
MEUS SONETOS VOLUME 110
Data 24/12/2010 11:38:52 | Tópico: Sonetos
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1
No quanto imaginei a calmaria Estúpidos vassalos da ignorância Usando de total deselegância Tentaram sonegar a fantasia.
Comparsas desta mesma estrebaria Com alma condenada à mendicância, Matando o que restou da amarga infância Nos relinchos que dizem poesia
Fizeram do meu verso este arremedo, Contendo na gaiola o passarinho, Tentando avinagrar todo o meu vinho,
Porém a sorte esconde este segredo: E o Inferno como herança pra tal gente É tudo o que desejo e a alma pressente.
2
No quanto fora inútil o sofrimento Daquele que se fez torpe desterro, Do vale interminável quis o cerro, Buscando placidez, trama o tormento,
Aonde quis abrigo, eis o relento, Sonhando com o acerto, encontra o erro. A charneca tomando todo o aterro Que um dia imaginou ter como alento.
A morte se alimenta dos vazios Que invadem e dominam toda a cena, E a vida que teimara; mais serena,
Inverna; em solidão, verões e estios, Agora, o fim somente chega e acena Queimando o que restou de seus pavios...
3
No quanto eu tentaria ser feliz O espanto toma conta do cenário, Vencendo este inimigo temerário O tempo tantas vezes não me quis.
O céu se demonstrando sempre gris, Jamais desejaria solitário, Ausente deste encanto solidário, O quadro enegrecido sonha giz.
Acuado, não vejo solução, E perco pouco a pouco a direção, No pão já bolorento da saudade.
Somando os mesmo zeros, nada tenho, Assim sei quão inútil meu empenho Na busca pela fútil liberdade...
4
No quanto eu te desejo sempre penso Banquete que se faz em bons talheres Amor que nos inflama em fogo intenso, Fornalha desejosa dos prazeres.
Eu tenho a sensação de ardor imenso, Bebendo em tua boca, os teus quereres, A cada novo toque, eu me convenço, Irei contigo aonde tu quiseres.
Proclamo o nosso amor aos quatro ventos, Ardume sem limites ou tormentos Trazendo com delícias, luz e cor.
Encantos que vislumbro em meu caminho Tocado pelos olhos eu me aninho Fazendo da alegria o meu andor. Marcos Loures
5
No quanto em nosso amor eu acredito, Eu faço estas despesas da esperança. O vento não destrói forte granito Nem mesmo a tempestade já me alcança,
Porém amor que é feito em arenito, Esvai-se no sabor da calma andança. O bem que eu te desejo é infinito Por mais que seja longe, não se cansa.
Marcando minha pele em tatuagem, O amor vai penetrando sem fronteiras, No peito que serviu como estalagem,
Corcéis das alegrias derradeiras Galopam sem ter medo da chegada, Vibrando cada dia, em alvorada... Marcos Loures
6
No quanto em meu recanto quero amar Somente um desvario e nada mais. A morte tem mandado os seus sinais, Mas quero que ela chegue devagar.
Não posso simplesmente me calar, Embora sem encantos, perco o cais. Meus versos se fazendo rituais Ninguém me impedirá de versejar
Há dias que eu me escondo e nada falo, Também nunca pisei num outro calo Se eu faço do amor a minha escora
Problema, se isso existe, eu nunca vejo Mas antes de partir, eis meu desejo: Promete: não irá jamais embora. Marcos Loures
7
No pulso firme vento e vendaval Fundindo as esperanças numa só, As roupas vão quarando no varal Marcadas pela estrada e pelo pó Guardados na algibeira, no bornal Misturam as poeiras, cisma e dó.
Minha alma vai quentando em forte sol Nos rasos destes olhos aboiando. Enovelado, vivo em caracol O tempo que me resta ponteando Amor que se fez nó sem girassol Nos olhos da mulata rebrilhando...
Bebendo essa água pura lá da fonte Amor vai renascendo no horizonte.
8
No prato da esperança, nem farinha, Apenas o vazio sobre a mesa, Quem dera ter amor por sobremesa, Minha alma não seria tão sozinha...
A moça que eu sonhara ser só minha, Suprema fantasia em tal beleza, Desejo de um poeta vão despreza E noutras estalagens já se aninha.
Queria pelo menos uma chance, Por mais que a tarde venha e a noite avance A lua de teimosa não se esconde.
O bonde descarrila a cada curva, Riacho da ilusão em água turva Procura a tua imagem, não sei onde...
9
No pranto derramado cedo e tanto Na fome de viver cada segundo. Em volta desse lume sem encanto Mergulho no oceano mais profundo.
Procuro por mim mesmo e nada vejo Senão os restos tristes do que fui. Vencido pelas horas, meu desejo, Castelos assombrados, tudo rui.
Na corda arrebentada, fui feliz, Na boca dessa noite, na verdade, Brotando tanto sangue em chafariz Caminho procurando o fim da tarde.
Vestido com os guizos do palhaço, A noite vai vencendo o meu cansaço!
10
No pôr do sol imagens multicores, A lua que virá trazendo o amor Reflexos valorando assim as flores Gaivotas sobrevoam num louvor.
Meus olhos vão buscando, sonhadores O olhar feito farol, encantador, Acompanhando sempre onde tu fores Eterna poesia a te propor...
O mar em mil matizes tão diversos Estampa fielmente os sentimentos Que tento retratar nestes meus versos,
Uma esperança clara como a lua, De ter ao fim da tarde, por momentos, Tua beleza mansa, calma e nua...
11
No silêncio noturno, esta distância, Casulos tão diversos, soledade... A voz transcendental remonta infância Promete assim, talvez, felicidade.
Nos bares e prostíbulos, quem sabe Na boca meretriz de uma ilusão, O mundo que me deste que se acabe Restando quase nada. O coração?
Minhas mãos desarmadas, tudo foi-se, Apenas um sorriso quase irônico E o corte tão profundo de uma foice Deixando o meu viver, assim, agônico.
Abraçado a tais sombras; impreciso, Encontro nos escombros, paraíso...
12
No sertão, na maresia Nos espinhos do juá Quanto amor faz poesia Nada além se mostrará
Dos olhares de quem guia Confusão se criará, Mas no fundo a fantasia Com certeza mudará.
Beijo a sorte que me deste, Meio riso, meio peste, Fatos tantos que me perco.
O portal do paraíso, Invadindo se preciso, A saudade aperta o cerco... Marcos Loures
13
no sertão de minha terra coração beirando estradas a saudade quando berra traz as mãos já tão cansadas.
Tanto amor, amor encerra Em palavras margeadas A saudade me desterra Vem trazer frios, geadas...
A fogueira quando acenda A lembrança dessa prenda Que se foi e não voltou.
Nas guaiacas da esperança Teu sorriso inda me alcança Minha paz ele roubou... Marcos Loures
14
No sertão a lua nasce Argentina em belo lume Quantas vezes sem embace Eu percebo o teu perfume
Meu amor vem e me abrace Muito mais que de costume, Quando o rumo já se trace Não se entrega ao vão ciúme.
No passado tive o vago Nos teus campos me perdi, Coração pedindo afago
Percebendo chego a ti, Tua boca trama em mel A porteira deste céu...
15
No serão nem no seria Sérias dúvidas carrego Minha dívida se cria Coração audaz e cego.
Quem talvez dividiria Mostra o mar que não navego, Se teu corpo perde orgia, Noutro porto assim me apego.
Faca cega pede gume, Rosa exala seu perfume Sem saber sequer do espinho.
Eu não quero ser poeta, Teu amor é minha meta, Preferi andar sozinho... Marcos Loures
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No sentimento agreste da paixão Se cardos e recados nos confundem, Aguardo pelo sim, pelo perdão, Amores e rancores já se fundem.
Sabendo te querer com mais afinco Querendo teu amor em profusão, Castelos e barracos, ouro e zinco; Amor não necessita explicação.
Aos saltos, os ressaltos se superam; Me esmero cada vez que amor me cobra. Nas quedas, nossos sonhos recuperam Uma atenção maior já se redobra...
E cuido deste amor que tanto velo Com toda uma alegria que revelo...
17
No seio sem receio da sereia Um meio de encontrar o meu passado Mortalha que me trama um velho fado Na morte que pretendo em plena areia
A cena que me acena me incendeia E faz o velho tempo celerado Celeiro dos meu sonho não sonhado O campo se recobre toda aveia.
No gozo que antegozo e que não vem Gigante coração tamanho trem Levando essa minha onda para a praia
Depois que me perdi pedi por trégua No colo da sereia tanta légua Se quero descobrir levanto a saia.
No colo da sereia me dei mal A saia está guardada no bornal...
18
No samba teus requebros e meneios Balançam estruturas, quebram tudo. Um canivete tão pontiagudo Cravado no meu peito sem receios.
Quem dera se eu tivesse grana ou meios De ter sempre a meu lado; mas contudo No fundo sei que apenas eu me iludo Plantei semente errada, deu centeios.
A moça não percebe, e nem te ligo. Olhando o tempo todo o seu umbigo Não vê quanto desejo em meu olhar.
Caçamba pede corda, bamba samba O amor falsificado, esta muamba Jamais pela fronteira irá passar... Marcos Loures
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No perolado olhar, tanta meiguice Brotando em turbilhão, amor profundo. O quanto te querendo eu sempre disse, Do amor que tanto tenho já me inundo.
Não vejo tão somente em pieguice O amor que me transtorna num segundo. Do quanto tanta vida permitisse Num plácido caminho, me aprofundo.
E cato estas estrelas que deixaste Ao caminhares nua pelos sonhos. Na sombra a claridade faz contraste
E mostra uma certeza que não cala Dos dias e desejos mais risonhos Andando assim desnuda pela sala...
20
No perfumado incenso de minha alma Fragrâncias maviosas e tão raras Como a trazer auréolas, tudo acalma... Estrelas navegantes são tiaras
A me proteger contra qualquer trauma. Nos sonhos que vivi, tantas searas, Incensos que produzes trazem calma. Deleites e tormentas me são caras.
Ensinam que prazer não é tão fútil, Esvai-se mais veloz do que chegou... Amor mesmo que incrível se faz útil.
As dores sempre trazem o saber... Na cama do prazer, a dor mostrou, Como é belo o incenso do viver! Marcos Loures
21
No peito, uma bagunça faz a festa, Amor que me despertas me enlouquece, E nele coração tanto obedece Que nada além do amor, inda me resta.
Abrindo devagar, deixei tal fresta Aonde vento forte que entorpece Entrou me dominando e nem por prece Um outro pensamento nele gesta.
Sou teu e gosto mesmo de assim ser, Não quero e nunca vou mais discutir. Se eu tenho nos teus braços, meu prazer,
Se encontro em tua boca a fonte pura, Não deixo um só momento de pedir Amor em plenitude, uma ternura... Marcos Loures
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No peito uma alvorada benfazeja Promessa de um bom dia, com certeza A boca te procura e te deseja, No mar de amor, imensa correnteza.
A vida me trazendo tal beleza Na boca um doce rubro, uma cereja Deixando tanto amor de sobremesa, Vontade de te ter, assim poreja
E encharca minha pele em sudorese, Paixão que não mais sei como represe, Arrebentando tudo, incontrolável.
Tomando a minha mente e o coração, Causando em mim um tipo de explosão Prosseguindo em sonho interminável...
23
No peito uma alvorada benfazeja Promessa de um bom, com certeza, A boca te procura e te deseja, No mar de amor, imensa correnteza.
A vida me trazendo tal beleza Na boca um doce rubro, uma cereja Deixando tanto amor de sobremesa, Vontade de te ter, assim poreja
E encharca minha pele em sudorese, Paixão que não mais sei como represe, Arrebentando tudo, incontrolável.
Tomando a minha mente e o coração, Causando em mim um tipo de explosão Que eu quero que prossiga, interminável... Marcos Loures
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No peito que entre trevas tanto amou Apenas o quer resta: uma lembrança Quem tantas vezes teve por pujança Um manto aonde em sonhos se entregou
Agora não sabendo mais quem sou, O desespero vem e quando avança Destrói o que sobrou de uma criança, Espalha pedra e cardo aonde eu vou.
Cardumes de ilusões em piracema Tentando suplantar a corredeira, O amor quando propõe algum dilema
Não deixa outra saída senão esta, Quem sabe da paixão mais verdadeira, Em agonia leva a vida em festa... Marcos Loures
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No peito que crivaste com adagas, As marcas dos meus dias infelizes... Respiram pelos poros, vermes, chagas, Lampejos de vestais nas meretrizes...
Colônias de bactérias, tantas pragas, A morte te prepara mil matizes, Em decomposições cedo te alagas, Esôfago queimado por varizes...
No peito putrefato verte pus, Nos olhos arrebentas em sangrias... Nos punhos cicatrizes lembram cruz,
Os ratos devorando podres dias... Na mansidão do beijo, minha luz, Na plenitude estrela e melodias... Marcos Loures
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No peito exausto sinto o renascer Após essa tormenta tão divina Vibrando em nosso canto vou viver As águas da cascata cristalina...
Rasguei essa saudade tão vazia, Deixei essa tristeza moribunda Beijando tua boca que eu queria Vivendo essa emoção demais profunda...
Da flor que imaginava em meu jardim, Do sonho que pedira e não tivera. O mundo prometido, sei enfim, Deixando a solidão, pobre quimera...
Eu quero poder ter o teu carinho, Invisto em nosso amor, em nosso ninho
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No peito em que emoção deseja e manda A correnteza às vezes se faz brava, A vida que em momentos já desanda, Trazendo uma tristeza feita em lava.
Alvoroçando estrada outrora branda, Deixando no caminho amarga trava, Formando desventura tão nefanda, Que mais profundamente me cortava,
Os golpes mais cruéis já recebidos Turvando em treva imensa os meus sentidos. Amor em solidão sonhos degrada.
A sorte se perdendo num segundo, O corte feito em sabre é mais profundo Doída, a minha voz desesperada... Marcos Loures
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No peito de quem chora, tanto samba Batuque que não passa, sofrimento. Amor que lá batia já descamba E faz a tempestade num momento.
Amor é traficante e traz muamba Deixando na caçamba, este tormento, Quem dera se eu pudesse ser um bamba, Teria o teu amor, teu sentimento.
Vinganças e mentiras, faca e fogo, Levando o meu sorriso deixou nada. A cama sem lençol desarrumada
Testemunha sacana deste jogo Aonde na verdade, deu empate, Dois imbecis: amor não é combate...
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No passo sempre firme deste sonho, Vagando na amplidão, cada momento, Num canto mais preciso eu te proponho A força mais tenaz de um sentimento,
Que possa transbordar em mar risonho, Trazendo para a vida um manso vento, Não quero mais meu passo tão tristonho, Eu quero esta certeza, num momento
Capaz de transformar em harmonia, O que se fez temível ventania. Meu verso te propondo, companheira
Um laço bem mais forte que nos una, Ao cais desta amizade, a nossa escuna Enfrenta a tempestade derradeira. Marcos Loures
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No passo que se mostra resoluto, O amor vai destemido, o tempo todo. O quanto que desejo e tanto luto Afasta do caminho qualquer lodo. Vencendo com carinho o vento bruto, Mostrando em mansidão, seu jeito e modo.
Das horas doloridas, solidão, Amor traz a festança prometida. No fogo que nos queima, uma paixão, A dor já vai embora, distraída. O tempo prometendo viração Mudando num segundo a nossa vida.
Assim, um passageiro deste sonho, Encontra o seu futuro, mais risonho...
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No pássaro, ao chegar tempo de muda, Promessa de outro tempo que virá A sorte que tolhendo; dói aguda, É véspera do sol que brilhará.
Poder que nos transforma; uma esperança, Nem sempre prenuncia um tempo bom, Mas quando benfazeja; tal mudança, Expressa em nossa vida um raro tom.
Tomando tuas mãos, eu sigo em frente Não temo tempestades, avarias Em todo este delírio que se sente, Certeza que virão benditos dias.
Porém quando se mostra uma ilusão, A gente vai sem paz, perdendo o chão... Marcos Loures
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No palco da ilusão, por tantas vezes, Amiga, me mostraste a rara cena Na qual em poesia a vida plena Não deixa que se pense em tais revezes.
Nas cartas de tarô, o meu futuro, Meu signo não combina mais com luz Apenas o passado reproduz O quanto sempre fora amargo escuro
Mas tendo a companhia deste sonho Talvez inda vislumbre solução Do quanto caminhara em mar medonho
Agora noutro cais, atracação. Cadenciando a vida nos teus passos Encontro uma esperança em finos traços... Marcos Loures
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No outono que é prenúncio de um inverno, As folhas vão caindo pelo chão Nas cores do sol- pôr, um tom mais terno, Tocando bem de leve, o coração...
As tardes vão caindo como as folhas, Forrando de saudades meu olhar Nas lágrimas que peço, não recolhas, Prenúncio de noturnos vai buscar
Lembrando de um adeus. Nos negros olhos A vida se esvaiu, quase morri. Colhendo deste amor, tantos abrolhos,
Só resta uma certeza que me espera Depois de toda dor que já sofri, Virá o amor chegar em primavera!
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No outono dessa vida, entardecer... Perdido, procurando meu caminho... Preciso de teus braços pra viver. Amores traduzidos em carinho.
O sol morrente, traz anoitecer. Meu rosto emoldurado em pergaminho, As rugas não desistem de nascer. Não posso conceber viver sozinho.
As minhas ilusões, suspira o vento, Levadas pelas mãos maliciosas... À flor deste suave pensamento,
A noite delirante nega rosas... Guardado neste imenso sofrimento, Outono prometido, mãos calosas... Marcos Loures
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No orgulho que se mostra corriqueiro O canto se tornando melancólico Do outrora sentimento lisonjeiro – Passado com certeza mais bucólico-
Não resta sequer sombra e nem resquícios Do quanto fomos filhos mais gentis. Agora em nossos olhos tantos vícios Tornando-nos decerto bem mais vis
Eu vejo um fim cruel a quem não sabe Beber da farta fonte da amizade. E antes que esperança já desabe Permita-se viver felicidade
Ao conhecer a paz, bem verdadeiro, E dela num mergulho alvissareiro. Marcos Loures
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No oráculo predito, agônica explosão Forrando o meu caminho, afagos desta fera A solidão que guia, às vezes me tempera E mostra a cada dia o rosto em negação.
Sentindo que perdi há tempos o meu chão Matando tão depressa a minha primavera Eu tenho bem distante, o cheiro do verão E a vida vai passando em dura espera.
Felicidade existe? Eu sei destas mentiras, A pele corroendo, o coração em tiras Apenas restará em último desejo
Um resto de amargura adormecendo o peito Estrada feita em curva, a morte quer o eleito Dorido ritual no fim que ora prevejo
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No olhar tão sedutor de uma amizade Minha última esperança de vitória. Quem sabe no final, tranqüilidade Refaça todo o rumo desta história.
Imerso em noite negra eu não previra As tramas tão sutis, inesperadas, Por mais que eu sei que o mundo sempre gira Não pude perceber novas estradas
Que foram se formando em meus caminhos, Unindo nossas mãos, fortalecendo. Ao ver que assim tirávamos espinhos Um canto mais suave se tecendo.
Adentram nossos sonhos solidários, Na amargura sem par dos solitários. Marcos Loures
38
No olhar tão cintilante, os ideais Realçam a beleza insuperável Iridescente sonho imaginável Expressam teus caminhos divinais...
O pensamento em luzes siderais, A força da ilusão inquebrantável A fantasia mostra-se palpável E queres, novamente e muito mais...
Perpetuando a glória de poder Erguer a fina taça do prazer Num brinde inesquecível, cristais, taças...
Seguir teus rastros que deixaste, nua Enquanto flutuavas pela rua, Nas estrelas que espalhas quando passas... Marcos Loures
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No olhar que sobre a lua já se deita Reflexos da perfeita claridade Que em paz e mansidão, a vida invade E nela uma alma segue satisfeita.
Do quanto em profusão, o amor deleita E mostra em solução tranqüilidade. Sem nada que demonstre paridade O amor encarna a glória, sem espreita.
Em vigorosas luzes, holofotes Dos amores eu faço assim meus motes E neles eu bendigo a sorte imensa
De ter junto comigo, o teu sorriso, Passaporte que abrindo o paraíso Permite a mais sublime recompensa... Marcos Loures
40
No olhar que perpetuas; mais arisco, A tralha do passado que me pesa. Vencendo os meus temores corro o risco De ser assim somente tua presa.
Não quero ser a fera nem petisco, Minha alma que se procura estar ilesa Na boca desta fera, em teu confisco Em gozos e mortalhas se reveza.
Mas tendo o quase nada como herança O mar de amor imenso se abortou. No vento destes olhos, lua mansa,
Depois da tempestade que passou, Resumo minha sorte em louca dança No olhar em que esperança não dançou...
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No olhar esmeraldino desta prenda, Riquezas e belezas magistrais, Amor que tu sabes assim desvenda Estrelas sobre os pampas, divinais.
Carrego tua imagem nos bornais, A vida sem te ter não tem emenda, Distante de teus mares, tento o cais, Será que amor não foi somente lenda?
Respostas me trazendo o minuano Soprando em meus ouvidos o teu nome, Olhando tão longínquo, enorme plano,
Percebo qual miragem a chegada; Porém ao vendaval depressa some, Depois de tantos sonhos, resta o nada?
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No Olhar de quem semeia com carinho Imagem de Meu Pai vai refletida, Mostrando a quem se perde uma saída, Tornando mais suave cada ninho.
Não quero prosseguir jamais sozinho, Na fonte da amizade o bom da vida, Que a dúvida cruel não mais agrida Se da alma, eterna e mansa, eu me avizinho.
Erguendo no horizonte que contemplo Com toda placidez, o belo templo Que espelha o que desejo dentro em mim,
Na imensa candidez que Me ensinaste, Fazendo do perdão e do afeto uma haste, Florindo de esperança o meu jardim...
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No olhar de brilho farto, reluzente Eu vejo refletido o coração Por mais que a solidão ainda tente Resiste no meu peito esta emoção
Que borda com beleza e maravilha Os dias que virão- felicidades. O quanto tantas vezes alma andarilha Andando pelos campos e cidades
Buscando bar em bar sem nada ver Senão esta vontade de ficar Às vezes o desejo de morrer Sem nada pra sorrir, comemorar.
De quem se fez inútil fantasia Decerto, o meu amor já saberia Marcos Loures
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No ofuscador semblante de quem amo, O brilho faiscante deste olhar... Bem sabes quanto dói quando te chamo E nada de me ouvir e me falar...
Não sei se em pleno céu eu te perdi, Nem sei em que planeta te escondestes. Só sei que em meu amor, estás aqui Guardada nestes olhos, nestas vestes...
Não temo tua ausência, pois virás. A noite te trará morta de sono. Enfim, depois de tudo, terei paz, Cansado deste tempo de abandono.
Minha alma transbordando de alegria Espera, ansiosamente, o belo dia...
45
No oceano da vida eu me perdi, Sem rumo e sem ninguém um vagamundo. De tudo que passei, nada aprendi Insisto novamente e num segundo
Encontro ancoradouro bem aqui Deitada em minha cama em mar profundo, Que encontro quando entranho amor em ti. Meu coração; decerto, um vagabundo
Que cisma em tanto amor que sei não há, Quem dera se encontrasse a liberdade, Mas gosta de sentir-se prisioneiro.
E pede que tu venhas para cá, Trazendo em tuas mãos felicidade Que é feita deste amor, tão verdadeiro...
46
No ocaso deste caso sem futuro A sombra vai tomando este cenário Outrora o belo canto de um canário Agora o baque surdo, o solo impuro.
O céu já se nublando, tão escuro Um sentimento amargo, opaco e vário. O amor que tendo no ódio, um adversário Se dista do que quero e em vão procuro.
Queria ser feliz e nada mais. Ouvindo por resposta este jamais, Que sempre foi meu grande pesadelo,
O amor que tanto quis e que se afasta Reflete este vazio, e eu grito: basta! Quem dera se eu pudesse, amor, revê-lo .
47
No pomar dos desejos, bela fruta Amada que se faz doce e tão terna. Colheita que se pega e se desfruta; Tristeza, com certeza, muda hiberna.
Na boca o vivo mel, cana caiana, Nos seios, belas formas da romã. Do jambo, a pele, a tez que já se ufana As formas delicadas da maçã.
Assim como um sanhaço mata a fome Em meio a tais delícias, não se cansa, A vida o tempo inteiro se consome Neste banquete imenso, nossa dança.
Contigo, meu amor, fruta gostosa; Colheita se mostrando maviosa...
48
No podre sabor do beijo Que não pude usufruir, As encostas do desejo Coração não quer subir,
Esperança, um bicho andejo Que não sabe mais sair Das entranhas do que vejo Nem passado nem porvir.
Se no topo da montanha, Um condor voa liberto, Coação de um mar aberto
Tanto perde quanto ganha. Seria o que não serei Se em teus braços fosse rei... Marcos Loures
49
No poder da amizade se conclui Que a mansidão vencendo a dura fera Aos poucos na esperança vai e influi, E nesta confluência a primavera
Exposta com total tranqüilidade Criando um patamar superior Aonde deva haver a liberdade Com a tranqüilidade interior.
Assim, ao mitigar toda a tristeza, Sementes espalhando sobre a terra, Permite que se vença a correnteza Ganhando esta batalha, venço a guerra.
Em paz, olhando o céu e o firmamento, Poeira em calmaria toma assento... Marcos Loures
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No plenilúnio raro que se forma Na noite fascinante de nós dois, Não quero deixar nada pra depois Poder de tal beleza nos transforma
Envoltos pela argêntea maravilha Unidos num só corpo, sem fronteiras, Gitanas fantasias lisonjeiras Transcrevem do infinito; cada trilha.
As pernas nos servindo de tentáculos O amor ao traduzir velhos oráculos Estampa um farto brilho sobre nós.
Sem álgidas lembranças do passado, Encontrando-me em ti glorificado, Escuto da emoção a clara voz. Marcos Loures
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No plenilúnio raro que se forma Na noite fascinante de nós dois, Não quero deixar nada pra depois Poder de tal beleza nos transforma
Envoltos pela argêntea maravilha Unidos num só corpo, sem fronteiras, Gitanas fantasias lisonjeiras Transcrevem do infinito; cada trilha.
As pernas nos servindo de tentáculos O amor ao traduzir velhos oráculos Estampa um farto brilho sobre nós.
Sem álgidas lembranças do passado, Encontrando-me em ti glorificado, Escuto da emoção a clara voz. Marcos Loures
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No Pico da Bandeira ou da Neblina Os píncaros não dizem picadeiro, Queria te sentir, ao menos cheiro, E ver o quanto o tempo me alucina.
Amor com tanta fúria me aliena, Mas teimo em ser parceiro deste encanto, O caso é que se morro em parto, imanto, Depois o meu problema diz hiena.
Carvalhos, alamedas e sequóias, Nos mares que mergulho sem as bóias Apenas paranóia de quem teima.
Agasalhando os ermos de minha alma, O termo preferido não me acalma Paixão que vale a pena dói e queima... Marcos Loures
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No piano as confissões Dos amores e segredos, Escutando estas canções Vou vencendo antigos medos.
Entregando-me às paixões Revivendo os meus enredos, Emoções aos borbotões Sentimentos, vivos, ledos...
Mas de noite estou sozinho, Sem ter nada nem ninguém, Refazendo o meu caminho
Além deste costumeiro, E quando a saudade vem, Confesso ao meu travesseiro... Marcos Loures
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Nos versos que te faço Amor que me domina. A mão seguindo o traço Desenha uma menina
Que sigo em cada passo Buscando rara mina Dourando cada espaço Aonde determina
Amor em poesia Em sonhos, descobertas, Marcando em alegria,
Nos lençóis nas cobertas Amar mais que podia, Os corações alertas...
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Nos versos que compus para você, Talvez eu disse mais do que queria, Chegando novamente em outro dia, Vivendo sem motivos, nem por que.
Remeto em cada frase uma alegria Distante do que vejo e que se crê. No corpo em que carinho sempre lê As bocas decorando geografia.
Minha palavra tenta ser mais pura, Porém tanto desejo me tortura, Na pele vou buscando uma morada.
Cansado de querer e não ter nada, A mão nas suas costas vai pousada Numa aquarela um quadro, uma moldura...
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Nos versos quais sabujos, cães malditos, Meus sonhos te servindo de repasto, A cada novo passo mais me afasto Mumificadas tramas, sons aflitos.
Nas falsas pedrarias me desgasto, Soltando pelas sendas torpes gritos, Ainda bem que os dias são finitos O canto que me excita, enfim, nefasto.
Apenas o que sobra, um vil bagaço Esvai uma esperança a cada passo, Figura que caminha nauseante.
A morte conduzindo à plena paz, Um rito que profana e satisfaz Dos mares um etéreo navegante. Marcos Loures
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Nos versos mais sinceros, nas versões Que inversas são conversas descabidas. Passando meus amores sem verões Nos veros sentimentos tantas vidas. Nas vozes mais veladas violões Nas portas que viveram desabridas Nas transas e nas tramas convulsões Promessas de dentadas e lambidas...
No sumo do prazer não mais assomo Nem tomo mais lugar se não quiseres. Comendo pouco a pouco, cada gomo, Sorvendo cada gume desta faca Banquete que te quero, mil talheres, A fome nessa fome nunca aplaca...
58
Nos versos e nas rimas que te faço, Amor que se deseja soberano, O ponto de partida, nosso traço, Não deixa cometermos mais engano...
Dedilho com carinho e emoção, Os versos que componho, poesia... As rimas decorando o coração, Fazendo nossa vida mais sadia...
Rolando tantos beijos, nossas rimas, Em bocas e palavras tão molhadas, Beijos de lá, de cá, em nossas primas, As horas tão harmônicas passadas...
Desejo que te tenha sempre aqui, Na fantasia louca que vivi...
59
Nos versos de um bolero ou de uma valsa O coração mergulha no passado, Enquanto a fantasia, o sonho encalça, Afasta-me do encanto desejado.
Outrora, o meu Natal, doce regalo, Trazia uma esperança de união, Celebração de paz, Missa do Galo, E o sino pequenino na canção.
O tempo muda tudo e, de repente, Eu vejo um velho gordo, chaminés. Aonde houve um menino, só presente.
E o riso satisfeito de quem vende, Olhando sorrateiro e de viés A mágica ironia de um duende...
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Nos verdes arvoredos da esperança Refiro-me a teu nome como base Do que percebo ser uma aliança Que jamais quebrará nem jura ou frase.
Com solidez perene do carvalho, Resistiremos sempre aos vendavais, Que a vida não poreje pelo talho Dorido do ciúme ou coisas tais.
Formando uma alameda sem espinhos, Sem cardos e sequer sem pedregulhos, Sem urzes venenosas nos caminhos, Sem restos de ilusão; puros entulhos...
Eu quero te implantar jequitibá Com todo o teu valor, jacarandá.
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Nos velhos baluartes artes ar... Vencidos meus propósitos, desanco... O verbo que não vibro vem amar, No marco que me torna basto e manco...
Porões que me empoeiras, pão pomar... Na franja destas praias um mar branco. Neste óstio que te ostenta és osmolar de ferro e de granito, mesa e banco
Minha alma se aninhando em alma tua tanta voracidade muda o norte Se como te reclamo bela e nua
À parte deste aparte não perdôo A vida me ressalva fundo corte. As asas que pernoitam o meu vôo...
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Nos vazios celestes, nada assoma, As pétreas solidões são nebulosas. Nas vagas mansidões mais tenebrosas, Só trevas percorrendo, como um coma...
Ao nada, junto ao nada, nada soma, Os sons são sem sentido. Desairosas Ventanias varrendo, vagarosas, Tempestades terríveis, tudo toma...
Nestas vazias, vastas amplidões, Silêncio em solitários corações Siderais sentimentos virginais,
Esparsas e longínquas tais estrelas, Tantas vezes sonhei pudesse vê-las, Mas ao ver os teus olhos... não vou mais....
Marcos Loures
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Nos umbrais percebendo o vento frio Que invade sem perguntas, toma tudo. Coração vai entregue e tão vazio, Sem canto e sem promessa onde me iludo.
O meu mar se asfixia, perde um rio No sentimento ignóbil, seco, rudo, Impede a sensação de um novo estio, Deixando-me calado, inerte, mudo...
Somente me restando uma saída Do labirinto atroz desta saudade. Tramando a solução em minha vida,
Pr’a todas incertezas quando houver, Sozinho, sem ter porto, sem mulher... Restando só um sopro da amizade...
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Nos umbrais dos sonhos mergulhei Qual fosse um libertário pensamento, Felicidade; tanto te busquei Que ao fim sobrou apenas o lamento
De quem imaginou saber da grei Aonde semeasse o sentimento, Vencido pelo encanto, morto o rei, A poeira levada pelo vento
Tornando toda estrada esfumaçada, Não deixa que se veja quase nada E em todo nevoeiro, o lusco-fusco
Que opacifica os olhos de quem amo. Qual chuva que escorrendo eu me derramo, Caindo dos umbrais num salto brusco...
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Nos trâmites legais, nas horas mortas, Nas ruas sem saída, supermercados... Abertas lojas, fecham-se tais portas, Nos templos esquecidos... Trespassados...
Nas mouras infantis, quem sabe tortas, Nos olhos envolventes, desmaiados... As dores que me deste, não te importas, Os rumos que seguimos, desolados...
Meus lábios se conformam com os teus... Não quero precisar aonde e quando... Meus olhos que prosseguem sendo ateus,
As ordens e progressos, esperando Nos colos carregando camafeus, Nos campos de batalha, vou te amando... Marcos Loures
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Nos trajes imbecis de uma esperança Perdido e sem destino, eu me retiro. A morte salvará nossa aliança Vendida nos botecos. Eu prefiro
O gosto mais mordaz da boca imunda Sagazes ilusões não salvarão Legado ao quase nada, amor afunda O resto de alegria; no porão.
Podando o arvoredo em frio corte, Não deixa nem sequer algum resquício Do quão foi necessário um novo norte
Jogado do mais alto precipício. Eu vejo meu espelho no teu rosto Em lúbrico reflexo, agora exposto...
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Nos tormentos, imerso, atravessei a vida... Em busca desse amor, há muito destroçado Pelas garras da pantera. Estou muito cansado Da luta tão inglória e sempre, sei, perdida!
De tanto triste adeus, de tanta despedida, Carrego o coração cego, morto e calado. Cada mar que navego, um barco naufragado. Da sorte que não tenho, a voz tão esquecida...
Porém a minha vida esconde jóia rara Que em plena noite escura, um lume já me aclara. Que seria de mim? Um resto vil, medonho...
Quem teve tanta dor em doses alarmantes, Recebe, da natura, os mágicos calmantes: Esperança divina e o mavioso sonho.. Marcos Loures
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Nos teus rastros segui, eternamente... Languidez e ternura na nudez. E deitado sob ti, tão calmamente, Lembro-me quando a vi, primeira vez...
Estavas tão desnuda e me assustei, Com as marcas profundas que carregas. De toda essa beleza, imaginei, Tal pureza que ao ver-te já te negas...
Mas tão bela, decerto, no teu brilho, Nosso amor continua. Eu inda te amo, E cada vez que te vejo, maravilho, Tantas vezes, em versos, eu te chamo...
Nos meus sonhos estás tão bela e crua Cada vez te amo mais, amada lua...
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Nos teus poros, esporos que te dei. Não me servem as sobras dos teus gozos... Gametas qual cometas se não sei São sombras dos passados andrajosos...
Nas tocas, ocas, ocos, misturei Tenebras temerosas, tenebrosas. Farejo o que protejo day by day Almejo o teu desejo, rimas /prosas...
Na mítica presença feminina Ostento o que mais tento, teus pudores... Seguro teus cabelos, loura crina,
Cavalgas, águas, algas, léguas, mágoas... Mascaro e quero caro, cara e cores, A lua se arreganha sobre as fráguas...
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Nos teus olhos, onde o meu olhar para, é aí que continua o pensamento; de que mina verteu jóia tão rara, qual estrela se mudou do firmamento?
Aos olhos verdes, onde a luz é plena, os pássaros, de encanto, emudecem, a mais fina teia as aranhas tecem ornando teus cabelos com fádico diadema.
Esparzindo esse ameigado verdejante dos teus olhos pelas ondas mar-além, abre as velas esmaltadas o viandante
e traspassa o continente rutilante. Deixa o verde escumar sobre os escolhos e que eu mereça a graça dos teus olhos!
GOLBERI CHAPLIN
Teus olhos resplandecem sobre a Terra, Derramam trilhos claros e luzentes, De todos os meus sonhos, as vertentes, Nas quais a fantasia em paz se encerra.
Qual fora a lua imensa sobre a Serra, Tornando tais cenários envolventes, Queria só sentir o que tu sentes Quando minha alma ao léu já se desterra,
Talvez saudades minhas; ilusão... Porém sonhar jamais será pecado... E mesmo que este sonho seja em vão
Por mais que outros olhares, vaga; mires Sinto-me por Deus agraciado Somente, meu amor, por existires...
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Nos teus olhos crepúsculos afloram, Preparam bela noite de luar. Cores avermelhadas te decoram, Das dores que vieram, tanto amar...
Belezas incontáveis ‘stão contidas, Nos olhos que iluminam, toda a terra. Por vezes nossa vida prometida, Procura outro caminho e, quase que erra.
Mas sempre, no final de cada dia, Encontra em nosso ninho, seu recanto. O tempo de viver a poesia, É o mesmo em que derramas teu encanto...
Amada, nosso amor é pra valer, Renasce em cada novo entardecer...
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Nos teus níveos sorrisos, as promessas... Sultana que escraviza um coração! Meu mundo transtornaste e não confessas, Rastejo te implorando teu perdão!
Tantas vezes, a vida prega peças É preciso encontrar um guardião. No meu flácido rumo, não me peças Que deixe de prestar tanta atenção.
Não posso caminhar sem os teus pés. Não posso respirar sem o teu ar... A vida não perdoa: és meu convés!
Guardiã dos desejos e delírios... De que vale, sem frutas, meu pomar? Sem jardim, Eduarda, p’ra que lírios?
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Nos teus lábios, veneno invés de mel, Doçura que me mata, sensual... Trazendo este inferno em pleno céu, Desejos de pureza em tom carnal..
Beijar-te é me cobrir em mil loucuras... Fogueira insaciável me queimando. Tortura vindo em forma de ternuras... Em gozo, vai aos poucos me matando...
Um vício que me toma e assim persiste, Vagando um universo em fantasia. Se trama uma alegria meio triste Em pura insensatez já me alivia...
Veneno nos teus lábios sedutores.. Inebriadamente tentadores...
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Nos teus lábios calor, tanto desejo. Eu te sinto tocando devagar Neste beijo sereno que eu almejo O mundo que antevejo, vai brilhar...
Neste ensejo divino uma esperança. O bafejo da sorte que preciso, Sabendo deste amor que já me alcança, A sorte se aproxima sem aviso.
Eu sei que nada mais te importará Senão este murmúrio em teu ouvido, Quem sabe neste encontro surgirá Um novo resplendor de amor, sentido.
Nas noites que teremos envolventes, Sabor destes teus lábios, doces, quentes...
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Nos teus guizos palhaço, sofrimento... Tolo, me esquivo. Tento rir; mas nada... Amor nessa janela busca o vento. Sombrio meu passado... Desatada
A forca, temporais pressentimento... Deitado sobre pregos, caço a fada. Minhas Babéis, minha alma, meu cimento... A musa me fugiu... Torpe e safada!
Meu circo viverá pois sou palhaço... O meu tempo reparo e solidão... A fé que não me corta: faca e aço.
O templo que não vivo, teu perdão... Os olhos que não brilham, meu cansaço. A dor que não larga, coração! Marcos Loures
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Nos teus encantos perco todo o rumo... Amada que pensei jamais voltasse. O canto que te peço, novo prumo É como enfim viver sem ter disfarce.
Não sinto mais o fogo que queimava Mas tenho em teu amor suave cais. A noite que por vezes não chegava Em versos que te faço, trama a paz...
Um anjo adormecido, bela imagem, Na pele da morena que queria. Sentindo em pensamento tal aragem Que traz no teu sorriso um novo dia...
Minha alma se renova em cada trama, Revive e te encontrando, logo chama...
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Nos teus dentes, velhas presas, Masmorras do pensamento. Minhas mãos atadas, tesas... Sopras tal qual manso vento,
Mas disfarças! Sem franquezas Devoras, venal tormento. Não te quero restas mesas! Representas desalentos!
Não me permito sonhar Com falsas melancolias. Nem te busco brusco mar
Partícipe de bacantes. Enegreces claro dia Mortalhas de diamantes! Marcos Loures
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Nos teus cabelos flavos, tanto encanto, Entranho-me em teus laços, serpe audaz, Saltando em teus novelos, sem espanto; Minha boca te crava mais voraz.
Exalas tal perfume, frágil santo, Queimando totalmente minha paz. Tomado por teu gozo, meu quebranto, No sacrossanto orgasmo que me traz.
Enroscado em teu corpo, flamejante, Recebo o teu sorriso de bacante Em lânguidas fornalhas, teu veneno.
É como se ao tocar purificasse Mordendo e babujando a minha face, Desfiladeiro louco e tão ameno...b
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Nos teus braços Meu amor, Nossos passos, Campo e flor Sigo os traços Pr’onde for
Teu feitiço Fogo intenso Compromisso? Sempre penso. Amor-viço Vício imenso..
Quero o fogo Deste jogo... Marcos Loures
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Nos teus braços me perdendo Encontrei o paraíso Nosso rio se vertendo Nesse toque mais preciso.
A fogueira se acendendo, Quero até perder juízo, Para ti eu vou correndo, Vou depressa e sem aviso.
Nos teus seios, o caminho Mais bonito que se vê Meu amor, nosso carinho
Não termina, eu quero já, No teu livro amor se lê Infinito encontrará... Marcos Loures
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nos teus braços eu me aporto num momento de descanso, de trabalho, quase morto, coração busca um remanso
quem andara assim, absorto, paraíso, enfim alcanço andarilho em passo torto finalmente eu me esperanço
e conduzes calmamente os meus passos, chego a ti, todo mundo, de repente
num momento eu descobri, invadindo corpo e mente redenção encontro aqui... Marcos Loures
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Nos vômitos que espalhas quando ris, O cerne apodrecido da esperança. Memórias que me trazes; farpas vis, O gesto não suporta temperança.
Outrora ainda sonhara ser feliz, Porém a tempestade que me alcança, Bonança logo após, cedo desdiz, Ternura se perdendo na lembrança.
Mentiras entre falsas pedrarias, Ourives do vazio, farsa explícita. A fera que se entorna tão solícita
Matando com sarcasmo, suas crias. Facínora que engole cada sonho Que tolamente, ainda, em vão, componho...
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Nos vivos versos veros companheiros Escrevo meus penhores mais sublimes. Eflúvios esfumaçam verdadeiros E levam tantas levas quanto estimes...
Sentindo o cintilar do sonho vivo, Vagando nos diversos pensamentos. Deitando em teu desejo sou lascivo Nas bordas destes mares, sem tormentos...
Transmito em cada estrofe mais vibrante Convulsionadamente meus anseios. E quero nosso amor mais galopante Vibrando de prazer, teus belos seios...
Meus versos te vasculham sem pudor, Em nome da loucura deste amor...
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Nos vinhos que me embriago Na verdade quero o tinto. Mergulharei no teu lago, Amores que sempre sinto.
Procurei por teu afago Me embriaguei com absinto. Da vida bebi um trago, Das cores que não me pinto...
Um pombo que não revoa, Nem mensagens mais me traz. A vida passando à toa.
Descobrir não sou capaz. O que me traz vida boa É descobrir tanta paz... Marcos Loures
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Nos vértices dos sonhos encontrei As sombras do que tive, ácidos dias. Arcanas e temíveis fantasias Abismos onde outrora mergulhei.
Arquétipos que tolo, não neguei, Enquanto vasculhavas e não vias As hordas que ora trago, e que sombrias Demonstram os demônios que criei.
Eu te amo. Mas não quero o sacrifício Nem mesmo a companhia temerosa. Imersa em paisagem tão viscosa
A solidão talvez trague o propício Momento em que abismal, venal e ofídio Eu possa me aplacar, no suicídio... Marcos Loures
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Nós somos tão diversos e mais unos, Unidos pelos sonhos mais complexos. Das mesmas madrugadas, somos sumos, Criados destes mundos desconexos...
Marcados pela mesma natureza Que trama nossas sortes tão iguais. Provindos do vigor duma incerteza, Sabemos que não somos nada mais...
Eu quero sem receio, ser teu par, Tu queres ser a minha companheira, Dançamos nossas noites sem parar Tramando nossa vida verdadeira.
Metades tão opostas se completam Nas horas em que as dores se deletam...
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Nós somos passageiros desta barca Há tempos construída em temporais. Dos seres que surgiram, ancestrais, A Terra carinhosa, tudo abarca.
Por mais que a superfície seja parca Recolhe, generosa, muito mais Espécies animais e vegetais A Natureza a todos nos embarca.
O Homem sendo estúpido pensara Que tudo fora feito para si, Brincando de ser Deus destrói a vida.
Moral ocidental já desampara E mata por matar, lá ou aqui Especular imagem distorcida.
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Nós somos passageiros da esperança, Jamais desistiremos desta luta Que vence, com certeza a força bruta E traz depois de tudo, gozo e dança.
Firmamos para sempre esta aliança, Silenciosamente, não se escuta Nem mesmo numa dor que tudo enluta Deixamos afrouxar, nada nos cansa.
Proponho eternidade neste amor, Que traz um mar imenso, um oceano, Não cabe em nossos dias, desengano,
Somente a fortaleza a nos compor. Num sentimento nobre, pois humano, Vencemos tempestades com vigor...
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Nós somos o produto mais fiel Daquilo se fez em nossa vida A planta bem cuidada vai, crescida, E dela, suas flores, faz-se o mel,
Na busca, sei que trópica, por céu Encontra com mais força, uma saída Que traga a luz, depois de convertida Permite em clorofila o seu papel
De ser bom alimento e mesmo insumo Fazendo com que cresça e ganhe o rumo No qual a planta fica mais viçosa.
Assim em nosso caso, com cuidados, Carinhos e beijinhos são marcados Caminhos de uma vida mais airosa...
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Nós somos filhos desta encruzilhada Que a vida, de tocaia, preparou. Herdeiros do vazio, somos nada, Apenas o que ocaso desenhou...
Da terra malfadada; pedra, espinho. Do tempo que esquecido, já se foi. Marcados pelas dores do caminho, Sangrando neste arado, pé de boi.
Nós somos divisão duma esperança Jogados nestes córgos, sem futuro. Traçamos desde sempre essa aliança Tramada neste chão que é seco e duro...
Mas amo cada palmo desta vida, Arando meu desejo em ti, querida...
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Nós somos dois lavradores Que plantando uma esperança Recolhemos os pendores Perseguindo essa aliança
Que decerto espalha flores Nos caminhos onde alcança Prometendo nos amores Nova vida em temperança.
Vencedores, com certeza, Nada impedirá de fato Na fartura desta mesa,
Mansidão deste regato Prometendo em sobremesa Na tristeza dar um trato... Marcos Loures
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Nós somos dois amantes sonhadores, Tomados por desejos mais insanos. Teus beijos tão gostosos, tentadores; Invadem os meus sonhos, os meus planos.
No poço escuro e bento dos amores, Sem medo de sofrermos desenganos, Latejam nossos corpos, esplendores, Prazeres se mostrando soberanos...
Agora que retorno ao nosso quarto, Encontro-te, perfeita maravilha. Desejo me fundir, dentro de ti.
Até que o amor se mostre pleno e farto, No gozo que se fez nossa partilha; A delícia maior que conheci...
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Nós somos companheiros de desdita, Fazendo da ilusão nossa parceira, Por mais que a fantasia não nos queira Tentamos lapidar esta pepita.
E quando o coração louco se agita Erguemos a esperança qual bandeira, A vida nos prepara outra rasteira, Porém esta batalha nos excita
Na persistência temos nossa glória, E mesmo tão distantes da vitória A história se repete a cada dia.
Brindemos com os olhos no futuro, Pois nosso coração, sincero e puro, Encontra amor e paz na poesia...
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Nós somos as metades que se tocam E formam unitário sentimento. Vontades e desejos quando alocam Com força mais vital o pensamento.
Os medos e as angústias se deslocam, Restando tão somente um calmo vento. As dores por sorrisos já se trocam E o fogo da paixão queimando lento
Prepara a redenção de quem foi só, Refaz uma esperança adormecida. Renasço em vivo amor, tão benfazejo.
Assim já retornando ao mesmo pó Encontro a salvação em nossa vida, Na cátedra divina do desejo... Marcos Loures
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Nós somos animais; simples mamíferos Que vagam pela terra a destruir Embora nos achemos quais auríferos Com toda a liberdade, usufruir
Da herança que foi dada há tantos anos - Bilhões pra ser exato -, na verdade Vassalos que jamais são soberanos Usando de loucura e crueldade.
Pagamos caro preço na escalada Que leva, sem perdão ao fim de tudo. Deixaremos somente o resto, o caos. Eis o fato real, eu não me iludo...
Andando pela Terra, sempre a esmo Não somos nem amigos de nós mesmos...
Marcos Loures
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Nós somos a fagulha que incendeia A terra nos vulcões mais violentos. Teu fogo em minha chama tanto ateia Que às vezes entornamos sentimentos. Desejo inoculado em minha veia Rompendo tantos diques, pensamentos. Vermelho nosso mar em branca areia Vestindo só de pele, barcos lentos... Aporto nas borrascas nosso sexo Que é feito com calor, sofreguidão. Perdendo depois disso todo o nexo Nessa fagulha intensa vou queimar, Teu corpo no meu corpo com tesão, Subindo num segundo no luar...
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Nós sobreviveremos, com certeza A todas as tempestas que vierem. Nem todos os reveses, natureza, Nem as invejas, não mais ferem Aqueles que navegam correnteza E sabem, na verdade, o que mais querem.
Não temais esses ventos nem as urzes, São frágeis tentativas, desamor. Sabemos já da força destas luzes Que mostram um futuro sedutor. Sabemos suportar as nossas cruzes, Os preços de um porvir encantador.
E vamos, sem segredos nem cansaços, Correndo pro calor de nossos braços...
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Nos sinos que batiam catedrais, Nas horas que preciso tanta fé... Nos pátios das Igrejas, nos sinais... Nos ramos domingueiros, vou a pé.
Nas procissões nos círios festivais. Nas marchas que fizemos vou até. Nas hóstias que me deste peço paz. Nos tempos que vivi em Muriaé.
Agora que esqueci como se reza. Agora que não vivo nas igrejas... Amor que não conhece não se preza.
O cântico dos cânticos esqueço... Não posso mais viver o que desejas. A sorte que não tive te ofereço...
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Nos símbolos eternos de ternura A mãe que acalentando sua cria, Que mesmo quando imersa em amargura Exprime tanto amor, farta alegria.
Na dor que nos redime, e assim nos cura, Nas ânsias divinais, santa magia, No medo que protege e já tortura, Nas tramas mais sutis da fantasia.
No quanto uma amizade nos acalma, Trazendo a mansidão, adentrando a alma Fortalecendo a vida outrora fraca,
Na claridade imensa, liberdade, Vibrando na total felicidade, Iluminando a senda mais opaca.
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Nos sempre fomos elos da corrente Que prende-se insincera, meu desgosto... Nos atamos, servis, interiormente, A faca que nos mata, nosso agosto...
Nada mais que faróis, luz envolvente. A marca dessas garras no meu rosto... Parabólica antena, mar e mente, Nossa ira transpirando nosso encosto...
Não sei se poderei ser teu farol, Apenas não consigo ver teu mundo... Quanto mais eu mergulho, mais profundo,
Os elos da corrente cortam fundo, Sem iscas procurando no arrebol, Quem me dera pudesse ser anzol!
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