
MEUS SONETOS VOLUME 113
Data 25/12/2010 13:58:54 | Tópico: Sonetos
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1
Num canto libertário e mais bonito Eu posso imaginar um novo tempo, Vencendo em mansidão duro granito Deixando no passado o contratempo.
Um sonho guerrilheiro em que se faça O novo amanhecer em liberdade, Por mais que nos destrua a fria traça O dia irá trazer felicidade.
Encanto que não seja solitário, Expressa uma alegria em cada peito, O amor que se demonstra solidário Nos laços da amizade sendo feito
Estampa em nossos olhos maravilhas, Dourando em harmonia as novas trilhas... Marcos Loures
2
Num canto de amizade, um trovador Recebe das manhãs a doce brisa. Aquele que se fez um sonhador, Ao perceber carinho logo avisa
Gritando bem mais forte o bom calor Que sabe em esperança já divisa O céu outrora negro se matiza Mudando em um momento a sua cor.
Depois de tanto ter só decepção Um simples cantador já se imagina Nos braços da alegria; extasiado,
Apascentando um duro coração, Uma amizade imensa determina Um rumo bem distinto do passado..
3
Num campesino sonho, libertário Igualdades; quisera e nada tive, Na mórbida ilusão, um temerário Caminho que tracei; mas não contive.
Um velho que passeia solitário E tudo o que viveu, inda revive, Ouvindo ressoar o campanário Distante do que quis só sobrevive.
Do mundo que eu sonhei, da liberdade, Pressinto que sobrou triste falência Vigora tão somente uma indecência
Calando o que mais quis, mas na verdade Resiste no meu peito uma esperança Amizade e perdão em aliança. Marcos Loures
4
Num bolero, dançando com Teresa, Nossa noite transcorre macia, As costas semi-nuas, melodia Transformando, levito em tal beleza...
O perfume Gardênia, traz leveza, A mão mais audaz, lúdica, vadia... Quem me dera morresse nesse dia... Minha alma espelharia natureza...
Nesse ritmo frenético da dança, A noite sem sentirmos, mansa, avança... Flutuando, seus passos são divinos,
Procuro me conter, meus desatinos; Trago felicidade de meninos, E ao beijar esses lábios, esperança! Marcos Loures
5
Num beijo em que se entrega ao grande mar, A foz de imenso rio já se salga. Vencendo mil sargaços a se dar Supera com volúpia qualquer alga.
Assim, ao me encontrar enamorado De ti, eu percebi a mesma liça Sabendo que em dilema superado, Na força que se ganha uma alma viça.
Das cracas que carrego no meu casco, Eu faço meus troféus em farta glória Não temo nem sublimo tal carrasco, Mas sinto; estou mais perto da vitória
Tocando em tua pele, fina areia O peito laureado se incendeia. Marcos Loures
6
Num beco ou numa esquina, tanto faz, Espero alguma chance que não vem. Pudesse pelo menos crer que a paz Esconde-se nos laços de outro bem.
Eu sei que nossa vida é tão fugaz, Preciso urgentemente deste alguém Que enquanto sendo minha satisfaz Desejos que o amor quer e contêm.
Contando assim as horas; passo o tempo, E a mesma dissonância por resposta, A carne sendo frágil segue exposta
Viver é muito além de um passatempo. Servindo esta cabeça na bandeja; Eu digo enfim; amém. Bendito seja.
7
Num barco abandonado sem destino, Embarco a solidão que me entregaste. O vento sem sentido não domino, Qual galho se vergando em frágil haste Perdido neste mundo, um peregrino Que aos poucos se consome em vil desgaste.
Apenas uma porta que se abriu Permite que eu retorne timoneiro. Tua palavra mansa e tão gentil Talvez seja meu sonho derradeiro. O céu de nevoeiros fez-se anil. Mergulho nesta bóia por inteiro...
A quilha recomposta, leme solto. Amiga irei contigo em mar revolto...
8
Num balcão de negócios; transforma A Igreja que se diz Universal É necessário ter cara de pau Viver como bem antes da Reforma.
A venda de indulgências; velha norma, Ainda permanece sempre igual, Vendeta transformada em ritual, Mudando sutilmente o jeito e a forma.
Mefisto; sabe Fausto muito bem, É quem com almas tolas negocia, A fé não significa um belo terno.
Bem mais do que a Palavra é o que convém Milagres de riqueza é fantasia, E o reino prometido? É puro inferno...
9
Num balaio de gatos, tu e eu, Tentamos resolver velhos problemas, Se o amor já deu no pé, e se perdeu, Não posso nem pensar nestes dilemas.
Meu coração bandido, cego, ateu, Procurando abstrair os novos temas, Não mais suportaria tais algemas, Cremaste o que sobrou. O amor morreu.
Mas dane-se, não quero perder tempo, Supero com sorriso o contratempo, E mesmo condoído, sigo em frente.
Não vale nem um porre num boteco, A voz que se perdeu tentando um eco Encantos de outro canto já pressente... Marcos Loures
10
Num ato solidário em confiança Compartilhamos sempre em devoção Mesmo que houver diversa opinião Uma harmonia enfim, sempre se alcança.
A vida que é tão pródiga em mudança Às vezes contamina o coração Apenas na amizade a salvação Que molda com fervor, tanta esperança
De um dia sermos presa deste sonho Em que se espalha um gesto mais gentil. Libertando uma alma antes cativa.
Um caminho em conjunto eu te proponho Na luta contra o mal, cruel e vil Mantendo esta amizade sempre viva...
11
Num ato de loucura, enfim, bebê-las Esperanças que são estrelas guias, Teus braços em meus braços quando atrelas Permites multidões de fantasias.
A par desta vontade de te ter, Eu canto e não me canso, alçando os céus, De magas alegrias e prazer Recobrem nossas sortes, claros véus...
Parceira tão constante em minha vida, No quanto eu te desejo não me calo, A glória de sonhar é permitida Seguindo mesmo passo, mesmo embalo
Muito além do que eu possa declarar, Entrego nos teus braços, lua e mar... Marcos Loures
12
num amor absoluto como o nosso, viaja o sentimento mais profano, do gozo deste sonho soberano o bem em nossa vida, agora endosso.
nos braços de quem amo, eu me remoço, a vida segue em paz, sem desengano, além do que desejo ou mesmo posso, o tempo de viver amor insano.
no corpo da morena, o meu reduto, aonde encontro enfim, felicidade, na busca do Eldorado eu não reluto
e quero sem temores prosseguir, vislumbro em ti a paz e a claridade certeza de um belíssimo porvir. , Marcos Loures
13
Num altar, no oratório, numa orada Em mil preces pedi, aos Céus ajuda Para enfrentar as dores desta estrada Que tantas vezes vai sem quem acuda;
Um passarinho triste em plena muda Uma alma que se esvai, enamorada, Ficando sem ninguém morre miúda Depois de tanta luta, resta o nada...
Mas vejo uma presença que em arranjo Divino, atravessou a minha vida, Quando pensava estar ela perdida
Vieste minha amiga, como um anjo Que Deus ouvindo as preces, me enviou, E a seca do meu peito, aliviou...
14
Num álbum de retratos, vejo a foto Que um dia tu tiraste sem saber, Que num futuro mesmo que remoto Haveria entre nós luto e prazer.
E quando os meus delírios eu esgoto, Mudando a direção eu posso ver, Que os sonhos que vestimos, amarroto, E a vida já não soube mais caber.
No terno envelhecido do passado, Retrato pelo tempo amarelado, A verdade mostrada, não permite
Que ainda eu possa crer na solução, As cinzas espalhadas pelo chão Demonstram da esperança, o seu limite...
15
Num aguilhão feroz a vida se faz alvo Dos risos que não dou, tampouco procurava. Andando sem caminho é que me encontro a salvo Sem mares ou montanha, apenas fogo e lava.
Meu sonho em largo monte, estranho e quase calvo Malditas ilusões nas quais eu me lavava No grito que não nego, agora eu já me salvo Enquanto ao mesmo tempo o nada me encontrava
E me salgo nessa alga algoz sargaço meu O nada que eu buscara em mim mesmo morreu. Apenas restará de certo, esta amizade.
Nos olhos feitos jade, o brilho sertanejo Espalhando alegria e sei mesmo o verdejo Que possa resumir; enfim: felicidade!
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Nublando, mal começa; o novo dia... Saudade de quem foi pra não voltar, A solidão aos poucos, devagar Matando toda sorte de alegria.
Amor que com seu nome se escrevia Não quer nem mesmo agora me escutar Em nuvens se escondeu o meu luar Aurora vai perdendo a tal magia.
A cargo dos meus sonhos, nada fica, A vida não será tão nobre e rica, Apenas coração restando pária.
Só eu sei quantas vezes eu sofri Ausência me transporta para ti, Ao menos esperança é necessária... Marcos Loures
17
Já nada mais pudera Quem tanto não queria A mesma fantasia Marcando a primavera
Ousando noutra espera A sorte não traria Sequer a melodia Aonde a vida gera
Felicidade imensa E sei que isto compensa A queda após o tanto
E tudo não se vendo, Apenas tal remendo E nisto o fim garanto.
18
Quisera qualquer luz E nada mais pudesse Ainda em leda prece O quanto me traduz
Não posso e reproduz A sorte noutra messe Vagando se obedece O todo onde me pus.
Vestindo a sorte quando O mundo desabando Em volta do meu sonho,
E após a rebeldia De quem tanto queria O fim, mero eu proponho.
19
Errando bar em bar Na noite incontestável O sonho detestável Aos poucos se notar,
Ausente algum luar E o tempo tão instável No amor insustentável Cansado de lutar.
Ocaso da esperança Enquanto a vida avança Mergulho no vazio,
E o passo sem destino Deveras me alucino E o sonho eu desafio.
20
Riscando deste mapa O quanto quis e nada Viesse em madrugada No quanto a vida escapa
E prende enquanto encapa Mortalha desenhada Nas ânsias onde brada E o canto forja a capa
Esqueço do meu verso E tento outra saída E nisto vou disperso;.
Vagando sem sentido O todo gera a vida E o fim, inda lapido.
21
Transcende ao que pudera Ousando num momento A vida em desalento Produz o quanto espera
A sorte leda e fera O quanto me atormento Vencendo o sofrimento Jazendo esta quimera,
Mas quando a sorte enreda E vejo além a queda Do sonho mais sutil,
Meu mundo se deserta E a porta outrora aberta Agora em caos se viu.
22
Unindo verso e canto Poeta poderia Ousar na melodia E nisto a dor espanto,
Mas quando em desencanto O nada se traria Vencendo esta agonia A vida em ledo manto.
Escassos sonhos; traga Quem sabe desta adaga Em fio bem talhada
Depois da tempestade O sonho enfim se evade Não resta em nós mais nada.
23
Impede um novo passo Quem tanto quis a sorte E nada mais conforte O quanto agora traço,
Esbarro em sonho escasso E sigo a todo norte O mundo onde suporte Gerando novo espaço.
Esgoto a tempestade Além do temporal, A sorte menos mal
O corte ora degrade O passo sem sentido E nele eu dilapido.
24
Ocasionando a queda De quem tanto seria E mata em agonia O quanto não se enreda,
O passo aonde veda E marca em fantasia O todo noutro dia, E sei de onde se seda.
Esbarro no passado E vejo enquanto brado Apenas o vazio,
Servindo de alimária A sorte temerária Aos poucos, desafio.
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Percebo apenas isso E sei do quanto tento Vencendo o sofrimento O todo onde cobiço
E sei do velho viço E nele o desalento E sinto alheamento No céu ledo e mortiço.
Vencido caminhante Aonde doravante A vida não desnuda
A sorte sendo aguda A morte se adiante E negue alguma ajuda.
26
Ausência de esperança Aonde o caos reedita A sorte mais maldita E o nada nos alcança
Quisera a noite mansa E disto necessita A voz onde se grita E o mar busca a bonança.
Vestindo a melhor sorte O todo enquanto aporte A nau ou meu saveiro,
Pudesse adivinhar No imenso, enorme mar O amor mais verdadeiro.
27
Somando cada passo Aonde nada havia O todo em fantasia Deixando o mundo lasso,
Esquece o que ora traço E sei não vingaria A morte em agonia Num mundo tão devasso.
Tropeços costumeiros Aquém dos meus luzeiros Em noite feita em trevas,
Depois de cada engano, O mundo onde me dano Ainda além tu levas.
28
Demora um pouco mais A vida sem sentido E o quanto sigo e olvido Expressa novo cais.
Perdendo os dias tais E neles envolvido O passo resumido Destrói velhos cristais.
Nos funerais do sonho A morte decomponho E vago sem descanso,
Depois de tanto tempo Em medo e contratempo, O caos agora alcanço.
29
Fragilizando o passo Aonde nada pude E sei desta atitude E nela nada traço,
Vencido por cansaço O mundo se amiúde E nada mais ajude Quem tenta outro regaço.
Vestindo esta emoção Os dias não darão Sequer algum alento,
Esboço num sorriso O quanto mais preciso E mesmo inútil, tento.
30
Gritando esta esperança Aonde nada houvera A vida dita a fera, Porém em paz se lança
Marcando com fiança O quanto se tempera E nisto a primavera Aos poucos nada alcança;
As flores no jardim, Amor em noite imensa, A vida onde se pensa
Marcando tudo em mim, Vestindo esta certeza, Dos sonhos, mera presa.
31
A mente dominando O passo sem sentido, O dia ameno e brando O tempo repartido,
Cortando não duvido Do dia mais infando E sei do desprovido Caminho nos tocando,
A voz se mostra rude E nada mais ajude Quem tenta muito além
Do pouco que inda resta Da sorte em leda festa Do amor que não mais vem.
32
Novo dia chegando devagar Emoldura teu rosto prateado Deitada sob os raios do luar. Eu agradeço a Deus por esse Fado
Que te trouxe. Contigo irei buscar O mundo que eu havia imaginado, Num sonho tão gostoso de provar, Te tendo a vida inteira, aqui do lado...
Na tua boca um leve carmesim, Nos meus olhos, os brilhos da alegria... Sentindo o teu perfume dentro em mim,
Refaço em teus carinhos, a magia Que me trouxe este rio tão divino. Prá sempre assim serei o teu menino... Marcos Loures
33
Novo caminho e rumo a se compor Mudando a direção de antigos ventos. Esperança entornando em cada flor As cores dos sublimes sentimentos...
Nas tendas, nos luares e varandas, Guarida que encontrei, braços serenos; Meus sonhos e destinos, tu comandas, Promessa de outros dias mais amenos.
Assim, ao te seguir eu me encontrei, Legando ao meu passado a dor atroz. Recolho em minha estrada o que plantei Amor fortalecendo nossos nós.
Depois de tanto tempo, este eremita, Percebe a vida calma e mais bonita... Marcos Loures
34
Novas danças nuances e carícias, Nas andanças que faço, traço o senso, Sensuais e carnais nossas delícias, Refletem esse amor que sei imenso.
Dos corpos que conflitam as sevícias, Nas tramas que tingiste contra-senso, Rolamos sem querer senso e polícias, Nas lamas, chamas, vértice tão tenso...
Acordas com misturas, tantas pernas, Massacre de delitos sem pudor... Bulindo fantasias, não te invernas,
Nem pedes por clemência nem as dou... Desejos explodindo desse amor, Nos campos que deliras, faço o gol... Marcos Loures
35
Novamente cuidados, pensamentos Necessitam de amores que se tramam... Restaram tão somente meus tormentos; São ventos que sopraram; mas não chamam.
Depois de certo tempo sem carinho, Não posso mais ceder; não quero dores. Seguindo sem temor o meu caminho, Abrindo inteiro o peito, novos amores...
Não sei se encontrarei felicidade, Também isso não tem mais importância. Cantando tanto sonho em liberdade, A vida não precisa mais ganância...
Só quero a mansidão de calmo lago, Encontrando, no amor, ternura, afago...
36
Nova noite caindo desolada A tua sombra chega, dolorida A sorte de meus olhos, isolada, Na friagem da noite, tão sentida, Restando tão somente um quase nada Do amor que me deixou, em despedida...
Partindo por distantes, outras plagas, Em mares, em falésias, penedias... As horas se passando, toscas, vagas... Morrendo o sentimento em agonias. O vento tão terrível, duras pragas A morte se mostrando em ventanias...
Só resta disto tudo, uma ilusão, Envolta nos teus braços, compaixão...
37
Noutro caminho ou mesmo noutra crença Que possa me trazer a solução Ainda que isto tudo não convença Quem traz a poesia em cada mão.
Legar o que não tenho torna tensa A dura caminhada frente ao não, Não quero ter discórdia ou desavença Apenas minha própria opinião.
Milagres prometidos de riquezas, Fortunas que se ofertam para as mesas Com todos os manjares de um nababo,
Pelo que consta- não estou bem certo, A quem passando fome num deserto, Foi um oferta, amigo, do DIABO..
38
Noutras vidas fui templário, Pesadelos, sonhos tive. Vida vivi temerário, Conheci monte, declive...
Soldado sal e salário , Saldos negativos, vive... Esqueci garbo e horário, Se não vive, sobrevive...
Noutras vidas fui guerreiro... Tanta guerra nunca aparta. Morri, escapei, inteiro.
Renasci na velha Esparta. Ressuscito, sem perdão: Talibã, Afeganistão! Marcos Loures
39
Noutras vertentes, trágicos enganos, Erráticos tormentos refletidos. Estúpidos momentos concebidos Tentando reverter temíveis planos.
Os olhos tantas vezes são ciganos E buscam em vazios, coloridos, Paraísos? Há tempos esquecidos Os ventos da esperança, desumanos.
A vida em otimismo tantas vezes Retrata o quão inútil cada verso. Rondando bar em bar, procuro há meses
Os olhos que se foram sem segredos. O canto em alegria é tão perverso, Amores que engalano? Uns arremedos... Marcos Loures
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Num gole bebo a vida Que mesmo sem ser lúcida Morrendo mesmo lúdica Abranda a despedida.
A mão que fosse rústica Não sabe da partida Minha alma não duvida E busca a boa acústica
Que possa permitir Ouvir a serenata Que mesmo sendo inata
Não deixa mais porvir, Se acabo-me em teus braços Amor segue em andaços... Marcos Loures
41
Num gesto companheiro e mais airoso, Amigo, vou mostrar minha outra face Depois de tanto tempo, belicoso, Eu peço que esta foto já rechace
E deixe tão somente o mar gostoso Aonde afogarei num novo impasse O tanto que queria mais jocoso, No olhar cego e perdido em que me embace
E trague finalmente algum sorriso Sem marcas de ironia ou mágoa e dor Maquiando decerto o paraíso.
Amigo, na verdade assim aviso Do quanto é necessária a fina flor, Mesmo com seu espinho protetor... Marcos Loures
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Num frêmito divino e sensual, Convulsas maravilhas; desfrutamos, Num gozo fabuloso e sem igual, Os mares mais diversos; nós singramos.
Fazendo deste jogo um ritual, Não somos nem escravos, sequer amos, E quando num prazer consensual Estrelas radiosas; vislumbramos.
Penetro com furor tuas defesas, Devoro, sem pudor, as sobremesas, E assim ao descobrir nossos papéis;
Neste caleidoscópio; mil loucuras, Recomeçando após, nossas procuras, Num eterno ir e vir de carrosséis
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Num fogo sem limites eu me extremo, Bebendo da alegria em dose farta, Beleza que espartana não se aparta Enquanto em versos claros, nada temo.
A glória de um amor raro e supremo A sorte- ser feliz não se descarta, Por mais que a solidão dores reparta Atrás de teu carinho eu piracemo...
Aguardo após a curva, esta presença Que trama com delírios recompensa Formatação perfeita em verso e sonho.
A cada novo espaço recomponho O beijo que as promessas vêm cobrar Tocando tua pele, devagar. Marcos Loures
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Num fio tênue prende-se amizade Tecida com raríssimo esplendor. Nos nós deste tecido uma verdade Se mostra plenamente em seu fulgor. Se bem cuidado traz felicidade, Se maltratado perde o seu valor.
Rolando nas mentiras, no cascalho, Uma amizade morre sem ter cura, Quem fora para Deus, como um atalho Morrendo traz um gosto de tortura. Não permitindo mais um ato falho, Uma amizade é plena de ternura.
Não deixe exposta assim, neste relento. Amor, para amizade, um alimento..
45
Nossos sonhos de amor, nossa esperança Trazendo para mim, novos caminhos. Distantes, onde a vista não alcança, Os medos egoístas e daninhos...
Depois destas quimeras tão terríveis, Naufrágios, tempestades, furacões. Das dores que se julgam invencíveis, Numa aridez temível, corações...
Vejo imortalidade em nosso amor, Que, sinto, enfim, jamais terá seu fim. Sabendo deste bem, meu salvador, Voando por espaços, vou assim;
Atado ao nosso amor, eternamente, Na força que nos guia, de repente... Marcos Loures
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Nossos prazeres, tantos, insensatos... Trazendo fantasias incontáveis Nas ruas, praças, pátios, camas, matos; Como em qualquer lugar imaginável.
Prendendo minhas pernas, firme e tanto. A minha louva deus me devorando; Cobrindo meus desejos com seu manto, Aos poucos minha pele tatuando...
A noite que tivemos, nossa noite! Nos sonhos, fantasias, nosso abismo. Amor que vai queimando qual açoite, Aos poucos se tornando fanatismo...
Nosso amor é tão grande e nos consome, Pois nem mil vidas matam nossa fome!
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Nossos prazeres sons que são abstrusos, Nos ermos das montanhas, cordilheiras... Invadindo os exércitos inclusos, Aterrorizam tétricas bandeiras...
Os partos que forjamos são confusos, Nos pastos dos amores, capineiras... Horários e destinos vários fusos, As mãos se envergastando dão bicheiras...
Amantes vão uivando, pedem lobos... Os cálices quebrados sem desculpas. Desejos produzindo seus arroubos,
Vasculham cada canto cadavéricos... Procuram por teus rastros, usam lupas, Amores que morremos, são homéricos!
48
Nossos pecados nos redimem De toda estupidez em que se arrasta A vida de quem bosta, já se afasta Dos corpos que flutuam e me oprimem.
Por mais que as igrejas nos afirmem Do quanto amor sincero inda não basta, A carne que se come e se repasta Reposta nas esquinas onde exprimem
Verdades tantas vezes libertinas, Curtindo a pele doce das meninas, Lavando em chafarizes nossas peles,
Helmintos que levamos dentro da alma Nos ópios que tragamos; nossa calma Embora pra quem veja, somos reles... Marcos Loures
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Nossos olhos serenos, mas disformes, A boca da saudade vem matar. Por pouco sem ter penas arrancar, As almas que se mostram, sem conformes,
Num cancro transformadas, coliformes... Quem dera se tivesses meu olhar, Na mão direita trazes um luar. Quem sabe ressuscites e me informes...
Não posso destroçar nossas serpentes, Não vejo outra saída, nem osmose... No mantra que me entoas, nos repentes,
Nos versos esquecidos pelo tempo... Nos rios que me deste, tem xistose, A vida não passou dum contratempo... Marcos Loures
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Nossos medos perdidos e distantes, Escondidos debaixo da esperança. Depois dessas loucuras ofegantes Que tramam cada noite em nova dança.
Depois destas saudades que sofremos, Dos tempos mais difíceis, no começo... Agora que encontramos e sabemos Não quero mais ouvir queda, tropeço...
Juntinhos; adormeces ao meu lado. Em paz, sem pesadelos ou temores, Meu sonho com teu sonho misturado. Somos, em nossa cama, vencedores.
Estou cada vez mais em ti atado, Vivendo em fantasia, apaixonado...
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Nossos desejos são noturnos hinos. Pérolas negras, dois fantasmas... Treva... E, com certeza, a misturar desatinos, Por mais calor que parecer, já neva.
As labaredas, olhos, dentes finos. Por mais que nunca fomos, vil caterva Amaldiçoa, marca e cospe. Tinos Perdidos... Rios, bagre, mar, cambeva...
Coxas se entrelaçando, orgasmos vindo... Espumas do prazer rebentam, praia... Ausência de temores, tremor... Lindo!
Nas dúbias sensações tão prazerosas Vertigens se sucedem, tire a saia... A dor de misturar espinhos, rosas!
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Nossos corpos se buscam em carícias E fazem dos prazeres, nossos guias. Da dor que nos tocava, nem notícias, Estamos novamente qual querias Deitados nestes campos de delícias Nas flores maviosas, alegrias...
No toque de teu corpo, uma viagem Por mundos mais fantásticos, libertos. Amor já nos rendendo, uma pilhagem, Mostrando estes caminhos mais despertos Nossa nudez tomada por roupagem Inundando em desejos os desertos
Que um dia nos tornaram mais distantes, E a vida se refaz nestes instantes...
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Nossos corpos febris em noite clara, Nas curvas derrapantes, capotei. Vibrando a precisão que nos ampara Invado teus domínios. Encontrei A jóia que queria, pedra rara Aos teus fascínios, manso, me entreguei
Tesouro que escondeste bem guardado Castelo divinal em gruta bela. Aos poucos, calmamente penetrado, Riquezas sem igual, logo revela A chuva vem caindo... extasiado Meu corpo no castelo quando atrela
Demonstra a tempestade mais gulosa, E a noite assim se vai, maravilhosa...
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Nossos bem e retratos são guardados Na saudade horrorosa que é vil cofre. Os amores que não foram tocados Na verdade quem foi por ora sofre...
Valei-me meu Senhor e Santo Onofre, Que não posso viver chumbos trocados... Nossas brigas intrigas sei de chofre Os remédios não foram nem tomados...
Tanta dor que me trazes não me ofende. O sermão que ministras sem valia... O meu verso enfadonho se suspende.
Não versejo por rima ou regalia. Quem não guarda retratos não pretende Relembrar nosso amor: hipocrisia! Marcos Loures
55
Nossos beijos, as bocas se desejam, As rosas testemunhas se decoram, As águas cristalinas já se alvejam, As tímidas palmeiras, rubras, coram...
Mil pássaros canoros, soltos, beijam As flores que regamos... Comemoram Os cristais, de esmeraldas se cravejam... As dores, esquecidas, não afloram...
Nossos beijos, estrelas vão surgindo... O brilho desta vida, no infinito. As asas da beleza enfim se abrindo.
Os templos da concórdia, tramam rito De amor. Exclamo sempre, como é lindo! Nos beijos que trocamos, meteorito! Marcos Loures
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Nossos amares? Todos os lugares Se nos meus próprios mares navegar; Buscando nesse canto tanto mar Tanto quanto possível for amares...
Tantos quanto seriam os luares Se em teus mares, meu barco naufragar? Comer só dessa fruta em teu pomar Fazendo bem possível o que sonhares.
Te dou minhas manhãs para habitares Neste mundo tão mágico, os meus dias; Cansado de vagar querendo pares
Não quero mais espelhos, fantasias... Só vejo as noites loucas, nesses bares Onde derramas amor e poesias...
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Nosso encanto, traduzo poesia, Jogando neste mar as belas flores. Nos beijos que te dei, tanta alegria... Misturas nossas almas, meus amores...
No batom que me marcas, fantasia, Vagamos, sem temer sequer as dores... Teus cabelos, a lua reluzia, A vida nos confunde, bons autores...
Espelhas teu reflexo com o meu, As nossas flores, leva a correnteza, Meu brilho nos teus olhos se perdeu...
Loucura derramaste em cada canto, Nos versos que reluzes, tal beleza, Eu vivo a me render a teu encanto...
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Nosso desejo trama tal prazer Que , insano, te acompanho radiante. Vou célere buscando o teu querer, Fazendo tanto amor, a cada instante...
Te sigo e te procuro, fogo e tramas, Nas matas e nas rondas me alucino, Vivendo nosso amor em plenas chamas, Buscando em teus delírios meu destino...
Cobrindo teu desejo, descobrindo Desejos que lampejos se procuram, O teu desejo tonto vou cobrindo Com matas e cascatas que se curam
Na sorte que bem sabes vai e vem, No vai e vem que quero e tu também...
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Nosso corpo doído em nossa cama Nossa chama que queima, nessa brasa, A vida que se passa não reclama Amada te desejo amor que abrasa
E rola de prazer sem ter segredos, A mão que acaricia, tu desejas. Os olhos te vasculham, mansos, ledos, Por todas tuas bocas, tu me beijas...
E mansa, se declina pro meu lado, Sorrindo do cansaço do depois. Vivendo nesse sonho mais amado, A noite que sonhamos prá nós dois...
Sentidos desmaiados, eu descanso Depois que este Nirvana nosso, alcanço...
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Nosso caso jamais terminará Assim como um cometa que passou. Se tudo o que vivemos nos mostrou Estrela que pra sempre levará
O barco da emoção que desde já Comanda o que o amor nos demonstrou, Vivendo o sentimento aqui estou Cevando o que esperança plantará.
Colhendo cada fruto deste sonho, Meu dia nascerá bem mais risonho, Eternidade encontro nos teus braços.
E quero, não duvide, este momento, Distante da tristeza e do tormento Tornando bem mais fortes nossos laços... Marcos Loures
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Nosso caso em perpétuas tempestades, Carregando um mistério sem igual. Atravessando campos e cidades, Amor antigo, eterno, medieval!
Não permite penumbras nem maldades, Caminha viagem transcendental! Esvaindo-se etéreo em veleidades. Amor eterno, lúdico, ancestral!
Nosso caso vencendo as intempéries... Não permite qualquer outro caminho. Tantas palavras ferem mas não matam...
Amor assim, jamais virá em séries, Amor assim buscando sempre o ninho, Numa face só, duas se retratam... Marcos Loures
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Nosso caso divide-se nas fases Mais estranhas;quem sabe mais medonhas? Os versos que me deste, velhas bases; Nas camas que dormimos, somem fronhas...
Não peço teus segredos, são audazes, Na boca que me lambes, vis peçonhas... Teus risos infalíveis, pois mordazes, A noite da verdade nunca sonhas...
Me mostra, então, meus mares e penedos... Na mira de teus olhos, rogo prece... Vasculhas meus fantasmas, mordes dedos...
És parte incipiente dessa sina... A vida que me trazes, anoitece. A faca que me mostras, assassina... Marcos Loures
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Nosso caso de amor, é nosso livro, Escrito com saudades e certezas... Tantas vezes de ti, cego, me livro, Outras vezes, contigo nas certezas...
Nosso caso de amor, se perde livre, Em meio a tantas lutas e pelejas. Quantas vezes disperso, é um Deus me livre, Outras inebriado, mil cervejas...
Nosso caso de amor, mentira exposta, Cafunés que se vendem se veneram... Gerando nascimentos, morte em posta.
Nosso caso de amor, velocidade, Na porta, mendicantes, não esperam, A morte que me trazes, da saudade... Marcos Loures
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Nosso caso de amor que começou Numa bela manhã ensolarada, Feito duma lembrança que restou Daquela nossa triste madrugada...
Nós tínhamos amado tanto tempo Pessoas que não viam nosso amor. Envoltos em tamanho contratempo Na busca de viver sem mais temor.
Os mares que sonhamos, tão distantes, Nos rios, nas cascatas, nas procelas... Caminhos que passamos, inconstantes, Nas noites mais escuras, sequer velas...
Agora já vivemos sem ocaso, Em pleno e doce amor, o nosso caso...
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Nosso caminho, amor determinou Entregue à mansidão de um calmo vento De toda uma ilusão, amor restou Tornando o meu viver bem mais atento,
Sabendo deste sonho; iluminou Rondando em emoção meu pensamento, Amor que num segundo se mostrou Ausência de mentira e fingimento.
A vida nos teus braços determina Que a sorte se refaça, uma menina. Mudando num momento a direção
Demonstra a qualidade do viver, Trazendo para nós raro prazer Causando a mais total transformação. Marcos Loures
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Nosso amor que termina, é obsoleto, Não serve de modelo e nem consolo, Muitas vezes, mentindo me extrapolo, Não mereces um beijo deste inseto...
Nosso amor que viveria mais completo Não permite que tragas me dês colo, Vai matando, abortivo, cada feto, Me joga simplesmente ao triste solo...
Amor que tantas vezes reconheço, Foi mestre nas desculpas, foi um gênio... Vagando, permitindo meu tropeço.
É tantas vezes tétrico, animal... Nas mortes preconiza tanto arsênio, Nas bocas se devora, canibal... Marcos Loures
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Nosso amor que nasceu na mesma laia Não poderá saber dessa ventura Toda noite atordoa na gandaia, O chicote amarrado na cintura.
O veneno da serpe e da lacraia Na verdade denota-se brandura Foste deusa rainha bela maia Nessa sede abrasante uma loucura...
Não posso te chamar de minha gata, Nem são meus os desejos que me escondes... Por ventura bem sei que és tão ingrata.
Nossos reinos não querem duques, condes... Nosso amor dilacera-se em cascata. Nossos trilhos se perdem, trens e bondes... Marcos Loures
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“Nosso amor que eu não esqueço” Trouxe vida e fantasia Amor assim não mereço, Amanheço todo dia
Sonhando nosso começo Tanta riqueza e magia Pensando em ti adormeço... Outro amor eu não queria...
Mas fugiste, por encanto... Todo sonho; foi-se embora Só me restou esse pranto
Teu amor foi brincadeira, Enganavas a toda hora O São João virou fogueira...
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Nosso amor parecendo qual cometa, Volta e meia se encontra, depois some... Nas distâncias te perco, nem luneta Me permite viver... A dor consome,
Teu retrato parece estatueta Um troféu que guardei me mata a fome... Eu te observo na porta, pela greta, A saudade voraz me traz teu nome...
Quando é noite de lua, tento o céu, Mas em vão , te escondeste novos astros... Nas estrelas distantes, num tropel
Tantas vezes embalde te procuro... Não me deixas sequer seguir os rastros, Meu astral permanece um breu, escuro...
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Nosso amor nos transforma em siameses, Perdoa todos erros que cometo... Se juntos já passamos dias, meses; Perene, nosso amor é mais completo...
Não sabe acumular dor e reveses; Nem precisa de sorte ou de amuleto Perfumes que emanaste são franceses, As vozes deste amor, neste soneto!
A vida se mostrando formidável, Não traz e nem permite dor contrária. Nossa noite se torna mais amável...
Prenúncio de paixão viva, operária. Não sou de tais tristezas, alimária. Nosso amor, siamês, incontrolável!
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Nosso amor nessas brumas envolvido, Bela cama coberta em pura seda Desejo em maciez tão incontido As pernas entre pernas tudo enreda.
Reféns destes delírios loucos, tantos. Penetro escuridão das doces furnas Nos olhos revirando, nos encantos. As viagens sedentas tão soturnas...
Nestes nossos sinfônicos ocasos Exalando os perfumes mais divinos. Rebentam os sentidos sem ter prazos, Misturam nossos corpos. Desatino!
E a beleza do mar, paradisíaco, E a beleza de amar: afrodisíaco!
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Nosso amor nasceu naquele beijo Trocado numa festa de São João, Foguetes e fogueiras do desejo Um beijo que queimou meu coração... Nasceu dos olhos teus, intensa brasa Que aos poucos me invadiu, e me tomou, Agora que comanda a minha casa Por todo nosso amor, sou o que sou, Palavras mensageiras de esperança Trocadas bem em frente ao teu portão, Sentindo em teu amor tal confiança Bem cedo me entreguei, louca paixão... Na chama deste beijo sou feliz, E canto em cada verso que te fiz..
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Nosso amor nasceu da mesma laia, Não pode mais saber de uma ventura, Toda noite atordoa na gandaia, O chicote amarrado na cintura.
Venenos que roubamos da lacraia Não matam e só sangram com brandura Levanto com urgência blusa e saia Depois a brasa acesa, uma loucura.
Não posso te chamar de minha gata, Nem são meus os desejos que me escondes, Brincando de rainha, queres condes,
O riso de ironia não maltrata Mineiro que se preza compra bondes Depois? Vou engolindo esta cascata...
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Nosso amor não exige quase nada, Nem sonha recompensa em tanto amor. Não peço que me queiras minha amada, Apenas me permita amor que for.
Amor assim modesto, sobrevive, Nas tramas mais profundas da paixão, Pois sabe, nosso amor, que se revive, A cada batimento, coração...
Amor que nada pede, sempre alcança. Pois basta se saber pra ser feliz. Nas horas mais difíceis, nunca avança, Pois sabe que se tem o que se diz.
Amor, amaciado a cada dia Trazendo, no silêncio, melodia...
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Notícias tão diversas em revistas Dão conta do poder dos olhos tristes. Além das esperanças já revistas Enxames de fantasmas que me listes.
As ondas aumentando, em suas cristas Expressam nas colunas o que insistes: Falar das derrocadas tão previstas Por mais que da alegria tu te distes.
Em ânsias, os focinhos dos castores E as árvores caindo na floresta. Assim ao perceber meus estertores
Apenas ilusão, e nada resta. Cada raiz perdida agora atesta Negando a fantasia e seus albores... Marcos Loures
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Notícias tão diversas do meu bem Trazidas pelo vento da saudade, Fazendo no meu peito a claridade Que toda noite chega, e mansa vem.
Queria na verdade ter alguém Que um dia demonstrasse a liberdade Encontrando afinal, felicidade, Mas perco na estação o velho trem.
Vagões que imaginara da alegria No fundo sem calor e sem magia Negaram qualquer forma de esperança.
Restando este caminho contrafeito Trazendo toda noite, quando deito, Ferrenhas ilusões, dura lembrança. Marcos Loures
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Notícias de meu bem; a tarde traz, Dizendo que esta noite serás minha. O pensamento vibra mais audaz, Minha esperança em ti toca e se aninha.
Num desejo incontido, assim, voraz, Minha alma pra tua alma se encaminha, Prazer que me domina e satisfaz, Seguindo cada passo desta linha...
Chegando mansamente ao meu desatino, Perdendo num momento todo o tino, Sou teu e não me importa quase nada.
Servir ao nosso amor como um cativo, Fazendo da alegria um bom motivo Na história pelo amor abençoada...
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Nostalgia e dolência nesta tarde... Carinhos imortais da amada bruma... A noite me trará embora tarde, O gosto da explosão, marinha espuma!
Quem ama não precisa deste alarde, Espreita um caçador, um salto, o puma... Olhar que no infinito, ferindo; arde, Não pode descansar de forma alguma!
Espasmos da luxúria florescentes, Noctívagos delírios vampirescos... Meus sonhos, meus amores, são dantescos.
Aguardo, calmamente a minha morte. No fundo, meus defeitos, indecentes, Misturam-se num gozo louco e forte.
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Nossos versos, cantigas deliciosas, Que no meu triste peito inda machucam... As flores que se abrindo lembram rosas, As dores que escondidas arapucam,
Nossos versos vagando fantasias, Santamente doridos me maltratam... Desfolhando tristezas e alegrias, Serenamente, chegam e me matam...
Nos versos libertários, tua cela, Nos olhos melancólicos, nossa cisma... Nas páginas libertas, soltas sela,
Voamos transbordantes maravilhas, A dor que se renova, não se abisma, Nosso versos naufragam tantas ilhas... Marcos Loures
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Nosso amor estradeiro, solto ao vento, Tijolo por tijolo faz promessa De toda a liberdade em sentimento A cada novo dia recomeça;
Pedra, pau, caco, vidro, pesca, anzol, Conversa na ribeira, sol a pino, Um cata-vento toca o girassol, Voltando num momento a ser menino.
Neste hino que se faz em canto leve, Amor não tem conserto, segue assim, Às vezes sem juízo, ele se atreve E bebe todo o rum, cachaça e gim,
Vai bêbado nas ruas da cidade Gritando em seu louvor, felicidade...
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Nosso amor jamais se acaba Ele é feito em alegrias Se a saudade toma a taba Amor cesse tais sangrias
Quando a noite assim desaba, E promete ventanias Solidão cruel se gaba, Nestas madrugadas frias.
Não concordo que termine Nosso amor dessa maneira, Não foi nuvem passageira
Nem loucura que domine, Venha ser meu doce mel, Sem estrelas, pra que céu? Marcos Loures
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Nosferatu deixou-me solitário, Minhas cartas jogadas no colchão. Cobrindo certamente meu horário Deixei a poesia, supetão!
Noutros tempos carpia-me templário, Não vesti nenhum traje de facção Meu coração deixei no mostruário Monstrengo não mereces atenção!
Grilhões atados vou para as galés Feridas sobrepostas fazem fendas. Os cactos, tantos cacos, nos meus pés.
Os mandriões farsantes mandarins, Sacrifícios perfazem podres lendas. Estorvam minhas bombas, estopins! Marcos Loures
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Nosso amor é bem gostoso Todo o dia te beijar. Tá me deixando orgulhoso, O prazer de namorar Não sou cabra vaidoso Mas não canso de falar, Teu pescoço é tão cheiroso, Minha flor quero cheirar. Passa segunda, na terça, Quarta, quinta e sexta feira, Mais amor do que eu mereça Chega o final da semana, Namorei semana inteira... Coração nunca se engana!
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Nosso amor canibalesco Devora-se num segundo. Nosso sonho mais dantesco Corta, penetra bem fundo.
Num turbilhão gigantesco Amor se torna profundo Não permite nem refresco Amor maior desse mundo...
Quis meus versos transformar Num poema mais diverso Procurei por céu e mar,
Não encontrei nem metade, Viajando no universo, Eu só encontrei saudade
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Nosso amor assim paradisíaco, Não descansa nem pode descansar... As noites a rolar, afrodisíaco, Afrodite não cansa de dançar...
Amor espúrio, sexo e caneladas! As luas sem pecados, voyeuristas; Não deixam de luzir as madrugadas, Aplaudem, invejosas, dois artistas!
Nas orgias satúrnicas, bacantes... A noite velha atriz, nos dá cometas... As bocas se percorrem, delirantes.
Misturam tantos dedos, pernas, tetas... Nosso amor, nas ternuras e delícias... Nos desejos atrozes de carícias!
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Nossas peles retintas dos matizes Diversos que o desejo preparou, Roubando toda a cena, como atrizes Que o tempo, sem saber, emoldurou. Noites a fio somos mais felizes No mar que nosso amor nos preparou. Deitados sob a lua, nas marquises Promessas que este tempo enclausurou Nas nossas aventuras qual dementes Roubando uma verdura destes matos, Roçando com as bocas, olhos, dentes... Impérios dos sentidos todos, tantos... No sacrilégio insano, os meus retratos, Fazendo nosso amor, imersos... Santos...
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Nossas noites, lençóis amarrotados, Jogados sobre o chão do nosso quarto. Desejos e carinhos delicados, Amor que nos tomou. Eu não me aparto
De teus carinhos sempre apaixonados. No gosto de teus lábios já reparto Meus sonhos e malícias sem enfados. Até que o dia surja, claro e farto...
Lençóis que derrubamos desta cama, Mostrando esta volúpia, fome imensa... Assim nos devoramos. Louca trama
Que traz efervescentes tempestades. Secando toda a fonte, recompensa, Sabemos traduzir saciedades...
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Nossas noites terminam num bolero... No compasso da dança, nossa vida. A vida me negando já não quero. Quero esse gosto amargo da partida...
Partida que não trouxe um peito fero. Feroz como as esperas desta lida. Lidando com amores que venero. Espero a mansidão por despedida...
Auferes meus medrosos sentimentos, Sentidos que esgarçaram minha dança. Avanças tuas mãos por uns momentos,
Colares e perfume de gardênia, Amor que nunca tive pede vênia A noite emoldurada na lembrança... Marcos Loures
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Nossas noites suaves, tão silentes, Em cortejos de amor, se transcorrendo. Os braços carinhosos, envolventes. Aos poucos alegrias renascendo.
Roçando teus sentidos nos meus lábios, Rasgando o coração apaixonado. Sedentos os sentidos correm sábios, O tempo de sofrer, abandonado.
Na alma da mulher que tenho aqui, Minha alma se perdeu e se encontrou. De tudo que passamos me perdi, De todos os meus sonhos, o que sou.
Eu quero mergulhar na fantasia, Que traz essa beleza, a poesia...
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Nossas noites passando vãs, errantes, Lascivas sensações, à flor da pele... Meus lábios no teu corpo, navegantes, Espreitam na nudez que me revele
As escondidas minas, diamantes. Pedindo que em meus sonhos já se atrele Os sonhos de quem quero, por instantes. Antes que a solidão venha e congele...
As nossas carnes, vivas ardentias, Intumescidos lagos, empoçados Vibrantes os desejos, fantasias...
As sombras bruxuleiam, nosso quarto, Delícias destes rios desaguados No mar tão prazeroso. Pleno e farto...
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Nossas noites mais brilhantes Terminaram sem sucesso Quando pensamos amantes, Esperava-nos regresso.
As noites mais delirantes Não continham mais progresso. De tudo que fomos antes, Mea culpa, réu confesso...
Louvores não te neguei As horas não se passaram Tantas luas pedem lei
Meus campos iluminaram. Pois desde que te encontrei Meus caminhos se encontraram... Marcos Loures
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Nossas mãos se misturam, vão confusas, Procuram pelos cantos, pelo meio... No chão, qual testemunhas, nossas blusas, Cometas se transladam num anseio...
As bocas se libertam, não recusas; As mãos vão procurando por teu seio... Espiam, vasculhando, são intrusas... Em meio a tempestades, me incendeio!
Pressinto a fantasia, novo mundo, A noite me permite ser vadio; Na tua teia, penetrei mais fundo.
A chuva cai, nem sinto medo ou frio... Meus olhos procurando por visagens, Tua nudez, teu corpo são miragens! Marcos Loures
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Nossas longas jornadas pela vida Se misturam em versos e desejos. Eu bem sonho contigo em mim querida, Eu te quero domando loucos beijos.
Tristes dias de inverno e de geadas Nos tomaram por anos infinitos Esperando o raiar das alvoradas, Inventando em palavras novos ritos.
Somos partes iguais do mesmo sonho, Universos diversos congruentes. Venturoso destino mais risonho, No final somos idem, mesmos dentes.
E traçamos em gestos cristalinos, União desses dois vários destinos...
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Nossas horas se passam tumulares, Entre tantos momentos evidentes. Amores se tornando medulares, A solidão penetra, range dentes...
Frialdade feroz, penetra altares, Os braços destes polvos, envolventes, Me cortam, machucando, vários pares... Segredos que me contas, indecentes...
Amor se destruindo, mil partículas; Meu tempo destroçado mal querido, Escola solidão abre matrículas;
O medo de viver diversas castas Me traz este segundo adormecido... Nossas noites se perdem vis, nefastas...
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Nossas carnes confusas, peles, cernes, Misturam os humores, ares, mares... Eu peço-te que em mim, no frio, hibernes, Entranhe-me. Dos corpos tais altares
Que sabem que jamais, no amor, invernes Estios, cios, talhos similares Servis aos servos vis que em si, concernes, Colete os meus resquícios se encontrares
E juntos untaremos corpos; colas... Nos sumos e nos somos quase gomas, Somamos nossos somas, ondas, olas,
Num mar transcendental, ácido céu... E vejo-te espalhada quando tomas Meu sangue em que lambuzas, bebes mel... Marcos Loures
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Nossas bocas, quimeras canibais, Expressam todos medos mais obscuros, Massacram meus poemas tão vestais, Os rasgos que engastaste são escuros,
As letras que imprimiste, garrafais... Os frutos da indecência estão maduros; Cabelos soltos, ventos, vendavais... No fundo o que queremos, sermos puros...
Nas horas mais macias, são templários Os sonhos que forjamos desta trama... Ouvindo repicar os campanários,
Se formos fidedignos, somos lama... Momentos que não somos tão sectários, Nós reavivaremos nossa chama... Marcos Loures
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Nossas alucinantes cavalgadas, Trocamos os suores e delícias, As noites que passamos, madrugadas Em meio a tantos beijos e carícias...
As nossas mãos e bocas vão atadas, Neste desejo louco, mil malícias... Sofreguidões das vidas acordadas... Das amarguras, nunca mais notícias...
Um brinde tão feliz, nossa existência, Na cama dos prazeres, que é redonda, Encaixamos audaz coincidência
Nas cavalgadas, nunca penitência Tristeza distancia-se hedionda, Loucuras compartilham-se demência....
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Nossas almas vão unidas Pelo gozo que é supremo Deciframos as saídas Deste barco leme e remo,
Destas noites tão sofridas Aprendi e nada temo, Emoldura nossas vidas Amor farto e quase extremo.
Se não fosse este sentir Que fecunda um fértil chão, Não teríamos porvir
Sem caminho ou direção, Numa entrega, repartir Dividendos da emoção... Marcos Loures
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Nossa vida transcorre sem perfumes... As portas se fecharam, sem quintal... Repetes cada dia teus queixumes, As dores promovendo um festival!
Por que tantas mentiras e ciúmes? Amores não suportam... É letal! Depois de perseguir, chegam aos cumes Matando simplesmente... Um animal
Feroz... As cicatrizes me tomaram, Envolvendo os meus restos de esperança... No lugar da paz, tristes, deixaram
As marcas indeléveis da guerrilha. A mão que procurava não alcança... Amor perdido, tentando nova trilha! Marcos Loures
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Nossa roupa quarando no varal, A cidade pequena adormecida... Nossos filhos brincaram no quintal, Adoçam esperanças, trazem vida...
No teu rosto alegria sem igual, Quem dera nunca mais haver partida... A chuva antecipada ao vendaval Destroça toda forma de guarida...
Morremos cada dia sem saber, Os medos se tornaram realidade... O tempo vai matando sem querer,
Amor que já se fora, sem verdade, É lume que só faz opalescer, É noite que me trouxe tempestade! Marcos Loures
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