer na verdade, Um resto de comida: a liberdade...
58
Qual pluma vai bailando com o vento Entregue a tais carícias envolventes. Parando, recomeça, num momento, Na dança e nos folguedos mais frementes,
Meu coração aos poucos toma assento E esquece de outros dias, penitentes. Querida, não me sai do pensamento Inveja que causamos a outras gentes.
Anseio te tocar, mas te procuro Em todas as palavras que eu disser Em todos os meus sonhos, em meus versos.
A luz que me inebria neste escuro, A silhueta bela da mulher Em magnitude plena, os universos... Marcos Loures
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Qual pirilampo lusco-fusco trago, Lanterna dos meus olhos não te viu. Num outonal desejo quis abril, Restou do meu afeto, nenhum bago.
Riscando cada fósforo eu afago O que pensei sem teima ser gentil, Guardando desde sempre o seu buril Quem pode desdizer se artista é mago?
Vidraça não resiste à simples pedra, Quem olha e não complica nunca medra Explicação procuro dentro em mim,
Ouvindo este mugido, vaca e estrela, Brilhar de vaga-lume me revela, Amor é bom demais. ‘Té no capim... Marcos Loures
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Qual peixe fora d’água, eu me senti Ao ter tua presença deslumbrante, Na intensa claridade de um instante Cheguei bem de mansinho junto a ti.
Eu, velho repentista, conheci Um astro com tal brilho fascinante, Na deusa sensual e provocante Estimulante como um açaí.
Não pude acreditar que tu sorriste, E quem cismou na vida, amarga e triste Depressa vislumbrou alguma chance.
Eu sei que foi somente uma tolice, Que uma ilusão estúpida me disse Estavas destas mãos, fora do alcance...
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Qual pedra em mãos divinas, bem talhada, Gigante que se forma dia a dia, Jamais a encontrarás triste e cansada; Servindo a quem, decerto já servia.
Em oferendas mostra tal magia Que quem a reconhece ganha a estrada Sem medo do que chegue, em novo dia Pois sabe sua rota iluminada.
Na força de seus braços que, benditos, Permitem cada passo sem temores, Alçando com vigor os infinitos,
Na placidez sincera dos amores, Na força da amizade encontro o rito Que traz tanta esperança em seus pendores...
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Qual pássaro veloz percorro o céu Levando uma esperança aqui comigo, As nuvens me cobrindo como um véu No peito um coração assaz amigo.
Tremulam minhas asas, pesam tanto, Pois sei quanto é difícil flutuar Co’o peso deste enorme desencanto Que forra meu desejo de lutar.
Não temo nem distância nem o vento Que traz contrapartida a cada sonho. O mundo que se faz no pensamento Aquele que no vôo já proponho.
Nos olhos o futuro qual miragem As asas tão pesadas da viagem ..
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Qual pássaro que rompe frias grades O verso vai liberto em céu imenso. Meu passo se mostrara, outrora, tenso, Olhar já não sabia claridades.
Corpo que se desnuda em ansiedades, Diverso do que quero e mesmo penso Num cálido luar me recompenso Exposto à magnitude das saudades.
Heréticas manhãs; não quero mais, Rompendo com firmeza tais umbrais O vento passa a ser meu aliado.
A voz segue mais mansa, o peito aberto, O rumo percorrido em vão e incerto Permite este horizonte anunciado...
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Qual pássaro contido na gaiola Batendo suas asas sem proveito. O amor não pode ser mais desse jeito, Uma alma sonhadora já decola
Sentindo a tua mão em minha gola, Arrolo uma esperança neste pleito Enquanto em luzes soltas eu me deito Na queda, o sentimento assim se esfola.
Amor que se traduz por liberdade Galgando na maior velocidade Imensa claridade no infinito.
Porém não quero preso nos meus pés Grilhões que formam tétricas galés Tornando o dia-a-dia tão aflito... Marcos Loures
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Qual pássaro aflito Temendo a gaiola, Amor tece rito Mas nada consola, Meu sonho bonito, Não vai nem decola.
Querendo estar perto De quem tanto eu quis Meu peito deserto, Morrendo infeliz, Amar é decerto Eterno aprendiz.
Morrer de saudade, Não fosse a amizade...
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Qual onda que tocando a mansa praia, Bem antes da maré que virá cheia, O amor quando em teus braços já desmaia
Depois de mergulhar em cada veia Enquanto a fantasia aqui se espraia O fogo do desejo me incendeia.
Minha alma tão sincera e transparente Encontra nos teus braços a resposta Ao quanto de emoção já se pressente Quando se demonstrou desnuda e exposta.
Servindo ao servidor, de ti cativo, Erguendo a velha taça de cristal Da qual e pela qual somente eu vivo, Um sonho plenamente magistral...
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Qual nuvens quando em bando vão errantes Mudando sempre as cores e os formatos, Qual sonhos que vivemos mais mutantes Qual água que transborda nos regatos...
Assim como a floresta dança ao vento, Assim como esse mar nos traz a onda, Assim como se forma um pensamento Assim como uma lua vem redonda.
Assim como a geleira se derrete, Assim como um verão é mais chuvoso, Assim como o pecado se comete Assim como este amor é glorioso.
Nas indas tantas vindas da natura, Minha alma na tua alma se tortura...
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Qual nuvem que caindo em força e tempestade Meu verso vai seguindo os rastros que deixaste Amor que se fez chuva emerge na saudade Do tempo que se foi causando tal desgaste
Deixando tão somente esta mordacidade, Deveras natural, é do meu canto uma haste Matando a mocidade, o frio que me invade Permite tão somente o nada que legaste.
Entranho cada som, esqueço do amanhã, Vasculho por mim mesmo e nada encontro enfim. A noite segue fria, a vida segue vã.
Montanha que desaba em dor torrencial, Marcado pelo nada, escondo-me de mim Na estrela recoberta, imenso temporal...
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Qual Ninfa que, surgida de um secreto E belo sentimento em que me guio. Rondando ao acender vela e pavio Deixando o coração mais manso e quieto.
Nas mãos uma oferenda em tanto afeto Apascentando um mar deveras frio, Semeia luz num mundo tão sombrio Mudando de repente o duro aspecto
Invade meu jardim, floresce rosas, Adoça minha boca em cana e mel. As noites vão ficando vaporosas,
Os mares se acalmando sob a lua, Olhando extasiada, ganha o céu Ao ver a Ninfa, bela, Musa nua...
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Qual ninfa que se banha bela e nua Assaz deliciosa em lago manso. Deitando seus desejos sob a lua Teu corpo delicado eu vejo e alcanço.
Ao ver-me, extasiada continua Banhando-se permite meu avanço, Meu corpo ao te tocar, sempre flutua E assim, tão transtornado enfim eu tranço
As pernas, coxas, sexo, e sugando Do néctar mavioso que produzes, Reparo a profusão de belas luzes
Em êxtase fulguras. Assim, quando Sentir o teu orgástico prazer Sabores delicados; vou sorver...
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Qual nave que percorre mil planetas Em versos e desejos redentores, Casulo em que formam os cometas Os lábios descerrando estes amores. Convulsas, vão tocando estas trombetas As noites sem juízo e sem pudores.
Respiro tua boca em que eu habito No vale mais escuro, belas furnas, Nas praias, qual um mar insano agito, Eu, vento, vou lambendo tuas dunas.
A chuva se transforma em tempestade, As águas vão tomando a quente areia, Num relampejo/olhar tal claridade Que mesmo a fria lua se incendeia.
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Qual náufrago de um sonho em mar imenso Que encontra em um atol; porto seguro, No amor que te dedico sinto e penso, Deveras dos meus erros me depuro.
Meu barco; na partida, em alvo lenço, Deixara uma saudade, sem apuro. Mas logo a tempestade em céu tão denso, Ao soçobrar perdeu-se, mar escuro.
Amor; um timoneiro persistente, Encontra ancoradouro em manso cais. A salvação mostrando-se evidente
Permite que se estenda em firmes laços E atraque em segurança. Os vendavais Da vida me aportaram nos teus braços... Marcos Loures
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Qual mar tempestuoso, em noite mágica Amor se revelando incontrolável. A vida que se fora sempre trágica Agora em novo encanto imensurável
Supera as mais diversas turbulências Abrindo os horizontes, face cálida, De gozos que procuram confluências A noite não virá jamais tão pálida
O fogo que devora; um voraz vândalo Devora este prazer, amor fantástico... Nos gritos e gemidos, um escândalo Numa eclosão de um sonho assim orgástico.
Luxúrias e delícias, mundo hedônico Olhar que ao te ver nua – catatônico...
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Qual mágica e sutil telepatia Recebo esta mensagem que me trazes. Meus sonhos que se formam mais tenazes Percorrem universos, euforia.
Amiga em simples versos se sacia Quem busca pela vida em sons e frases Viver e merecer por certo as fases Do amor até chegar farta alegria.
Navego nas palavras, a amizade Que é mar de imensidão inigualável. Vibrando em cada verso mais amável,
Decifro em meu destino a qualidade De quem traz a mensagem lisonjeira Mostrando ser amiga e companheira... Marcos Loures
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Qual lua rodeada por estrelas A deusa dos meus sonhos vem surgindo, Momento deslumbrante, raro e lindo Aonde esta magia tu revelas.
Imagens que transtornam de tão belas, A cada nova noite decidindo Rumo de minha vida que deslindo Somente por poder saber e vê-las.
A fonte luminosa da esperança Rondando a minha cama, agora traça Além deste horizonte e da fumaça
Que todo o sofrimento me legou, Formando com o espaço esta aliança A diva em claridade me banhou... Marcos Loures
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Qual lua bipartida, a bela bunda Da moça mais gostosa do pedaço. Redonda formosura quando abunda, Pros olhos vai virando em imãs/aço
Quando nela vontade se aprofunda, Apelo de repente e me desfaço Em dádivas, pedidos. Não redunda Sempre em vitória, às vezes perco o laço.
Sonhando com a bunda da morena, Não deixo de sorrir esta esperança De um dia, nem que seja por vingança
Ao ver cada hemilua, nua e plena, Embora bem no meio repartida, Dar,e com toda fome, uma mordida...
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Qual guerreiro que luta sem parar, Nossas noites em loucos desafios. Fazendo das batalhas, tanto amar, Deitando em nossas camas, nossos rios.
Na enchente do prazer, se transbordando, Dilúvios e torrentes, as cascatas... Aos poucos neste amor vou me afogando, Embrenho por teus bosques, tuas matas.
E sinto este pulsar do coração, Em sôfregas torturas da ternura. Vibrando com tamanha sensação, Deitando nestes rios, as venturas.
Que trazem para o amor, essa emoção, Que fazem deste amor, inundação!
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Qual fúnebre mortalha, um agasalho, Viagem, sortilégio derradeiro. À campa em que descanso e me agasalho, Forrado pelo amor mais verdadeiro. Distante do prazer e do trabalho, Meu corpo se entregando, vai inteiro...
Amantes delicados e vorazes, Nos lábios decompostos um sorriso, Cortantes os insetos, as tenazes, Minha alma tão longínqua, me hipnotizo, Estranhas sensações que são fugazes, Visões que percebi do paraíso...
Do corpo que perdi, a liberdade Do sonho de viver eternidade...
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Qual fossemos, no amor, dois andarilhos, Nos sonhos mais audazes, caminheiros, Seguindo com desejos nossos trilhos, Prazeres desfrutados – verdadeiros.
Não tendo, nesta estrada, os empecilhos Nós somos, com certeza, garimpeiros Enquanto disparamos os gatilhos, Orgasmos se tornando corriqueiros.
Depois desta fartura na colheita No quanto esta vontade nos deleita, Decerto nós seremos mais felizes.
Cansaços e suores, os troféus Que temos ao vagarmos pelos Céus, Tocados pela luz em seus matizes... Marcos Loures
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Qual fossemos viajantes sem destino Que embarcam nesta nau chamada Terra, Quem dera se voltasse a ser menino, Olhando para o monte, para a serra
Teria uma esperança mais concreta De ter em dia manso um bom sol pôr Exuberante vista, mas discreta A vida assim viria ao meu dispor.
Mas vejo que ao crescer perdi meus traços Até companheirismo eu me esqueci. Atado por negócios, noutros laços, A solidão do adulto, eu conheci.
Quem dera se volvêssemos crianças Que sabem se alegrar, em risos, danças...
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Qual fossemos meninos sem juízo Brincando sob a lua mensageira, Roubando toda a cor do paraíso Na noite desse amor em vez primeira. O beijo que roubado, sem aviso Chamando para a festa verdadeira
Das bocas e das mãos decerto audazes, Salivas são trocadas, raios, lua... Promessas que te fiz, carinhos fazes, A soma de nós dois se continua Mostrando quanto somos mais capazes De termos nossa sorte exposta e nua.
Sozinhos nada impede essa folia Em gargalhadas soltas de alegria...
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Qual fôssemos falena/intenso lume em atração fatal, maravilhosa. Tu sempre me inebrias com perfume que emanas no meu quarto, rubra rosa.
Famintos, tresloucados, sem juízo, vagamos noite inteira, pirilampos que encontram noutro par seu paraíso, iremos desvendar divinos campos
na busca pelo sol em linda aurora, a noite em mil centelhas, arde em chamas, amor que nos tomando sempre clamas e em estrelas deslumbrantes te decora,
na areia prateada em lua cheia, amor em espetáculo, incendeia Marcos Loures
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Qual fossem estações várias de um ano, Amores se sucedem em minha vida Vivendo tão somente sem ter plano, A cada novo tempo, a despedida.
Incidem nos meus sonhos vários sóis Diversos sentimentos misturados, Na areia deste mar, mil caracóis Em cores e formatos variados.
À boca a mão não leva quase nada, O creme da alegria é tão escasso. Depois do pesadelo, a gargalhada, Caminho em que tropeço, eu me desfaço.
Mas sigo face a face com a fera, Abrindo no meu peito esta cratera... Marcos Loures
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Qual fosse fina prata em sentimento, Portando uma emoção tão delicada; Como uma mansa brisa, calmo vento, Vivendo calmaria anunciada
Numa dolência mansa de sonata, Na maciez da seda e do veludo. Aos poucos, amizade me arrebata, Sem medo e sem temor; leve, contudo...
Em luzes tão macias e sensíveis, Não cobra nem espera, apenas vive... Sem exigir as coisas impossíveis Sem perguntar dos mares onde estive.
Um sentimento assim, pleno em nobreza, Garante em nossa vida, uma pureza!
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Qual fosse uma falena que procura Em meio à escuridão um claro lume. Minha alma seduzida por ternura Buscando a bela flor e seu perfume.
Deixando lá de fora o que encontrara Em dias dolorosos, meu queixume. Agora que já sabe a vida amara, Não deixa-se iludir, tendo o costume
De vir, devagarinho, passo a passo, E se entregar inteira, sem juízo. Vencido todo o medo, amor eu traço
Com força e com vontade, vou preciso. Voando sem parar rumo ao teu braço, Eu sei que enfim terei, um paraíso...
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Qual fosse uma falena em claro lume, Persigo o teu olhar a cada dia, Vencido pelo encanto da magia, Entrego-me sem medo ao teu perfume,
Fazendo deste amor um bom costume, Alvíssaras, encantos e alegria, No peito que se mostra em cantoria, Afasto para longe qualquer queixume.
E vou sem ter medidas, para além De tudo o que sonhara como bem, Vivendo com real felicidade,
Sabendo que virá em alvorada O rosto tão feliz da bem amada, Trazendo para mim, a claridade... Marcos Loures
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Qual fosse uma esperança que adormece No peito solitário de quem ama. A vida se irrompendo em uma prece Calando o que restara desta chama.
Um coração vadio que obedece À voz que não percebe, mas reclama. Futuro desdenhoso que se tece Nas hostes de quem sabe a mesma trama.
Tudo o que mais quiseres eu faria Em veras fantasias mais profanas. Sangrando sem desculpas cada dia,
Morando nos teus olhos, velha chaga. Se amares for demais, tanto me enganas, Sorriso que me mordes, logo afaga...
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Qual fosse uma divina criatura A moça que adentrou no escuro quarto Em laivos de carinho e de ternura Deixando quem amou, decerto farto.
No toque mais sutil, total brandura Porém o seu retorno eu já descarto. Talvez num outro dia pós a cura Eu possa enfim dizer que não enfarto
Ao ver tanta beleza abandonada, Deixada sem cuidado pelos cantos. Matando o principal de seus encantos,
Murchando com desleixo tal florada. Beleza iluminada, rara tília. Portando em abundância, uma monília...
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Qual fosse uma cascata que desaba Que cabe no universo da saudade. Antes de saber que a vida acaba No sonho que traduz a liberdade,
Sugando teu prazer com tanto afeto Sabendo que te amar é ser feliz; Do vinho do teu corpo, o predileto, Que bebo nas loucuras que te fiz,
Num parto mais seguro e mais sensível Amor revela o brilho do prazer. Amando teu amor de forma incrível, No mundo que esperamos renascer.
Na trama delirante amor existe. Um quadro na parede nos assiste...
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Qual fosse um cavaleiro em lua cheia Vertendo pura prata em meu olhar, Enquanto esta vontade me incendeia Vontade de seguir e de ficar,
Ouvindo o canto breve da sereia Bebendo a fantasia à beira mar, Minha alma tantas vezes tão alheia Encontrando o desejo de ficar.
Rompendo a madrugada do teu lado, Estrela matutina, divinal, Rondando pelas sendas deste astral
Montando em meu corcel veloz e alado, Desenho no horizonte a tua imagem, Prismática e suprema paisagem...
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Qual fosse no canteiro dos meus sonhos A rosa preferida, e perfumada, Os dias sem te ter são simples nada. Sem versos, sem aromas, são tristonhos.
Meus dias se passaram, vãos, bisonhos, Em volta de uma lâmpada apagada Falena se perdeu na madrugada Em fogos e vagares tão medonhos.
Agora ao encontrar a redenção Que é feita em verso puro, em emoção. Ascende aos céus com asas bem abertas
E mostra uma risonha juventude Bordada com paixão, com atitude, Arando minhas plagas, vãs, desertas... Marcos Loures
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Qual fosse conjunção de átomos tolos Andamos nos bicando por aí. Se eu tenho a sensação que te perdi, Não busco; de teimoso em outros colos
Tocar com mansidão terrenos, solos Sabendo que o melhor estava em ti. Meus sonhos em teu corpo eu aspergi Sem ter, tenha a certeza, quaisquer dolos.
Abalos são comuns, eu te garanto, E nada pode ser só desencanto. De tanto assim gritar, ficando afônico
Ainda tento, insano, te mostrar Que a força deste amor a se tocar Explodirá num sismo quase atômico... Marcos Loures
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Qual fosse a maravilha de um troféu Há tempos perseguido; sem descanso, Além do que mereço, quando alcanço Teus lábios; alço enfim o etéreo, o Céu.
Nas lutas e combates vida afora, Derrotas e vitórias, guerra e paz, Às vezes insensato, louco, audaz A vitória, minha alma comemora...
Um mísero poeta; nada além, Usando da palavra tão somente, Muitas vezes, acordo sem ninguém
E penso na existência tão vazia... Mas quando te imagino, finalmente, Cultivo nos teus lábios, poesia...
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Qual fora uma miríade de estrelas Um sonho constelar, vida e promessa, Que a cada novo dia recomeça, As luzes – mal consigo concebê-las,
Estonteantemente, tecem telas, Juntando os pedacinhos, peça a peça, Minha alma sem ter nada que inda impeça Explode nos desejos que revelas.
Arrancam dos meus sonhos vários tufos Misteriosamente tais quais UFOs Adentram; luminosos, o meu ser
Cometa tão somente ou fantasia? Só sei que nas searas da utopia, Como num paradoxo, traz prazer...
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Qual fora uma miragem tu chegaste Diáfana presença em transparências, A luz vai revelando num contraste As formas mais divinas, sem clemências.
Sensualidade imensa; provocaste Trazendo com ardor, tantas demências, Vontades e desejos; entornaste Nos gozos e convites sem decências.
Qual presa eu me entreguei, hipnotizado, Teu corpo sem segredos desnudado E a noite se passando, assim, sedenta.
A fúria desta insânia nos tomando Desejo feito em lava provocando A fome sem pudores, violenta.... Marcos Loures
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Qual fora uma miragem num deserto Oásis que encontrei, um beduíno, O amor ao me mostrar novo destino, Deixando o coração já descoberto.
Um andarilho segue em rumo incerto, Vivendo tão somente o desatino, Ao ver o teu olhar tão cristalino O portal do tesouro; achei, aberto.
Alquímica vontade que nos une, No amor que enlouquecendo vai impune Transtorna enquanto muda a paisagem.
Nos céus emoldurando a poesia, O amor que seduzindo, agora guia, Guardando na retina a tua imagem... Marcos Loures
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Qual fora uma clareira em plena mata, Momentos de alegria são tão raros... A paz que se demonstra em dias claros Permite a mansidão que se constata
Andando por vereda bela e grata Sabendo quão difíceis, sempre caros. Acolhedores negam desamparos Verdeja esta esperança que nos ata
E deixa nosso passo mais tranqüilo, Dando-nos toda a força pra seguir, O pensamento trama o que há de vir
A vida vai mudando o seu estilo E traz a calmaria desejada, Tirando os pedregulhos desta estrada... Marcos Loures
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Qual fora um vento em toque mais macio Eu sonho em penetrar teus pensamentos. Estar contigo enfim, tantos momentos... Um mundo mais gostoso; tento e crio
Distante dos antigos sofrimentos E assim, querida, do sonho eu principio A ver belo futuro, onde este estio Já venha nos tomar os sentimentos.
Não temas a distância, ela não há. Pois por onde vieres saberás Já que me coração se encontra lá;
E saiba, meu amor, estou contigo; Apenas neste sonho, em tanta paz A vida nos garante um bom abrigo... Marcos Loures
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Qual fora um velho e arcaico menestrel Um tanto maltratado pela vida, Busco desempenhar o meu papel De antigo trovador que se lapida
Usando algumas gotas de bom mel, Mistura muitas vezes mal medida, Tentando disfarçar todo o meu fel, Qual fora curativo na ferida.
E sei que isto parece quase mágico, Opaco, muitas vezes tolo e trágico, Trafico meus ungüentos por aí.
Mas sendo quase um torpe trapaceiro, O amor que antes julgara verdadeiro, Morreu de inanição. Mas vejo-o em ti.
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Qual fora um velho ator sem ter platéia Resisto à solidão, triste quimera. Minha alma sem sentido, assim, plebéia Buscando uma amizade que se espera
Por anos, tantos anos, nunca vem... Perfume de mulher me abandonou, Descarrilada a sorte, perco o trem, Somente uma lembrança aqui restou.
As marcas no meu rosto, cicatrizes Mostrando tantas chagas no caminho. Vivi, por certo, tempos mais felizes, No mar maravilhoso do carinho.
Agora, minha amiga, sem amor, Só te resta, platéia deste ator...
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