
Do amor indizível
Data 28/12/2010 13:44:00 | Tópico: Poemas
| Tragam me as crianças novinhas nascidas do útero de mulher, com seu riso tenro, doce e desdentado que eu preciso muito delas... Que venham também os outros animais pequenos. aqueles macios, como os gatos, coelhos, filhotes de cães de olhos cativantes e sedutores. Convoco as réstias de luz nas frestas da porta holofotes, que iluminam a dança leve das partículas em suspensão, balé mágico, lembrança da infância. Insurja instantâneo todo o poder do amanhecer, triunfo imperial do carrossel solar em sua majestade, força e leveza, certeza a tudo iluminar, sem ameaças e alardes, de quem se sabe senhor da rotina dos dias ao sorver com delicadeza, o orvalho da pétala em flor. A tudo mais que há e que existe, do mais belo e do mais delicado, que venha agora para me socorrer eu convido, intimo e conclamo: venha estar comigo nessa hora, em que eu preciso tanto de sua companhia. Pois quero falar sobre o meu amor e sobre a mulher a quem amo tanto, mas não tenho as palavras. Ó desdita, ó fracasso. Elas me faltam, todas opacas, pequenas, mesquinhas. Quero falar, quero dizer, quero gritar mas tudo o que consigo é apenas esse entorpecimento, dos lentos movimentos que desistem em seu nascedouro, sábios da sua incompetência e da sua vocação para o fracasso... Ó meu indizível amor, que em seu mero existir asfixia e estrangula todas as minhas tentativas de dizer-te. Tão próxima e tão distante, tão linda. Tão delicadamente linda, inatingível às palavras e aos gestos, cometa olímpico que risca o céu encanta os olhos, surpresa instantânea. Quero o poço dos teus olhos, Quero me afogar em tão boa companhia Quero não ser, desistir de qualquer coisa, Abdicar de qualquer presente em que não figures como o futuro. Quero ser em ti, quero ser contigo, Quero ser inteiro, um pedaço teu, Quero que tu me sejas, ainda que impossível Ò meu amor, meu indizível amor.
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