
MEUS SONETOS VOLUME 124
Data 29/12/2010 09:40:03 | Tópico: Sonetos
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1
Passando tanto tempo sem te ter Espero que não vejas meu caminho Como fonte maior de teu prazer. Senão em outros braços já me aninho.
As horas se passando sem se ver Pressinto ser feliz, mas sou sozinho. Como posso enfim te convencer Se tudo o que me dizes, um espinho.
Soltando pela vida o meu gemido, O pranto que causaste, viva fonte. Amor que sempre esquece-se no olvido,
De toda essa saudade se alimenta. Impede novo brilho no horizonte E todas as defesas, arrebenta! Marcos Loures
2
Partiste num cometa ao fim da noite, Espaços procurando e não te vejo. Saudade vergastando, duro açoite Deixando um rastro amargo de desejo.
Ouvindo tão distante a mansa voz Que um dia se perdeu em burburinho, Lembrança que castiga, dura algoz, Sombrio e solitário, o nosso ninho.
A porta permanece sempre aberta, Passos na escadaria? Uma ilusão. Uma esperança, aos poucos, me deserta, Tomado por terrível aflição
Espero a cada instante a tua volta, Porém sem ter ninguém, resta a revolta... Marcos Loures
3
Pareces que enfeitiças quando danças Me sinto assim cativo e seduzido, Em cada gesto mais mil esperanças, Sonhando, inebriado, estou perdido... Meus olhos eu bem sei que não alcanças Mas mesmo assim te espero em vão; vencido Pela tua magia em belas tranças Largadas sobre os ombros. Iludido Não paro de pensar na dançarina Que quase me tocando, me feriu Na pele amorenada da menina Adivinho um sorriso encantador, Um sonho do passado, de vinil, Tocando uma balada, traz amor...
4
Parece tantas vezes ser fatal A dor que nos atinge e tão-somente Uma amizade mostra-se ideal Como aliada sempre e firmemente.
Por isso, companheira e camarada Encontro em teu apoio esta firmeza Para enfrentar o medo e a geada Numa esperança clara, uma certeza
De que a vida será bem mais feliz A quem já sofreu tanto no caminho. Cevando no meu peito a flor de lis, Cuidando deste afeto com carinho.
Meu verso te agradece tanto, tanto, Amor: doce refrão em nosso canto...
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Parece que não vês quanto eu te quero, Meu verso se encantando vai contigo Colado no teu corpo, meu abrigo, Um sentimento nobre como espero.
Do mundo em que vivemos, ledo e fero, Unidos tão distantes do perigo Durante tanto tempo assim prossigo Atado neste sonho que venero.
Estamos tatuados pele a pele E vamos neste passo ao infinito. Tu sabes o que penso e acredito
Um sonho de justiça em pleno amor. Uníssono e bem forte nosso grito Em cada novo passo a se compor
6
Parece que não sei de outra palavra Que trague pelo menos um sorriso, O amor que não permite qualquer lavra Semeia em solo amargo sem aviso.
Dos vales que sonhei, a cordilheira Tomando este cenário, deixa além A paz que procurava, alma se inteira E vê depois dos montes, velho trem
Que liga o meu destino ao vão deserto, Marmóreas pedrarias não há mais. E sendo o que não tive; já deserto. Ausência do futuro engole o cais.
Campanhas e campinas, doces prados, Os dias morrerão desesperados.
7
Parceiros que se foram no caminho Deixando como herança a solidão, Vagando pela vida, em negação Expresso alguma forma de carinho.
O vento que invadira o velho ninho, Promete em tempestade a viração. Abrindo num momento todo o chão, Agora em pleno inverno estou sozinho.
Meu barco se perdendo sem um cais, Prosseguindo ao sabor dos vendavais Promete ao fim da vida, sofrimentos.
Que faço? Sem sequer um companheiro, Estúpido, imbecil, mau timoneiro, Perdi, sem proteção, rosa dos ventos. Marcos Loures
8
Parceiro inseparável de quem sonha, Amigo de quem quer só aprender. Levando à fantasia má, risonha, Eterno companheiro em dor, prazer.
Por páginas e letras viajamos E vamos para além, de tempo/espaço. Liberta a sociedade, mata os amos, Nos acompanha sempre passo a passo.
Em papiro, papel ou na internet Ao conhecer e ser, já nos remete; Sem ele como haver democracia?
Na sua companhia dia a dia, Assim evoluiu a humanidade Assim se concebeu a liberdade...
9
Parceira dos meus sonhos mais felizes, A tua voz chegando aqui me diz Que mais do que tristezas ou deslizes O rumo que busquei nada desdiz.
De todas amarguras, cicatrizes, Apenas encontrando o que mais quis Meu céu revigorado por matizes Dos olhos deste encanto vibra em bis.
O amor chegando manso em nossa vida Depois de tantas chuvas, temporais História desde agora decidida
Permite alvorecer em plena paz. Felicidade sabe deste cais E mostra-se sublime e mais capaz...
À MINHA MAIS COMPLETA PARCEIRA, E UMA DAS MAIORES POETISAS VIVAS DESTE PAÍS HELENA LUNA Marcos Loures
10
Parábolas diversas, carrossel, Rondando enredos vários e profanos, Celebro os meus complexos desumanos E bebo teu amor grama e motel.
Egressos deste barco de papel, Meus sonhos se condenam; desenganos, As almas que se elevam são metanos, E o gesto mais conciso beira a fel.
Risíveis melodias que funestas, Abrindo os meus portões, arrombam frestas, Amor quis atacado e eu varejo.
Parágrafos; pulei em pífios sonhos, Cadarços que amarraste, tarsos vejo, Quebrados em tropeços tão bisonhos... Marcos Loures
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Parábola ancestral verdade bíblica Falando de quem ama e não pergunta, A vida se refaz e sendo cíclica Passado com futuro sempre ajunta.
Bem antes de buscar conhecimento, Nós vemos o Senhor à nossa frente, Porém quando o saber se mostra intento Fugimos do que cremos claramente.
Depois de tanta busca nos vestimos E nuas nossas almas seguem vãs, Ao Deus original quando o sentimos
De novo ao Paraíso retornamos, Milagre se refaz toda manhã, Em cada ser vivente, árvores, ramos...
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Para ter um amigo, Querer tão só não basta, Na casa em que me abrigo, O tempo que desgasta Às vezes não consigo A vida nos afasta.
Mas sempre cultivando A flor deste jardim, Aos poucos conquistando Entrego-me e sem fim, Não sei sequer nem quando, Contigo, irei assim...
Colhendo cada fruta, Lapido a gema bruta...
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Para quem vive neste mundo só, Amigos são as pontes para a vida, Um lobo solitário causa dó, Uma esperança sempre cai perdida.
A solidão penetra como faca Trazendo a sensação deste vazio, Qual febre alucinante quando ataca, Matando sem calor, portando o frio.
No exílio de minha alma, nada resta Senão tua amizade, companheiro. Sem ela vou ao caos e perco a festa O mundo sem sentido, o tempo inteiro.
Mas sei que em tanta coisa eu não me iludo, Uma amizade plena é quase tudo...
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Para quem exilado pela sorte Vivendo em solidão, triste quimera, O vento da amizade bate forte Trazendo uma esperança em primavera. Para quem a vida nunca trouxe A doce sensação de ser amado, Para quem alegria como fosse Um sonho tão distante, sem passado, Para quem o sabor da vida, amargo, Perdido num futuro que não vem, Para esse solitário, vida ao largo, Que passa a vida toda sem ninguém, O mundo parecendo tão miúdo... A amizade é na vida, quase tudo...
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Para os meus passos tortos, desvalidos, Encontro uma esperança benfazeja Tomando meus segredos e sentidos, Nos braços desta lua sertaneja.
Tocando em mansidão os meus ouvidos, Seu canto é o que se quer e se deseja, Matando tais tristezas, tempos idos, Amor por minha pele, já poreja.
E faz de cada sonho a redenção. Sabendo que viver não é só sonho. Por isso minha amada eu te proponho.
Viver o que nos resta de emoção, Num mundo mais bonito e mais risonho; Falando deste amor que é solução Marcos Loures
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Para o bem de quem desejo parabéns O tanto tempo esvai-se num segundo. O quanto que te quero e o que tu tens Na profusão sincera invade o mundo.
O quando nunca tive, vagabundo Perdendo com certeza velhos trens Palavra que te falo e que reténs No mar desta amizade eu me aprofundo.
Aniversários, risos e festejos, Depois de cada curva, uma esperança Ateio uma alegria na aliança
Fornalha preferida dos desejos. Bebendo cada gole irei contigo Vencendo qualquer pânico ou perigo.
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Para falar de Amor, existe a voz Do velho sonhador que em seu inverno Sabendo a solidão, cruel inferno, Aguarda o que virá, decerto, após.
O medo de sonhar, um duro algoz Impede este momento amável, terno. Agora ao fim da vida, não me hiberno, Pois vejo o meu final que vem veloz,
Percebo quantas vezes fui sem rumo, À vida em desamor não me acostumo, Usando da garganta, mesmo rouca,
Eu brado a maravilha de sonhar, Por mais que a vida venha maltratar E uma amargura seja surda, mouca... Marcos Loures
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Para amar é preciso ter ciência Quem nunca faz decerto já não erra, Cumprindo por cumprir a penitência Vacância presumida nega a terra.
À sombra deste som, semeio ao vento Bemóis e sustenidos, flor em flor. Pressinto o vão e tento o sentimento Na máscara gentil do estranho amor.
A mesma claridade que me cega Às vezes já permite revelar-se O gozo que previsto é chique ou brega, Mas causa quase sempre a vã catarse.
Irmã, imã mulher verde esperança No enredo deste abraço, a moça dança... Marcos Loures
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Para a glória do amor, canto meus versos; Embora tantas vezes maltratado. Em todos os caminhos mais adversos De facas e navalhas, vou talhado.
A cega morbidez que me enlevara Na neve forte e brusca deste inverno. Em cântaros jamais sequer chorara, Fazendo deste mundo um novo inferno.
Tratando sem querer qualquer afago Vertendo em solidão, um sentimento. Aos poucos o que resta, cedo apago. Não deixo de pensar um só momento.
Como é duro saber do que preciso Se quiser te levar ao paraíso...
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"Papai é uma bomba, velho traste Que entope a nossa casa, porcaria." Enquanto esta verdade me dizia A vida se condena a tal desgaste.
Por mais que noutras sendas tu andaste Vestígios que deixei, sem poesia, Morrendo pouco a pouco a cada dia, A sorte não tem rumo, se a negaste.
Apenas barrigudo e desdentado, Deitando suas mãos, inúteis garras Ferrenho sacripanta, mal pintado.
Versões que em diversões disseste, filho, Rompendo corajoso tais amarras Repetes sem saber, outro estribilho... Marcos Loures
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Pantanoso destino me legaste... Nascido na floresta mais selvagem, Procurando viver neste contraste, Vou buscando espelhar a minha imagem,
Nas matas e nos rios que deixaste Como oásis, delírios e miragem... Crescendo, tentarei fincar as hastes Nesta maravilhosa paisagem...
Mas a charneca nunca me deixou... Entranhada em plena alma não me larga... Essencialmente é tudo o que restou...
As marcas deste pântano que trago, Por tantas vezes meu olhar embarga. Delas me livrarei num manso lago. Marcos Loures
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Panacéia dos novos engelhados Poética banguela dos brasilis Os ritos vanguardistas já mofados Arcaicas velharias geram bílis.
Primitivista esboço do futuro, Acasos entre ocasos e mansões. Um salto delirante neste escuro Perpetuando vagas direções.
Moleque sertanejo do Leblon, Surfista em Mar de Espanha, em Mirai, Madame furta-cor tom sobre tom, Rachaduras nos templos que erigi,
Presidente operário, ópera prima Neste caleidoscópio, pobre rima...
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Palpitas em teu corpo esta vontade De se entregar inteira, sexo audaz. Porém tu temes tanto que és capaz De morrer quase à mingua. A claridade
Querida, só se dá pra quem se der. Espero já faz tempo, mas não vens, Decerto em teus pudores de mulher Deixaste bem distante tantos bens...
Nas coxas entreabertas hábeis dedos Ouvindo num sussurro meus convites, Mistura de tesão com bobos medos
Impedem que tu venhas, me perturba Saber que esta menina. Oh! Acredites, Sozinho no seu quarto, se masturba...
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Palmeiras, ilhas mares, onda, areia... Deitar no teu regaço, minha amada... Delícia de teus olhos, qual sereia Que dorme do meu lado, extasiada... A lua que nos banha plena e cheia, Espera tua volta, iluminada...
O nosso ninho aguarda teu encanto, Os travesseiros soltos pela cama... Ouvir tua alegria em cada canto, Sentir a transparência, imensa chama. Deitado do teu lado me agiganto, E a vida sem pecado sempre inflama
Um coração deveras encantado, Espera o teu retorno, apaixonado..
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Palidez mortal, lívida e sombria... Sobre teu leito adormecida, linda... Como fora um cadáver que dormia A madrugada companheira ainda
Espreitava a chegada, novo dia... A aurora que transforma se deslinda. O mundo repetirá sua melodia... Manhã ensolarada vem, bem vinda...
Amor palpita, terremoto, luta... Olhos ebúrneos prateada vida... Agonizante, força vera bruta,
Não posso te negar essa esperança. A dor que se aproxima, mal contida, Convida nosso braços pr’essa dança! Marcos Loures
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Palhaço de ilusões que trama em versos Dispersas emoções, chamas diversas, Imerso nos grotões, busca universos Bebendo as sensações que agora versas.
Intensas fascinantes maravilhas, Imensas faiscantes alegrias, Nas densas tempestades em que trilhas, Felicidades várias ora crias.
Sabendo ser audaz quando contigo, Erguendo a minha voz chegando a ti No amor que me transtorna vejo o abrigo E encontro a luz que adorna e vão perdi.
Perfeita engenharia, sentimentos, Palavras não se perdem como os ventos...
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Palavras tão precisas que me dizes Suavemente trazem as promessas De dias com certeza mais felizes, Vontades e desejos que confessas.
Perdoe tantos erros e deslizes, A vida; neste instante, recomeças Deixando para trás as cicatrizes, Do amor vamos beber novas remessas.
E assim, em poucas frases eu traduzo, O que já parecia estar confuso, Amor simplificando a nossa história,
Garante em mansidão o amanhecer, Trazendo a sensação do bem viver E nela a perfeição de uma vitória. - Marcos Loures
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Palavras tão fugazes se perdendo Moldando uma alegria em versos nobres. O tempo com magias se vertendo Rondando as vestes mansas em que cobres
Os olhos de quem sabe percebendo Deixando para trás sonhos e cobres, E os dias com carinhos convertendo Na mansa sensação em que recobres
Sentidos verdadeiros de um amor, Marcando em alegria, teus encantos, Vagando com desejo sonhador
De termos depois disso, nossos cantos, Receba com carinho cada flor Testemunhas fiéis de amores tantos... Marcos Loures
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Palavras sussurradas nos ouvidos Chamando para a festa, nossa dança Entremeando sonhos e gemidos Nirvana num momento amor alcança.
Tocando em maciez nossos sentidos, Olhar ao infinito, em gozos lança Caminhos que julgávamos perdidos Agora são estradas da esperança.
Não sendo necessária, explicação O jogo que traçamos, sem vitórias. Não quero e não preciso da Razão
Falando deste amor, corpos se entregam Singrando pelos mares, as memórias Oceanos dos prazeres se navegam... Marcos Loures
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Palavras são palavras, nada mais, Mas tanto representam num instante, Sorriso sem juízo e provocante Provoca os mais diversos temporais.
Linguagem pode ser a dos sinais, O gozo se promete triunfante E enquanto a fantasia nos encante Colhendo estes meneios sensuais.
Os meios são diversos. Não importa, Apenas deixe aberta a tua porta Que tudo se resolve sem problemas.
As bocas, dedos, mãos tão curiosas Valendo muito além de versos, prosas Decifram com certeza, vários temas... Marcos Loures
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Palavras são as lavras que prefiro Atiro mas nem sempre sou feliz Destino em desatino tanto quis Que fere quem me fere e nunca firo
Nas termas e nas tremas tremo,atiro Palavras aves soltas sou perdiz Se dizes o que dizes não me diz Este antro que desando morto estiro.
Meu braço no meu barco sem ter flecha O zíper desta calça nunca fecha E deixa meu prazer quem sabe agora
O canto que me espanta novo encanto Meu manto minha manta tanto pranto A calça estando aberta, vamo’ embora! Marcos Loures
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Palavras que soltamos, vento leve, Em confissões dubladas sem sentido. Se o tempo que passou, correu tão breve O mundo não se mostra arrependido.
Por mais distante que isto não me leve Sou farto das paixões e combalido Não quero amor que nunca me releve Nem revele o que fora preterido.
As horas se passando sem jamais Tampouco sem verdades absolutas. A sorte já saiu, não volta mais,
Tantas palavras soltas, versos soltos, Em outras fantasias, velhas lutas, Os rumos já perdemos, mais revoltos...
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Palavras que disseste não refazem As noites que perdi te procurando, As luzes se ofuscando já não trazem Amores que se foram, me marcando.
Por mais que noutros braços inda abrasem As horas num carinho, desfrutando, Angústias do passado inda desfazem Momentos em que tento ser mais brando.
Meu barco sem antigos astrolábios Crivado por herpéticos sorrisos Doridos, magoados os meus lábios
Em beijos torturantes, imprecisos, Quem dera se pudessem ser mais sábios, Os sonhos de um palhaço com seus guizos.
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Palavras que benditas vão inclusas Nos versos de amizade que me trazes, Tu moldas perfeição em poucas frases Erguendo sempre um brinde às belas Musas.
Outras situações são tão confusas Num misto de guerrilhas entre pazes, Ditames quase sempre mais audazes Em mentes que se mostram mais obtusas.
Esta energia move todo o mundo, Fazendo um coração sentir profundo O toque de um amor que sem receio
Perfaz uma esperança de um estio, Trazendo tanta luz em céu sombrio Levando uma pura alma a um santo veio...
Marcos Loures
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Palavras quando soltas não denotam Aquilo que se sente na verdade, Os cantos quando encontram liberdade Às vezes noutras curvas já capotam.
Mas saiba que meus versos quando notam Desvios de caminho, insanidade, Reféns de uma alegria, saciedade Em portas mais tranqüilas já se anotam.
Eu tenho uma alma livre que já sonha Com asas que me levem, com carinhos. A vida pode ser cruel, medonha
Mas tem toda a certeza nos caminhos Que fazem nossa sorte ser risonha E canta a maravilha destes ninhos... Marcos Loures
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Palavras quando ao vento se perdendo, Não deixam nem sequer um eco ao menos Os dias em mil noites convertendo, Saudades de outros tempos mais amenos.
O coração à dor obedecendo Espera por momentos bons, serenos, A solidão aos poucos se tecendo Sangrantes ilusões em medos plenos.
Saudade de quem tive, mas perdi Vasculho cada ponto lá e aqui Não tendo solução sigo sozinho.
Farrapos dos meus sonhos pelo chão, Vagando não encontro solução E morro pouco a pouco sem carinho... Marcos Loures
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Palavras nebulosas, vento esparso Em cinzas desprendendo o que foi belo. Desamarra da sorte o seu cadarço Rouba do lavrador, o seu rastelo,
Atira um sentimento em mar revolto, Jogando uma alegria ao precipício Atando um pensamento que, antes, solto, Sabia deste amor, o seu ofício.
Que sabe se o silêncio te tomasse A vida não teria esta mazela Nem mesmo necessário tal disfarce Que impede, nebuloso, ver estrela
Assim, invés da treva em noite fria, O amor se transbordasse em poesia..
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Palavras metralhando os sentimentos, As balas são perdidas se vazias. Não sei se ainda posso ou deverias Viver felicidades em momentos.
Se os gozos são dos versos, meus rebentos, Partilhas sem demora tu farias, Matilhas de desejos quando crias Os templos já nos servem como alentos.
Pedaços embutidos nos armários Acervos em compêndios mais diversos, Colhendo os meus retalhos, são perversos,
Além de tolamente temerários Os versos das canções que ora recrio, Usando como mote este ar sombrio...
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Palavras entre flores, como espadas Cortantes com perfumes de entremeio, Em pétalas disformes decoradas Das águas os penedos por recheio.
Em formas contrastantes decoradas, Aguçam as tempestas por recreio, Nos cais tempestuosos ancoradas Aonde amor em paz, pretendo,anseio.
Fluindo por caminhos mais cortantes, Envoltos pelas nuvens fascinantes, Derrames de loucuras e carícias.
Os olhos tão profanos das paixões, Ciganos eremitas, furacões, Destilam dos espinhos tais delícias... Marcos Loures
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Palavras de carinho aos teus ouvidos, Sussurro quando acordas de manhã; Tocando levemente os teus sentidos O amor vai desfilando o seu afã;
Os sonhos que tivemos, divididos, São partes congruentes da maçã; Caminhos desvendados, repartidos, Uma alma busca noutra gêmea irmã;
Por mais que isto não seja a realidade, Procuro a mais perfeita liberdade, Cativo deste nobre sentimento.
Eu sei que um paradoxo, isto parece, Nas teias que emoção cultiva e tece Encontro da esperança um alimento...
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Palavra traiçoeira e venenosa Rondando agora os velhos pesadelos Fantástica emoção, maravilhosa Roçando como um vento, os meus cabelos.
A pele delicada e veludosa As pernas enroscando, teus novelos, De forma delirante e caprichosa Teus dotes, tão gostoso recebê-los
O olhar que outrora fora flamejante Na chama tão dispersa, d’ora em diante Transborda insanamente em tal veneno,
As rondas de luares sobre a Terra Matando uma esperança cedo encerra O sonho que se fez, outrora pleno... Marcos Loures
42
Palavra que traduza amor em amizade Restando em alegria um gozo em plenitude. Sabendo ser feliz em total liberdade, Trazendo o quanto quero assim, mais amiúde.
Não vejo tal palavra espelho da verdade, Apenas um desejo a mais da juventude Que cisma em misturar, sonho e realidade Buscando quem talvez, com pena ainda ajude.
Sabendo desta missa um pouco mais que terço Encontro esta criança em pleno e belo berço Brincando de esperança, um lúdico desejo...
Mas creio na amizade e creio em teu amor. Amante tempestade, um velho sonhador, Ainda crê talvez, num último lampejo....
Marcos Loures
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Palavra que te disse, mansa e louca; Trazendo teu desejo para mim. A boca procurando tua boca, No gozo dessas flores no jardim...
Amada, como é bom falar que eu te amo! Palavras, sentimentos tão profundos... Qual lobo solitário; tanto chamo, Meus olhos viajando nos teus mundos.
Deitado sobre a grama e sob a lua, Ao ver-te em transparências caminhando, Teu corpo se define e semi-nua; Aos poucos meu olhar te desnudando...
E sinto teu respiro junto ao meu, Meu corpo, nosso corpo, se perdeu...
44
Palavra quando feita em ceva, arado, Profícuas emoções já se preparam. Pá, lavras são metades em que o bardo Vislumbra tais colheitas que impetraram
Os sonhos de quem lida com sentidos Diversos entre frases, orações. Aos olhos, aos ouvidos consentidos Formatos em que inserem sensações
Usar deste instrumento em faca e foice; Das almas e verbetes aplicados, Às vezes do que fomos, sobra o foi-se Das dores e dos medos aplacados.
Palavras sei que são caleidoscópicas, Nas mãos de um sonhador, serão utópicas...
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Palavra em mansidão é proferida Dizendo desse amor, rara promessa, Sentido libertário não tropeça Razão prioritária em minha vida.
A dor da solidão sendo vencida, O tempo de viver já recomeça A nuvem do passando, mesmo espessa Deixada assim de lado, dissolvida.
No carrossel do sonho, volta e meia A trama se faz plena em clara teia O amor vem se estendendo em cada ramo,
Girando o pensamento eu não descanso, Assim, felicidade imensa; alcanço Brincando de ciranda com quem amo Marcos Loures
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Palavra em emoção já me trazia Aroma que em verdade eu procurava Tocado pela luz de uma alegria, Tanta felicidade celebrava. Misturo realidade e fantasia, E a vida num momento se dourava.
O canto em alegria, duradouro, A voz de quem desejo chega aqui, Encontra no meu peito, ancoradouro, No amor que imaginei e não vivi, Palavra traduzindo este tesouro Que guardas- emoção- dentro de ti.
Palavra tão sublime que foi dita, Matando em alegria, uma desdita...
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Palácios e banquetes, reino e glória, Descolo uma carona no cometa Que segue pela vida em linha reta E volta novamente à mesma história.
A moça com a lua merencória Nos olhos do poeta se completa, Palavra mais distinta amor deleta
Espasmo traduzido por vitória
Fazendo vistoria nos guardados, Os beijos entre nuvens provocados Agindo sem temor ou rebeldia.
Cadarços amarrados; o tropeço É tudo o que decerto eu já mereço Caindo da esperança/escadaria...
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Paixões que me assolaram num tropel, Fomentos de ilusões e fantasias, Marcando meu passado por orgias, Erguendo meu olhar ao negro céu.
Vestida de inclemência traz no véu, O quanto imaginara e não querias, Minha alma transformada num bordel, Morrendo em solidão, nas noites frias...
Mas ergues, da amizade soberana, Uma égide por certo, salvadora, Enquanto a sorte vem e desengana,
A mão que me sustenta, redentora, Além do que pensei vem e transforma, Forjando do que fora, em nova forma...
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Paixões não são somente assim, fictícias, Palpáveis e volúveis, com certeza. E mesmo que com força ou mais destreza Às vezes nos sonegam tais delícias.
Enquanto nos dominam, em sevícias Avançam e destroem, pondo a mesa, A mão que me acarinha também pesa Em meio a tantas ondas de malícias.
A qualquer preço tento um novo dia, Aonde pelo menos a alegria Não seja momentânea. Isso me cansa.
Amar em harmonia? Necessito. Não acho necessário um plebiscito No grito ou em concórdia a vida avança... Marcos Loures
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Paixão: um sofrimento que angustia E faz calamidades sem motivos, Aquece e de repente, é noite fria, Explode em mil fantasmas emotivos. Paixão, imensidão tão diminuta Que perde e faz perder a quem encontra. É látego tormento e nada astuta É quase sempre pró, às vezes contra. Dispara na mudez uma ofensiva, Ao mesmo tempo cega e nada vê, É mansa e tão cruel, é radioativa, Em nada mais confia, em tudo crê. Relâmpago que corta, retumbante, E mata o que sustenta, inebriante...
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Paixão se ardendo em fogo desejoso Intensas labaredas e fagulhas. Um sentimento assim maravilhoso, Palheiro que não tem tantas agulhas.
Eu sei qual o valor e raridade Que trazes nos teus lábios sedutores. Glorificando a paz, felicidade Que é feita da ternura e seus pendores.
Nos versos tal moldura que enobrece Um coração que é feito sonhador. Escute este meu canto feito em prece Louvando ternamente o nosso amor.
Nas ondas deste mar, na branca areia Paixão feita solar, nos incendeia...
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Paixão que se fez louca e fulminante Tomando nossos corpos, brasa e fogo, Insânia que se entorna num instante Não ouve da razão sequer o rogo.
Espalhas pelos sonhos, diamante, Cristais iridescentes onde afogo O sonho num momento deslumbrante, Querendo tudo agora, venha logo.
Não deixe que se extinga esta fogueira Nem mesmo que se cale nosso amor. A sorte tão cigana, aventureira
Deixando por legado o fogaréu Intenso e com certeza encantador Permite que se voe, alçando o céu... Marcos Loures
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Paixão que se deslumbra violenta Tragando cada sonho revelado; Jamais se permitindo mansa e lenta Demonstra-se no olhar mais transtornado... Paixão que se transforma em vil tormenta Neste incontido gesto do passado, A boca se tornando mais sedenta Da boca que se quer, extasiado... Ao mesmo tempo ignóbil, anda tão frágil, Ao mesmo tempo insana é paciente, Permite-se ao convite e ao contágio, Faz do meu coração pobre palhaço, Embora se derrete em forno quente, Cortante, no meu peito, invade o aço...
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Paixão que nos tomando nunca cessa Eterno vendaval em doce senda. Amar não é segredo nem promessa Tampouco uma vontade feita em lenda,
Amar é sensação que sem conversa, Avassalando sempre nos desvenda, Unindo num mosaico, não dispersa, Depois de certo tempo em mesma tenda
Os corpos que se buscam imantados, Profundos sentimentos domadores, Em fantasias olhos que se tocam,
E se perdendo estão bem mais atados, No espaço se encontrando sonhadores, No peito dos que amam já se alocam...
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Paixão que nos ligou em verso e prosa, Deixando nosso canto mais bonito. Repito todo dia um belo rito, E venho te regar, divina rosa.
Do jeito que se quer e que se goza A vida não produz mais dia aflito, Eu quero estar contigo e assim repito, Plenitude de amor, maravilhosa.
Pintando com batom meu corpo inteiro, Beijando cada parte, sem descanso, A tentação sem risco, quando avanço
Percebo quanto é bom ser garimpeiro, E ter na mão pepita rara e bela, A mulher tão fogosa se revela...
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Paixão que me domina e me entontece, Não me deixa pensar em quase nada Minha alma se agiganta e se engrandece Ao mesmo tempo morre sufocada. Por certo, quase nunca me obedece E segue sem sentidos, transtornada. Depois por muito pouco se arrefece E morre, num segundo, abandonada... Se queres ser feliz, negue a paixão, Se conseguir me explica como faz... Vislumbro uma total revolução Em cada novo dia, um novo encanto. Loucura que mais nada satisfaz, Paixão que me domina: riso e pranto...
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Paixão que me domina causa dano, Matando uma ilusão sempre querida, Não quero mais saber do desengano, Procuro uma manhã que traga a vida Ao coração moleque e desumano Antes que a morte venha e isto decida.
Um canto mais suave e mais ameno Formado pelas gotas de esperança Que caem nesta noite, qual sereno, Trazendo para a vida, segurança. Coração sem juízo e tão pequeno, Uma alegria a mais, jamais alcança;
Eu quero o teu sabor- delicioso, Roubando o teu prazer, divino gozo...
58
Paixão que me devora e me detona, Com fome, tanta sede de te ter... A lucidez, inteira, me abandona, Eu quero lambuzar-me em teu prazer.
Depois desta loucura tão gostosa, Vibrando em cada toque, brasa e fogo, Ardendo em teu rubor de rubra rosa, Perdendo meu juízo em nosso jogo...
No rito insaciável, todo dia, Nesta satisfação que nunca cansa. Sangrando em cada poro, poesia, Na troca sensual, na nossa dança...
Deitar-me no teu colo apaixonado, De novo me entregar, iluminado...
59
Paixão que decorando em rubro sonho, Trazendo um tinto sangue apaixonado. Vibrando no teu corpo, sempre ponho Segredo mais voraz, extasiado.
Voar além dos mares te proponho, Deitara-te em tanta fúria aqui do lado. Deixando esse passado tão medonho Distante, bem distante, abandonado...
As cores que pintamos, mil matizes, Amores que nos roubam o juízo. Fazendo-nos, por certo mais felizes
Mostrando no caminho sempre alerta, A porta do divino paraíso Pra sempre, eternamente tão aberta...
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Paixão palpita louca no meu peito E cria estas tormentas tão ferozes. Sabendo que sem ti, insatisfeito, Eu perambulo louco, ouvindo vozes...
Sem um tremor sequer tu já me espera Sem vacilar demonstras teu carinho. A voz em calmaria me tempera E mostra meu temor vago e daninho.
Quando a noite chegando traz a lua, Eu sinto o doce gosto do desejo, Percebo a silhueta semi nua E lúbricos prazeres antevejo...
Paixão palpita cega, coração; Desditas e delírios da paixão!
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Paixão me devorando, audaz e astuta. Causando reboliço no meu peito. O quanto que se entrega desse jeito Permite vislumbrar se existe luta.
A voz de uma emoção quando se escuta Tornando o meu caminho mais estreito, Enquanto tantas vezes me deleito Uma ilusão se mostra mais arguta.
E nisso ao ver meu dia se esvaindo Em luzes tão distantes, sem um sol, Angústia se espalhando em arrebol,
Embora em teimosia, prosseguindo, Eu sei que não terei mais qualquer chance, Amor se colocou fora do alcance. Marcos Loures
32
Paixão alucinante e sem juízo Domina cada passo sem pensar. Vivendo, num pecado, o paraíso Aos poucos, nos começa a devorar. Um sentimento assim, tão impreciso Não deixa nem um jeito de lutar, Chegando quase sempre sem aviso, Mal posso, num segundo, respirar. Ao perder a cabeça, perco o senso, Vagueio por teu corpo sol e lua, No mar onde navego; tão imenso Não tenho mais sentido, nos astrolábios Meu rumo em teu corpo já flutua Ao sabor das buscas dos meus lábios.. 63
Paisagem que se mostra soberana Trazendo uma alegria sempre à mão. Às vezes nos indica a solução, Mesmo quando a má sorte desengana.
Fazendo nossa vida mais ufana Permite que vençamos tentação, Uma arma contra a negra solidão Defesa mais profícua e mais humana.
O paraíso em vida prometido Jamais existirá sem ter a glória De ter em cada passo percebido
O quanto nos permite esta vanglória De ter assim, amiga; concebido Na força da amizade, uma vitória!
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Pairando sobre nós o bem do amor Convida para a festa que virá Trazendo em seu poder transformador O dia que sublime nascerá.
Teus olhos me guiando, farto encanto, Ternura benfazeja de um farol, Do imenso sol, um simples helianto Entrega-se à beleza do arrebol.
Seguindo os claros raios matinais Eu sei que não irei mais me iludir, Magníficos caminhos magistrais Encontrei somente por seguir
Os rastros que tu deixas nesta estrada, Raros brilhos em forma de pegada...
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Pairando sobre as noites, meus desejos; Encontram na umidade dos teus lábios Delícias de tão doces, mansos beijos; Certeza dos carinhos bem mais sábios.
Encontro no teu corpo meu naufrágio, Não quero mais voltar ao triste cais. Penetro essas entranhas, vou bem ágil, Eu quero aqui ficar, sair jamais!
Descubro em cada sanha o meu prazer; Cabelo da morena que se assanha, Vontade de, meu rumo em ti perder, Passando cada vale, mar, montanha.
Eu amo a maciez de tua pele, O conhecer segredos, me compele...
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Pago o pato pelos erros Cometidos vida afora, Se do vale vejo os cerros, Paisagem que decora
Os engodos e os desterros Esperança se demora, Se mis dias fueran perros E melhor que eu vá embora
Como mancha nos espelhos Impedindo a clara imagem, Resto só e; de joelhos,
Recolhendo cada caco Reviver esta viagem Eu garanto que é um saco!
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Pagando tanto mico vida afora Eu quis fazer um verso, mas não pude Por mais que a fantasia ainda grude O tempo de sonhar já foi embora.
Há pouco me curei da catapora, Porém, a cicatriz não mais me ilude, Criei, sem serventia, lago e açude E sei que algum castigo não demora.
Minha alma comemora um simples gol, Saneio o que deveras mal restou E tento refazer, do nada, algum.
Maria foi segredo e foi degredo, No quarto sempre escuro, risco e medo, Do tanto que mais quis: sobrou nenhum...
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Padeço dos pecados cometidos Há tempos por estúpidas promessas. Se tenho a poesia que confessas Os ritos se perderam nas libidos.
Caminhos entre estrelas percebidos E a cada novo dia recomeças Se os sonhos mais audazes não engessas, Meus passos são deveras repartidos.
Repatriar as velhas emoções Beber até fartar nos ribeirões Usando da divina complacência.
Querendo me perder em teu juízo, Do quanto cometemos, sem aviso, Não quero mais pudor sequer decência... Marcos Loures
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Pacato cidadão espera quieto, Assim mudança é traça no Congresso. Calado, permanece morto o feto, Medalha nunca mostra o seu reverso.
Quem cala é que por certo está repleto Quem vive desunido e vai disperso Pois rã que não se move quer inseto? Quem diz que da política é avesso
Permite por terrível omissão Que dê sustento ao crápula quando erra Deixando o mais humilde pelo chão.
A noite do cochilo cria e emperra Pois oportunidade faz ladrão, E o bom cabrito, amigo, sempre berra!
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Pavores e tristezas vão dançando. Morrendo pouco a pouco no poente, O sol que um dia esteve iluminando, Afasta-se e no frio se pressente
A noite que virá me maltratando, Até que a morte chegue de repente, Sem avisar nem mesmo aonde e quando, Levando o que sobrou, quase indigente.
Assim persegue em vida, o meu Calvário, Sou triste, isso jamais eu escondi. O tempo de viver é temporário,
Felicidade nunca esteve aqui. Apenas solidão em dura prece Cativa, inda resiste e me obedece..
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Patrão, eu te garanto que essa moça Não foi embora apenas por querer, Verdade se quebrando feito louça Não deixa a realidade perceber.
Dos olhos de quem chora forma a poça Molhando a vida inteira, o meu sofrer. Na solidão terrível da palhoça Apenas velha lua eu posso ver.
Cheguei neste sertão faz tanto tempo, A seca não passou de contratempo Os olhos não pararam de chorar.
Eu peço um só momento de atenção, Escute estes meus versos meu patrão Os derradeiros que eu irei cantar... Marcos Loures
72
Passos em direção ao velho sonho Depois de ter estado tão vazio, Se eu tento e de repente ainda crio Eu teimo e tento ver o que proponho,
Sem ele nada além de um mar medonho Em trevas e borrascas, vou sombrio, Por vezes entre medos fantasio Um cais que se tornasse mais risonho.
O amor bem mais que lúdicas ofertas, Enquanto esta esperança não desertas Permites que inda possa imaginar
Que oásis da alegria seja aqui, Ao lado de quem amo eu percebi Poder tocar meu sonho e navegar... Marcos Loures
73
Passos calmos procuram harmonia, Em teus gestos esfíngicos, quimeras... Devoras a vetusta fantasia Que se acampara desde priscas eras
No peito solitário. Melodia Esquecida em felizes primaveras... Amor de tanto tempo não queria, Sentidos anciãos já me adulteras...
Nos juncais da saudade, perco o rumo... Espreita-me a serpente, firma o bote; Minha alma se esvaindo, leve fumo.
Renovas sensações mais arrojadas. Prazeres e delícias vêm em lote, No peito, as emoções vibram rajadas...
74
Passo pela alameda dos meus sonhos, Ouvindo sabiás e curiós... Quem teve tantos dias mais tristonhos Saindo de um passado tão atroz Sabe dos caminhos mais risonhos, Do mundo que criou, feliz, após...
Silêncio a traduzir a paz querida, O vento passa lento pelos galhos, De tanto que encontrei em minha vida Projetos que encetei morreram falhos. Nesta alameda encontro uma saída, Juntando o coração, tantos retalhos...
Amiga, esta alameda, na verdade, Demonstra como é bom ter amizade...
75
Passo a passo, contigo eu estarei Na longa caminhada desta vida Que mesmo que pareça estar perdida Transborda em puro amor, a nossa lei.
Vivendo como sempre desejei Na paz e no sorriso, a própria lida Fica mais fácil, assim, de ser cumprida. Tu és o que mais quero e que sonhei.
Um amor verdadeiro dá guarida E traz como bandeira uma alegria. A estrada das tristezas já vencida
Só resta-nos saber felicidade Alimentando os sonhos, a euforia Nos mostra em nosso amor, toda a verdade.
76
Passeio, distraído pelas ruas Numa procura insana, mas sagaz. Distante de meus olhos continuas, Porém a cada passo mais audaz
Imagem em transparências, peles nuas, Povoa o pensamento que se faz Em sonhos e desejos, bocas cruas Que ao se tocarem; mágica me traz.
Nos rastros prateados desta lua, Meu passo em desatino; continua, Até que eu sinta o cheiro que se exala
Desta mulher, fantástica miragem. Percebo ao terminar minha viagem Que estavas desde sempre em minha sala... Marcos Loures
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Passeio no teu corpo, vales, serras, Descubro cada fonte e seus ribeiros, Vislumbro uma beleza nos outeiros, Encanto-me decerto em belas terras.
Tantas magias, meiga, tu encerras Nestes teus paraísos verdadeiros Mergulho meus desejos derradeiros, Afasto o coração de antigas guerras,
E agradecendo a Deus e à natureza Por esta maravilha sem igual, O corpo desejado e sensual,
Que traz felicidade com certeza, Deixando para trás um mundo algoz, Vibrando em alegria nossa voz...
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Passeio no teu corpo mil vontades De ter tanto prazer, louca viagem, Ao ver tua nudez, uma miragem Desfruto de totais felicidades.
Invado calmamente e quero mais, Voando em nosso gozo tão preciso, Perdendo a direção, e sem juízo Calores e loucuras tropicais...
Arranco teus gemidos com carinho, E sinto esta umidade nos tomar, Bebendo o teu querer, amado vinho,
Que escorre aos borbotões, mar a singrar. Em toda a maravilha que vivi, Sentindo, meu amor, dentro de ti...
79
Pecado inominável é o aborto, Devemos, implacáveis, condená-lo, Perante tal verdade, eu já me calo, Porém num pensamento torpe e torto
A vida deve ser, pois preservada, Para quem age assim, a penitência Levada à derradeira conseqüência, Mesmo que sobre ao fim, apenas nada.
Melhor morrer o corpo em salvação, Ao arcebispo cabe a excomunhão, Arrancando da Terra, sem um rastro.
Excomungando assim tais assassinos, A Igreja pune todos os ladinos, Porém não fala nada do padrasto...
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Pecado é não poder te dar um beijo A boca se oferece... Maravilha... Seguir sem ter juízo a doce trilha Que leva ao paraíso. Meu desejo...
Um jogo mais audaz ora prevejo, Menina se tornando uma armadilha Ao peito que cansado não mais brilha, Fazendo da esperança um relampejo.
Sem pejos, eu vasculho esta gaveta, Encontro a poesia predileta E tento declamar. Triste papel...
A moça em ironia e sem confete: Meu tio, estou bolada. Piriguete Só topa se dançar comigo o Créu. Marcos Loures
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Perdoem-me estas tolas baboseiras, São tolas teimosias de um palhaço. Se eu causo noutro alguém, este embaraço Não foi minha intenção. Mas não me queiras
Somente pelo aroma das roseiras Que, às vezes espalhei no teu terraço, Se estrelas distraídas eu enlaço, Nunca pude enfrentar as ribanceiras.
Escondo-me da luz que sempre alcanças Com tanta maravilha que produzes. Se destas tais asneiras, minhas cruzes
São tolas cretinices; torpes lanças, Diante deste brilho fascinante, Eu sei que sou estúpido ignorante...
83
Perdoe, mas é hora de partir, O barco encontrará enfim seu cais. Diverso dos meus versos usuais, Não tenho mais nem forças nem porvir.
A carne apodrecendo pouco a pouco, Os vermes serão belos companheiros, Distante dos sorrisos costumeiros, A face escancarada deste louco.
Um cão que farejando qualquer osso, Teimando em mergulhar no escuro fosso, A campa me servindo como manto.
Pútrida solidão por sob a terra, Gargalho em ironia, e assim se encerra Num ápice gentil, o inútil canto...
84
Perdoe toda a farsa escancarada Na face de quem mente sobre o amor. A boca da verdade abandonada Nos antros da vergonha neste andor.
Perdoe toda rosa estraçalhada Nos dentes sem limites do pastor, Mentira no Teu nome apregoada, Nas taças folheadas de louvor...
Perdoe cada santo que emergindo Dos pântanos obscuros das almas. Da podre corrupção que se aspergindo
Em nome deste amor, que é tão perfeito, Matando este cordeiro em novos traumas, Se acham bem mais fortes no direito...
85
Perdoe tal demora na resposta À carta que mandaste para mim. Gostei da tua idéia e digo sim, Minha alma a estar contigo; está disposta.
Quem age com carinhos, sempre gosta Da flor que irá brotar neste jardim, Aquele desabafo diz que vim Apenas pra deixar minha alma exposta.
Eu nunca me senti senão feliz Por ter a companhia benfazeja Daquela que em carinhos vem e diz
Que a vida pode ser maravilhosa Uma outra direção ali se almeja, Eu sei separar espinho e rosa! Marcos Loures
86
Perdoe se tu pensas que, distante Esteja de teus passos, minha amada. Teu sonho dentro em mim tão deslumbrante Fazendo esta vontade realizada...
O manto que te cobre a cada instante Recobre-me trazendo em alvorada A luz deste astro-rei, forte, gigante, Deixando a minha pele bronzeada
Ardendo neste fogo que é diuturno, Tramando a cada dia um gozo imenso. Deixando o que já fui- triste e soturno,
Abrindo em tanto brilho, um céu bem claro No qual emoldurado, tanto penso, Falando deste amor, eu me declaro... Marcos Loures
87
Perdoe se sincero agora eu fui, Inútil caminhar contra a corrente. Um velho sonhador se não demente Percebe quando o sonho cai e rui.
O verso que decerto manso flui E tendo a corda frouxa que arrebente Eu sei que vou bancando um penitente E o gozo da alegria, o canto intui.
Tatuí não será jamais tatu Assim como não tenho a pretensão De ser algum herói tolo ou vilão
Apenas vou me expondo e estando nu A roupa tão puída do passado Deixará meu soneto assim, pelado...
88
Perdoe se pareço, assim, sarcástico Não tenho mais vontade em ironia. Do quanto o nosso amor já prometia, Um dia mavioso e tão fantástico.
O corpo adormeceu bem mais espástico Mudando cada nota da harmonia, Deixando no passado a sintonia Anel que tu me destes, foi de plástico...
Nos olhos carregando novas rugas, Amores que encontrei, são sanguessugas, Às vezes sou pacato, outras nem tanto.
Cabelos que afaguei, viraram cobras, Colecionando agora, simples sobras, Vesti meu terno novo- o desencanto.
89
Perdoe se parece atrevimento, O que posso fazer se te desejo? Beber de tua boca num momento Rompendo estas fronteiras, dar-te um beijo
Entrar nestas defesas, ser teu homem. Despindo a fantasia tropical. Famintos, os meus olhos que te comem Neste teu bamboleio sensual.
Salivas que se trocam, línguas feras. Gemidos e sussurros noite afora, Teu corpo seduzindo, em primaveras, Na intensa sedução que em ti aflora.
Perdoe se te quero desse jeito, Sem medo, sem vergonha, amor perfeito... Marcos Loures
90
Perdoe se o que trago hoje a teus olhos Retrate esta mortalha que cultivo, De insanas ilusões, ora me privo, Explodem no meu peito urzes e abrolhos.
Do charco de minha alma, a podridão Exala o seu aroma e toma a sala, Da sórdida paixão, velha vassala, Vestida de total escrotidão.
Mergulho nas charnecas, movediço, E sei que tantas vezes fui omisso, Porém minha missão já se esgotando,
Teimar e persistir? Nada me importa, Há tempos destruída a antiga porta, Imagem podre e falsa, desabando...
91
Perdoe se não trago mais sorrisos A cara do palhaço entristecida Reflete bem melhor a minha vida, Em passos tão errôneos e imprecisos.
Eu sei que não faltaram bons avisos, Ciladas que encontrei, bala perdida, Uma esperança morre, apodrecida Ofídica ilusão negando os sisos.
Se eu bebo cada gota deste gim, Placenta da esperança não sustenta O verme que em mordaça violenta
Ainda tenta crer em flor, jardim. Arranca dos meus olhos a figura Esquálida e patética: ternura... Marcos Loures
92
Perdoe se não sou nenhum eunuco Eu gosto de fazer amor, não nego. Se a libido, querida, eu já cutuco O sexo nos meus versos eu emprego.
O cabo do martelo diz do prego Relógio lembra logo o velho cuco Eu não quero fingir nem sigo cego Além de ser ranzinza, estou caduco.
O cheiro da morena, o que fazer? Convida num segundo pro prazer Que a gente faz com toda esta alegria
Embora o companheiro anda falhando, Não custa meu amor, seguir sonhando, Ao menos tem alguma serventia... Marcos Loures
93
Perdoe se não sei anatomia Às vezes eu confundo estes caminhos. Procuro insanamente pelos ninhos, Porém tantas estradas amor cria.
Errante não percebo a fantasia Que é feita muitas vezes de carinhos. Prazeres; imagino, até sozinhos Mas nada do que penso traz valia.
Sou bruto, me disseste, gutural, Um Brucutu somente e nada mais. Um asinino ou mesmo até boçal,
A culpa, eu te garanto não é minha. Se o órgão do prazer mulher já traz, Ao homem Deus só deu uma cobrinha...
94
Perdoe se não pude ter nas lavras Colheita tantas vezes desejada, Perdido sem ter rumo nem palavras Sobrando do que fomos, quase nada.
Enquanto com saudade, os olhos lavas Entendo o que restou como um pavio, Aonde as esperanças vãs escravas Sonegam invernando cada estio.
Resíduos dos amores, vermes, larvas Jamais terão a sorte das crisálidas, As faces sem sentido, tolas, parvas Restando tão vazias, frias, pálidas.
Quem dera! O coração segue pesado, E vendo o que nos toca, vou calado... Marcos Loures
95
Perdoe se não pude te encontrar, Às vezes desencontros são fatais Só quero que tu saibas: vou voltar Matar a nossa sede, é bom demais.
Reuniões freqüentes no trabalho, Momentos tediosos, o que faço? Querendo ter comigo o teu abraço Eu sei que não ligar foi ato falho.
Mas pego de surpresa, novamente, Não sei se tem desculpas, porém peço. Assim em outra data, de repente
Terás o meu carinho, isso eu garanto, Beijar a tua boca, não tem preço, Rendido totalmente ao teu encanto... Marcos Loures
96
Perdoe se não falo mais de amor, Se os olhos embotados lacrimejam, Os corpos que se buscam não desejam Além de um simples gesto. Puro ardor.
Quem dera se eu pudesse. Mau ator, Ainda que em momentos relampejam, Os dias em lamentos, só latejam, Deixando solitário, um sonhador...
Carrego ainda as marcas do passado, Saudosa sensação que não me deixa. Meu verso denotando amarga queixa
Seguindo pela vida, derrotado, Apenas um momento de atenção: Embora eu já perceba: foi em vão...
97
Perdoe se meus versos são banais, Eu tento demonstrar quanto te quero. Aos poucos, solidão, me degenero E morro tão distante de teus cais...
Os sonhos, companheiros usuais Nos quais, com alegria e tanto esmero Eu sei que talvez falte algum tempero, Mas saiba que eu adoro. Amo demais...
Eu sinto a minha vida se esvaindo, Por entre os dedos, perco a direção, Do gozo de um amor deveras lindo
Apenas um momento bastaria. Mergulho num abismo, encontro o chão, Espelho de minha alma, tão vazia... Marcos Loures
98
Perdoe se me ausento. É necessário. O tempo é o Senhor, pois absoluto, Se der a cara à tapa inda reluto, O lobo tem destino sanguinário.
Debilitado estou, porém eu luto, Correndo contra mim, o calendário, Escondo os meus anseios num armário, Aguardo o meu descanso, estendo o luto.
A morte se aproxima devagar, Apodrecendo aos poucos, sem confetes, Quisera controlar tal diabetes,
Quem sabe, noutra estância repousar... Deixando mansamente a minha vida, Preparo a cada dia, a despedida...
99
Perdoe se inda sonho assim contigo, Não devo, isso bem sei, não é direito... O tempo que se perde e que persigo Vivendo a transtornar meu velho peito...
O céu em níveas nuvens, sem mormaço, Promete tal calor que não suporto... Esqueço de viver um manso abraço Atraco meus navios noutro porto...
Talvez ressurja calma uma alvorada Não creio, mas pretendo ser feliz... Depois de tanta luta, sem ter nada, A nuvem vai mudando o seu matiz...
Das chuvas que virão, em tempestade, Quem sabe irá nascer felicidade?
12400
Perdoe se inda escrevo sob a métrica Algoz que não permite ser liberto. Pregando muitas vezes no deserto, Sonoridade é coisa amarga e tétrica...
Não posso mais seguir em tal estado, Um verso vagabundo, o que desejo, Sentindo a convulsão que num lampejo Dará sem tais floreios, seu recado.
Eu rendo-me a quem faz de algum soneto Apenas insensata mistureba, Não quero confundir juba com jeba,
Jurássico poema. Mas prometo Fazer sonetos falsos. Libertários, Jogando o que aprendi nos teus armários...
1
Passando tanto tempo sem te ter Espero que não vejas meu caminho Como fonte maior de teu prazer. Senão em outros braços já me aninho.
As horas se passando sem se ver Pressinto ser feliz, mas sou sozinho. Como posso enfim te convencer Se tudo o que me dizes, um espinho.
Soltando pela vida o meu gemido, O pranto que causaste, viva fonte. Amor que sempre esquece-se no olvido,
De toda essa saudade se alimenta. Impede novo brilho no horizonte E todas as defesas, arrebenta! Marcos Loures
2
Partiste num cometa ao fim da noite, Espaços procurando e não te vejo. Saudade vergastando, duro açoite Deixando um rastro amargo de desejo.
Ouvindo tão distante a mansa voz Que um dia se perdeu em burburinho, Lembrança que castiga, dura algoz, Sombrio e solitário, o nosso ninho.
A porta permanece sempre aberta, Passos na escadaria? Uma ilusão. Uma esperança, aos poucos, me deserta, Tomado por terrível aflição
Espero a cada instante a tua volta, Porém sem ter ninguém, resta a revolta... Marcos Loures
3
Pareces que enfeitiças quando danças Me sinto assim cativo e seduzido, Em cada gesto mais mil esperanças, Sonhando, inebriado, estou perdido... Meus olhos eu bem sei que não alcanças Mas mesmo assim te espero em vão; vencido Pela tua magia em belas tranças Largadas sobre os ombros. Iludido Não paro de pensar na dançarina Que quase me tocando, me feriu Na pele amorenada da menina Adivinho um sorriso encantador, Um sonho do passado, de vinil, Tocando uma balada, traz amor...
4
Parece tantas vezes ser fatal A dor que nos atinge e tão-somente Uma amizade mostra-se ideal Como aliada sempre e firmemente.
Por isso, companheira e camarada Encontro em teu apoio esta firmeza Para enfrentar o medo e a geada Numa esperança clara, uma certeza
De que a vida será bem mais feliz A quem já sofreu tanto no caminho. Cevando no meu peito a flor de lis, Cuidando deste afeto com carinho.
Meu verso te agradece tanto, tanto, Amor: doce refrão em nosso canto...
5
Parece que não vês quanto eu te quero, Meu verso se encantando vai contigo Colado no teu corpo, meu abrigo, Um sentimento nobre como espero.
Do mundo em que vivemos, ledo e fero, Unidos tão distantes do perigo Durante tanto tempo assim prossigo Atado neste sonho que venero.
Estamos tatuados pele a pele E vamos neste passo ao infinito. Tu sabes o que penso e acredito
Um sonho de justiça em pleno amor. Uníssono e bem forte nosso grito Em cada novo passo a se compor
6
Parece que não sei de outra palavra Que trague pelo menos um sorriso, O amor que não permite qualquer lavra Semeia em solo amargo sem aviso.
Dos vales que sonhei, a cordilheira Tomando este cenário, deixa além A paz que procurava, alma se inteira E vê depois dos montes, velho trem
Que liga o meu destino ao vão deserto, Marmóreas pedrarias não há mais. E sendo o que não tive; já deserto. Ausência do futuro engole o cais.
Campanhas e campinas, doces prados, Os dias morrerão desesperados.
7
Parceiros que se foram no caminho Deixando como herança a solidão, Vagando pela vida, em negação Expresso alguma forma de carinho.
O vento que invadira o velho ninho, Promete em tempestade a viração. Abrindo num momento todo o chão, Agora em pleno inverno estou sozinho.
Meu barco se perdendo sem um cais, Prosseguindo ao sabor dos vendavais Promete ao fim da vida, sofrimentos.
Que faço? Sem sequer um companheiro, Estúpido, imbecil, mau timoneiro, Perdi, sem proteção, rosa dos ventos. Marcos Loures
8
Parceiro inseparável de quem sonha, Amigo de quem quer só aprender. Levando à fantasia má, risonha, Eterno companheiro em dor, prazer.
Por páginas e letras viajamos E vamos para além, de tempo/espaço. Liberta a sociedade, mata os amos, Nos acompanha sempre passo a passo.
Em papiro, papel ou na internet Ao conhecer e ser, já nos remete; Sem ele como haver democracia?
Na sua companhia dia a dia, Assim evoluiu a humanidade Assim se concebeu a liberdade...
9
Parceira dos meus sonhos mais felizes, A tua voz chegando aqui me diz Que mais do que tristezas ou deslizes O rumo que busquei nada desdiz.
De todas amarguras, cicatrizes, Apenas encontrando o que mais quis Meu céu revigorado por matizes Dos olhos deste encanto vibra em bis.
O amor chegando manso em nossa vida Depois de tantas chuvas, temporais História desde agora decidida
Permite alvorecer em plena paz. Felicidade sabe deste cais E mostra-se sublime e mais capaz...
À MINHA MAIS COMPLETA PARCEIRA, E UMA DAS MAIORES POETISAS VIVAS DESTE PAÍS HELENA LUNA Marcos Loures
10
Parábolas diversas, carrossel, Rondando enredos vários e profanos, Celebro os meus complexos desumanos E bebo teu amor grama e motel.
Egressos deste barco de papel, Meus sonhos se condenam; desenganos, As almas que se elevam são metanos, E o gesto mais conciso beira a fel.
Risíveis melodias que funestas, Abrindo os meus portões, arrombam frestas, Amor quis atacado e eu varejo.
Parágrafos; pulei em pífios sonhos, Cadarços que amarraste, tarsos vejo, Quebrados em tropeços tão bisonhos... Marcos Loures
11
Parábola ancestral verdade bíblica Falando de quem ama e não pergunta, A vida se refaz e sendo cíclica Passado com futuro sempre ajunta.
Bem antes de buscar conhecimento, Nós vemos o Senhor à nossa frente, Porém quando o saber se mostra intento Fugimos do que cremos claramente.
Depois de tanta busca nos vestimos E nuas nossas almas seguem vãs, Ao Deus original quando o sentimos
De novo ao Paraíso retornamos, Milagre se refaz toda manhã, Em cada ser vivente, árvores, ramos...
12
Para ter um amigo, Querer tão só não basta, Na casa em que me abrigo, O tempo que desgasta Às vezes não consigo A vida nos afasta.
Mas sempre cultivando A flor deste jardim, Aos poucos conquistando Entrego-me e sem fim, Não sei sequer nem quando, Contigo, irei assim...
Colhendo cada fruta, Lapido a gema bruta...
13
Para quem vive neste mundo só, Amigos são as pontes para a vida, Um lobo solitário causa dó, Uma esperança sempre cai perdida.
A solidão penetra como faca Trazendo a sensação deste vazio, Qual febre alucinante quando ataca, Matando sem calor, portando o frio.
No exílio de minha alma, nada resta Senão tua amizade, companheiro. Sem ela vou ao caos e perco a festa O mundo sem sentido, o tempo inteiro.
Mas sei que em tanta coisa eu não me iludo, Uma amizade plena é quase tudo...
14
Para quem exilado pela sorte Vivendo em solidão, triste quimera, O vento da amizade bate forte Trazendo uma esperança em primavera. Para quem a vida nunca trouxe A doce sensação de ser amado, Para quem alegria como fosse Um sonho tão distante, sem passado, Para quem o sabor da vida, amargo, Perdido num futuro que não vem, Para esse solitário, vida ao largo, Que passa a vida toda sem ninguém, O mundo parecendo tão miúdo... A amizade é na vida, quase tudo...
15
Para os meus passos tortos, desvalidos, Encontro uma esperança benfazeja Tomando meus segredos e sentidos, Nos braços desta lua sertaneja.
Tocando em mansidão os meus ouvidos, Seu canto é o que se quer e se deseja, Matando tais tristezas, tempos idos, Amor por minha pele, já poreja.
E faz de cada sonho a redenção. Sabendo que viver não é só sonho. Por isso minha amada eu te proponho.
Viver o que nos resta de emoção, Num mundo mais bonito e mais risonho; Falando deste amor que é solução Marcos Loures
16
Para o bem de quem desejo parabéns O tanto tempo esvai-se num segundo. O quanto que te quero e o que tu tens Na profusão sincera invade o mundo.
O quando nunca tive, vagabundo Perdendo com certeza velhos trens Palavra que te falo e que reténs No mar desta amizade eu me aprofundo.
Aniversários, risos e festejos, Depois de cada curva, uma esperança Ateio uma alegria na aliança
Fornalha preferida dos desejos. Bebendo cada gole irei contigo Vencendo qualquer pânico ou perigo.
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Para falar de Amor, existe a voz Do velho sonhador que em seu inverno Sabendo a solidão, cruel inferno, Aguarda o que virá, decerto, após.
O medo de sonhar, um duro algoz Impede este momento amável, terno. Agora ao fim da vida, não me hiberno, Pois vejo o meu final que vem veloz,
Percebo quantas vezes fui sem rumo, À vida em desamor não me acostumo, Usando da garganta, mesmo rouca,
Eu brado a maravilha de sonhar, Por mais que a vida venha maltratar E uma amargura seja surda, mouca... Marcos Loures
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Para amar é preciso ter ciência Quem nunca faz decerto já não erra, Cumprindo por cumprir a penitência Vacância presumida nega a terra.
À sombra deste som, semeio ao vento Bemóis e sustenidos, flor em flor. Pressinto o vão e tento o sentimento Na máscara gentil do estranho amor.
A mesma claridade que me cega Às vezes já permite revelar-se O gozo que previsto é chique ou brega, Mas causa quase sempre a vã catarse.
Irmã, imã mulher verde esperança No enredo deste abraço, a moça dança... Marcos Loures
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Para a glória do amor, canto meus versos; Embora tantas vezes maltratado. Em todos os caminhos mais adversos De facas e navalhas, vou talhado.
A cega morbidez que me enlevara Na neve forte e brusca deste inverno. Em cântaros jamais sequer chorara, Fazendo deste mundo um novo inferno.
Tratando sem querer qualquer afago Vertendo em solidão, um sentimento. Aos poucos o que resta, cedo apago. Não deixo de pensar um só momento.
Como é duro saber do que preciso Se quiser te levar ao paraíso...
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"Papai é uma bomba, velho traste Que entope a nossa casa, porcaria." Enquanto esta verdade me dizia A vida se condena a tal desgaste.
Por mais que noutras sendas tu andaste Vestígios que deixei, sem poesia, Morrendo pouco a pouco a cada dia, A sorte não tem rumo, se a negaste.
Apenas barrigudo e desdentado, Deitando suas mãos, inúteis garras Ferrenho sacripanta, mal pintado.
Versões que em diversões disseste, filho, Rompendo corajoso tais amarras Repetes sem saber, outro estribilho... Marcos Loures
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Pantanoso destino me legaste... Nascido na floresta mais selvagem, Procurando viver neste contraste, Vou buscando espelhar a minha imagem,
Nas matas e nos rios que deixaste Como oásis, delírios e miragem... Crescendo, tentarei fincar as hastes Nesta maravilhosa paisagem...
Mas a charneca nunca me deixou... Entranhada em plena alma não me larga... Essencialmente é tudo o que restou...
As marcas deste pântano que trago, Por tantas vezes meu olhar embarga. Delas me livrarei num manso lago. Marcos Loures
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Panacéia dos novos engelhados Poética banguela dos brasilis Os ritos vanguardistas já mofados Arcaicas velharias geram bílis.
Primitivista esboço do futuro, Acasos entre ocasos e mansões. Um salto delirante neste escuro Perpetuando vagas direções.
Moleque sertanejo do Leblon, Surfista em Mar de Espanha, em Mirai, Madame furta-cor tom sobre tom, Rachaduras nos templos que erigi,
Presidente operário, ópera prima Neste caleidoscópio, pobre rima...
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Palpitas em teu corpo esta vontade De se entregar inteira, sexo audaz. Porém tu temes tanto que és capaz De morrer quase à mingua. A claridade
Querida, só se dá pra quem se der. Espero já faz tempo, mas não vens, Decerto em teus pudores de mulher Deixaste bem distante tantos bens...
Nas coxas entreabertas hábeis dedos Ouvindo num sussurro meus convites, Mistura de tesão com bobos medos
Impedem que tu venhas, me perturba Saber que esta menina. Oh! Acredites, Sozinho no seu quarto, se masturba...
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Palmeiras, ilhas mares, onda, areia... Deitar no teu regaço, minha amada... Delícia de teus olhos, qual sereia Que dorme do meu lado, extasiada... A lua que nos banha plena e cheia, Espera tua volta, iluminada...
O nosso ninho aguarda teu encanto, Os travesseiros soltos pela cama... Ouvir tua alegria em cada canto, Sentir a transparência, imensa chama. Deitado do teu lado me agiganto, E a vida sem pecado sempre inflama
Um coração deveras encantado, Espera o teu retorno, apaixonado..
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Palidez mortal, lívida e sombria... Sobre teu leito adormecida, linda... Como fora um cadáver que dormia A madrugada companheira ainda
Espreitava a chegada, novo dia... A aurora que transforma se deslinda. O mundo repetirá sua melodia... Manhã ensolarada vem, bem vinda...
Amor palpita, terremoto, luta... Olhos ebúrneos prateada vida... Agonizante, força vera bruta,
Não posso te negar essa esperança. A dor que se aproxima, mal contida, Convida nosso braços pr’essa dança! Marcos Loures
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Palhaço de ilusões que trama em versos Dispersas emoções, chamas diversas, Imerso nos grotões, busca universos Bebendo as sensações que agora versas.
Intensas fascinantes maravilhas, Imensas faiscantes alegrias, Nas densas tempestades em que trilhas, Felicidades várias ora crias.
Sabendo ser audaz quando contigo, Erguendo a minha voz chegando a ti No amor que me transtorna vejo o abrigo E encontro a luz que adorna e vão perdi.
Perfeita engenharia, sentimentos, Palavras não se perdem como os ventos...
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Palavras tão precisas que me dizes Suavemente trazem as promessas De dias com certeza mais felizes, Vontades e desejos que confessas.
Perdoe tantos erros e deslizes, A vida; neste instante, recomeças Deixando para trás as cicatrizes, Do amor vamos beber novas remessas.
E assim, em poucas frases eu traduzo, O que já parecia estar confuso, Amor simplificando a nossa história,
Garante em mansidão o amanhecer, Trazendo a sensação do bem viver E nela a perfeição de uma vitória. - Marcos Loures
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Palavras tão fugazes se perdendo Moldando uma alegria em versos nobres. O tempo com magias se vertendo Rondando as vestes mansas em que cobres
Os olhos de quem sabe percebendo Deixando para trás sonhos e cobres, E os dias com carinhos convertendo Na mansa sensação em que recobres
Sentidos verdadeiros de um amor, Marcando em alegria, teus encantos, Vagando com desejo sonhador
De termos depois disso, nossos cantos, Receba com carinho cada flor Testemunhas fiéis de amores tantos... Marcos Loures
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Palavras sussurradas nos ouvidos Chamando para a festa, nossa dança Entremeando sonhos e gemidos Nirvana num momento amor alcança.
Tocando em maciez nossos sentidos, Olhar ao infinito, em gozos lança Caminhos que julgávamos perdidos Agora são estradas da esperança.
Não sendo necessária, explicação O jogo que traçamos, sem vitórias. Não quero e não preciso da Razão
Falando deste amor, corpos se entregam Singrando pelos mares, as memórias Oceanos dos prazeres se navegam... Marcos Loures
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Palavras são palavras, nada mais, Mas tanto representam num instante, Sorriso sem juízo e provocante Provoca os mais diversos temporais.
Linguagem pode ser a dos sinais, O gozo se promete triunfante E enquanto a fantasia nos encante Colhendo estes meneios sensuais.
Os meios são diversos. Não importa, Apenas deixe aberta a tua porta Que tudo se resolve sem problemas.
As bocas, dedos, mãos tão curiosas Valendo muito além de versos, prosas Decifram com certeza, vários temas... Marcos Loures
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Palavras são as lavras que prefiro Atiro mas nem sempre sou feliz Destino em desatino tanto quis Que fere quem me fere e nunca firo
Nas termas e nas tremas tremo,atiro Palavras aves soltas sou perdiz Se dizes o que dizes não me diz Este antro que desando morto estiro.
Meu braço no meu barco sem ter flecha O zíper desta calça nunca fecha E deixa meu prazer quem sabe agora
O canto que me espanta novo encanto Meu manto minha manta tanto pranto A calça estando aberta, vamo’ embora! Marcos Loures
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Palavras que soltamos, vento leve, Em confissões dubladas sem sentido. Se o tempo que passou, correu tão breve O mundo não se mostra arrependido.
Por mais distante que isto não me leve Sou farto das paixões e combalido Não quero amor que nunca me releve Nem revele o que fora preterido.
As horas se passando sem jamais Tampouco sem verdades absolutas. A sorte já saiu, não volta mais,
Tantas palavras soltas, versos soltos, Em outras fantasias, velhas lutas, Os rumos já perdemos, mais revoltos...
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Palavras que disseste não refazem As noites que perdi te procurando, As luzes se ofuscando já não trazem Amores que se foram, me marcando.
Por mais que noutros braços inda abrasem As horas num carinho, desfrutando, Angústias do passado inda desfazem Momentos em que tento ser mais brando.
Meu barco sem antigos astrolábios Crivado por herpéticos sorrisos Doridos, magoados os meus lábios
Em beijos torturantes, imprecisos, Quem dera se pudessem ser mais sábios, Os sonhos de um palhaço com seus guizos.
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Palavras que benditas vão inclusas Nos versos de amizade que me trazes, Tu moldas perfeição em poucas frases Erguendo sempre um brinde às belas Musas.
Outras situações são tão confusas Num misto de guerrilhas entre pazes, Ditames quase sempre mais audazes Em mentes que se mostram mais obtusas.
Esta energia move todo o mundo, Fazendo um coração sentir profundo O toque de um amor que sem receio
Perfaz uma esperança de um estio, Trazendo tanta luz em céu sombrio Levando uma pura alma a um santo veio...
Marcos Loures
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Palavras quando soltas não denotam Aquilo que se sente na verdade, Os cantos quando encontram liberdade Às vezes noutras curvas já capotam.
Mas saiba que meus versos quando notam Desvios de caminho, insanidade, Reféns de uma alegria, saciedade Em portas mais tranqüilas já se anotam.
Eu tenho uma alma livre que já sonha Com asas que me levem, com carinhos. A vida pode ser cruel, medonha
Mas tem toda a certeza nos caminhos Que fazem nossa sorte ser risonha E canta a maravilha destes ninhos... Marcos Loures
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Palavras quando ao vento se perdendo, Não deixam nem sequer um eco ao menos Os dias em mil noites convertendo, Saudades de outros tempos mais amenos.
O coração à dor obedecendo Espera por momentos bons, serenos, A solidão aos poucos se tecendo Sangrantes ilusões em medos plenos.
Saudade de quem tive, mas perdi Vasculho cada ponto lá e aqui Não tendo solução sigo sozinho.
Farrapos dos meus sonhos pelo chão, Vagando não encontro solução E morro pouco a pouco sem carinho... Marcos Loures
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Palavras nebulosas, vento esparso Em cinzas desprendendo o que foi belo. Desamarra da sorte o seu cadarço Rouba do lavrador, o seu rastelo,
Atira um sentimento em mar revolto, Jogando uma alegria ao precipício Atando um pensamento que, antes, solto, Sabia deste amor, o seu ofício.
Que sabe se o silêncio te tomasse A vida não teria esta mazela Nem mesmo necessário tal disfarce Que impede, nebuloso, ver estrela
Assim, invés da treva em noite fria, O amor se transbordasse em poesia..
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Palavras metralhando os sentimentos, As balas são perdidas se vazias. Não sei se ainda posso ou deverias Viver felicidades em momentos.
Se os gozos são dos versos, meus rebentos, Partilhas sem demora tu farias, Matilhas de desejos quando crias Os templos já nos servem como alentos.
Pedaços embutidos nos armários Acervos em compêndios mais diversos, Colhendo os meus retalhos, são perversos,
Além de tolamente temerários Os versos das canções que ora recrio, Usando como mote este ar sombrio...
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Palavras entre flores, como espadas Cortantes com perfumes de entremeio, Em pétalas disformes decoradas Das águas os penedos por recheio.
Em formas contrastantes decoradas, Aguçam as tempestas por recreio, Nos cais tempestuosos ancoradas Aonde amor em paz, pretendo,anseio.
Fluindo por caminhos mais cortantes, Envoltos pelas nuvens fascinantes, Derrames de loucuras e carícias.
Os olhos tão profanos das paixões, Ciganos eremitas, furacões, Destilam dos espinhos tais delícias... Marcos Loures
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Palavras de carinho aos teus ouvidos, Sussurro quando acordas de manhã; Tocando levemente os teus sentidos O amor vai desfilando o seu afã;
Os sonhos que tivemos, divididos, São partes congruentes da maçã; Caminhos desvendados, repartidos, Uma alma busca noutra gêmea irmã;
Por mais que isto não seja a realidade, Procuro a mais perfeita liberdade, Cativo deste nobre sentimento.
Eu sei que um paradoxo, isto parece, Nas teias que emoção cultiva e tece Encontro da esperança um alimento...
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Palavra traiçoeira e venenosa Rondando agora os velhos pesadelos Fantástica emoção, maravilhosa Roçando como um vento, os meus cabelos.
A pele delicada e veludosa As pernas enroscando, teus novelos, De forma delirante e caprichosa Teus dotes, tão gostoso recebê-los
O olhar que outrora fora flamejante Na chama tão dispersa, d’ora em diante Transborda insanamente em tal veneno,
As rondas de luares sobre a Terra Matando uma esperança cedo encerra O sonho que se fez, outrora pleno... Marcos Loures
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Palavra que traduza amor em amizade Restando em alegria um gozo em plenitude. Sabendo ser feliz em total liberdade, Trazendo o quanto quero assim, mais amiúde.
Não vejo tal palavra espelho da verdade, Apenas um desejo a mais da juventude Que cisma em misturar, sonho e realidade Buscando quem talvez, com pena ainda ajude.
Sabendo desta missa um pouco mais que terço Encontro esta criança em pleno e belo berço Brincando de esperança, um lúdico desejo...
Mas creio na amizade e creio em teu amor. Amante tempestade, um velho sonhador, Ainda crê talvez, num último lampejo....
Marcos Loures
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Palavra que te disse, mansa e louca; Trazendo teu desejo para mim. A boca procurando tua boca, No gozo dessas flores no jardim...
Amada, como é bom falar que eu te amo! Palavras, sentimentos tão profundos... Qual lobo solitário; tanto chamo, Meus olhos viajando nos teus mundos.
Deitado sobre a grama e sob a lua, Ao ver-te em transparências caminhando, Teu corpo se define e semi-nua; Aos poucos meu olhar te desnudando...
E sinto teu respiro junto ao meu, Meu corpo, nosso corpo, se perdeu...
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Palavra quando feita em ceva, arado, Profícuas emoções já se preparam. Pá, lavras são metades em que o bardo Vislumbra tais colheitas que impetraram
Os sonhos de quem lida com sentidos Diversos entre frases, orações. Aos olhos, aos ouvidos consentidos Formatos em que inserem sensações
Usar deste instrumento em faca e foice; Das almas e verbetes aplicados, Às vezes do que fomos, sobra o foi-se Das dores e dos medos aplacados.
Palavras sei que são caleidoscópicas, Nas mãos de um sonhador, serão utópicas...
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Palavra em mansidão é proferida Dizendo desse amor, rara promessa, Sentido libertário não tropeça Razão prioritária em minha vida.
A dor da solidão sendo vencida, O tempo de viver já recomeça A nuvem do passando, mesmo espessa Deixada assim de lado, dissolvida.
No carrossel do sonho, volta e meia A trama se faz plena em clara teia O amor vem se estendendo em cada ramo,
Girando o pensamento eu não descanso, Assim, felicidade imensa; alcanço Brincando de ciranda com quem amo Marcos Loures
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Palavra em emoção já me trazia Aroma que em verdade eu procurava Tocado pela luz de uma alegria, Tanta felicidade celebrava. Misturo realidade e fantasia, E a vida num momento se dourava.
O canto em alegria, duradouro, A voz de quem desejo chega aqui, Encontra no meu peito, ancoradouro, No amor que imaginei e não vivi, Palavra traduzindo este tesouro Que guardas- emoção- dentro de ti.
Palavra tão sublime que foi dita, Matando em alegria, uma desdita...
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Palácios e banquetes, reino e glória, Descolo uma carona no cometa Que segue pela vida em linha reta E volta novamente à mesma história.
A moça com a lua merencória Nos olhos do poeta se completa, Palavra mais distinta amor deleta
Espasmo traduzido por vitória
Fazendo vistoria nos guardados, Os beijos entre nuvens provocados Agindo sem temor ou rebeldia.
Cadarços amarrados; o tropeço É tudo o que decerto eu já mereço Caindo da esperança/escadaria...
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Paixões que me assolaram num tropel, Fomentos de ilusões e fantasias, Marcando meu passado por orgias, Erguendo meu olhar ao negro céu.
Vestida de inclemência traz no véu, O quanto imaginara e não querias, Minha alma transformada num bordel, Morrendo em solidão, nas noites frias...
Mas ergues, da amizade soberana, Uma égide por certo, salvadora, Enquanto a sorte vem e desengana,
A mão que me sustenta, redentora, Além do que pensei vem e transforma, Forjando do que fora, em nova forma...
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Paixões não são somente assim, fictícias, Palpáveis e volúveis, com certeza. E mesmo que com força ou mais destreza Às vezes nos sonegam tais delícias.
Enquanto nos dominam, em sevícias Avançam e destroem, pondo a mesa, A mão que me acarinha também pesa Em meio a tantas ondas de malícias.
A qualquer preço tento um novo dia, Aonde pelo menos a alegria Não seja momentânea. Isso me cansa.
Amar em harmonia? Necessito. Não acho necessário um plebiscito No grito ou em concórdia a vida avança... Marcos Loures
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Paixão: um sofrimento que angustia E faz calamidades sem motivos, Aquece e de repente, é noite fria, Explode em mil fantasmas emotivos. Paixão, imensidão tão diminuta Que perde e faz perder a quem encontra. É látego tormento e nada astuta É quase sempre pró, às vezes contra. Dispara na mudez uma ofensiva, Ao mesmo tempo cega e nada vê, É mansa e tão cruel, é radioativa, Em nada mais confia, em tudo crê. Relâmpago que corta, retumbante, E mata o que sustenta, inebriante...
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Paixão se ardendo em fogo desejoso Intensas labaredas e fagulhas. Um sentimento assim maravilhoso, Palheiro que não tem tantas agulhas.
Eu sei qual o valor e raridade Que trazes nos teus lábios sedutores. Glorificando a paz, felicidade Que é feita da ternura e seus pendores.
Nos versos tal moldura que enobrece Um coração que é feito sonhador. Escute este meu canto feito em prece Louvando ternamente o nosso amor.
Nas ondas deste mar, na branca areia Paixão feita solar, nos incendeia...
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Paixão que se fez louca e fulminante Tomando nossos corpos, brasa e fogo, Insânia que se entorna num instante Não ouve da razão sequer o rogo.
Espalhas pelos sonhos, diamante, Cristais iridescentes onde afogo O sonho num momento deslumbrante, Querendo tudo agora, venha logo.
Não deixe que se extinga esta fogueira Nem mesmo que se cale nosso amor. A sorte tão cigana, aventureira
Deixando por legado o fogaréu Intenso e com certeza encantador Permite que se voe, alçando o céu... Marcos Loures
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Paixão que se deslumbra violenta Tragando cada sonho revelado; Jamais se permitindo mansa e lenta Demonstra-se no olhar mais transtornado... Paixão que se transforma em vil tormenta Neste incontido gesto do passado, A boca se tornando mais sedenta Da boca que se quer, extasiado... Ao mesmo tempo ignóbil, anda tão frágil, Ao mesmo tempo insana é paciente, Permite-se ao convite e ao contágio, Faz do meu coração pobre palhaço, Embora se derrete em forno quente, Cortante, no meu peito, invade o aço...
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Paixão que nos tomando nunca cessa Eterno vendaval em doce senda. Amar não é segredo nem promessa Tampouco uma vontade feita em lenda,
Amar é sensação que sem conversa, Avassalando sempre nos desvenda, Unindo num mosaico, não dispersa, Depois de certo tempo em mesma tenda
Os corpos que se buscam imantados, Profundos sentimentos domadores, Em fantasias olhos que se tocam,
E se perdendo estão bem mais atados, No espaço se encontrando sonhadores, No peito dos que amam já se alocam...
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Paixão que nos ligou em verso e prosa, Deixando nosso canto mais bonito. Repito todo dia um belo rito, E venho te regar, divina rosa.
Do jeito que se quer e que se goza A vida não produz mais dia aflito, Eu quero estar contigo e assim repito, Plenitude de amor, maravilhosa.
Pintando com batom meu corpo inteiro, Beijando cada parte, sem descanso, A tentação sem risco, quando avanço
Percebo quanto é bom ser garimpeiro, E ter na mão pepita rara e bela, A mulher tão fogosa se revela...
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Paixão que me domina e me entontece, Não me deixa pensar em quase nada Minha alma se agiganta e se engrandece Ao mesmo tempo morre sufocada. Por certo, quase nunca me obedece E segue sem sentidos, transtornada. Depois por muito pouco se arrefece E morre, num segundo, abandonada... Se queres ser feliz, negue a paixão, Se conseguir me explica como faz... Vislumbro uma total revolução Em cada novo dia, um novo encanto. Loucura que mais nada satisfaz, Paixão que me domina: riso e pranto...
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Paixão que me domina causa dano, Matando uma ilusão sempre querida, Não quero mais saber do desengano, Procuro uma manhã que traga a vida Ao coração moleque e desumano Antes que a morte venha e isto decida.
Um canto mais suave e mais ameno Formado pelas gotas de esperança Que caem nesta noite, qual sereno, Trazendo para a vida, segurança. Coração sem juízo e tão pequeno, Uma alegria a mais, jamais alcança;
Eu quero o teu sabor- delicioso, Roubando o teu prazer, divino gozo...
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Paixão que me devora e me detona, Com fome, tanta sede de te ter... A lucidez, inteira, me abandona, Eu quero lambuzar-me em teu prazer.
Depois desta loucura tão gostosa, Vibrando em cada toque, brasa e fogo, Ardendo em teu rubor de rubra rosa, Perdendo meu juízo em nosso jogo...
No rito insaciável, todo dia, Nesta satisfação que nunca cansa. Sangrando em cada poro, poesia, Na troca sensual, na nossa dança...
Deitar-me no teu colo apaixonado, De novo me entregar, iluminado...
59
Paixão que decorando em rubro sonho, Trazendo um tinto sangue apaixonado. Vibrando no teu corpo, sempre ponho Segredo mais voraz, extasiado.
Voar além dos mares te proponho, Deitara-te em tanta fúria aqui do lado. Deixando esse passado tão medonho Distante, bem distante, abandonado...
As cores que pintamos, mil matizes, Amores que nos roubam o juízo. Fazendo-nos, por certo mais felizes
Mostrando no caminho sempre alerta, A porta do divino paraíso Pra sempre, eternamente tão aberta...
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Paixão palpita louca no meu peito E cria estas tormentas tão ferozes. Sabendo que sem ti, insatisfeito, Eu perambulo louco, ouvindo vozes...
Sem um tremor sequer tu já me espera Sem vacilar demonstras teu carinho. A voz em calmaria me tempera E mostra meu temor vago e daninho.
Quando a noite chegando traz a lua, Eu sinto o doce gosto do desejo, Percebo a silhueta semi nua E lúbricos prazeres antevejo...
Paixão palpita cega, coração; Desditas e delírios da paixão!
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Paixão me devorando, audaz e astuta. Causando reboliço no meu peito. O quanto que se entrega desse jeito Permite vislumbrar se existe luta.
A voz de uma emoção quando se escuta Tornando o meu caminho mais estreito, Enquanto tantas vezes me deleito Uma ilusão se mostra mais arguta.
E nisso ao ver meu dia se esvaindo Em luzes tão distantes, sem um sol, Angústia se espalhando em arrebol,
Embora em teimosia, prosseguindo, Eu sei que não terei mais qualquer chance, Amor se colocou fora do alcance. Marcos Loures
32
Paixão alucinante e sem juízo Domina cada passo sem pensar. Vivendo, num pecado, o paraíso Aos poucos, nos começa a devorar. Um sentimento assim, tão impreciso Não deixa nem um jeito de lutar, Chegando quase sempre sem aviso, Mal posso, num segundo, respirar. Ao perder a cabeça, perco o senso, Vagueio por teu corpo sol e lua, No mar onde navego; tão imenso Não tenho mais sentido, nos astrolábios Meu rumo em teu corpo já flutua Ao sabor das buscas dos meus lábios.. 63
Paisagem que se mostra soberana Trazendo uma alegria sempre à mão. Às vezes nos indica a solução, Mesmo quando a má sorte desengana.
Fazendo nossa vida mais ufana Permite que vençamos tentação, Uma arma contra a negra solidão Defesa mais profícua e mais humana.
O paraíso em vida prometido Jamais existirá sem ter a glória De ter em cada passo percebido
O quanto nos permite esta vanglória De ter assim, amiga; concebido Na força da amizade, uma vitória!
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Pairando sobre nós o bem do amor Convida para a festa que virá Trazendo em seu poder transformador O dia que sublime nascerá.
Teus olhos me guiando, farto encanto, Ternura benfazeja de um farol, Do imenso sol, um simples helianto Entrega-se à beleza do arrebol.
Seguindo os claros raios matinais Eu sei que não irei mais me iludir, Magníficos caminhos magistrais Encontrei somente por seguir
Os rastros que tu deixas nesta estrada, Raros brilhos em forma de pegada...
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Pairando sobre as noites, meus desejos; Encontram na umidade dos teus lábios Delícias de tão doces, mansos beijos; Certeza dos carinhos bem mais sábios.
Encontro no teu corpo meu naufrágio, Não quero mais voltar ao triste cais. Penetro essas entranhas, vou bem ágil, Eu quero aqui ficar, sair jamais!
Descubro em cada sanha o meu prazer; Cabelo da morena que se assanha, Vontade de, meu rumo em ti perder, Passando cada vale, mar, montanha.
Eu amo a maciez de tua pele, O conhecer segredos, me compele...
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Pago o pato pelos erros Cometidos vida afora, Se do vale vejo os cerros, Paisagem que decora
Os engodos e os desterros Esperança se demora, Se mis dias fueran perros E melhor que eu vá embora
Como mancha nos espelhos Impedindo a clara imagem, Resto só e; de joelhos,
Recolhendo cada caco Reviver esta viagem Eu garanto que é um saco!
67
Pagando tanto mico vida afora Eu quis fazer um verso, mas não pude Por mais que a fantasia ainda grude O tempo de sonhar já foi embora.
Há pouco me curei da catapora, Porém, a cicatriz não mais me ilude, Criei, sem serventia, lago e açude E sei que algum castigo não demora.
Minha alma comemora um simples gol, Saneio o que deveras mal restou E tento refazer, do nada, algum.
Maria foi segredo e foi degredo, No quarto sempre escuro, risco e medo, Do tanto que mais quis: sobrou nenhum...
68
Padeço dos pecados cometidos Há tempos por estúpidas promessas. Se tenho a poesia que confessas Os ritos se perderam nas libidos.
Caminhos entre estrelas percebidos E a cada novo dia recomeças Se os sonhos mais audazes não engessas, Meus passos são deveras repartidos.
Repatriar as velhas emoções Beber até fartar nos ribeirões Usando da divina complacência.
Querendo me perder em teu juízo, Do quanto cometemos, sem aviso, Não quero mais pudor sequer decência... Marcos Loures
69
Pacato cidadão espera quieto, Assim mudança é traça no Congresso. Calado, permanece morto o feto, Medalha nunca mostra o seu reverso.
Quem cala é que por certo está repleto Quem vive desunido e vai disperso Pois rã que não se move quer inseto? Quem diz que da política é avesso
Permite por terrível omissão Que dê sustento ao crápula quando erra Deixando o mais humilde pelo chão.
A noite do cochilo cria e emperra Pois oportunidade faz ladrão, E o bom cabrito, amigo, sempre berra!
70
Pavores e tristezas vão dançando. Morrendo pouco a pouco no poente, O sol que um dia esteve iluminando, Afasta-se e no frio se pressente
A noite que virá me maltratando, Até que a morte chegue de repente, Sem avisar nem mesmo aonde e quando, Levando o que sobrou, quase indigente.
Assim persegue em vida, o meu Calvário, Sou triste, isso jamais eu escondi. O tempo de viver é temporário,
Felicidade nunca esteve aqui. Apenas solidão em dura prece Cativa, inda resiste e me obedece..
71
Patrão, eu te garanto que essa moça Não foi embora apenas por querer, Verdade se quebrando feito louça Não deixa a realidade perceber.
Dos olhos de quem chora forma a poça Molhando a vida inteira, o meu sofrer. Na solidão terrível da palhoça Apenas velha lua eu posso ver.
Cheguei neste sertão faz tanto tempo, A seca não passou de contratempo Os olhos não pararam de chorar.
Eu peço um só momento de atenção, Escute estes meus versos meu patrão Os derradeiros que eu irei cantar... Marcos Loures
72
Passos em direção ao velho sonho Depois de ter estado tão vazio, Se eu tento e de repente ainda crio Eu teimo e tento ver o que proponho,
Sem ele nada além de um mar medonho Em trevas e borrascas, vou sombrio, Por vezes entre medos fantasio Um cais que se tornasse mais risonho.
O amor bem mais que lúdicas ofertas, Enquanto esta esperança não desertas Permites que inda possa imaginar
Que oásis da alegria seja aqui, Ao lado de quem amo eu percebi Poder tocar meu sonho e navegar... Marcos Loures
73
Passos calmos procuram harmonia, Em teus gestos esfíngicos, quimeras... Devoras a vetusta fantasia Que se acampara desde priscas eras
No peito solitário. Melodia Esquecida em felizes primaveras... Amor de tanto tempo não queria, Sentidos anciãos já me adulteras...
Nos juncais da saudade, perco o rumo... Espreita-me a serpente, firma o bote; Minha alma se esvaindo, leve fumo.
Renovas sensações mais arrojadas. Prazeres e delícias vêm em lote, No peito, as emoções vibram rajadas...
74
Passo pela alameda dos meus sonhos, Ouvindo sabiás e curiós... Quem teve tantos dias mais tristonhos Saindo de um passado tão atroz Sabe dos caminhos mais risonhos, Do mundo que criou, feliz, após...
Silêncio a traduzir a paz querida, O vento passa lento pelos galhos, De tanto que encontrei em minha vida Projetos que encetei morreram falhos. Nesta alameda encontro uma saída, Juntando o coração, tantos retalhos...
Amiga, esta alameda, na verdade, Demonstra como é bom ter amizade...
75
Passo a passo, contigo eu estarei Na longa caminhada desta vida Que mesmo que pareça estar perdida Transborda em puro amor, a nossa lei.
Vivendo como sempre desejei Na paz e no sorriso, a própria lida Fica mais fácil, assim, de ser cumprida. Tu és o que mais quero e que sonhei.
Um amor verdadeiro dá guarida E traz como bandeira uma alegria. A estrada das tristezas já vencida
Só resta-nos saber felicidade Alimentando os sonhos, a euforia Nos mostra em nosso amor, toda a verdade.
76
Passeio, distraído pelas ruas Numa procura insana, mas sagaz. Distante de meus olhos continuas, Porém a cada passo mais audaz
Imagem em transparências, peles nuas, Povoa o pensamento que se faz Em sonhos e desejos, bocas cruas Que ao se tocarem; mágica me traz.
Nos rastros prateados desta lua, Meu passo em desatino; continua, Até que eu sinta o cheiro que se exala
Desta mulher, fantástica miragem. Percebo ao terminar minha viagem Que estavas desde sempre em minha sala... Marcos Loures
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Passeio no teu corpo, vales, serras, Descubro cada fonte e seus ribeiros, Vislumbro uma beleza nos outeiros, Encanto-me decerto em belas terras.
Tantas magias, meiga, tu encerras Nestes teus paraísos verdadeiros Mergulho meus desejos derradeiros, Afasto o coração de antigas guerras,
E agradecendo a Deus e à natureza Por esta maravilha sem igual, O corpo desejado e sensual,
Que traz felicidade com certeza, Deixando para trás um mundo algoz, Vibrando em alegria nossa voz...
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Passeio no teu corpo mil vontades De ter tanto prazer, louca viagem, Ao ver tua nudez, uma miragem Desfruto de totais felicidades.
Invado calmamente e quero mais, Voando em nosso gozo tão preciso, Perdendo a direção, e sem juízo Calores e loucuras tropicais...
Arranco teus gemidos com carinho, E sinto esta umidade nos tomar, Bebendo o teu querer, amado vinho,
Que escorre aos borbotões, mar a singrar. Em toda a maravilha que vivi, Sentindo, meu amor, dentro de ti...
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Pecado inominável é o aborto, Devemos, implacáveis, condená-lo, Perante tal verdade, eu já me calo, Porém num pensamento torpe e torto
A vida deve ser, pois preservada, Para quem age assim, a penitência Levada à derradeira conseqüência, Mesmo que sobre ao fim, apenas nada.
Melhor morrer o corpo em salvação, Ao arcebispo cabe a excomunhão, Arrancando da Terra, sem um rastro.
Excomungando assim tais assassinos, A Igreja pune todos os ladinos, Porém não fala nada do padrasto...
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Pecado é não poder te dar um beijo A boca se oferece... Maravilha... Seguir sem ter juízo a doce trilha Que leva ao paraíso. Meu desejo...
Um jogo mais audaz ora prevejo, Menina se tornando uma armadilha Ao peito que cansado não mais brilha, Fazendo da esperança um relampejo.
Sem pejos, eu vasculho esta gaveta, Encontro a poesia predileta E tento declamar. Triste papel...
A moça em ironia e sem confete: Meu tio, estou bolada. Piriguete Só topa se dançar comigo o Créu. Marcos Loures
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Perdoem-me estas tolas baboseiras, São tolas teimosias de um palhaço. Se eu causo noutro alguém, este embaraço Não foi minha intenção. Mas não me queiras
Somente pelo aroma das roseiras Que, às vezes espalhei no teu terraço, Se estrelas distraídas eu enlaço, Nunca pude enfrentar as ribanceiras.
Escondo-me da luz que sempre alcanças Com tanta maravilha que produzes. Se destas tais asneiras, minhas cruzes
São tolas cretinices; torpes lanças, Diante deste brilho fascinante, Eu sei que sou estúpido ignorante...
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Perdoe, mas é hora de partir, O barco encontrará enfim seu cais. Diverso dos meus versos usuais, Não tenho mais nem forças nem porvir.
A carne apodrecendo pouco a pouco, Os vermes serão belos companheiros, Distante dos sorrisos costumeiros, A face escancarada deste louco.
Um cão que farejando qualquer osso, Teimando em mergulhar no escuro fosso, A campa me servindo como manto.
Pútrida solidão por sob a terra, Gargalho em ironia, e assim se encerra Num ápice gentil, o inútil canto...
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Perdoe toda a farsa escancarada Na face de quem mente sobre o amor. A boca da verdade abandonada Nos antros da vergonha neste andor.
Perdoe toda rosa estraçalhada Nos dentes sem limites do pastor, Mentira no Teu nome apregoada, Nas taças folheadas de louvor...
Perdoe cada santo que emergindo Dos pântanos obscuros das almas. Da podre corrupção que se aspergindo
Em nome deste amor, que é tão perfeito, Matando este cordeiro em novos traumas, Se acham bem mais fortes no direito...
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Perdoe tal demora na resposta À carta que mandaste para mim. Gostei da tua idéia e digo sim, Minha alma a estar contigo; está disposta.
Quem age com carinhos, sempre gosta Da flor que irá brotar neste jardim, Aquele desabafo diz que vim Apenas pra deixar minha alma exposta.
Eu nunca me senti senão feliz Por ter a companhia benfazeja Daquela que em carinhos vem e diz
Que a vida pode ser maravilhosa Uma outra direção ali se almeja, Eu sei separar espinho e rosa! Marcos Loures
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Perdoe se tu pensas que, distante Esteja de teus passos, minha amada. Teu sonho dentro em mim tão deslumbrante Fazendo esta vontade realizada...
O manto que te cobre a cada instante Recobre-me trazendo em alvorada A luz deste astro-rei, forte, gigante, Deixando a minha pele bronzeada
Ardendo neste fogo que é diuturno, Tramando a cada dia um gozo imenso. Deixando o que já fui- triste e soturno,
Abrindo em tanto brilho, um céu bem claro No qual emoldurado, tanto penso, Falando deste amor, eu me declaro... Marcos Loures
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Perdoe se sincero agora eu fui, Inútil caminhar contra a corrente. Um velho sonhador se não demente Percebe quando o sonho cai e rui.
O verso que decerto manso flui E tendo a corda frouxa que arrebente Eu sei que vou bancando um penitente E o gozo da alegria, o canto intui.
Tatuí não será jamais tatu Assim como não tenho a pretensão De ser algum herói tolo ou vilão
Apenas vou me expondo e estando nu A roupa tão puída do passado Deixará meu soneto assim, pelado...
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Perdoe se pareço, assim, sarcástico Não tenho mais vontade em ironia. Do quanto o nosso amor já prometia, Um dia mavioso e tão fantástico.
O corpo adormeceu bem mais espástico Mudando cada nota da harmonia, Deixando no passado a sintonia Anel que tu me destes, foi de plástico...
Nos olhos carregando novas rugas, Amores que encontrei, são sanguessugas, Às vezes sou pacato, outras nem tanto.
Cabelos que afaguei, viraram cobras, Colecionando agora, simples sobras, Vesti meu terno novo- o desencanto.
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Perdoe se parece atrevimento, O que posso fazer se te desejo? Beber de tua boca num momento Rompendo estas fronteiras, dar-te um beijo
Entrar nestas defesas, ser teu homem. Despindo a fantasia tropical. Famintos, os meus olhos que te comem Neste teu bamboleio sensual.
Salivas que se trocam, línguas feras. Gemidos e sussurros noite afora, Teu corpo seduzindo, em primaveras, Na intensa sedução que em ti aflora.
Perdoe se te quero desse jeito, Sem medo, sem vergonha, amor perfeito... Marcos Loures
90
Perdoe se o que trago hoje a teus olhos Retrate esta mortalha que cultivo, De insanas ilusões, ora me privo, Explodem no meu peito urzes e abrolhos.
Do charco de minha alma, a podridão Exala o seu aroma e toma a sala, Da sórdida paixão, velha vassala, Vestida de total escrotidão.
Mergulho nas charnecas, movediço, E sei que tantas vezes fui omisso, Porém minha missão já se esgotando,
Teimar e persistir? Nada me importa, Há tempos destruída a antiga porta, Imagem podre e falsa, desabando...
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Perdoe se não trago mais sorrisos A cara do palhaço entristecida Reflete bem melhor a minha vida, Em passos tão errôneos e imprecisos.
Eu sei que não faltaram bons avisos, Ciladas que encontrei, bala perdida, Uma esperança morre, apodrecida Ofídica ilusão negando os sisos.
Se eu bebo cada gota deste gim, Placenta da esperança não sustenta O verme que em mordaça violenta
Ainda tenta crer em flor, jardim. Arranca dos meus olhos a figura Esquálida e patética: ternura... Marcos Loures
92
Perdoe se não sou nenhum eunuco Eu gosto de fazer amor, não nego. Se a libido, querida, eu já cutuco O sexo nos meus versos eu emprego.
O cabo do martelo diz do prego Relógio lembra logo o velho cuco Eu não quero fingir nem sigo cego Além de ser ranzinza, estou caduco.
O cheiro da morena, o que fazer? Convida num segundo pro prazer Que a gente faz com toda esta alegria
Embora o companheiro anda falhando, Não custa meu amor, seguir sonhando, Ao menos tem alguma serventia... Marcos Loures
93
Perdoe se não sei anatomia Às vezes eu confundo estes caminhos. Procuro insanamente pelos ninhos, Porém tantas estradas amor cria.
Errante não percebo a fantasia Que é feita muitas vezes de carinhos. Prazeres; imagino, até sozinhos Mas nada do que penso traz valia.
Sou bruto, me disseste, gutural, Um Brucutu somente e nada mais. Um asinino ou mesmo até boçal,
A culpa, eu te garanto não é minha. Se o órgão do prazer mulher já traz, Ao homem Deus só deu uma cobrinha...
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Perdoe se não pude ter nas lavras Colheita tantas vezes desejada, Perdido sem ter rumo nem palavras Sobrando do que fomos, quase nada.
Enquanto com saudade, os olhos lavas Entendo o que restou como um pavio, Aonde as esperanças vãs escravas Sonegam invernando cada estio.
Resíduos dos amores, vermes, larvas Jamais terão a sorte das crisálidas, As faces sem sentido, tolas, parvas Restando tão vazias, frias, pálidas.
Quem dera! O coração segue pesado, E vendo o que nos toca, vou calado... Marcos Loures
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Perdoe se não pude te encontrar, Às vezes desencontros são fatais Só quero que tu saibas: vou voltar Matar a nossa sede, é bom demais.
Reuniões freqüentes no trabalho, Momentos tediosos, o que faço? Querendo ter comigo o teu abraço Eu sei que não ligar foi ato falho.
Mas pego de surpresa, novamente, Não sei se tem desculpas, porém peço. Assim em outra data, de repente
Terás o meu carinho, isso eu garanto, Beijar a tua boca, não tem preço, Rendido totalmente ao teu encanto... Marcos Loures
96
Perdoe se não falo mais de amor, Se os olhos embotados lacrimejam, Os corpos que se buscam não desejam Além de um simples gesto. Puro ardor.
Quem dera se eu pudesse. Mau ator, Ainda que em momentos relampejam, Os dias em lamentos, só latejam, Deixando solitário, um sonhador...
Carrego ainda as marcas do passado, Saudosa sensação que não me deixa. Meu verso denotando amarga queixa
Seguindo pela vida, derrotado, Apenas um momento de atenção: Embora eu já perceba: foi em vão...
97
Perdoe se meus versos são banais, Eu tento demonstrar quanto te quero. Aos poucos, solidão, me degenero E morro tão distante de teus cais...
Os sonhos, companheiros usuais Nos quais, com alegria e tanto esmero Eu sei que talvez falte algum tempero, Mas saiba que eu adoro. Amo demais...
Eu sinto a minha vida se esvaindo, Por entre os dedos, perco a direção, Do gozo de um amor deveras lindo
Apenas um momento bastaria. Mergulho num abismo, encontro o chão, Espelho de minha alma, tão vazia... Marcos Loures
98
Perdoe se me ausento. É necessário. O tempo é o Senhor, pois absoluto, Se der a cara à tapa inda reluto, O lobo tem destino sanguinário.
Debilitado estou, porém eu luto, Correndo contra mim, o calendário, Escondo os meus anseios num armário, Aguardo o meu descanso, estendo o luto.
A morte se aproxima devagar, Apodrecendo aos poucos, sem confetes, Quisera controlar tal diabetes,
Quem sabe, noutra estância repousar... Deixando mansamente a minha vida, Preparo a cada dia, a despedida...
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Perdoe se inda sonho assim contigo, Não devo, isso bem sei, não é direito... O tempo que se perde e que persigo Vivendo a transtornar meu velho peito...
O céu em níveas nuvens, sem mormaço, Promete tal calor que não suporto... Esqueço de viver um manso abraço Atraco meus navios noutro porto...
Talvez ressurja calma uma alvorada Não creio, mas pretendo ser feliz... Depois de tanta luta, sem ter nada, A nuvem vai mudando o seu matiz...
Das chuvas que virão, em tempestade, Quem sabe irá nascer felicidade?
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Perdoe se inda escrevo sob a métrica Algoz que não permite ser liberto. Pregando muitas vezes no deserto, Sonoridade é coisa amarga e tétrica...
Não posso mais seguir em tal estado, Um verso vagabundo, o que desejo, Sentindo a convulsão que num lampejo Dará sem tais floreios, seu recado.
Eu rendo-me a quem faz de algum soneto Apenas insensata mistureba, Não quero confundir juba com jeba,
Jurássico poema. Mas prometo Fazer sonetos falsos. Libertários, Jogando o que aprendi nos teus armários...
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