
MEUS SONETOS VOLUME 126
Data 30/12/2010 13:29:33 | Tópico: Sonetos
| 1
Persigo-te em caminhos, flóreas sendas, Dolentes os teus passos, meu encanto... Essências magistrais em belas rendas Enlanguescente mostras o teu canto. Que à sorte tuas sanhas, sempre ascendas, Tu és da plena glória, um helianto..
Desfilas teus olores divinais Em todas as andanças que perfazes; Teus olhos são por certo, magistrais, Fulguram como a lua em suas fases, Te quero bem assim, e muito mais. Tu és do meu porvir colunas, bases...
Harmoniosamente vivo em ti, A gênese do amor que, enfim, vivi...
Marcos Loures
2
Persigo meu amor sem ter paragem Em vastas caminhadas de minha alma Por dentro deste amor, minha viagem, Ao mesmo tempo dói e tanto acalma.
Sentindo teu desdém, me desespero E quase me entregando, sem sentido, Ao mundo que perdido não mais quero. De tanto amor que sempre tem havido.
Ávido de saber por onde andaste No tempo em que vivias outras trilhas Nem sinto, mas causando tal desgaste, Revivo tais saudades maltrapilhas.
Bem sei que nada mais resta do fato, Queimaste da gaveta esse retrato...
3
Persegue o teu caminho a cada traço, Olhar que tanto quer o teu querer, Vivendo este sublime e bel prazer, Eu sinto a maravilha de um abraço
Tocando a tua pele, em cada espaço Adentro cada parte do teu ser, Já tendo tanta coisa por viver, Não tenho nem mais sombras de cansaço.
Estendo ao meu amor, as minhas mãos, Deixando os meus passados todos vãos, Podendo vislumbrar felicidade.
Aquecendo o meu corpo, tua pele, Ao mar de amor imenso me compele Mudando em calmaria, a tempestade... Marcos Loures
4
Persegue a bela artista e sua trilha Imprudente esperança libertária, Ao mesmo tempo sendo necessária Tropeça a cada passo, essa andarilha...
Às vezes ilusão também nos pilha Transformação decerto temerária A voz por tantas vezes tão sectária Espera a mais incrível maravilha.
E nada do que cremos surgirá O céu que num momento nublará Negando o que sonhara uma criança.
O vento tão soturno das paixões Trazendo cedo aos nossos corações, Promessa aterradora de vingança. Marcos Loures
5
Perpetuas feroz a mão que mordes, Minhas semanas voam sem perdão. As cordas das violas, meus acordes, Pretendo te tocar o coração...
Me fiz até senhor onde quis lordes, Nas ondas dessa tal revolução... Marujos vão cuidar, embarcação, Não há mais lua bela que recordes...
Nas pontas das estrelas as verrugas,; Meu rosto colorido pelas rugas, Demonstra minha velha insensatez...
Ladrando, vou fugindo pela escada, Andrajos que carrego não são nada, Chorando, carregando a viuvez!
6
Perpetuas amor por onde passas... Nas camas que freqüentas não descansas. Os corpos que devoras, são carcaças, As bocas desfraldadas onde danças...
Te conheço, disfarço tuas farsas, As vezes que te quis, fomos crianças, Nas camas que dormimos, tão esparsas, Rolamos amplidões, desesperanças!
Sutilezas profanas, tuas covas... Amores que perecem já renovas. Os dentes que me cravas, venenosos...
Nas vezes que apunhalas, distraída. Escorre neste sangue tanta vida... Os beijos que envenenas, mentirosos! Marcos Loures
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Perpassa nos meus olhos, a saudade Do tempo em que te vi doce princesa, Trazias tal beleza e claridade Que a teus pés se rendia a natureza...
Tu tinhas na tiara mil estrelas Qual fossem mil falenas coloridas, Encanto de poder sentir e vê-las Na noite qual centelhas distraídas...
Um trecho de paisagem sem igual Na tela da saudade que pintei, A forma que mostravas; sensual, Com toda a fantasia que sonhei...
Perpassa nos meus olhos, teu olhar, Vontade de te ter e de sonhar!
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Permito ao coração ser vagabundo Vagando, colhe estrelas, rasga o céu, Galopa sem limites meu corcel Persegue em pensamentos, novo mundo.
Destinos tão diversos que confundo Estradas sem destino, vou ao léu, A vida vai girando em carrossel, E a cada nova volta me aprofundo.
Invado as negritudes abissais, Em meio a teus carinhos sensuais Desenho o meu desejo traço a traço,
Minha rosa dos ventos eu perdi, Mas bebo do prazer que achei em ti Numa explosão extrema em cada passo.
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Permitindo um cantar mais prazeroso Entôo em esperança um verso amigo, Depois de um terremoto algum abrigo, Aonde se vislumbre sorte e gozo.
Sabendo que o destino é caprichoso, A paz que tanto quero e mais persigo Separa na verdade joio e trigo Fazendo este canteiro mavioso.
Do quanto a vida, amarga, já nos priva Eu vejo num momento ser apenas Prenúncio de bonança em novas cenas
Após da fantasia; ser cativa Minha alma sonhadora, que sem meta, Vagava tantas vezes incompleta... Marcos Loures
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Permites calmamente, que eu te veja. Deliciosamente, pouco a pouco. Desejo repartido, sonho louco, Meu corpo te pressente e já lateja.
Ardentes nossos lábios vasculhando Fronteiras não respeitam, querem mais. O amor que outrora fora manso e brando Espalha sobre a cama, vendavais.
Tua nudez exposta em minha frente, Num átimo, eu mergulho nos teus braços. Num ato ao entranharmos nossos laços
No Éden, adentrando, de repente. As roupas espalhadas nos lençóis, Contemplam o furor destes dois sóis... Marcos Loures
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Permitem que se possa conhecê-las Estrelas que vagueiam sobre nós. Ao mesmo tempo sonho poder vê-las Tocando num bailado a mansa foz
Aonde dos meus barcos, soltas velas, Escuto da sirena a doce voz. À sombra da ilusão, prevejo após Um dia deslumbrante, ao recebê-las.
Qual fora um lavrador que se extasia Ao ver a plantação que a cada dia Proporciona o gozo de uma fruta
No sumo imaginável, me deleito, Porém volta o vazio quando deito. Paixão me devorando, audaz e astuta... Marcos Loures
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Permite que se mude a humanidade O braço mais suave de quem toca Ao transmitir amor em amizade, Exprime a sutileza desta troca
Na qual os vencedores são os dois, Sem termos de vitória ou redenção. A glória se mostrando no depois Expressa a maravilha do perdão
A face carcomida da mentira Toda excrescência podre da vaidade, Ao pélago profundo amor atira Sobrando tão somente uma amizade.
O quanto que é preciso ser feliz, Apenas amizade sabe e diz.. Marcos Loures
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Permite que num Deus eu acredite Convites que fazemos sem ter hora. Não quero e nem aceito mais palpite Eu quero o nosso amor decerto, agora.
Eu quero que tu venhas me salvar Do medo de morrer em solidão, Bebendo tua boca devagar, A chuva se espalhando no sertão.
Buscando em noite escura, o meu abrigo Encontro nos teus braços o meu cais, Vivendo todo o sonho que persigo, Eu juro, não te deixo nunca mais.
Vem logo ser a prenda que eu sonhara, Uma estrela absoluta em noite clara...
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Permite que meu passo, enfim se aprume, O verso mais liberto e sem conchavos, Mil mares naveguei, calmos e bravos, Se eu tenho ou se não trago mais queixume
Não me deixo levar por teu ciúme, Apenas coletando estes centavos Carrego em minha morte, lírios, cravos Até que com meu cheiro se acostume
Aquela que se fez a companheira, Legando a solidão mais corriqueira, Sabendo o quanto livre é minha vida.
Agora que encontrei mais claro o rumo, Os erros cometidos eu assumo: Minha alma se encontrava, antes perdida Marcos Loures
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Permite que eu vislumbre este tesouro Os olhos que se mostram cristalinos. Fazendo de teu corpo o bebedouro, Percebo tão iguais nossos destinos.
A sorte deste sonho imorredouro Está nos braços meigos e divinos, Tu sabes espalhar gotas deste ouro Tornando os meus caminhos diamantinos.
No quanto que te quero e sou feliz, No quanto te desejo e vivo farto, A lua toda noite em nosso quarto
Em cada raio nobre já nos diz, Do brilho que se mostra num sorriso, Portal do mais sagrado paraíso... Marcos Loures
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Permite que eu mantenha o peito aberto, Vontade de te ter; junto comigo, E tendo o teu prazer aqui bem perto, Desperto e encontro tudo o que persigo.
Deslizo em tua pele com meus dedos, Adentro por teus mares e horizonte, Ao desvendar, assim, os teus segredos, Percebo e já desfruto em cada fonte
Do gozo magistral, porto divino Ancoradouro em chamas se umedece Enquanto ao mesmo tempo eu me alucino, Eu tenho o que mais quero e me apetece.
Do amor feito em loucura, insânia e paz, Volúpia que me traga e satisfaz...
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Permite que eu escute sempre o não, O verso que julgara benfazejo, Tomando em suas mãos o meu desejo, Não deixa mais aprumo ou direção.
Um dia bem melhor não mais prevejo, Anseio por total libertação. Mas sei que no final, tudo foi vão, O gozo deste amor, simples lampejo.
De todos os delírios, sortilégio, O bem que cultivara, crendo régio Mesquinharias; trouxe ao fim da história.
Felicidade? Mero privilégio. Dos sonhos e delírios, sou egrégio, Porém a lua morre merencória...
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Permite qualquer flor em meu jardim Esta desesperança não me espanta. A fome de ilusão, amada é tanta Que qualquer chuva molha dentro em mim.
Viola sertaneja ou bandolim, No tom que tu quiseres a alma canta Apenas por falar amor me imanta E faz um reboliço sem ter fim.
Eu bebo cada gole devagar Deixando a lua cheia navegar Vagando dentro em ti falsa paixão.
Do jeito que eu quisera não viria, Amor da gente traz tanta alegria E mesmo que isso seja uma ilusão. Marcos Loures
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Permite já saber que dói demais A angústia de viver em solidão, Roubando de meus pés apoio e chão, Deixando mais distante qualquer cais.
As horas que passei são infernais A vida prosseguindo quase em vão. Porém no amor senti transformação E os dias poderão ser magistrais.
Revigorado sonho que traduz O brilho solitário desta luz, Tornando bem mais claro o novo fato
Que faz do amanhecer, um ato nobre E a cada forte sol que nos recobre Amor irá selando o seu contrato. Marcos Loures
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Permite imaculada, a nossa andança A luz que me transtorna e me domina, O quanto em plena noite amor avança E bebe extasiado desta mina
Emana mil desejos, incontidos, Nos beijos tanto alento a vida traz, Tocando em manso vento os meus sentidos, A vida se fazendo em plena paz.
Seguindo passo a passo, este caminho Que é feito em doce mel, e liberdade, Durante a tempestade eu já me aninho Contigo encontro enfim, a saciedade.
Após ter esperança em despedida, Amor vai transformando a minha vida.
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Permite este banquete em mil talheres A tua tez serena e delicada, Reinando entre milhares de mulheres, A gueixa preferida, ensolarada. Do jeito ou da maneira que vieres, Minha alma sempre aberta, enamorada.
No quanto amor eu tenho, o quanto vivo, Não uso mais disfarces, desmascaro O tempo que vivera mais altivo, Custou, tenho a certeza, muito caro. Do amor que eu quero tanto, não me privo, Servindo em minha vida, forte amparo.
A lua que escultura a tua imagem, Não é mais, eu garanto; uma miragem...
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Permite deste amor, declaração; O fato em me farta em fortaleza Dou nó num pingo d’água, a cada ação Comendo em alegria a sobremesa.
A vida que se foi em rolimã Agora passa tempo e passa rio Boca da noite engole esta manhã A sorte se equilibra em fino fio.
Acolho os cacarecos, ecos meus Reflito o que do nada se criou. Os olhos em frangalhos caçam breus. Ateus vão demonstrando o que restou.
O monstro da lagoa, à toa, à tona, Amor sem ter limites me abandona... Marcos Loures
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Permite a mais sublime recompensa O olhar em que extasio o pensamento. Amor que tantas vezes chega lento, Deixa a nossa vida menos tensa.
Na força deslumbrante e mais intensa, Encontro o bem supremo num momento Mudando todo o rumo; o sentimento Expressa em perfeição a fé e a crença;
Depois de me sentir qual eremita, A vida novamente em mim palpita Numa explosão divina, mas serena.
Vislumbro em alvorada, amanhecer, E plenamente em paz, raro prazer, Felicidade imensa, enfim se acena Marcos Loures
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Permita que te toque e que te enleve Mulher de formas raras, tão mimosa, Bom Deus que te fez bela e graciosa. A Ele meu coração, pra sempre deve.
Tua alma tão sensível me faz leve Distante de uma vida tormentosa, Sentindo o teu perfume, o de uma rosa, Que o tempo em nosso amor não traga a neve.
Fluindo o dia a dia suavemente, Retendo nossa glória em tantas flores, Amor que sempre foi nossa vertente
Cobrindo nossa vida de esplendores, Sabendo que em teus braços, de repente, Terei todos os faustos dos amores...
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Permita que o amor te faça plena, Pois nele com certeza uma resposta A mesa que se farta sendo posta Em divindade, amada, já se acena.
Amor não é pecado, nem faz cena Resiste à tempestade costa a costa Na sede tão gostosa quando exposta O mundo em fantasia traz a trena
E mede o desmedido sentimento Que chega ao infinito num momento Perfaz todo o prefácio da existência.
Amar é ser gentil enquanto rude Amei em minha vida mais que pude Amor jamais conflita com decência... Marcos Loures
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Permita que o amor te faça plena, Pois nele com certeza uma resposta A mesa que se farta sendo posta Em divindade, amada, já se acena.
Amor não é pecado, nem faz cena Resiste à tempestade costa a costa Na sede tão gostosa quando exposta O mundo em fantasia traz a trena
E mede o desmedido sentimento Que chega ao infinito num momento Perfaz todo o prefácio da existência.
Amar é ser gentil enquanto rude Amei em minha vida mais que pude Amor jamais conflita com decência... Marcos Loures
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Permita que o amor sempre amanheça Depois da noite fria que passamos. A vida nos pregando tanta peça Arranca do arvoredo, frondes, ramos...
Pensando ter bem mais do que eu mereça Durante muito tempo procuramos Caminho aonde a vida não tropeça E nisso, com certeza já sangramos.
Será que inda terei alguma chance De ver da noite escura outro nuance Que possa garantir um claro dia...
Aguardo esta resposta que não vem, E a vida se transcorre sem ninguém Que possa traduzir-me uma alegria... Marcos Loures
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Permita que eu veleje em pensamento Atrás de um sonho feito em breve espuma Distantes das repulsas, do tormento, Amor sem ter destino já se esfuma.
Não quero pressionar de forma alguma, Mas necessito, ao menos, manso vento, Do qual, no qual, querida, eu já me alento E sinto o coração em leve pluma
Guardando eternamente a fria chaga Teria em sentimento fina adaga A penetrar constantes ilusões...
Não quero mais saber de despedida, Preciso te falar de minha vida, Envolta em tempestade e turbilhões...
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Permita que eu te fale minha amiga Da solidão que trago há tantos anos. Juntemos nossas dores, desenganos, Uma amizade intensa nos abriga.
O medo tantas vezes nos obriga A pensamentos duros, desumanos, Mudando totalmente nossos planos Até que a liberdade se consiga.
Ao ver o teu olhar assim perdido, Além do que eu tivera concebido Entendo esta tristeza que tu sentes.
Os olhos num vazio, tão distantes, Não tendo as fantasias fascinantes Encontram-se no espaço, descontentes... Marcos Loures
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Permita que eu te faça a gentileza De seguir meu destino, agora em paz. Quebraste sutilmente cama e mesa, Se eu sigo ou se persigo, tanto faz.
Pra amar é necessário ter destreza Eu sei que sou decerto um incapaz, Mas também sei sentir quanta beleza Grandeza sem limites, o amor traz.
Por isso é que eu te peço, minha amada, Que eu possa prosseguir a caminhada. Caminho tão difícil de vencer...
Entregue aos meus desígnios simplesmente, Contando com teu braço tão clemente, Desejo tão somente, em paz, morrer... Marcos Loures
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Permita que eu te dê todo o prazer Que quero. Não discuto mais bobagens Apenas mergulhar inteiro e ser Teu companheiro insano nas viagens
Que fazes. Em riachos converter As águas tão serenas das barragens, Em cada parte, louco; conceber O gozo de invadir tuas paragens...
Sorver de teu desejo cada gota, Levando a maciez de meu carinho A fonte insaciável não se esgota
Tremula e não permite mais marasmos, E bem devagar, tocar mansinho... Até poder vibrar com teus orgasmos...
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Permita que eu repouse em plena paz, Calando toda a angústia que me toca, Palavra abençoada em tua boca De tudo, minha amiga é mais capaz.
Tu sabes do calor que satisfaz Quando esta dor se faz terrível, louca, Insanidade chega e me treslouca, Porém tua amizade tanto apraz
Que apascentando trama em alegria Multiplicando o trigo, forja em vinho Além do que sonhara que podia
Iluminando em paz o meu caminho. Amiga, me permita a fantasia De um dia não saber-me mais sozinho...
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Permita que eu encontre Meu Senhor, Amor que sempre quis por sobre nós. Na beleza gentil do pleno Amor, Que sejam, pois, atados nossos nós.
Amor tão infinito sem medida, Perdão a todos sempre que ofenderem. Sabendo desta Paz que é dividida Entre o vencido e todos que vencerem.
Amor não se permite discutir, Talvez um dia o homem veja assim. Não basta o que queres só pedir, Aprender dizer não, mas dizer sim.
Saber que somos todos um espelho, No sangue que alimenta, tão vermelho...
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Permita Deus que o tempo sempre flua Em plácidos caminhos, com encanto. Que a dor de uma tristeza não influa E cesse; minha amiga, todo o pranto.
Por vezes solitários pela rua Olhamos para baixo ou para o canto. Mal percebes que a vida continua E a lua, toda noite traz seu manto.
Não deixe que esta mágoa, enfim progrida E tome um coração que sei singelo, À tua lucidez, eu sempre apelo
Pois sei quanto mereces, nesta vida, Viver felicidade em plenitude. Mude então, querida, de atitude...
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Perigo a cada curva. Novidade? Parece tão somente paranóia E quando a realidade nega a bóia A gente volta e meia diz saudade.
Não tendo fantasia que me agrade Eu vejo o que restou desta pinóia, Não quero ser Ulisses, deixo Tróia, Penélope que rompa a sua grade!
Macabros os retratos na gaveta, Pandora quando abriu sua boceta Deixou esta esperança por regalo.
Se o beijo na mortalha representa O quanto vida fora violenta, Não quero este destino. Vou sangrá-lo...
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Pergunto sem resposta ao triste vento Por que me detiveste em teu caminho... Agora não me sai do pensamento Sem teus braços, me sinto mais sozinho...
Nos tempos mais felizes, tanta luta, Jornadas pelos mares da esperança. A lua se escondendo, tão astuta, Guardando seu sorriso, de criança...
Depois chegou a noite em tempestade, Ruíram meus castelos de ilusão. Os beijos tão amargos da saudade Invadiram marcaram coração.
Depois cicatrizado o tempo fero, Tu chegas e pergunto, por que quero?
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Pergunto pela amiga que partiu Deixando este rosal em puro espinho. A chuva vai caindo de mansinho, O coração dispara em dor sutil,
Ausência de quem quero e não se viu Nem rastro que me leve ao manso ninho, Fiquei aqui tristonho e tão sozinho, A rosa da esperança não se abriu.
Vivendo sem saber da claridade Que trama em minha vida, uma ventura. A noite sem te ter, amiga, escura,
Eu quero desfrutar dessa amizade, Qual fosse um cantador trovadoresco Pintando com teu nome um belo afresco...
38
Pergunto para quem quiser falar Se o tempo de sonhar ainda existe Se nada do que outrora se fez triste Não deixa a fantasia se abortar.
Alheio aos teus convites, o luar, Durante a noite inteira inda persiste, No quanto o teu amor foi mero chiste, Não quero mais saber nem vou ligar.
Só sei que aromatizas minha vida E nada do que tive se compara Ao verso que inda tenho por fazer
Quando minha alma frágil, distraída Sabendo desta jóia fina e rara Lapidada por ânsias do prazer...
39
Pergunto aos arvoredos onda andavas Enquanto derramava todo o pranto, Por certo nem talvez imaginavas Poder que sempre existe em teu encanto.
Não sei mas imagino que voavas As asas tão libertas, meu espanto, Por quanto derretido, todo em lavas Meu pobre coração que te ama tanto...
As dores que em tristezas já carrego, Abandonadamente sem ter hora, Amor e sentimento que te entrego
Não fazes mais questão disso, tampouco. Meu peito em desatino, que te adora, Mal sabe que este amor que sentes, pouco... Marcos Loures
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De repetir estou rouco, E por isso, o mundo enfrento, Eu namoro como louco, Mas nada de casamento... Perguntas-me querida, por que fujo Quando vens falar de casamento. Desculpe mas entenda, o dito cujo Só traz recordações de um mau momento. Depois de procurar como um sabujo Um bem com todo amor e sentimento; Num jogo tão cruel, por vezes sujo, A vida se tornou um sofrimento. Aquela criatura que eu pensava Que fosse companheira e tão amiga; Aos poucos de tristezas me inundava Trazendo em nosso estio, o frio inverno. Agora depois disso tudo, diga: Tu queres reviver aquele inferno? Marcos Coutinho Loures Marcos Loures
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Pergunta se esta estrela ainda existe O sonho de quem tanto quis amar, Uma esperança tola ainda insiste E bebe cada raio do luar
Espreita que se fez deveras fútil, Do nada que recebo; nada tenho, Uma ilusão se mostra dura, inútil Apenas nas tristezas eu me embrenho.
Saudade vem chegando de mansinho, Não me deixa sequer um só momento, A noite vai pesando em desalinho, Restando tão somente este tormento.
Dizendo desta estrela que partiu, Seu rumo, ninguém sabe, ninguém viu... Marcos Loures
42
Perfumo o nosso leito com jasmim E rosas escolhidas no canteiro Regado por amores sem ter fim Lagrimado no sonho derradeiro... Que faço deste mundo sendo assim, Se vais por outro sonho por inteiro, Sem teu amor querida sou, enfim, Um barco que perdeu o timoneiro... Mas vejo uma esperança neste olhar Sereno e sedutor atrás da porta. Quem sabe poderemos navegar Por mares bem mais calmos e serenos... Assim nem a tristeza quase morta, Nos cabe, com seus últimos venenos...
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Perfumes tão intensos que se exalam Da deusa que adormece aqui comigo. Prazeres que em teu corpo já se calam, Deixando a sensação de um manso abrigo.
De amores e dos sonhos, mensageira, Extasiante lume que inebria, Espalhas tua densa cabeleira Por sobre estes lençóis, santa e vadia.
Teus seios tão sublimes, dois romãs, Teus lábios carmesins, belas cerejas, Das pernas se adivinham as maçãs, Pressinto quanto queres e desejas
Viagens sem limites. Nos quadris Vorazes, eu me sinto mais feliz...
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Perfumes sensuais em noite intensa, nas mãos que me acarinham, doce aroma. Na boca delicada, a recompensa, dois corpos que se tocam, bela soma.
Promessa de ternura numa imensa vontade que nos toca enquanto toma o pensamento. O vento então se adensa e em tempestade, amor enfim assoma...
Nas múltiplas viagens descobrir os mares mais fantásticos, desejo. E neles naufragar até surgir
uma Andrômeda em sonhos, fantasias. Real felicidade em cada beijo, entregue sem defesas, noites, dias... Marcos Loures
45
Perfume que inebria todo o canto, Que tento transportar da realidade. Não tenho tantas cores deste encanto, Faltando tanto brilho e claridade.
No quadro que imagino nosso amor, Uma aquarela rara em finas cores. Pintando meu desejo em esplendor Sabendo que estarei por onde fores...
Só quero neste aroma, meu futuro, Matando meu passado no presente. Quem veio deste céu por mais escuro, Eterna claridade já pressente.
Pois venha minha amada, a vida chama, Não fique mais aí, alma reclama...
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Perfume que inebria feito em glória Mudança se prepara, mas não vejo Sequer algum resquício de desejo Que possa refazer a nossa história.
Em tua vida fui somente escória Talvez e quando muito, um relampejo, Do solo ressequido, ainda almejo A luz que minha senda, enfim, decore-a.
O amor que tanto quis não se vislumbra Um velho coração vê na penumbra Apenas a sombria solidão.
Errático caminho pelos ermos, Por mais que inda deseje amores termos O vento em desafio diz que não... Marcos Loures
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Perfume de um amor inesquecível Que torna a nossa vida mais feliz, Além do que sonhara, amor prediz Um dia em esperanças, mais incrível.
Estendes no caminho além do crível Um canto inebriante. Sempre eu quis De toda a maravilha, quero o bis Contigo, meu amor, sou invencível.
Não temerei jamais qualquer tempesta Sabendo que uma alegria já se empresta Ao gozo mais fecundo da esperança.
Sentindo o teu perfume junto a mim Do amor que se cevou em meu jardim Encanto sem igual, amor alcança. Marcos Loures
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Perfume de teus lábios junto aos meus Caminhos que em loucura percorremos, Meu corpo como um barco sob os remos Da tua pele nua, olhos ateus
Que vagam e desnudam, tiram véus, Vislumbram a delícia de te ter, Desejo interminável no prazer Que em boca, língua dedos, ganham céus...
Depois ao perceber teu gozo intenso, Poder usufruir desta delícia Que é feita em maciez, doce carícia,
Deixando pouco a pouco o corpo tenso, Até que na explosão, um belo espasmo, Divino turbilhão em cada orgasmo... Marcos Loures
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Perfuma intensamente este jardim Florada multicor que tento ver. Matizes se misturam, mas no fim, Quem dera se eu tivesse o bel prazer
De ter deste mosaico uma clareza, Porém a miopia furta cores E impede que eu vislumbre tal beleza Sem óculos, a nuvem vem às flores.
Enganadoras formas me confundem, Nos côncavos, convexos, meu calvário. Salobras águas tantas já se fundem Além do quanto fora imaginário.
Assim ao conceber teu sentimento Sem nada discernir, mas juro, eu tento... Marcos Loures
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Ao vê-la, companheira de viagem, Sorrindo, tranqüilizo meu viver. A sorte que não seja uma miragem, Depois de tantas dores, do sofrer. Que a vida te permita nova aragem Que o mundo traga a paz. Já posso ver
Neste sorriso calmo, uma esperança; Que nada mais prossiga em sofrimento. Nos vales prometidos, nova dança, Dos dias mais doídos de tormento O amor com sua forte temperança Refez esta alegria num momento....
Amiga, estou feliz vendo-te assim. Teu canto tão bonito ecoa em mim...
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Perfeita sincronia que procuro, Metáforas sublimes de corais Que enquanto mares tantos matam cais, Expressa uma canção que ora conjuro.
Embora perecíveis fantasias, A saga determina um novo intento, Percebo que em verdade ainda tento Cevar as emoções que em sonho envias.
Quebrando antigos lacres, solidão, As chaves desnudando os meus segredos. Não quero suportar mares, degredos,
Tampouco pontear a escuridão. A noite que sonhara em loucos comas, Vem vagalumear mil escotomas... Marcos Loures
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Perfaz, Amor, caminhos intrigantes, Deixando a Sorte, assim quase que ao léu. Moldando uma esperança em belo véu, Seus passos são robustos e gigantes.
Embora tantas vezes mostrando, antes, Os erros que o transformam, vil, cruel, Amor é feito um barco de papel Vencendo tempestades em rompantes.
Alvíssaras; proclama o deus Amor A todos os que dele, seguidores. Pertuitos e caminhos, percorridos
Nas sendas onde um simples trovador Em versos deposita suas flores, Louvando os tempos belos, sonhos idos... Marcos Loures
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Perfaço meu caminho em senda clara Adentro uma vital felicidade. Teu colo tanto ajuda quanto ampara E vibra com total ferocidade
Amar é lapidar a jóia rara Que encontra-se em pepita e na verdade Adoça o que se fora fruta amara E forja com firmeza a liberdade.
Mal posso definir, mas veja bem Confusos os meus versos podem ser. Mas sempre desfiando por alguém
Que ajude meu caminho percorrer, Depois de tantos anos sem ninguém Encontro finalmente o amanhecer... Marcos Loures
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Perfaço cada sonho em sentimentos Que a ti levam querida sem reservas. Eu sinto que o carinho que conservas Aumenta, com certeza em bons momentos.
As almas que se querem, sem ser servas Atingem plenitude, ganham ventos Voando a nos trazer mansos alentos Tirando do jardim, daninhas ervas...
Nós temos os destinos siameses Queremos o conforto de quem sofre. Abrimos esperanças, cada cofre
Cantando o mesmo, encanto há meses Com profusão dileta e preferida De quem já sabe amar por toda a vida... Marcos Loures
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Pescaria que se preza Sempre tem boa cachaça. Quem decerto me despreza Pouco a pouco o bem esgarça,
A saudade quando enfeza, Sai de baixo, perco a graça, Se no coração já pesa Minha vista então se embaça.
Vou cantando sem descanso Ponteando esta viola, Tanto amor que te afianço
Já nem cabe na sacola, A verdade não alcanço Mas não peço amor e esmola. Marcos Loures
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Pescando para nós divino sol Amor em nossos nós fez provisão, A sorte perseguindo este farol Encontra em mar profano esta paixão.
Que é feita de delícias sem igual, Resiste a qualquer força ou tempestade, Trazendo mil estrelas no bornal, Em noite escura é plena em claridade;
A liberdade ainda que tardia Nos olhos de quem amo já traduz Além de simples, frágil fantasia É forte e inesquecível, pura luz.
Sou teu e nosso amor ninguém impede, Na força que domina e não se mede...
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Pesando como cruz, cada mentira Erguida sobre falsos juramentos. Cantor desafinando perde a lira, A vida se passando em maus momentos.
Não posso permitir que a noite fira Depois de ter do dia meus ungüentos, O mundo que tão tolo sempre gira Invés da mansidão, ceva tormentos.
O quanto se perdeu já não se colhe, O fruto apodrecido diz semente. A mão que com firmeza ao fim recolhe
Conhecendo os preâmbulos da sorte, Mudando a direção a dor pressente Ao fim só restará somente a morte... Marcos Loures
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Pés cansados da velha caminheira... Andarilha, desertos, campos, vales. Andina sabe toda a cordilheira... Nas noites frias, lhamas, véus e xales...
No verão mais feroz a condoreira Sábia não se conforta, nova Palis Traz a esperança louca e verdadeira Futuro de irmandade en nuestras calles!
Neruda, Mistral, Márquez e Buarque, Simon, Perón, Morales tantos nomes... Das altas cordilheiras, charco, charque,
Nas distâncias gigante força emana. Tentam te destruir, na altura somes. Unidade latino americana!
Marcos Loures
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Persiste com certeza esta harmonia Aos olhos de quem teima em ser feliz. Enquanto se banhando em poesia, Do quanto busca a paz, nada desdiz.
Futuro que procuro; calmaria, Eterno coração de um aprendiz, Que um raro amanhecer, já fantasia, Riscando uma esperança em claro giz.
A noite que virá, pretendo calma, Lavando das tristezas a minha alma, Timão que muda o rumo desta história.
Tecendo este tapete de ilusão A luz irradiando na amplidão, Tornando a solidão tão merencória.
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Pensando sobre os ermos que inda trago Depondo os meus olhares neste imenso Vazio; de onde espero algum afago Apenas o abanar de um velho lenço...
Ausente do que um dia quis um lago Sem ter tal placidez, prossigo tenso, E quando sobre as ondas, ermo vago, Encontro no oceano o vão extenso
A América distante. Especiarias Das Índias que sonhei; mero naufrágio. O barco da ilusão, deveras frágil,
Num louco frenesi, festas e orgias, Carbúnculos de uma alma em bancarrota, Mortalha da esperança; agora rota...
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Pensando ser ainda a solução A rosa pendurada na janela Espreita o que se passa no colchão E pensa que inda sou somente dela.
Congela a sua vida num retrato Há tempos descorado na parede. Rompido na verdade este contrato Não quero e nem desejo sua sede.
Acende tão somente um fogo brando E pensa em fogaréu, pobre coitada. Um edifício arcaico desabando Depois não sobra, saiba, quase nada.
Boneca que se fez em pano roto, Jogando o sentimento em pleno esgoto...
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Pensando nos teus beijos e carinhos, Teus seios, tua boca e teu suor, Deitando em nossa cama, sedas, linhos, Caminhos do teu corpo, eu sei de cor.
Encontro nos teus braços, belos ninhos, De todos os meus sonhos, o melhor. Bebendo em tua boca, aos tragos, vinhos Volúpia se tornando bem maior.
Vivendo em cada noite, um paraíso, Entrego-me aos teus beijos, teu sorriso.. Sentindo em tantas lavas a erupção
Que entorna em nossa cama, a brasa ardente, Numa explosão completa, o peito sente, O teu amor, querida, é redenção. Marcos Loures
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Pensando nos meus dias de criança Olhando para trás, ventos diversos Momentos mais felizes ou perversos, Saudade toma a cena e diz lembrança.
Se o medo do que tive ainda alcança Espalho a fantasia nos meus versos, E vejo os sofrimentos tão dispersos Enquanto o coração, sorrindo, dança.
Se necessário, os braços eu arranco, E deixo o pensamento mais liberto Vivendo o sentimento audaz e franco
A força da amizade que nos guia, Trazendo esta alegria aqui por perto, Permito sem temor, a fantasia...
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Pensando em tua pele junto à minha, Apaixonadamente num mergulho, Meu mundo, num momento já se alinha, Deixando para trás qualquer orgulho,
Da solidão que; um dia, à noite vinha, Não resta nem espinho ou pedregulho. Tristezas do passado eu já debulho, Preparo o meu plantio, ceva e vinha.
Os dias tão terríveis do passado, Renascem neste sol do amor, dourado. Poder inusitado e redentor.
Arcando com meus erros sigo em frente E em meio à fantasia se pressente Amor em louca entrega, no furor Marcos Loures
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Pensando em ti, meu dia vai passando... As horas não se contam sem te ter... O tempo todo, em ti eu vou pensando, Me explica então como poderei viver?
Saudade que inebria me maltrata... As sensações noturnas, pesadelos... Prazeres, nunca mais voltar a tê-los O tempo passa e a vida me maltrata
Teus olhares distantes, onde estás? Pensando em ti, meu canto desafina, Pretendo enfim saber se sou capaz
De conhecer a tal felicidade A chuva que cai; gota a gota, fina, Dos olhos me diz não! Resta a saudade...
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Pensamentos se elevam aos pinheiros Deixados numa esquina do passado. Um canto, tão suave, revelado Através dos mais densos nevoeiros.
Neste trem, viajamos, passageiros, Vencendo essa campina, verde prado, Que na curva da vida foi largado. Retornando, nos sonhos, são luzeiros
Que miram no futuro que serei. Mostram-me quantas vezes já errei Nos desvios que tive pela vida.
Pinheiros doloridos; como os amo! Nas frondes que se mostram, eu reclamo A vida que tentei e vi perdida... Marcos Loures
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Pensamentos cortando meu poema Em versos e palavras sem tormento Aumento minha dor em pensamento A cada novo tempo que não tema
O tempo que se porta como lema Não vaga minha vida sendo isento Profana meu gentil comportamento Nas ramas deste mar por certo rema.
Nem todas as virtudes que louvamos Se encontram nos meus versos in natura. A manga das camisas levantamos
Na luta que promete ser mais dura O certo é que seguimos nos amando, Amor que na verdade, mata e cura...
Marcos Loures
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Pensamento tortura e desatina... Cada momento que passo, perco o senso... Meus versos já nem sabem da menina, Meus olhos já choraram mar imenso...
O brilho desta estrela me alucina, Estendo meu amor, te recompenso... No vértice do céu se descortina Misturo nossos lábios, vivo tenso...
Apagas meus luzeiros, pobre treva... Vaga recordação, minha memória... O medo de chover, depressa neva...
Hostes celestiais ecoam grito. Vestido deste herói, procuro glória. Meu pensamento perde-se, infinito... Marcos Loures
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Pensamento galopa em liberdade Entre mares, espaços céus e sons.. Em busca de alimento, claridade
Encontra em teu olhar os magos tons Além do que pudera a realidade. Amar é descobrir os vários dons
Das asas e dos sonhos que extasiam, Trazendo tanta vida aos caminheiros. Alados; nossos dias nos saciam Refletem seus matizes verdadeiros...
E no caleidoscópio deste astral, Mãos dadas, nós iremos sem receios Ao êxtase divino e sem igual, Atados pelos nossos devaneios...
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Penetro tuas sendas, com delírios, Colhendo teus orgasmos que saciam. Não quero mais saber de medos e martírios, Apenas os prazeres me viciam.
Abrindo tuas pernas, paraísos Vislumbro com vontade e quero mais. Os dedos e os carinhos são precisos, Amantes se tornando canibais.
Rolando em minha pele, o teu suor, Teu cheiro se entranhando, teus quadris Caminhos percorridos sei de cor,
Requebros tão divinos. A potranca Deixando o garanhão, assim, feliz, Tristeza e solidão, com fúria; estanca... Marcos Loures
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Penetro teu suave encanto e cio Girando o pensamento sem limites, Do quanto me desejas não permites Que o tempo se refaça, rodopio...
Rompendo os meus fantasmas, inda crio Um mundo tão distante de palpites, Por mais que em teimosia delimites Alheio a teus pedidos reinicio...
Seria muito simples se não fosse O anzol em que me fisgo, teu olhar... E danças seminua a provocar
Desejo mansamente toma posse, Reinando sobre mim, falso profeta. Minha alma sem te ter segue incompleta...
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Penetro nos abismos deste mar Qual fosse submarino submergido Movido pela força nuclear Buscando em cada fossa o meu sentido.
Vasculho entre crateras de vulcões E barcos já faz tempo, naufragados, Em todos os caminhos, direções, Um rumo para os sonhos mergulhados...
Encontro meu destino nos tentáculos Do imenso calabar tão fascinante, Previsto o meu futuro nos oráculos Entrego-me aos teus braços, d’ora em diante.
Depois de tantos mares, tantas léguas, Deitado no teu colo peço tréguas... Marcos Loures
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Penetra, destrutiva, venal lança Entranha neste torpe coração, O amor como se fora um frio arpão Esgarça destroçando, invade, avança.
Quisera ter em ti, a semelhança, A vida sonegando esta ilusão, Marcando a ferro e fogo, disse o não Que tantas vezes temo e já me alcança...
Não tendo outra saída; o labirinto Que em cores mais reais, agora pinto Extingue o que pensei ser libertário.
O barco sem destino, vaga à toa, Adernando, atingido em plena proa Naufraga sob o vento procelário!
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Penélope; não quero. Nem Amélia. Quero essa companheira venenosa... Não quero mais suspiros de camélia. Um cravo que se entranha nesta rosa.
Venenos encontrei na tal lobélia A vida se tornou mais pavorosa... Eu quero os desatinos da bromélia, Nem precisa que sejas tão formosa...
Olorosas as flores que plantei, No quadrado que chamo de jardim... As entranhas da terra fecundei...
Nos meus olhos brilharam neste hibisco... O perfume roubei deste jasmim... Das estrelas eu fiz meu obelisco. Marcos Loures
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Peneiro a fantasia entre meus dedos O que sobrar decerto é ouro em pó Não quero nesta vida andar mais só, Debaixo do tapete antigos medos.
E mesmo nos momentos mais azedos Ou quando uma esperança dá um nó, Seguindo o meu caminho sem ter dó, Nos lábios desta moça, rezo os credos.
O gosto feito em broa de fubá Amanhecendo pão leite e café Vontade que pra sempre mostrará
O quanto o nosso caso já deu pé. O vento que dedilha os teus cabelos, As pernas se misturam em novelos... Marcos Loures
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Pendurei minha chuteira Já não jogo nem mais bola, Se a paixão é feiticeira, A saudade me degola
Minha noite costumeira Nunca fez sequer escola, Vou ficando na rabeira A vontade na sacola.
Trovador que não tem mote Se quebrar o velho pote Perde o doce esquece o mel.
Da morena quero o gosto, Mas não pago mais imposto, Andarilho, vou ao léu...
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Pendure a melancia no pescoço E pinte o teu bilau na cor vermelha A poesia, em ti, reles esboço Mostrando o rabo quando se ajoelha.
Neste banquete raro, sobrando o osso Que róis qual cão faminto. Nem centelha De qualidade vejo, enfim seu moço, Cuidado, pois de vidro é tua telha.
Por fim vá se roçar em meio às ostras, Na falta de talento que tu mostras Um quase, mas sem sal, profissional
Que faz publicidade com o quê? Com tanta competência (ninguém lê) Mostrando ser no fim, semi-boçal! Marcos Loures
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Pendendo quase sempre pro outro lado Num pêndulo de eterna assincronia O vento às vezes brisa ou ventania Destrói tudo que encontra num enfado.
Amazônico rumo feito um prado Trazendo a lua cheia ao meio dia No quanto que em silêncio me dizia O amor por vezes chega destroçado.
Facetas tão diversas, num mosaico, Um pós moderno gosto quase arcaico, Gaiola que seduz um passarinho.
Vagando tantas vezes, vário céu, Delícias eu encontro quando ao léu Porém em teu amor, eu já me aninho. Marcos Loures
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Penando sem ter pena de ninguém Apenas quando iludo o coração Sem coragem de ver se a noite vem, Eu perco desse barco o seu timão.
E rudes meus caminhos perdem mar Nas ânsias mais frenéticas por vida. Ávida desta vida e tanto amar Nas pedras e nas perdas, vai perdida...
Pensando que se pena sem ter nexo Complexos diversos se convergem, Vergéis de rara cor formando um plexo Por onde nossas matas já se elegem
Fuligem de minha alma sem lareira Que esquente e que me aqueça a vida inteira...
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Pelúcias entre sedas e cetins, Ronrona delicada deusa nua Reflexos argentinos vêm da lua Entoam sinfonias, querubins...
Florescem multicores, os jardins, E a dama em transparências já flutua Espalha mil estrelas pela rua Ouvindo-se bem próximo, clarins
Como que anunciando tal presença Que entorna maravilha sobre mim. E eu vejo a solidão chegando ao fim
Tomada por beleza tão intensa A noite se transforma em pleno dia Gotejando sublime poesia...
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Pelo deserto; um triste caminheiro, Encontra nas areias seu tesouro. Quem sonhava um amor mais verdadeiro, Esmeraldas, opalas, ou mesmo ouro
Nada encontrando, o sol doura-lhe o couro... Num oásis palmeiras num outeiro, Uma bela odalisca, bom agouro... Um sonho, com certeza, alvissareiro.
A riqueza que traz não mais importa, A beleza feroz, já o domina. A lua no horizonte predomina;
A natureza abrindo sua porta... Uma odalisca, bela como o sol... Na fria noite o cobre, qual lençol...
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Pelejas que encontramos pela vida Lutando contra tudo e contra todos, Do céu em plenitude aos rasos lodos, A sina a cada tempo ser cumprida.
Estrada do viver curta ou comprida, Escreve suas linhas destes modos, Às vezes em acertos ou engodos A luta que tentamos já perdida...
Quem sabe algum momento de ilusão Ainda nos permita outra batalha, Caminho neste fio de navalha
E teimo na procura, mesmo em vão. Chegando ao fim, na morte uma derrota, Valendo cada curva desta rota...
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Pele com pele, acerco-me de ti, Ruborizada a face, um bem profano, O corpo se fartando, soberano, Caçando o que pensara: já perdi.
Sortilégios tantos, faca e gozo, Ourives de um cristal feito umidade, Certeza de um caminho prazeroso Liberto de temores, qualidade.
Reviras a cabeça, olhos famintos, Dentes, unhas, cabelos, coxas, pernas, Figuras; entrelaces; sonhos tintos. Estrelas que se dão; vadias, ternas.
Acima dos desejos tão somente, Amor planta e cultiva plenamente... Marcos Loures
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Pelas ruas que caminho, quando topo Com perfumes doridos, vaporosos, Me recordo de festas, vinho e copo Taças cristais, sentidos dolorosos...
Verdades são metades do quê falso Carpetes e tapetes fingem persas. Medalhas e correntes, cadafalso, As noites que caminho são esparsas...
Carinho de mulher que não conheço, Desejo de carinho não mereço, O preço que paguei não faz sentido.
O mundo que tentei não tem mais topo, O corte que sangrei quebrei o copo, Amor que planejei, soa bandido!
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Pelas ruas caminho; eu sou maníaco, Procuro pelo amor de minha infância, Deste-me tal destino, demoníaco, Amar a quem me traz só repugnância!
Amor que maltratando faz cardíaco Desejo de viver esta ignorância. Bebendo de teu corpo este amoníaco Demônios me tomando em discrepância.
Sem ter discernimento; vou em ruínas, As águas que vomito; cristalinas, Na porta dos castelos, crocodilos.
Não posso penetrar no teu palácio, Incrusto o coração velho crustáceo Que entoca teus sorrisos, teus estilos...
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Pelas ondas do amor, simples toque Tantas lutas em prol do prazer. Minha amiga, amizade que entoque Muitas vezes nos faz padecer.
Quero o gosto macio da boca Mas só queres abraço, afinal. Minha voz, de gritar, fica rouca, O meu sonho, por ti, sensual.
Queres só um carinho de amigo, Mas que faço, se te quero bem. Tantas vezes amar traz consigo, A vontade de estar com alguém.
É tão duro te ouvir, por favor, Não me fales do teu novo amor!
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Pela estrada da vida, caminheiro. Nas gargantas e pântanos, nas ilhas... Decifrando um enigma sorrateiro, Procurei por diversas maravilhas...
Do deserto, poeira, companheiro, Tantos mares, Caribe, nas Antilhas, Vasculhando a resposta, mundo inteiro. Nos tratados e lendas, Tordesilhas...
Nas estradas cansadas, andarilho... Nas vertentes dos rios e cascatas... Na mulher que amamenta um pobre filho.
Nas estrelas, planetas que vivi. Procurei por fantasmas e por matas, A resposta de tudo estava em ti... Marcos Loures
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Pela estrada da vida caminhando, Levando uma alegria benfazeja. Pergunto-te querida, como e quando Terás todo este sonho que deseja.
Os dias pelas ruas desfiando, No céu que te bendisse e te azuleja Nas cores e nos brilhos te tomando, Além do que se quer e se preveja...
Amor que te domina e te refaz, Na aurora desta vida que cumpriste. Mostrando o sonho intenso e mais voraz,
Calando a velha dor de não ter sido, Sorrindo quando ocultas o ser triste Que vai a cada dia, adormecido...
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Pela areia molhada dessa praia, Desfilo toda minha solidão. Por mais que o pensamento me distraia, Nada tenho, procuro solução,
Para que toda angústia se distraia, Abandonando esse cruel pendão, Disfarçada, a saudade inda se espraia Permitindo sentir que amor é vão.
Tentáculo medonho me conduz, Impede minha livre caminhada, Na busca do que fora minha luz...
Na praia em que eu te espreito, não há nada A não ser a lembrança feito cruz De quem se fez um dia, minha amada...
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Peguei a montaria deste vento, Em cima do corcel que tanto sonhas... Amada, como é belo o pensamento, Trazendo tantas luzes mais risonhas.
O caminho que leva, o bem querer, Me deixa em tua casa toda noite.... Vivendo tanto amor que vou viver Impeço que te invada o frio, açoite...
Princesa, com certeza, serás minha; O tempo que durar a nossa vida. A noite sem teus olhos, tão sozinha; A lua se despede, tão perdida...
Eu tenho tanta coisa pra dizer, Resumo numa só: amo você!
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Pedra que muito muda Jamais produz o limo, Eu peço tua ajuda, Amiga a quem estimo,
A vida é tão miúda Se nunca alcança o cimo, Calada, resta muda Sozinho, eu me deprimo.
Na luta desumana Por paz que seja eterna, Quem sabe sempre engana,
Esconde uma lanterna E assim, se desengana Uma amizade terna...
92
Pediste meu amor, não te dou não! Apenas te darei prazer e gozo. Bem sei que faço amor bem mais gostoso Se tudo não passar de uma ilusão.
Não quero mais sentir uma emoção Que torne meu viver mais doloroso. Não vou ser teu marido nem esposo, Amante? Pode ser... mas sem paixão...
Respondo ao teu pedido deste jeito, Sinceridade dói, mas eu prefiro, Não queira, por favor me dar um tiro.
Amar ou não faz parte do direito, Só sei que já me dou por satisfeito Resposta mentirosa, eu não desfiro...
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Pedir alguma chance depois disso Parece alguma estúpida ilusão, A flor que já perdeu a cor e o viço, Não vale com certeza, a floração.
Eu perco a cada beco, o compromisso, Quem dera se eu tivesse a solução, Distante do que sonho; inda cobiço, A sorte feita em vinho, mel e pão.
Ao ver a cor dos olhos da pantera, A sorte atocaiada; desespera, Não deixa nem sinais do que buscara.
O beijo enviesado da canalha, Pesando em minhas costas, qual cangalha, Domando o sentimento em medo e vara...
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Pedido que se fez para uma estrela Cadente numa noite de verão. Vontade de beijá-la e de revê-la Tomado pelos laços da paixão. Depois de tanto tempo, conhecê-la Foi toda a minha sorte e solução.
Eu quero o teu carinho aqui, comigo, Não sei mais de outra forma de viver. O mundo desabando, mas nem ligo, Não quero outro caminho conhecer. Estrela prometeu me dar abrigo, Agora sem te ter, o que fazer?
Bem vi que esta esperança foi morrente, Estrela que se fez assim, cadente...
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Pedaços semi-rotos de minha alma; Farrapos pelas ruas da cidade Quando aprouver sonhar em liberdade Talvez ainda reste alguma calma.
Um dálmata perdido sente o trauma Da morte pelos cantos; real idade. O vendilhão do tempo rompe a grade E o beijo da mulher já não me acalma;
Calada a boca, resta a solidão E envolto pelos ratos do porão Os esporões da sorte marcam tento.
E quanto mais julgava livre; mais me entrego O amor ferroa fundo feito um prego Que após a ventania ainda invento...
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Pedaços que se fazem dos retalhos Nas colchas da esperança definidos, Prazeres em misturas, atos falhos Durante tanto tempo divididos;
Lanhando em nossas costas tempestades Cortando nossa carne em vãos profundos. Os risos, gargalhadas, nas cidades Estrelas mergulhando em torpes mundos.
Assim, dois viajantes sem destino Descendo pelos rios, corredeiras, Toando uma emoção em desatino Fazendo dos desejos as bandeiras
Espelham pelas ruas cicatrizes, Apesar dos pesares, mais felizes... Marcos Loures
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Pedaços do que fui vão pelas ruas Em meio a restos, traças e baratas Queimando o que restou das tantas matas Deixando as terras frias, magras, nuas.
No passo em que tu vais e continuas Nos leilões, esperanças arrematas E a toda natureza assim maltratas Pensando permissível que destruas
O canto de agonia ecoará, Aqui, nos arrebóis ou acolá No grito desperado, quase em prantos
Eu vejo retratada em forma insana Deixando como herança à raça humana O peito amarrotado pelos cantos. Marcos Loures
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Peçonha que destilas no teu beijo, É fonte do veneno encantador... Quem sabe de fatal sorte e traquejo Não pode me negar adubo e flor...
Nos restos onde morto meu desejo Os óleos emanantes do pavor, Resquícios do que podre, forma o queijo, Vinganças são prenúncios desse amor...
Os vírus, as bactérias, os helmintos, Os disfarces que enganaste são medonhos... Abraços nos pescoços mentes cintos,
Degolam, guilhotinas e carícias. Pesadelos revivem belos sonhos, Em santa podridão, velhas delícias..
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Peço a Deus a caridade De trazer uma esperança Que me salve de verdade, Acolhendo esta lembrança
No valor desta amizade Eu encontro a temperança Vou buscando a claridade, No meu peito de criança
Que não sabe nem metade Mas se veste de pujança Procurando a liberdade,
Que tão cedo não se alcança Pelo campo ou na cidade, Formatando uma aliança...
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Pecados tão tacanhos; cometemos E somos desta forma manchas, riscos. Dos pântanos, delícias que bebemos Em podres cicatrizes; mais ariscos.
Empunhando uma espada imaginária, Clandestinos prazeres; vomitamos, Sem noite que não seja temerária Vendemos nossos sonhos e voltamos
Depois das facas, faces, risos, gozos, Nos passos espelhando o meu destino Palhaços, picadeiros desastrosos,
Oprimidos, vencemos; desatino Nos invernais cadáveres comidos, Libertos libertinos, esquecidos... Marcos Loures
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