
MEUS SONETOS VOLUME 107
Data 23/12/2010 19:20:42 | Tópico: Sonetos
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1
No nada em que adormece bem vestida Na leve transparência do vazio. Percebo que essa mão tão distraída Encontra este calor matando o frio.
Não fale que se mostra arrependida, Galgando o pensamento em que me guio. Menina esta delícia concebida No gosto e neste gesto, me vicio.
Adormecendo enquanto mal disfarço Num sonho tão perfeito, tal nudez. No pouco de juízo então me esgarço
E deito em sua cama, o meu desejo. Qualquer dia em total insensatez. Delícia usufruída que prevejo...
2
No mundo, com certeza, não terás Amor como o que trago para ti, Mil vezes nessa noite viverás Os sonhos mais divinos que escolhi Porém se tantas vezes perco a paz Nesta ilusão terrível que sofri, Amada, nosso amor te satisfaz? É tudo o de melhor que tenho aqui. Talvez amasse alguém, um certo dia, Distante, num passado que não sei. Quem sabe o meu amor, plena alegria, Já possa te encantar. Quem sabe, amor? Durante muito tempo te esperei, Deixe eu ser; no teu mar, navegador!
3
No mundo tudo muda de repente, As horas se passando na mudança Os tempos que se foram, na lembrança; Morreram cada vez bem mais urgente.
Recebo as novidades-velharias Como quem jamais guarda o paladar. O vento que passou mudou lugar Os dias não se lembram d’outros dias.
Quem foste, com certeza, não mais és, Pois que somos mutantes de nós mesmo Lugares conhecidos vão à esmo.
Pergunto: onde firmamos nossos pés? Areias que se mostrem movediças, Olhares que se perdem em cobiças... Marcos Loures
4
No mundo que se faz sempre melhor Depois de ter sentido o teu calor, Um canto que se eleva bem maior Expressa na verdade o nosso amor.
Compor os meus poemas junto a ti, Decerto faz a vida sem liberta, O quanto que busquei; reconheci Na tua pele, rara descoberta.
Agora companheiros de viagem, Sentindo a maravilha de se ter No amor que se permite alunissagem Prateando nosso céu em bem querer.
Pulsantes corações em harmonia, Encharcam nossa vida em poesia...
5
No mundo onde interesse é soberano, Aonde ninguém faz de puro agrado, Impera este terrível desengano, A solidão parece ser o fado.
Passando o tempo; dia mês e ano, Mas nada me parece ter mudado, Quem não fizer mais parte deste plano, Apenas é jogado para o lado.
Nem mesmo amor escapa desta sina Da doação completa sem espera. Somente um resto dágua cristalina
Resiste sem ter garras, sem ser fera. Um puro sentimento, na verdade, Somente no vigor de uma amizade...
6
No mundo giramundo vagabundo Coração que batendo sem juízo Não deixa de bater um só segundo Fugindo do que chamam paraíso.
Se entorno meu desejo e nele inundo O sonho que mais quero e sei, preciso, O resto vai rodando até profundo Paraíso onde sempre perco o siso.
Na construção dos corpos belo monte, Nas garras, nas agarras, precipício. Eu bebo teu prazer em rara fonte
Depois contrariando o Santo Ofício Eu faço de teu rio em rica foz O pecado que salva, a todos nós...
7
No momento em que sonho com teus lábios Com fúria declinados sobre os meus. Percebo que os desejos foram sábios Souberam te escolher, sem ter adeus...
Reclino meu cansaço sobre ti, Deitado nos teus braços adormeço. E sinto tanto amor que não senti Amor que é bem maior do que mereço.
Nos olhos, as promessas se repetem, E formo em nossa cama, tantas tramas. Desejos, teus desejos se refletem Nos meus irradiando fortes chamas...
E nessa correnteza sem ter fim, Amor que tanto quis; encontro, enfim!
8
No meu triste lamento a minha dor! Retirante das secas do sertão, Procurei por destino cantador, Nas ruas desta vaga escuridão.
Espalhei meu cansaço e meu amor! As portas se fecharam, ouvi não! Teus passos nesta escada, um estertor... Nas cordas do meu pinho, solidão!
Infernos conheci, não faço cena... A porta que entreabri não mais fechei... As lutas que perdi foi contra o rei.
A morte sem sentidos nunca acena... No meu triste lamento que angustia... A luz que não recebo, foi meu dia... Marcos Loures
9
No meu toque mais suave Quero ser teu colibri, E na liberdade da ave Teu perfume encontro aqui.
Minha rosa predileta, Vou pousar um beijo em ti, Quem me dera ser poeta Pra dizer o que eu senti
Quando vi rosa bonita Nos jardins do coração Trazendo a sorte dileta
Neste aroma, a sedução Que bem sei que me completa E me inunda de paixão...
10
No meu sonho eternal, aroma da saudade... As rosas que plantei, se esquecem no jardim. Caminho todo branco, alvura e claridade. Amor que me maltrata, alma deste festim...
A noite cai, serena, a lua por vaidade Esconde com pavor, as marcas do alastrim. Pintarei minha tela em cores da falsidade, Meu paletó de linho, a saia de cetim...
Formamos par perfeito, audácia e solidão! Sua saia cetim, meu paletó de linho... Lua, no céu, brilhando... A noite, mansidão...
A triste serenata, as cordas do meu pinho... Bater acelerado, um vago coração. Meu sonho tão banal, perdi rumo e caminho... Marcos Loures
11
No meu jardim doente, poucas rosas Abertas no meu peito sem amor... Vencido pelas luas orgulhosas Esqueço que plantei semente e flor...
Jasmins com inefáveis tons de alvura E lírios esquecidos no jardim... O canto deste amor, viva ternura, Ressoa calmamente dentro em mim...
Que faço se não tenho mais as flores Que tanto procurei, felicidade... Assim também se foram meus amores, Restando disso tudo, uma saudade...
Saudade do jardim que não mais tenho, Em busca dos amores, sempre venho...
12
No meu imenso anseio em poder ter Carinhos desta flor lá do cerrado, Levando poesia ao me viver, Iluminando sempre o belo prado
E as sendas olorosas do meu ser Deixando um coração emocionado. Eu canto p’ra jamais ela esquecer: Só quero o seu prazer: apaixonado!
Esse perfume intenso, flor exala, Penetra nas narinas, coração. Adentra minha casa, toma a sala,
Aos poucos invadindo minha vida Tomando toda a forma de paixão, Minha alma transparente está vencida...
13
No meu cabelo ao vento, quero pente, Na minha mão sedenta, peço luva. Como é cruel sentir a dor de dente, Choveu mas esqueci meu guarda chuva...
Mordendo, teu veneno de serpente, Quando passas, renovas passas, uva... Como enxergo? Dos óculos és lente, Nas baladas, embala enquanto groova.
Nem versos meus, conversas jogo fora... Na partida parida pela guerra. Se tanto quis outrora, quero agora.
Não sei bem certo, tudo que me encerra. Só sei que no teu corpo – amada - aflora O templo mais gostoso desta terra...
14
No meu barco Procissão Muito ou parco... Coração
Seta e arco Direção... Novo marco: Solidão...
Cada vez Nada fez Sol e mar.
Quero o céu Ganho o véu Lupanar...
15
No mel de minha abelha, uma rainha, Lambuzo-me e não canso de beber. Sorvendo gota a gota com prazer, Meu corpo nos teus seios já se aninha.
Vencendo a solidão, que outrora eu tinha, Agora encontro em ti meu bem querer, Sabendo finalmente, o que é viver. Desnudos, tua pele junto à minha...
Assim em farto mel, doce licor, Loucuras, desvarios e venturas. Eu tenho tanto amor a te propor,
Tua nudez audaz, em minha cama, Imagens delicadas, esculturas; E a noite sem limite, assim se inflama... Marcos Loures
16
No mato me criei, sou como um bicho, Escondo meu olhar, olho pra baixo, Pescando lambari neste riacho, A perna se cobriu de carrapicho.
Não posso te dizer que amor é lixo, Nem mesmo bananeira que deu cacho, De amor, falando sério, eu não me empacho Nem quero discutir qualquer capricho.
Apenas vou vazar na braquiária, Deixar de ter segredos, ser mais ágil. Quem pensa que mulher é um ser frágil,
Não sabe desta vida quase nada. Quem acha que já viu alguma otária Sua alma com certeza anda penada... Marcos Loures
17
No mar tempestuoso deste amor, Naufrago meus desejos e delírios... Ao ver o teu olhar tão salvador, Esqueço das tormentas e martírios...
Nos cais em que pretendo meus navios, Encontro essa fartura que sonhara. Teus seios tão viçosos e macios, A boca que em desejo se prepara...
A dona dos meus sonhos, minha amada. Espero teu caminho junto ao meu. Que sabe se depois desta alvorada, Teu rumo dentro em mim já se prendeu...
Eu amo teu amor completamente, Amor que germinou, nossa semente...
18
No mar tempestuoso da emoção Eu busco em meu amor, uma paragem. Por tanta vez imerso na ilusão De ter a companhia pra viagem...
Vou esmo sem sentido e sem destino. Mas tenho uma esperança cobiçosa. De um dia, terminar o desatino E ter em nova vida, tua rosa.
Envolta nesta capa de prazer Loucuras maviosas, sensações, Eu quero mergulhar em teu viver E devorar extensas amplidões...
Quem sabe um novo canto mais sutil, Do gozo mais sublime e mais gentil.
19
No mar que mergulhaste, amada minha, Também eu me afoguei, longe da areia Esperando um afeto que não vinha Deitando meu amor na lua cheia
De toda esta esperança nada tive, Somente um verso triste em despedida, Minha alma de teu canto sobrevive, Tu foste todo o bem de minha vida.
Percebo que não viste o meu olhar Disperso procurando-te sem paz, Ao ver toda a grandeza deste mar, De ver meu sofrimento, foi capaz?
Estou aqui, sozinho sem ninguém, Te chamo a cada dia, amada... vem...
20
No mar imenso a voz que sei fatal, Rondando minha praia, invade a areia, E o mundo que eu sonhava, então mareia E sobra o teu sorriso, no final.
Mas vejo que talvez seja afinal A parte que me cabe, nunca cheia, Do fogo em brasa branda que incendeia E traz estrelas frias no bornal.
Eu te amo, não neguei teu aconchego, Regaços que buscara são mais frios. Esqueço, na verdade, quaisquer brios
E sigo lado a lado, mesmo cego. Assim depois de tanta tempestade, Talvez venha saber felicidade... Marcos Loures
21
No mar desta ilusão, amor naufraga, Deixando uma esperança como ilhoa. Ilhotas da ilusão na dura vaga Afundam a jangada, esta canoa. A vida tantas vezes vem e afaga, No fundo, mesmo assim, eu sei que é boa.
Petardos de esperanças salgam tudo, Vadio coração não tem segredos. O quanto que eu te quero, fico mudo, Ancoradouros sonhos, meus enredos, Nos quais eu com certeza inda me iludo, E bebo a tempestade destes medos.
Eu te amo e nada disso me interessa, Vem logo que o meu peito já tem pressa. Marcos Loures
22
No mar dessas tormentas, naufraguei Merencória tempestade fez estrago. O ramo da oliveira, nova lei, Me deste toda vida sem afago.
O caso que se encerra, formarei, Do cheiro que me esfregas, me embriago... Os versos que não fiz, escreverei, Não posso me esconder do teu embargo...
Coberto com teus olhos de verão, Na marca desse pênalti batido. Nunca vi nem jamais eles verão,
O mar atormentado foi meu mal, Não vasculhei sequer novo sentido, Teu beijo esparramado num jogral... Marcos Loures
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No manso transcorrer destes meus versos, Buscando a formosura divinal, Que corre, vaga solta, os universos Distantes deste amor, grande, abismal.
Eu sinto teu perfume que se espalha Em todas as estrelas, pirilampos... A dor duma saudade, qual navalha, Espalha quando estás longe dos campos
Por onde caminhávamos, querida. Em meio a tantas flores olorosas; Minha alma de tua alma, distraída, Encontra mais espinhos do que rosas...
E quero te inalar, meu louco vício. Amada, estás comigo, desd' início...
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No nosso leito cheio de ternura, Momentos divinais são costumeiros. Amada em teus carinhos u’a ventura. Tornando meus caminhos verdadeiros.
Sentindo teu perfume delicado, Desejo em tua boca e tua pele... Vivendo assim querida, apaixonado, Estar perto de ti, vida compele...
Eu quero teu amor por toda a vida, Em todos os momentos da existência. Na nossa cama, a dor tão esquecida, Transbordam o desejo, a paciência...
Sabendo que esse amor é nosso guia, A vida se transcorre em alegria...
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No nosso imenso amor cuidados ternos, Tomando as tuas mãos, tão delicadas. Trazendo nos meus cantos sem invernos As noites tão febris, apaixonadas... Nos sentimentos vivos, pois esternos, O gosto de alegrias bem marcadas Amores, amizades tão fraternos Carícias e palavras são trocadas... Teu nome me tocando, traz o vento, Falando deste amor que é tão sincero. Não deixo de querer um só momento... Fazendo do meu verso um instrumento Que toque teus ouvidos... Cedo espero, Pois saiba; não me sai do pensamento...
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No nada que seremos se tivéssemos Os rios esquecidos da saudade Vivendo o quão possível liberdade Deixando para trás os dias péssimos
Aceito teus carinhos e teus préstimos Trarão já com certeza a claridade. A vida ao permitir felicidade Virá trazendo o quanto que quiséssemos.
Arpoas com palavras o meu rumo E dele, transformando em novo prumo Permite que se beba todo o sumo
Do bem que se transborda e me perfumo Além do que desejo e que costumo Ascendo da emoção seu raro fumo...
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No jogo que se mostra tal delírio De risos e prazeres incontidos. Deixando bem distante algum martírio, Em ritos desejosos bem cumpridos.
Suores se misturam, danças, pernas. E assim vagamos loucos aprendizes Que querem suas noites mais eternas E nelas se entregarem tão felizes.
Ardências e fagulhas se espalhando Nas tramas envolventes sussurrantes Meus lábios na nudez irão tocando, Famintos, tresloucados viajantes
Até que a saciedade chegue logo, Vencendo os vencedores deste jogo... Marcos Loures
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No jogo que nos doma e sevicia Enlanguescente deusa em transparência Rolando em minha cama principia Incêndio delicado em rara ardência.
Tocando a maciez de tua pele, Percorro cada parte e sem descanso, A toda esta loucura amor compele Nas pernas confundidas, meu remanso.
Alcanço a liberdade em plenitude No orgástico caminho quer percorro, O gozo mais profano em atitude Trazendo à solidão, paz e socorro.
Assim enamorados sem juízo Encontro do teu lado o paraíso... Marcos Loures
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No jogo mais safado e tão gostoso, Brincar de esconde-esconde a noite inteira, Cavalgue este cavalo que fogoso, Galopa sem querer eira nem beira.
Tirando o meu sossego esta potranca, Requebra sobre mim e quer bem mais Seguro com firmeza pêlos e anca, Espalhas sobre a cama vendavais.
Bagunça o apartamento, quarto e sala, Fornalhas e lareiras acendidas, O corpo sem palavras, tudo fala Delícias e sevícias repartidas.
Até que estrelas venham num espasmo, Molhando a nossa cama em cada orgasmo.. Marcos Loures
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No jogo em que se mostra tal delírio De risos e prazeres incontidos. Deixando bem distante algum martírio, Em ritos desejosos bem cumpridos.
Suores se misturam, danças, pernas. E assim vagamos loucos aprendizes Que querem suas noites mais eternas E nelas se entregarem tão felizes.
Ardências e fagulhas se espalhando Nas tramas envolventes sussurrantes Meus lábios na nudez irão tocando, Famintos, tresloucados viajantes
Até que a saciedade chegue logo, Vencendo os vencedores deste jogo... Marcos Loures
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No jogo de encaixar, luxúria e gozo, Misturas que se fazem tão gostosas, No fogo sem limites, majestoso, As noites sempre são maravilhosas...
Rumando em tuas sendas, vou fogoso, Adoro quando em gritos, amor, gozas, O sexo nunca foi pecaminoso, Pois nele já se esbaldam flores, rosas...
Na taça de teu corpo vou beber Teus líquidos e mucos, doce fonte Aonde o mel escorre em profusão,
Mostrando imenso pote do prazer Alçando ao paraíso em bela ponte Formada pelos jogos do tesão...
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No jardim dos prazeres, gardenella Fazendo tempestade se alocou. Abrindo sorrateira esta janela O paraíso insano ela adentrou.
Agora bem piscosa se revela E mostra para quem já maltratou Que nossa sorte andando nas mãos dela Apenas o vazio ela deixou.
Querida, me permita que te fale Que tal destino enfim tem solução E nada disso faz com que me cale
Pois quero o teu amor com devoção Por certo um bom futuro neste vale Calando para sempre a podridão...
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No inverno servirá como farol Teu corpo incandescendo minha cama. Não quero em nossa vida qualquer drama A boca se prendendo neste anzol.
De todas as vontades sei o rol E nelas eu mergulho enquanto chama A vida desse jeito não reclama, Ninguém merece ser simples atol...
Nascendo pra brilhar e ser feliz, Vivendo este desejo amor nos diz Que tudo o quiser acaba sendo.
Não tendo mais segredos, sigo em frente, Enquanto amo nos toma de repente O medo vai distante, se perdendo. Marcos Loures
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No inútil turbilhão chamado vida, Esgueiro-me somente, frágil verme, A morte desnudando mostra a derme Minha esperança tola vai perdida.
Em pérfida ilusão busco a saída, Desenho o meu futuro, ser inerme. Se ao menos eu pudesse... Nego ver-me Apenas uma lápide esculpida.
Como epitáfio um verso sem sentido, Falando dos desejos e vontades, Retrato animalesco da libido.
Sorriso de ironia da pantera, Os sonhos pontuais, velhos confrades, Tornando mais agônica esta espera...
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No intento de ser livre, eu descobri Que a fonte da suprema liberdade Encontra-se no amor que é de verdade Vivendo cada instante, chego a ti.
No encanto fabuloso em que me vi Sentindo no teu corpo a claridade E a fúria do desejo que me invade Transporta em pensamento, estou aqui.
Do amor que nos conquista dia-a-dia E espalha nos meus olhos poesia Eu sinto que terei minha alma leve
Falar de quanto eu quero que tu venhas, Descubro teus caminhos, sei das senhas Na rota mais audaz, alma se atreve... Marcos Loures
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No infinito da estrela que descai Por sobre esta montanha tão distante, Eu vejo o teu olhar por um instante, Saudade num momento já me trai.
Encanto sem igual, quando se esvai, Deixando um sofrimento inebriante, Quem dera se eu tivesse o deslumbrante Caminho que perdi, mas jamais sai...
A vida se tornando então um risco, Amor um passarinho mais arisco Já sabe das temíveis armadilhas.
Depois que tu te foste, nunca mais, Encontro tão somente os vendavais E as dores se aproximam, vis matilhas... Marcos Loures
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No imenso mar do amor mergulho cada sonho Meu barco em teu abraço encontra um manso cais. O tempo de viver é sempre tão risonho E tens a minha boca o quanto desejais.
A vida em tuas mãos, num átimo eu ponho E sinto esta presença em toques sensuais Roçando a minha pele, amor eu já proponho Fazendo de teu corpo insanas catedrais.
Mergulho neste mar sem medo e sem pudores Seguindo este astrolábio aonde tu quiseres Nos lábios eu me perco e encontro o paraíso.
Colhendo em teu jardim as mais divinas flores Tu és, querido amor, mulher entre as mulheres Se a perfeição existe, em ti eu a diviso...
38
No imenso mar de amor Eu te encontrei querida, Sentir o teu calor, Beber de tua vida,
Sorvendo sem pudor Encontro esta saída, Do sonho encantador Que até meu Deus duvida.
Felicidade existe, Eu sei bem disto agora, Quem fora outrora triste,
Já nem ao menos chora, A sorte enfim resiste E surge sem demora.... Marcos Loures
39
No idioma universal, tanto prazer De línguas mais audazes e felizes, O quanto de loucura possa ter Na trama em farta chama sem deslizes.
Nem sei mais quantas vezes, perco a conta, Em múltiplos orgasmos repartidos, A lua ao ver tal cena, fica tonta Os medos e os temores são vencidos.
No orvalho matinal, se recomeça O jogo em que me dou extasiado, As roupas arrancadas peça a peça Provoco e ao mesmo tempo provocado
Tempesta feita em raios, relampejos Deságuo nos teus cios, meus desejos Marcos Loure
40
No gume penetrante de um punhal, Selada a sua sorte em dor tamanha, A noite que passara, sem igual, No vento desairoso em que se banha
O sonho mais cativo e sensual, Voando para além de uma montanha, Trazendo uma ilusão em festival, A sorte já perdida, não se ganha.
Porém encontrará em braço amigo, Aporte que permita prosseguir. O frio em solidão se aquece assim,
Também eu me encontrei em desabrigo, Até que um dia, pude então sorrir, E a dor, triste quimera, teve fim...
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No grito ou em concórdia a vida avança, Melhor se tu topasses vir comigo. Também se não quiseres? Nem mais ligo, Deixei de ter amor como esperança.
A força que se mostra em confiança Enfrenta sem temor qualquer perigo, Mas quando o tempo passa e traz consigo Apenas o que sobra na lembrança?
Desculpe se eu estou acostumado A mimos e palavras mais sutis. Resumo o que vivemos no passado
Em frases e promessas doidivanas Enquanto vou dizendo: sou feliz, Bem sei que mais marota, tu me enganas... Marcos Loures
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No gozo que se dá farto e amiúde, Certeza de poder ser mais feliz. Nem mesmo uma saudade contradiz O bem que nos tomando em atitude
Expressa o renovar da juventude Deixando bem distante um céu tão gris. A sorte muitas vezes, velha atriz Permite que esse sonho se transmude.
Porém uma certeza fortifica, O sonho que somente amor explica Gerando a fortaleza em nossa mente.
A boca que se dá em mansidão Mostrando com certeza a direção Deitando nos teus braços, tenramente. Marcos Loures
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No gozo que se dá eu me completo E bebo até fartar-me, esta aguardente. À vida neste instante em tom dileto Mergulho sem limites, totalmente.
Olhando para trás é que se sabe O quanto que eu errei, quantas mentiras. Além do que decerto inda me cabe Às vezes cruelmente tu atiras
Verdades que maltratam. Tal tolice Provoca num momento, uma implosão Eu sei que insanamente eu já desdisse Causando em mal estar, revolução.
Porém numa presença assaz querida, Amor vai transformando a minha vida.
44
No gozo que em amor se traduzia Eu me inebriarei a vida inteira A cada amanhecer em poesia A sorte em maravilha que se queira
Eu vejo o meu caminho em paz, liberto Seguindo passo a passo tua senda. E quando em alegrias eu desperto Segredos desta vida, amor desvenda.
Imantados seguimos sem temores Amor feito um termômetro nos diz De sonhos delicados, multicores, Deixando bem distantes sonhos gris.
A dor que agrisalhara vai embora Enquanto esta emoção suprema aflora... Marcos Loures
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No gozo proibido da maçã, Orgias e loucuras, mil luxúrias, Deitando no teu corpo meu afã, Decifro teus sinais, delícias, fúrias.
Benditas maldições toda manhã Cobrindo os corpos nus, tantas incúrias Sem medo do pecado, com élan Mandamos para a merda as podres Cúrias.
Na convulsão orgástica, delírios, Na profusão profética dos círios Mandamos para as favas, celibatos.
E a chama que incendeia traz o aviso Que o gozo nos levando ao paraíso Permite ver dos deuses seus retratos..
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No gozo premedito todo alento Vivendo o que mais quero do teu lado, Tocado pelo intenso sentimento, Seguindo a cada dia apaixonado,
Não deixo de lembrar um só momento, Sorriso tão gostoso que foi dado, Por quem tomando todo o pensamento, Apascentando a dor do meu passado,
Já sabe onde alegria, enfim se esconde, E as chaves do meu peito, quando e onde. A boca que deseja ser beijada
Doce umidade feita em fogo e mel, Por sobre o paraíso, um tênue véu Desnuda em minha cama, deusa e fada... Marcos Loures
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No gozo mais audaz, divina foz O brilho que se mostra encantador, O tempo que se fora amargo algoz Agora se entregando ao bem do amor.
Na ponta dos meus dedos, luz intensa Permite que se possa conduzir Felicidade, maga recompensa Eternamente sonho a reluzir.
Vencendo os meus temores mais antigos, A velha lamparina a querosene Em braços e carinhos tão amigos Permite que em potência já se acene
O raio deslumbrante de um farol, Tomando a nossa vida como um sol.. Marcos Loures
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No gozo inesquecível, nosso afã Metaforicamente sou só teu. O quanto tanto amor nos concedeu Mergulho sem limites na manhã.
O gosto desejoso da maçã No corpo que se entrega inteiro; ateu Há tanto que meu medo já venceu Que nada impedirá loucura sã;
Assanhas a vontade de poder Chegar e mansamente converter A noite em chama intensa, fogaréu.
Tomara que este tempo se eternize, Amor quando demais nega um deslize Supera uma amargura e trama o mel...
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No gozo do desejo, aborta a mágoa O verso ensandecido que permite Estende sobre nós calor e frágua Deflagra uma explosão já sem limite.
Jazendo toda a dor que um dia eu tive Asperge com hissope, o meu canteiro. Um helianto em paz agora vive Bebendo o lume intenso e verdadeiro
Apátrida emoção tomando o globo, Permite que o rebanho siga em paz. Amor apascentando o fero lobo, Esplêndido raiar a todos traz.
Jamais, deste caminho, que eu me afaste, Apóia cada passo, dourada haste... Marcos Loures
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No gozo deste amor, sinto vertendo Em fozes tão diversas, sentimentos; Ternuras e carinhos: condimentos, Aos quais não faço algum, sequer, adendo
Quereres e vontades me envolvendo, A vida se permite aos meus intentos E prometendo assim novos inventos Alentos em delírios; sempre tendo.
Recolho meus pedaços e refaço De tudo o que eu perdera, trama e laço Regaços em palavras carinhosas.
Levando desde agora a paz suprema De quem não tendo à vista algum problema Imagens em delícias graciosas... Marcos Loures
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No gozo de sentir o teu prazer Roçando em minha pele, fúria intensa. No corpo insanidade em recompensa Orgástica loucura a percorrer
Caminhos onde sempre se convença Da imensa sensação de te saber Deitada sobre a seta audaz e tensa, Na fonte desejosa me embeber...
Requebros e meneios sensuais, Querendo repetir e sempre mais Na inesgotável noite em vendaval
Nos cios misturados a promessa Das sábias conjunções que sem ter pressa Permitem explosão celestial... Marcos Loures
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No gozo da vontade mais profana Desejo tua boca tão sacana Vontade que se mostra soberana Quem sabe colhe já e não se engana.
Benesses de minha alma que é cigana Sagrando esta loucura tão temprana Distância se tornando desumana Loucura que em meu verso assim se explana.
Querendo o teu prazer junto comigo, Na loca divinal audaz abrigo Do gozo sensual que assim persigo
Descendo minha boca pelo umbigo Encontro em cada curva um nobre artigo Na orgástica emoção, eu vou contigo...
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No gosto verdadeiro desta lua, A marca da pantera traz o mote, Ato vai repetido, sei atua, No verão mais sedento sem o pote...
Sou de terras mineiras, em Papua, Encontrei cavalgando, fui a trote, No calor do deserto tanto sua, Que tirei paletó, calça e culote...
Envernizei meus lumes e solfejos, Vagando o trem, na curva sem vacilo. A morte tem, trancados, seus desejos...
De corte, bala, câncer ou bacilo, No pé da Minas, quero novos queijos, Para poder viver bem mais tranqüilo...
54
No gosto desta boca viperina Furores, histerias, convulsões, Na chaga que se fez intra-uterina A linfa se esparrama aos borbotões.
Tua presença amarga e tão ferina Veneno em que se encharcam multidões Disforme, placentária e feminina Profanas quem se entrega nas paixões.
A tua cusparada em minha cara, Custou-me um velho sonho, ser feliz. Tua alma apodrecida em tanta escara
Escória do que um dia pensei fêmea. Porém te analisando, algo me diz Que eu encontrei enfim, minha alma gêmea...
55
No gosto da garapa, doce mel, Roubado em tua boca, minha amada, Certeza de planar livre no céu, Com gosto de vitória conquistada,
Há muito desejava ter teu véu Cobrindo minha face, extasiada, Poder ser, com certeza teu corcel, Voando nesta noite iluminada
Por sol de raro brilho, forte e denso, No avanço diuturno, calmamente, Se sempre em teu carinho, amor eu penso
Valeu toda esta luta que travei, Agora estamos juntos plenamente, Do jeito que eu queria e que sonhei....
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No glúteo da morena, a poesia. Nos seios da mulata, arquitetura Nas coxas da lourinha, a partitura A fonte em que a cultura, já se cria.
Eu finjo que esqueci ou não sabia Que aonde está doença não há cura Minha alma salafrária se emoldura Na bunda redentora, a fantasia.
Agônico portal de belos vates, Apenas, mal cerzidos arremates Fazendo de um engodo, profissão.
Quebrando, com tesão, meu velho espelho, Invejo, na verdade o tal coelho De areia movediça é feito o chão...
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“No girar da coroa, a liberdade”, Desfilando esperanças na avenida... Dando um sentido bem maior à vida, Consegues traduzir felicidade...
No teu canto, vivendo essa igualdade, Trazendo o grito duma raça, lida Com nossos sentimentos, sentida A força, continente em unidade...
No Boulevard dos sonhos, é o céu. Levitas poesias de Noel, Não queres abafar, assim desfila
Minha maravilhosa escola, Vila; Em teus passistas, tu destilas mel... É tão bom te cantar Vila Isabel...
58
No gesto mais altivo e soberano, Profícuas emoções levo comigo, Ao ver em cada esquina o desumano Poder que já sonega o vento amigo.
Tecendo no meu íntimo outro plano, Buscando a calmaria que persigo, A cada semeadura, amor eu grano, Colhendo a placidez irei contigo
À mais perfeita senda, a que permita Roubar da fantasia esta pepita Que forja um cristalino amanhecer.
Revoltas, estas ondas vão à areia Deitadas sob a luz da lua cheia Molduram o país que eu quero ver... Marcos Loures
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No fundo eu me envergonho do que escrevo, São frases e palavras sem sentido. Inúteis emoções que assim divido, Embora o coração grite: não devo.
O amor um sentimento tão longevo Renasce a cada sonho amanhecido, Por Deus e pelo Demo foi ungido Inigualável curva após um trevo
Cadáveres carrego no meu peito, Insepultos fantasmas do que fui, E enquanto a fantasia ainda flui
Não posso me sentir tão satisfeito. Avesso a tantas pontes e lombadas, Insisto nestas velhas, vis estradas...
60
No fundo do oceano revoltoso, Serpentes, calabares tão terríveis Abismo tão profundo, tenebroso. Gigantes monstruosos, invencíveis!
Tanto brilho estrelar, misterioso, Dos peixes abissais, seres incríveis! Caminham quais cometas! Glorioso Mar de fantasmagóricos desníveis...
Céus de estrelas diversas, tão gigantes... Nas luzes de cometas e quasares, Universos de cores radiantes!
Amor, no sentimento delirante, Amantes se iluminam nos luares... E Berta, gloriosa e tão brilhante...
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No frio desta noite que adormeço Eu quero o teu calor, querida prenda. Mistérios que somente amor desvenda E aos sonhos e vontades, obedeço.
Distante de teu corpo, um endereço Longínquo, percorrendo longa senda Amor que tanto anseio, simples lenda? Não quero tão somente o teu apreço.
Aqui destas montanhas vejo o mar Aonde costumavas passear, Beleza que se mostra em alva areia...
Da moça que tão guapa enfim, me encanta O verso tão divino que assim canta Trazendo todo encanto de sereia...
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No lucro sairei se houver perdão A todos os meus erros e pecados, Desterros de minha alma, da emoção Eu faço belos brindes disfarçados
Não tendo na verdade algum senão Agindo sem pensar, trago recados Dos dias que vivi sem direção Bebendo estes licores estragados.
Se o estrado desta cama está puído, O sonho que encontra destruído Ungido pela mão de quem sonega,
Esqueço o que talvez fosse mais fácil Deitar no abraço manso, calmo e grácil Da moça que me mira, quase cega...
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No fogo dos prazeres, me acalmar; E neste paradoxo sigo a vida, Decifro os teus sinais, adentro o mar Não deixo mais que venha a despedida.
Acerco-me de ti a cada instante Meu karma delicado e tão gostoso, Teu corpo já desnudo e provocante Convoca para a festa feita em gozo.
Amor não se comenta em bastidores Apenas vivencia nossos sonhos. Aonde tu quiseres como fores Momentos mais felizes e risonhos,
Do jeito e da maneira que puder, A caça que se faz quando bem quer. Marcos Loures
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No fogo deste amor que tanto queima Prazeres e desejos, dor, tristeza, Na persistência intensa, tanta teima, A recompensa imensa, com certeza.
Na paz que me angustia, o riso dói, No toque corrosivo, sou feliz. Arquitetonicamente destrói Fazendo assim, de mim, tudo o que eu quis.
É fera carinhosa que me beija Com garras afiadas, me tatua. É dor silenciosa que troveja Pesando em minhas costas, já flutua.
Envolto nos teus braços de mulher Ele faz de mim tudo o que quiser. Marcos Loures
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No fogo desta flama eu me incendeio Vontade de poder te dar prazer, Lambendo com ternura cada seio, Depois, vou mansamente te fuder.
Sugar o teu grelinho tão gostoso, Fazendo desta grota o meu altar Recebo com volúpia intenso gozo, Sentindo no meu rosto derramar
A lava que me encharca de desejos, Tocando com meus dedos, tuas furnas, Acendo estas fogueiras com meus beijos E encharco em gozo e porra, mil ternuras.
Nas grutas as delícias desfrutadas, Nas ânsias dos prazeres, penetradas...
Marcos Loures
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No fogo de um amor, em brasa pura, Queimando sem pedir sequer licença, Vencendo qualquer toque de amargura Fazendo com que a vida nos convença
De todo este valor de uma ternura. Amar é receber a recompensa Em forma de carinho e de brandura, Além, mas muito além do que se pensa...
Tomar-te em minhas mãos, te ter inteira, Beleza de uma flor em todo o viço. Te quero, minha amada companheira,
Tu sabes que me envolves com magia, Entregue ao louco amor, nosso feitiço, Renasço para a vida em alegria...
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No fogo colossal de tuas ancas, Balanças meus olhares, perco o rumo. As noites que passei sozinho, brancas, Depois que enfim te vi, ganham aprumo.
As mãos que, viajantes seguem francas, Espremem da maçã perfeito sumo, E mansamente, meiga, quando espancas, Prazeres mais airosos sobem, fumo...
Menina me ninaste e me enganaste, Serenamente engoles, presas, fera. O amor que não desnuda não se gera,
A dor do teu legado faz contraste, Amantes tresloucados... quem me dera... Nas ancas que rebolas? Me mataste!
Marcos Loures
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No fio da navalha, fria espada A vida não permite uma esperança, A terra tantas vezes maltratada, Aguarda tão somente esta aliança Que possa enfim conter a derrocada, Enquanto a luz divina nos alcança.
Assim, no bem do amor e da amizade, Eu creio ser possível caminhar, Sabendo desfrutar a liberdade Alçando num momento este luar Que traz a todos nós, a claridade, E mostra como é bom poder amar.
Sem ele com a amargura me tomando, Aos poucos, meu castelo desabando...
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No espelho d’água, os olhos cristalinos Transportam para a Terra, mil estrelas, Olhando para ti eu posso vê-las Numa expressão de sonhos, desatinos...
Quais fossem diamantes raros, finos, Mirando com carinho tu revelas Imagens tão sublimes, as mais belas Que viram meus olhares peregrinos.
Enquanto neste lago, a placidez Reflete a mais perfeita limpidez, Mergulho meus desejos, sem temor.
Seguindo cada rastro, um girassol Encontra em teu olhar, claro farol Que espalha em noite imensa, intenso amor... Marcos Loures
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No esboço do que fui, o sentimento Expressa este vazio dentro em mim. O olhar outrora vivo, hoje sangrento, Morrendo cada flor, perco o jardim.
Por vezes algum sonho ainda tento, Mas sinto vir chegando o triste fim; Amor adormecido no relento, Nos olhos o vermelho diz do gim.
Nas brumas em que cego e vão, mergulho, A morte vejo vindo e sem barulho Apenas me entregando aos seus caprichos.
Dos vermes que me beijam, podres nichos Traduzem o que espero aqui calado. As sombras me rodeiam. Do passado... Marcos Loures
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No entardecer de abril, em pleno outono, Em multicores sendas, quente e frio, Depois do prolongado e duro estio, Nas glebas da tristeza em abandono...
Do sonho mais profícuo, imenso sono, O coração se eleva do vazio E enquanto a solução eu penso e crio As vestes que sufocam; abandono...
E creio que talvez reste uma chance De ter além do quando a vista alcance Pomares encharcados desta fruta
Que tanto imaginei, delícia e sumo, Após o temporal, teimoso, aprumo E o velho timoneiro ainda luta...
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No enredo deste abraço, a moça dança, Piando um bem-te-vi de galho em galho, O quanto se trafica na lembrança Embora mesmo rude, eu te agasalho.
Se eu falho ou se remendo, vou à luta Amanhecendo, cede este carinho. Na rede, às vezes mansa outra mais bruta Astuta ela me nega colo e ninho.
Retrato em sobressalto na parede, A grama serve mesmo de colchão; Na sede deste sonho, esteira ou rede A sede se matando lama ou chão.
Deitada junto a mim as pernas bambas, As bocas, duas mágicas mocambas. Marcos Loures
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No enfado de buscar e nada ter. Esparramo meus olhos pelas ruas E vejo estas verdades duras, cruas, Do tempo que perdi por só querer
As rotas mendicantes do prazer Tocado pelas peles loucas, nuas, Riscando do meu céu as veras luas, Estive tantas vezes sem saber
Em vastas amplidões do imenso nada, Fazendo da ilusão uma escalada Na busca tão inglória em fantasia;
Eu me esqueci das minhas primaveras Jogando o coração às frias feras, Na caça que se faz a cada dia. Marcos Loures
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No encanto tropical; marinhos sonhos, Corsário invadindo costas, saques. Navios e gaivotas, céus risonhos, Beleza sem igual dos atabaques.
Bandidos disfarçados rasgam fraques, Os olhos do passado são medonhos. Nas Guerras e batalhas, nos ataques, Os dias não seriam tão tristonhos.
Banidos pelos ventos e tempestas, Os barcos naufragando em outro cais. Sereias e coqueiros, vendavais,
As noites sob a lua pedem festas, Morenas desfilando, carnaval, Sangrias no Eldorado Tropical...
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No encanto da amizade, extasiado, Prossigo par a par pura emoção Entenda, por favor este recado Que chega a maltratar meu coração.
Carrego junto a mim este legado Solfejo com ternura uma canção Que mostre este destino bem traçado Nas penas delicadas da ilusão.
Verões que não verás de forma alguma Dos mares que se entornam numa espuma O canto derradeiro em poesia.
Do que jamais pensei que conhecera Respostas que negara a besta fera Quem sabe esta amizade me diria Marcos Loures
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No encanto a deus amor glorificado. Palavras com destreza corajosas Do sonho de te ter, determinado, Reféns das emoções maravilhosas,
Depois de tantos erros, no passado, Aprendo a cultivar perfeitas rosas, E alçando este infinito, vou ao lado Das asas deste amor, sempre formosas.
E a voz que me ordenando, eu obedeço, Imerso na paixão, não sei tropeço Seguindo em mansidão a correnteza
Vibrando esta alegria de poder Sentir o que este amor já quer dizer Trazendo para nós a fortaleza... Marcos Loures
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No embalo deste sonho, dança e festa, Rasgando a fantasia, noite afora; O amor que em harmonia se decora, Felicidade intensa sempre atesta.
De todas melodias, eu quero esta Que possa permitir e diz agora, Matando uma tristeza sem demora Na perfeição sublime em que se gesta.
A vida se fazendo em tal desejo, Vontade pela qual quero e pelejo Deixando para trás qualquer bobagem
Amor que nos tocando se revela Entorna em nossa vida esta aquarela Tornando tão sublime, a paisagem... Marcos Loures
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No dia-a-dia a vida tanto mente Que ninguém pode ter total certeza Do que enfrentando assim, diariamente Não trague no final qualquer surpresa.
Vencer a tempestade calmamente Depois seguir conforme a correnteza. Não quer ser a fera, minha gente, Também eu não desejo ser a presa.
Cansado de colher hipocrisia Eu tento cultivar a fantasia Durante o temporal, servir de abrigo
A quem procura um braço mais amigo, Safando-se decerto do perigo, Usando como uma arma a poesia... Marcos Loures
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No dia em que nasceste, minha amiga A festa lá no céu foi magistral, É claro que este amor fenomenal Que trazes e com ele nos abriga
Permite então que a gente já prossiga Caminho benfazejo e sem igual De um mundo que queremos afinal, Aonde uma amizade seja a viga.
No teu aniversário posso ver Toda a bondade imensa deste Deus Que a todos pode a glória conceder
Sabendo da importância da alegria Emanando dos olhos, desde os céus Dourou o mundo inteiro neste dia... Marcos Loures
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No dia em que chegaste, de mansinho, Jamais eu pensaria ser possível Viver tal fantasia, amor incrível Vencendo a solidão, dourando o ninho.
Distante dos teus braços me definho, E morro sem saber, sem combustível Meu barco se perdendo, perecível Bisonhas emoções pedem carinho...
Aguando com palavras mais gentis Do amor que tanto quero e peço bis Metade do que sou eu devo a ti.
Mulher que enluarando minha vida Imagem no meu peito refletida Traduz o que melhor eu conheci.,, Marcos Loures
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No deslizar de mãos que se procuram, Em busca dos prazeres mais intensos Os lábios se mordendo se torturam E os corpos vão ficando duros, tensos... Eu vejo o teu desejo transbordando Em loucas sensações de fuga e presa. Meus olhos em teus olhos vão girando, A noite se promete; forte e tesa. Singrando por teus mares, perco o rumo E morro no teu cais, mais delicado, Bebendo um caudaloso e quente sumo, Depois desta epopéia, extasiado, Onde cansado, exausto, eu me domino Adormecendo manso, qual menino...
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No descanso dos braços dessa amada, Coração encontrando seu sacrário... A lua que transforma a madrugada, Na busca desse tom imaginário,
Reflete tantas cores na calçada... Pavor que desse amor é qual falsário, Expressa a solidão angustiada... O vento, que transmuda esse cenário (Rajando, traz consigo a dura estrada.)
Meus versos ressoando mocidade, Espraiam-se teimosos e vazios. Quem fora desse amor, futilidade,
Espera tantas coisas impossíveis. Meus olhos embaçados e vadios, Nas dores dos amores, impassíveis... Marcos Loures
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No corte prometido, foice e faca A pele se esgarçando nos desnuda, Por mais que a fantasia nos acuda Uma esperança estúpida se empaca.
Carrega meu cadáver, fria maca A lança deste amor, pontiaguda, Aos poucos o destino se transmuda E a vida se tornando mais opaca.
O amor não me salvando, seiva exposta Imagem que eu sonhara decomposta, Redunda na ansiedade que me trai.
Do tanto que busquei, nada colhendo, O fruto sem juízo apodrecendo A máscara intragável, logo cai... Marcos Loures
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No corte mais profundo e mais sincero, O veio percorrido pelo sonho. Enquanto a fantasia inda proponho, A dura realidade é o que eu espero.
O beijo da terrível solidão, Roçando cada lábio não permite, Que amor seja irreal e sem limite, Mergulho sem defesas na amplidão.
Nas tramas deste insano eu me perdi, Raiando a madrugada em treva e luz. Cenário tão complexo reproduz
Adentra mil espelhos, chega a ti. E volto ao mesmo corte em cicatriz, E penso, tolamente ser feliz...
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No corte mais profundo da navalha, Nas trevas que surgiram neste céu, A vida sendo um campo de batalha, Uma amizade mostra-se qual mel,
Adoça simplesmente quem batalha E torna este viver menos cruel, Nos braços carinhosos se agasalha Trazendo a divindade em seu papel.
Enquanto uma esperança resistir Deixando o sofrimento para trás, O vento da amizade sempre traz
A força que ninguém vai impedir. Tornando na verdade mais capaz Aquele que aprendeu a repartir...
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No corpo moreno Menina bonita Em doce veneno Minha alma se agita
Seguindo um aceno Mais forte já grita Amor vive pleno Na luz infinita
Eu quero brincar Por noites afora Seguindo teu mar,
Sem tempo, sem hora, Vivendo a te amar, Amada senhora... Marcos Loures
87
No corpo levemente longilíneo Pretendo aprofundar minhas raízes Tornando velhos dias mais felizes, Amor que sei assim, forte, sanguíneo...
Teu corpo delicado e curvilíneo Provoca em meu amor, novos matizes. Quem sabe sanarei as cicatrizes Bebendo o teu desejo retilíneo.
Aos poucos não consigo conceber Sem gozo, sem vontade de viver, Perdido em multidão, sem teus segredos.
Eu quero navegar em mar sereno, Mas tomo desta boca o teu veneno E sinto em teu amor, antigos medos...
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No corpo da mulher; beleza e graça Em sutis sensações doce delírio. A mão que me acarinha e que me abraça Impede em minha vida algum martírio.
Estradas que procuro em noite imensa, Vestígios espalhados pelo chão. Amor desafiando qualquer crença Permite a mais sublime louvação.
No ser que se fez deusa enquanto Musa, Segredos desvendados, sonhos feitos. Do gozo imaginável, amor abusa E come sem limite tais confeitos.
Esplêndida manhã que se anuncia Impávida impressão de calmaria... Marcos Loures
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No corpo da morena porco espinho, A pele arrepiada em cada gozo, Esculpindo loucuras no carinho Carpindo o nosso amor ferruginoso.
Enaltecendo enquanto desalinho, Eu busco os teus prazeres e andrajoso Escarro sem fazer nem burburinho Tu és do Garantido, eu Caprichoso.
Macacos que nos mordam, desdentados, Os dias que tivemos mal passados Não servem pra desculpas, eu garanto.
Das chácaras dos sonhos, plantação Sorvendo tão somente a podridão Que um dia se fez nossa. Pobre canto.... Marcos Loures
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No corpo amorenado da princesa A diva sertaneja acaboclada Paisagem tão divina anunciada Delícias em fartura em minha mesa
A boca tão carnuda dá certeza Da fome tantas vezes saciada. A lua se deitando extasiada Derrama farto lume, prateada
O sumo desta fruta, na saliva Mantendo esta vontade sempre viva Viçando cada flor do meu desejo.
Bebendo até fartar e sem pudor A cada gozo pleno, vencedor Encontro o Paraíso que eu almejo...
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No coração amigo, uma bondade Sincera que me deixa satisfeito, Quem dera fosse assim humanidade, O mundo poderia ter um jeito.
Trazendo para todos; liberdade, Tocando bem mais fundo o nosso peito, A calmaria encontro enquanto deito Olhar que é feito em paz, tranqüilidade.
Mostrando ser possível a alegria, Raiando em claridade, um belo dia. A mão que nos protege e nos abriga
São poucas as pessoas que eu conheço Capazes de amparar-nos num tropeço Tu tens este poder, querida amiga. Marcos Loures
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No copo de café que bebo agora As xícaras dos sonhos espalhadas. Se a chuva cai ou faz calor lá fora As bocas que mordiscam matam fadas.
O mar de quem na praia se demora Em ondas mais diversas afloradas A noite quando em brilhos comemora Permite incandescências nas estradas
Sou beijo, mas sobejo não te alcanço Remanso que procuro em teu desejo. Se avanço no final te tenho manso.
O quanto teu prazer no fim almejo, Mostrando a sorte imensa em tal ensejo Depois da fantasia, o meu descanso...
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No formidável mar meu barco eu ponho, Distante dos naufrágios e quimeras, Outrora um navegante tão tristonho Exposto às solidões, temíveis feras,
Agora ao descobrir tuas veredas Não vejo outro tesouro entranho esta ilha. Na busca deste gozo que concedas, Gerando tão somente a maravilha
De ser e de poder estar contigo, O tempo que me resta, solto ao vento, Em ti encontro a paz, calor e abrigo, Não tenho outro caminho ou pensamento.
Bebendo desta fonte inebriante, Eu quero mais agora e a cada instante...
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No fogo que se entranha em noites mansas As hóstias consagradas não dominam As bocas que aos prazeres se destinam, Atando com firmeza as alianças.
Refém desta loucura quando avanças, Rocios desejados sempre minam, As dores e os temores se exterminam Promessas de delírios e festanças.
Ao passar da noite, nada além Do gozo delicado que convém A quem se decifrando quer bem mais.
Tu foste todo o sonho que busquei, Fazendo da alegria, norma e lei, Requebros e volteios sensuais... Marcos Loures
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No fogo que nos toma, vou guloso, Teu macho te provoca, e te sacia. Eu quero ter comigo cada gozo Esporros e teus méis, santa e vadia.
Fazendo nos teus peitos, espanhola, Uma chuva dourada sobre mim, Caralho no teu rabo até se esfola Defloro cada flor deste jardim.
Te fodo e tu me engoles sem pudores Num cio que não cessa, noite afora. Sentindo teus desejos, quero agora
Do jeito e da maneira que tu fores, Irei contigo puta e soberana, Rainha, uma bacante mais sacana...
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No fogo que nos queima, o do desejo, Ardências fabulosas prometidas, No gozo mais sublime que prevejo As sendas mais audazes percorridas.
Não quero tão somente este lampejo, Unamos com prazeres, nossas vidas. Tu tens toda delícia que eu almejo, Em mãos que se procuram distraídas...
Perversos, os teus lábios que passeiam Roçando minha pele em arrepios. Deixando que anteveja teus rocios,
Nas chamas que em nós dois; tanto incendeiam, Labaredas imensas, fogaréu, Levando, em mil orgasmos, para o céu! Marcos Loures
97
No fogo que me queima Prazer em tez morena, Amor que tanto teima, Decerto o gozo acena.
Eu quero o paladar Da boca feita em mel, Entrando devagar, Adentro inteiro o céu.
Na toca melindrosa, As águas/cachoeira, Beleza cor de rosa, Eu quero sempre inteira,
Menina em teu amor, Colhendo cada flor...
98
No fogo que me faz calmo e contente Acendo o meu sorriso, e vou à plena. Contagiando assim, toda essa gente, A vida pode ser bem mais amena. O quanto que plantei, amor pressente Vivendo a noite clara e tão serena.
Não vejo mais sequer velhas fronteiras, Andamos pareados pela vida. As horas vão passando mais ligeiras, A solidão agora anda perdida, Couraças que criamos mais guerreiras Protegem contra a dor, trauma ou ferida.
Espalhas pelas noites fluorescências Calando as mais temíveis penitências... Marcos Loures
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No campo de meus sonhos, farta alvura Espalhando belezas entre as sendas. Amor vai prosseguindo sem emendas Nos laços generosos da ternura.
Não tendo mais notícias de tortura Espero que este amor; logo desvendas, Permita se realize velhas lendas, Tornando o nosso céu pleno em brandura.
Acuro meus sentidos, vou em frente Não tendo o que temer, nada detém O coração que é feito em tanta paz.
Por mais que uma tristeza ainda tente, Sabendo que encontrei, enfim, alguém, Somente uma bonança, a vida traz... Marcos Loures
10700
No caminho essas urzes, azevinhos... Saudade, versos tristes e malditos! Amargo chimarrão, sangüíneos vinhos... Nas noites minuanas tensos gritos.
Chibatadas cortando meus caminhos, Tantas prendas e chinas, tantos ritos. Na pelea da vida, descaminhos... Os gritos do Negrinho são aflitos!
Bombachas destruídas pelos ventos, Má sorte perseguindo quem lutava Os olhos desses pampas, sentimentos
Nas gurias que nunca mais voltaram A noite maltratante se gelava, Nos caminhos as pedras se encontraram... Marcos Loures
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