
MEUS SONETOS VOLUME 103
Data 22/12/2010 16:50:32 | Tópico: Sonetos
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101
As esperanças abrem suas asas Abarcam ilusões que inda carrego, E mesmo que pareça surdo e cego, Caminho sem temor por sobre brasas.
Olhando aqui de cima, vejo as casas, E mares sem fronteiras que navego, O tempo nestes sonhos, eu emprego, Mergulhando em piscinas sempre rasas...
Quebrando a minha cara vez em quando, Fazendo da emoção, minha senhora, A sorte se esfumaça e já demora,
Enquanto o meu castelo desabando Prepara para o fim, num terremoto, E o amor vai se tornando mais remoto...
102
Descora-se a esperança, verde claro, Nesta aquarela resta a negritude, Enquanto não mudarmos de atitude, Felicidade é um dom ausente ou raro.
Usando cada verso, hoje declaro, Que mesmo que o cenário ainda mude, O coração humano, sendo rude, Prepara tão somente o desamparo.
Vagando pelas ruas, velhas gralhas, Carcomidas crianças, toscas tralhas, Nas mãos dos idiotas e canalhas,
Enquanto nas esquinas, as navalhas, Cometendo de novo antigas falhas, Cobrindo a humanidade toscas malhas...
103
A humanidade mostra em sua história Que os erros se repetem e o poder Trazendo ao vencedor intensa glória Ao derrotado traz duro sofrer.
Assim imagem tosca e merencória, Que a todo instante sempre posso ver Divide a sociedade e tem na escória A grande maioria a apodrecer;
Porém nada pior que a ditadura, No absolutismo a morte do pensar, A mão que traz a rosa com brandura
Exposta às vis correntes, velha cruz. Por isso, vejo a luz a libertar Emanada dos olhos de Jesus...
104
Ao ler este diálogo percebo Que tudo nesta vida é perecível, O amor que não podia nem concebo, Escreve seu final de modo incrível;
A moça necessita do mancebo, O canto do desejo é sempre audível, E desta realidade eu também bebo Meu coração também é corruptível.
Bastando um bom molejo nos quadris, E o riso sem vergonha da morena, Meu peito se demonstra meretriz
E acende este pavio sem juízo, O rosto da sacana vem e acena, Se eu provo do sabor, decerto biso...
105
Amor divino é certo a solução Ação que a derrubar tanta barreira Arranca a arma à mão e ao coração Acende em brilho mor, doce fogueira...
E dá comida à boca, ao seu irmão Cuidado pra curar as cicatrizes Dos lanhos das chibatas, injustiças Descuido e exploração das meretrizes.
Olhar que vê além da pura imagem E chega ao cerne, abraça a humanidade Sabendo do valor de cada ser
É ato que conclama esta verdade Que pago já, reclama acontecer Mas onde, no vivente esta vontade???
AnaMariaGazzaneo
O amor que nos ensina Jesus Cristo É feito de um eterno perdoar, É nesse imenso amor que sempre insisto, E nele, intensamente mergulhar.
E quando na esperança, e paz, invisto, Percebo quão possível é lutar, Por isso, e tão somente é que resisto, E dessa fonte é feito o meu cantar.
Que a força soberana e tão imensa Do amor comande todos os destinos Que não haja mais guerra ou desavença
Que toda humanidade viva em paz, Tenhamos a pureza de meninos, Somente o amor divino satisfaz;
106
Amor, um velho barco sem comando, Navega pelos mares, vai ao léu. De pássaros sem rumo, velho bando, Na frágil esperança do papel.
Se contra a correnteza vou remando, Não tendo quase nada em meu farnel, Minha alma vai pesando em contrabando, O doce de um deseja amarga fel.
E resta tão somente um passo em falso Que o amor prepara então seu cadafalso, E deixa-nos de herança esta masmorra.
Aguardo qualquer porto mais seguro, Cevando sobre um solo árido e duro, Sem nada que me salve ou me socorra,,,
107
O sol raia tramando um novo dia, E brilha no horizonte, soberano, Escaldante calor já se anuncia, Na claridade plena, imenso engano.
Outrora um frágil sonho de alegria, Errar é na verdade sempre humano, Porém se um novo cais se concebia, A lua no cenário abaixa o pano,
E muda, num instante, negritude, O quanto que te quis muito e amiúde Após o entardecer, vira sol-pôr;
Quisera pelo menos, um nuance. Bem antes que o olhar, luar alcance, Distante, morre ao longe, nosso amor...
108
Disfarço vendo a praça onde o amor Mostrou-me sua face traiçoeira, Momentos de alegria e de rancor, A vida é uma eterna ratoeira.
Chegasse mais distante, aonde for, Espinhos vão tomando esta roseira, E o tempo que passei a teu dispor, Explica esta esperança derradeira.
Acendo uma fogueira, e vou à luta, Derramo a querosene sobre o chão, A mão da insensatez, demais astuta,
Esculpe a fantasia que geraste, Vagando sem destino, coração, Carrega o enorme peso do desgaste.
109
Não te dou mais arrego, seu danado E digo sim quem é meu novo encanto Deus Grego faz de mim anjo em pecado Despenco ao seu olhar, sagrado manto...
Nos braços deste deus, me perco insana Nem me lembra teu nome, vou perdida E não resisto em mim, ardente a chama Por certo um novo amor me faz bandida.
Com Marcos sei que sou bem mais feliz Pois ele me completa. Empate ao jogo Enquanto o teu prazer me nega fogo...
Azar o seu e tarde o teu lamento Teu Ás, foi tentação, mas não aguento. Com Marcos... Convulsão que quero em bis!
Ana Gazzaneo
O beijo que me deste está marcado Qual fora cicatriz em minha face, Desejo dentro da alma tatuado, Sem nada que o impeça nem embace.
Prazeres conheci, agora vago, Sem nexo sem destino, pária sou. Buscando das estrelas um afago, Meu tempo, na verdade já passou.
Colhendo os velhos frutos, podridão, Minha alma gangrenada, se apodrece, Enquanto busco nova solução, O fim entre meus dedos, me apetece.
Riscando os meus cadernos, velhas folhas Diabetes traz aos pés, terríveis bolhas...
110
Porque a dor do amor É para ser vivida Quem nunca a viveu Possui a alma encolhida Quem nunca sofreu Nunca há de ter outra saída A não ser navegar no mar Feito um barco à deriva...
Karlinha
Um barco sem timão, rosa dos ventos, Naufraga no oceano da ilusão, Por mais que sejam belos os momentos, De que vale viver sem ter paixão?
Enfrento, com amor, vários tormentos, Trazendo para mim, toda a amplidão, Esqueço que já tive sofrimentos, Encontro finalmente a solução.
Navego no teu mar, em calmaria, Aporto nos teus braços, todo dia E sigo a minha vida em plena paz.
Mal cabe no meu peito, esta vontade De ter eternizada a claridade, Que roubo deste olhar, suave, audaz...
111
Toque-me, sinta o tremor das mãos. Não diga nada, Deixe o brilho do olhar nos anunciar, Enquanto unas num doce acariciar. Perceba o fogo da paixão, A alegria que toma meu coração, Num suspirar que tua presença é a razão. Só então descobrirá meu insano desejo, Na alma que por ti, faz festejo. E descobrirá minha vontade, Nesse amor de verdade. Sem contratempos, sem regras, sem rancor, Toque a delicada pele da face, Mergulhe em meu lábios. Ai então saberás que por você, meu amor nasce.
Estela
O gosto da maçã em tua boca, Deliciosamente expõe a vida, Que mesmo parecendo, às vezes louca, Missão que com vigor quero cumprida.
Encontro no teu cais, as mansas docas, Escondo-me dos breus em meio aos braços, E quando mil prazeres vens e alocas, Ocupo mansamente os teus espaços
E sigo pareado com a sorte, De ter felicidade, sendo teu, Amor igual ao nosso de tal porte, Humanidade nunca conheceu.
Riscando minha pele, tuas unhas, No muito além do quanto tu supunhas...
112
Tarde nublada, sem tu aqui, tristeza em mim... (ivi)
Agrisalhada tarde, escura vida. Não tendo mais sequer algum motivo Que possa reverter a vã, perdida, Estrada em caminho e sobrevivo.
Minha alma pelo tempo apodrecida, Outrora um caminheiro mais altivo Agora segue só, sórdida ermida, De todos os meus sonhos já me privo.
Relendo os velhos livros do passado, Histórias em que amor se fez intenso, Na senda bela e flórea, doce prado,
Antigo gargalhar, simples saudade, Mas tudo em que, deveras, hoje penso, Esconde desta tarde, a claridade...
113
Ouvia a voz do vento convidando Ao manso caminhar entre as estrelas, As aves, como plêiades, num bando, Guardadas na memória, posso vê-las...
Um dia fui feliz e isto me basta, Agora a vida leva seus enfeites, Enquanto a poesia, assim se afasta, Morrendo sem prazeres e deleites.
Sonhar que um dia eu possa reviver Momentos tão suaves do passado. No quando tive tudo e pude crer No amor, meu companheiro e aliado.
É pena que a semente não vingou, E a fonte sem motivos, já secou...
114
Qual o vôo que carrega confiança Onde pousar palavra que liberta Qual estrada que leva na distância Mensagem que meu coração decreta
Viajo livre vôo sem ter caverna Nenhum pouso retido neste agora Minha alma tão livre quase hiberna Sem laços vou segundo rumo a fora
Não vejo nenhum lago pra repouso Palavras que viajam verso e prosa São sombras que faz da mente pouso
Teus versos ladeados têm beleza Pra todos que em ti vê o talento Os meus vão afolhados. Fico presa
Sogueira
Ourives das palavras, a poeta Desfila seu talento. Embevecido, Eu bebo da beleza tão completa, Do canto pelo encanto amado, ungido.
Quem dera se pudesse ter a glória De ter a companhia desta amiga, A vida não seria merencória Pois nela a poesia, já se abriga.
E neste desfilar raro e fecundo, De fartas maravilhas que tu crias, O pária coração de um gira mundo Encharca-se de luz e fantasias...
E, tolo num momento eu quis tentar Também cada palavra lapidar...
115
Peguei a tiracolo minha viola Sai por aí na estrada do saber Gastei logo do sapato a sola Os dedos roliços por escrever Na mente a rima não recuou Outro poeta pecou de ler Eu aqui cantando teu amor
Pensei no sertão distante Uma casinha no centro, verde Onde as matas colhiam antes A pureza do ar campo e rede Na varanda de espaço gigante No coração a paz sem a sede Das horas em ritmo ambulante
Sogueira
O velho violeiro coração Cantando qual canário no quintal, Aprende pouco a pouco esta lição E traz a esperança em seu bornal.
No dia mais feliz da criação, Bom Deus nos deu o Recital, Do pássaro liberto, na emoção Que aplaca com ternura, todo o mal.
Espalhas nos sertões duros bravios, Na forma de cordel ou desafios A imensa maravilha que se emana
Da voz de um passarinho, soltas asas, Cobrindo de alegria nossas casas, Tornando a fantasia soberana.
116
Cevando alguma forma de ilusão, Bebendo da esperança atroz, maldita, Há tempos esquecido o meu verão, Inverno terminal, aos poucos, grita.
A morte nos umbrais faz seu serão, História tantas vezes mal escrita, O corpo segue em decomposição O passo claudicante delimita.
E volto aos meus primórdios, tento crer Que ainda tenho a sorte em meu poder E sonho com brinquedos de criança.
A foto amarelada, o riso franco, O amor quando existiu, em preto e branco, Reside nos escombros da lembrança.
117
Agrisalhada tarde, escura vida. Não tendo mais sequer algum motivo Que possa reverter a vã, perdida, Estrada em caminho e sobrevivo.
Minha alma pelo tempo apodrecida, Outrora um caminheiro mais altivo Agora segue só, sórdida ermida, De todos os meus sonhos já me privo.
Relendo os velhos livros do passado, Histórias em que amor se fez intenso, Na senda bela e flórea, doce prado,
Antigo gargalhar, simples saudade, Mas tudo em que, deveras, hoje penso, Esconde desta tarde, a claridade..
118
Revejo os meus quintais na primavera, Ilhado neste quarto, apartamento, O verso que compus, traduz espera, A salvação virá, qualquer momento.
Resisto bravamente, sorte mera, E mesmo ser feliz, ainda tento, Naufrago no teu mar, minha galera, E busco vez em quando, um novo invento.
Mas vendo estas paredes no horizonte, Queria com a vida última ponte Perdi os velhos elos da corrente
Trancafiado aqui, neste lugar, Revejo o meu quintal e vou buscar Algum retrato fusco em minha mente...
119
Meus riscos, só rabiscos, fossem bem Levassem meu afago a ti, querido Eu creio me faria bem também, Mas sofro, este limite é meu castigo...
Palavras correm tolas pelas linhas Meu choro derramado embebe o riso Tão longe vai, distante o paraíso... Tocasse a tua face, as entrelinhas...
ANA MARIA GAZZANEO
Orquídeas florescendo no jardim, Percebo que inda resta alguma luz Brilhando vagamente dentro em mim, Pesando volta e meia, imensa cruz.
Refaço este caminho de onde vim, E ao nada, minha vida me conduz, Acendo este pavio, este estopim, Revivo cada sonho ao qual me opus.
E creio ser possível ver meu filho Correndo pela casa novamente, Ultrapassando em paz outro empecilho
Abrindo estes portais rumo ao futuro. Olhando bem de perto, fixamente, Há traços de horizonte além do muro...
120
Driblando os meus fantasmas, sigo à toa, Refém dos desenganos e mentiras. O coração recende a pão e broa, Do quanto quis amor, sobraram tiras.
E quando ao longe, o mar, canções entoa, Flutua o pensamento e nele giras, A vida que eu sonhei, quisera boa, Sem medos ou rancores, velhas iras
Acaso se viesses me verias Desnudo de esperanças e alegrias Ferrenho lutador perdendo o rumo.
Mereço alguma chance? Ledo engano, Do quanto quis viver, inda me ufano, Da morte da ilusão, eu bebo o sumo...
121
Preciso do Senhor, pois sou pequeno, A força pra vencer as tentações, Procelas, tempestades e tufões, Trague para mim um tempo ameno...
E quando nos prazeres me enveneno, Perdendo assim o rumo e as direções, Aplaque as mais temíveis ilusões, E mostre um mundo manso e mais sereno...
A vida, este milagre que nos deste, Traçando os seus caminhos entre os breus, Trazendo-te Senhor, Meu Pai, Meu Deus,
Na paz que nos aquece e nos reveste, Vencendo as velhas lutas do passado, Num mundo libertário, transformado.
122
O olhar apaixonado de quem sonha Perdido no horizonte; busca alguém, E quando a noite chega e a lua vem, Redonda, gigantesca, mas tristonha
A madrugada corta e tão medonha Traduz a realidade e diz ninguém Do nada que minha alma inda contém Amor sendo figura vã, bisonha...
Dedilho um bandolim, falo do nada, A seca se espalhou dentro de mim, A música que ouvira está calada,
E fecho minha porta, finalmente, Seguindo a minha história, vou assim, Até o plenilúnio engana, mente....
123
Quem dera se bastasse algum momento Nas curvas tão fechadas desta vida, Não quero transportar velho lamento Sabendo desta história já perdida...
Amor que fora outrora meu sustento, No olhar de quem conhece e assim duvida, Trazendo viração, singra o tormento E aporta na emoção torpe, fingida.
Revelo os meus canteiros e cantares, Por onde, sem saber tu caminhares Espalho os meus rosais, tirando espinhos
Jamais tu percebeste, nem quiseste, Se apenas a nudez inda reveste Rapinas os meus sonhos, pobrezinhos...
124
Sumo de versos tão sublimes
Palavras vertendo o belo ser
A sorte está lançada, vai voando
Carregando consigo bem querer
Medos, rancores, velhas iras
Que aqui se criam e se dissipam
Esperanças e alegrias vão soprando
Assim é a vida, doce é a lida
Karlinha
Ainda guardo em mim as belas flores Que um dia tu cevaste em meu canteiro, Os sonhos sempre foram multicores, Usando os mil matizes do tinteiro.
Contigo caminhando aonde fores, O tempo vai depressa, é tão ligeiro, Promessas renascendo nos albores, No encanto que derramas, verdadeiro...
Meu derradeiro canto será teu, Se o mundo no teu mundo se perdeu Encontro finalmente a solução...
Os versos que compões; maravilhosos, Tornando os prados meus mais olorosos, Tocando bem mais fundo o coração...
125
Vieste como um vento, um temporal, Tomando toda a casa, num instante, E o fogo deste olhar, raro e brilhante, Trazendo uma alegria sem igual,
No eterno festejar de um carnaval, Imagem tantas vezes fascinante, Num belo ritual, doce e constante, O amor reinando pleno e triunfal.
Porém, a tarde cai e a noite vem Trazendo os seus fantasmas e mistérios, E ao fim da madrugada, sem ninguém,
Do quanto outrora fui nada mais resta, Dos festejares lutos vis funéreos A porta se fechou, não restou fresta...
126
Que fresta que nada
Tudo é festa!
Todos os ais viram carnavais
E rir é o que nos resta
Karlinha
Vestindo a fantasia da ilusão, Sorrisos estampando cada face, Por mais que a vida doa ou mesmo embace, É hora de viver cada emoção.
No quase fui feliz, não há senão, E mesmo que a verdade nos desgrace Aprendo a me virar noutro disfarce Dançando junto à imensa multidão...
Olhando para os lados, outros tantos, Hipnotizados caem pelos cantos, Na louca gargalhada dos palhaços.
Vibrando sem porquês, querendo mais, Bijuterias feitas carnavais, Tropeço nos meus próprios, tolos passos...
127
A história não perdeu-se, ela resiste, ao impacto, aos tropeços da estrada. E te digo, não é uma história triste, tem amor, tem alegria em revoada.
Neste canto está minh'alma apaixonada, que se mostra como nunca, um dia, viste. A história não perdeu-se, ela resiste, ao impacto, aos tropeços da estrada.
Te oferto este amor que em mim existe e uma rosa, a mais linda e perfumada. Vamos juntos te peço, ah, não desiste, nosso amor é belo qual contos de fada. A história não perdeu-se, ela resiste.
HLUNA
Há tempos que preciso te dizer Dos vales e montanhas que enfrentei Buscando ter nas mãos, nosso prazer, Errante caminheiro que sem lei
Seguia por desertos e planaltos, Vagando cordilheiras e oceanos, Encontrando percalços e ressaltos, Cevado por delírios sempre insanos.
Avanço noite afora nesta busca Que um dia me trará felicidade. E quando a luz da lua toca e ofusca, Eu bebo a me fartar da claridade.
E vejo num segundo todo o céu, Contido na beleza de um rondel....
128
Trago sempre no peito este Amor que tenho por ti!! (ivi)
Se eu trago dentro em mim algum prazer, É por saber que existes, saiba disso. Mantendo o coração, frescor e viço, Um rio de esperança a se verter,
Toando bem mais forte, me faz crer, Que vale sempre a pena o compromisso, Jamais serei, tu sabes, mais omisso, Ao fundo no horizonte, quero ter
A imensa vastidão do amor sincero, Que é tudo que deveras eu venero, Ao aplacar as dores costumeiras.
Fazendo dos teus olhos, belos guias, Eu quero me entranhar nas fantasias, Mais belas, mais sutis e verdadeiras...
129
Arcar com minhas dúvidas, seguindo O passo em direção ao fim do dia. Promessa de um lugar que quero lindo, Entre meus dedos frágeis se esvaia.
As violetas mortas nestes vasos, Os quadros embaçados, velhas telas, Preparam-se na curva meus ocasos, Fotografias toscas e amarelas...
Somar nada com nada é o que me resta, Vestígios nos escombros de minha alma, A verdadeira chama, hoje funesta, Somente a solidão inda me acalma
Pois dela vou sugando a poesia, Numa fugaz e torpe, vã orgia
130
Mal posso disfarçar meu sentimento na vida um caminheiro sem descanso, E quando uma vitória, tolo, alcanço, Explode o coração, frágil momento.
Os erros do passado, meu lamento, A busca por qualquer novo remanso, Aos poucos claudicante, penso, avanço, Num passo cada dia bem mais lento.
Serpentes são comuns e corriqueiras, As urzes tão freqüente, costumeiras, As pedras fazem parte destas sendas.
Pudesse, pelo menos, descansar, Quem sabe até, poder crer e sonhar Que amores sejam mais que simples lendas...
131
Vencer os meus temores, ser feliz, Recebo o vento manso no meu rosto, Eu sei quanto esperança é meretriz Coleto em profusão, tanto desgosto,
Distante, muitas vezes, do que quis, O sonho que restou já decomposto, A vida a cada instante volta e diz Do velho coração, frágil e exposto.
Morrer talvez pudesse me acalmar, Sem mares nem luar, vagando à toa. E enquanto a mocidade ainda ecoa
As rugas de minha alma, devagar, Tornando este cenário mais real, Expressam desta farsa, ato final...
132
Espero após a chuva, uma bonança Que possa traduzir fecundidade, Assim caminharia humanidade Trazendo ao sonhador, uma esperança.
Colheita traduzindo uma festança Reinando sobre nós, felicidade, A vida necessita de umidade A terra só produz quando descansa...
Ao ter esta certeza, vejo em Deus A solução final, a redenção, Florindo com beleza a criação.
Certeza de luzeiros entre os breus, Fomento de uma eterna sintonia De um tempo todo pleno de harmonia
133
Olhar atrás da porta e nada ver Sentir a brisa mansa da manhã Entrar pelos esgotos, perceber Que a história, na verdade fora vã.
As árvores começam florescer Promessa frutifica um amanhã, Porém sem ter mais nada a merecer, Minha alma é suicida talibã.
Ouvindo da razão, algum apelo, Tentando derreter a neve e o gelo Resquícios de um passado mais atroz,
Ninguém sabe dos erros cometidos, Afloram-se, sem nexo os meus sentidos, E tento ouvir a minha própria voz.
134
De seu pensamento
Extraio seu intento
E agora?
Desandar-me sem demora
Ou
Tornar-me seu tormento?
Karlinha
Tu és o meu alento nas procelas, Ao mesmo tempo vens e me enlouqueces Enquanto desabrigas já me aqueces Dicotomia rara que revelas.
Dominas meus caminhos e desandas, É Norte que me faz perder o rumo, Nos braços eu me entrego e logo esfumo, As noites de tempesta, restam brandas.
Conheço cada passo que tu dás, Seguindo tua sombra e sou capaz De mergulhar sem medo nos teus mares.
Porém eu desconheço o teu destino, E frágil como fosse algum menino, Procuro-te nos bares, nos altares.
135
Quanto não cabe em mim
Os luares nos bares
Nas ruas, malabares
As músicas, os olores
As dores de amores
- cores carmim
Dizia ser sempre tua
Lua desnuda
Sem véu nem grinalda
O mel que ainda falta
Cultivo em seu jardim:
Volta pra mim...
E no que resta
Nada é festa
Andanças, tantas mudanças!
Incerteza de um passado
Que retorna como um fado
Pobre de mim
Karlinha
Mal sabes quanto quero teu querer, Depois de mil andanças, percebi Que tudo o que desejo encontro em ti, Dominas os meus sonhos sem saber.
A tua ausência rima com sofrer, Notícias, procurei além e aqui, Voltaste e num instante revivi O quanto me trouxeste só prazer.
Nas ruas e calçadas, nas cidades, Nos bares, nos sertões, becos vielas, Cevando em profusão tantas saudades,
Vagando sem destino, sem paragem, Agora que a presença me revelas, A vida se renova em mansa aragem...
136
Meu bem O sopro foi mais além Quisera eu ser sua querida Porém, nossa sorte em disparada Causou-nos somente feridas Falácia maldita Querência deslavada Lágrimas desmedidas Ai, meu bem Estou aquém E sem
KARLINHA
Mal sabes quanto custa uma saudade, De ti, este cruel distanciamento, Parece uma terrível crueldade, Lembrar do nosso amor, cada momento.
Carrego dentro em mim, esta verdade Palavras são levadas pelo vento E quando esta lembrança chega e invade, Ao velho coração resta o lamento...
Cada soneto meu diz o teu nome, Resume o sentimento que me doma, E quando o dia chega e o sonho some,
Resisto simplesmente, nada além, Meu mundo em tuas mãos, quisera soma, Mas o simples vazio me contém
137
Se no meu peito
O peso é demais
Na minha alma
A paz, incapaz
Perdida a andar
Eu reconheço Para que sonhar
Se há recomeço?
KARLINHA
Prossigo o caminhar e reconheço Que embora existam pedras no caminho, Há sempre o renascer e o recomeço Inebriante e doce, suave vinho.
Após cada momento de tropeço, Erguendo o meu olhar, não vou sozinho, O amor é muito além de um adereço, E nele, com coragem, eu me aninho.
Sentindo o aproximar de um novo sol, Bonanças prometidas, claro dia, Olhando bem de perto este arrebol,
Reverto o meu destino e volto a ti Estrela soberana que me guia, De magnitude igual, eu nunca vi...
138
Para que sapatear
Se o amanhã é o melhor
Não se sabe o que virá
Tanto faz se em dó menor
Engasgos, tropeços e escorregões
Nessa vida só carrego
As mais tenras emoções:
Cotações
Corações Infindas desilusões...
KARLINHA
Por mais que sejam simples ilusões Sonhar é derrubar velhas correntes A vida é toda feita em turbilhões Momentos de prazer são infrequentes,
Tomados por imensas emoções A faca carregando entre meus dentes Exposto às mais diversas tentações, Aguando da esperança vãs sementes.
Eu creio no amanhã, e disso vivo, Alívio para as dores costumeiras, O coração aberto, o peito altivo,
Vertendo pelos poros, farto amor, Espinhos são parceiros das roseiras, Mas vale, com certeza, cada flor...
139
A solução
É a resolução
Do verbo em transição
Amar
Posto em ebulição
Nata da emoção
Poetar sonhando
Com sofreguidão
Viver sem discrição
De ter amado
Tanto a ponto
De
Desandar
O que estava
Pronto
E
Ponto
KARLINHA
Amar é ter nas mãos um infinito Regendo constelares maravilhas Seguir por cada estrada que tu trilhas Certeza de um lugar bem mais bonito,
O amor não é somente um frágil mito, Unindo num momento, simples ilhas, Que outrora se distavam várias milhas Gerando diamantes do granito.
Na força imensurável deste encanto, Imensas alegrias ditam pranto, Renasce dos escombros, primavera.
Amar é ser escravo e estar liberto, Por mais que o caminhar pareça incerto Apascenta a temível, dura fera...
140
Fim do dia que chega
Todo dia a mesma agonia
Saber que o que é seu não é meu
E o que é meu é só teu
Perda irreparável, tão negra
Quanto o fundo da noite
Que se espreita
Que tristeza, tanta tristeza
Fugaz na sorte, aspereza
Foi-se na poesia, tosco mote
Karlinha
O quanto desejei poder ser teu, Fantasmas do passado perseguindo, E tudo o que sonhei já se perdeu, O amor, dura sangria, se esvaindo...
Cerzindo com estrelas, novo céu, Vagando por espaços siderais, A lua deslumbrando um claro véu, Porém felicidade diz jamais...
Vencido pela ausência de teus olhos, A negritude toma este cenário, Aonde quis mil flores, vejo abrolhos, O tempo de sonhar tão temerário...
E tudo que queria, num segundo Perdeu-se neste torpe, tosco mundo..
141
A vida em seus mistérios traz o brilho Que ofusca o meu olhar e me inebria, Seguir com emoção sublime trilho Que leva após a noite ao claro dia.
Alheio aos temporais, seguindo em frente, Arisco caminhando entre penhascos, No olhar a mansidão pura e clemente Venenos esquecidos, velhos frascos.
Ascendo ao infinito e num instante, Recebo da esperança a doce brisa. Lapido com prazer tal diamante, E a mão que acaricia, suaviza.
Por mais que seja farta a escuridão, Espalhas claridade na amplidão...
142
Minha alma se prepara pro jazigo, Eterno companheiro de meus ossos, Os erros se amontoam, vão comigo, Pecados, todos meus, são também nossos.
Amortalhando o corpo que se vai, As lágrimas fingidas de quem fica, O pouco do que fui assim se esvai, Na morte a vida flui e se edifica
Remotas as lembranças, vida em vão, Olhando de soslaio, vejo o fim, Quisera ser semente, e deste grão Brotasse nova vida, pois assim
Eternizando o mote/ vida e morte, Seria bem diverso, o frágil Norte...
143
Decifrando os mistérios deste encanto, Presença inesquecível de nós dois. Realçando sutil o raro encanto Vivendo a eternidade do depois
Depondo sobre nós as suas mãos, O amor nos presenteia com a sorte, Após tantos momentos, tristes, vãos, Encontro nos teus braços o meu Norte
E vibro de emoção por ser apenas Teu par na caminhada pela vida, Manhãs que surgiram bem mais amenas, E a dor há tantos anos esquecida.
Abraço tua sombra e tua imagem, Perfaço ao Paraíso, esta viagem...
144
Sereno coração nega aparências E vive da esperança mais sutil, Deixando para trás tolas pendências Aguarda outro momento em que gentil
Consiga ultrapassar cruéis abismos, E teima em ser feliz; pobre imbecil, A vida se traduz em cataclismos, A cada nova curva o mesmo ardil.
Não quero me enganar, sigo sozinho, Tristezas coletadas, mais de mil, Avinagrando assim, o doce vinho, Meu elo com a sorte se partiu.
E tudo o que mais quis, um céu anil, Espalha-se outonal, em pleno abril...
145
Por mais que sejam simples os teus versos, Eu vejo uma verdade insofismável, Pudesse ter nos olhos, universos, Talvez jamais seria tão amável.
Meus braços nos teus braços vão imersos, Num mundo mais gostoso e confortável. Antigos sentimentos tão dispersos, Encontram um caminho navegável
Nas tramas deste amor que prezo tanto, Que tem na sutileza seu encanto. E sendo desta forma, me fascina,
Ao velho navegante aberta a fresta O sol que adentra forte, já me empresta O verso generoso da menina..
146
O gosto do pecado nos teus lábios Profanas e divinas emoções Nos versos fabulosos que compões Delírios por si só, cruéis e sábios.
Perdendo os astrolábios, à deriva Meu barco num naufrágio anunciado, E o velho coração enamorado, Mantém uma esperança alerta e viva.
Consolidado amor que assim nos farta, E quando a poesia nos domina, Jogada sobre a mesa, cada carta
Prevê um novo tempo de alegrias, Nas mãos tão delicadas da menina, Eu vejo o amanhecer de raros dias.
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Eu trago dentro da alma esta certeza Que um dia me fará, talvez, feliz. Do amor eterna marca e cicatriz, Que tento disfarçar, leda destreza;
E pondo as velhas cartas sobre a mesa, Eu tenho na verdade mais que quis, A velha poesia, meretriz Desfila desdentada e sem leveza.
Riscando os céus encontro este cometa, Que ronda qual satélite o planeta E volta para o espaço sideral.
Mais vale o rebolado da mulata Na imensa procissão tão insensata Nos dias infernais do carnaval...
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Batendo as minhas asas, vou a ti, Das Minas para o Sul, verão inverno, O quanto desejei amor eterno, E muitas vezes, tolo, me perdi.
O verso que levava eu esqueci, Porém estou vestindo um novo terno, Se o imenso sentimento assim hiberno O resto está na carta que escrevi.
Vou bêbado de luz, pobre falena, Repito novamente cada cena E abraço tuas sombras, teu recado.
Olhar pela janela e criar asas, Voando vou liberto sobre as casas, Até chegar enfim, ao teu reinado.
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Não posso suportar tal sofrimento, Antítese que atada pelo umbigo, Transformando no inferno este momento Num visgo que me atrai ao inimigo.
Imagem carcomida de um amor, Que segue decomposta, mas nos ata. Quisera ser, de fato, um bom ator, Fingir; porém a vida me maltrata
E cospe no meu rosto, co’ironia Apodrecendo os sonhos do passado, Pudesse enfim conter esta sangria, Soltando com vigor, um grito, um brado,
Tu és, eis a verdade uma alma gêmea, Nas ancas os delírios de uma fêmea...
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Há tempos que te devo este soneto, Perdoe minha irmã, pela demora. A distração é um erro que cometo, Porém o meu amor jamais tem hora.
Mas saiba que me orgulho de poder Dizer a todo mundo que te gosto, Na batalha diária posso ver A alegria estampada no teu rosto,
Da mãe zelosa, amiga e companheira, Um simples pleonasmo, mas és mais Andrea; em tua força costumeira Tu dás a segurança de um bom cais.
Mesmo distante, trago-te comigo, Além de teu irmão, sou teu amigo...
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Lutar contra as diversas intempéries Seguir de peito aberto, destemido. As falhas, reconheço, são em séries, Porém; já basta! Dou-me por vencido.
Quisera ter nas mãos um novo dia, Criar da poesia, algum lugar, Pasárgada; distante, fenecia, Cometa que se foi não vai voltar...
Mas tento disfarçar e ser moderno, Contemporâneos passos, velho abismo. Lançando-me sem medo neste inferno, Vagando sem paragem, louco, cismo.
Lutar contra a corrente, ah quem me dera... A morte com sarcasmo à minha espera...
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Chamando de meu louro este urubu Trocando assim as bolas, vou em frente, Mas” eu vou acabar ficando nu”, Dormindo nas marquises, indigente.
Quem sempre se apressou e comeu cru, Queimou a sua boca em prato quente, Botafoguense vive jururu, Porém um sofredor é insistente.
Você não me quer mais, mas e daí? Amanhã nascerá e um dia Talvez vá me querer quem não queria
Afinal, tanta coisa eu mereci, Viver de uma ilusão, querida amiga, Não enche de ninguém, sua barriga...
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Menina requebrando na calçada, Libido da galera vai a mil, A turma fica toda alvoroçada, Razão da vida está neste quadril.
Cadenciando o passo, ela percebe Que todo mundo segue o requebrado, Em cada olhar guloso que recebe, Aumenta, com certeza o rebolado..
E assim caminha toda a humanidade, Nas ancas generosas da mocinha Filosoficamente eis a verdade, Quem dera a piriguete fosse minha?
Tomando uma cerveja bem gelada, Lembrando-me da moça da calçada...
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Viver sem ter prazer, imenso tédio... Vazio coração não tendo jeito, Fingindo muitas vezes satisfeito Procura na esperança algum remédio.
E tento disfarçar com placidez, Um diamante falso, nada além E quando a noite chega, insônia vem Mergulho na completa insensatez.
E tomo mais um gole, outro cigarro, Nas fimbrias da ilusão, logo me agarro E finjo ser feliz... invento um caso
E bebo da alegria, esta falsária, Minha alma vagabunda, simples pária, Prepara-se afinal pro meu ocaso...
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Quisera ter as mãos mais puras, Sem marcas das sangrias e pecados. Pudesse acreditar em tantas curas, Cevar a fantasia em belos prados.
Por mais que minhas noites são escuras, Os céus que procurei tão estrelados, Distantes das maldades e torturas, Os dias seguirão mudos, velados.
Fechando uma porteira, deixo além O quanto desejava ter no bem A solução final em plena paz.
Porém a cada dia, mais me afasto, Fazendo do prazer o meu repasto, Que nunca, na verdade, satisfaz..
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A moça dos meus sonhos não me quer, Deseja multidões, porém vou só. Sereia no formato de mulher, No pensamento sempre dando nó.
Vestido transparente e bem curtinho, O vento faz a festa da galera, Andando devagar, vai de mansinho, Desfila pelas ruas. Quem me dera!
O amor tem destas coisas, sabes disso, A gente quebra a cara vez em quando, A moça não deseja compromisso, Porém se bobear estou casando...
Ainda bem que a idéia está no forno, Não tenho vocação para ser corno...
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Se o meu vocabulário é mesmo chulo, Perdoe se não sou tão erudito, Na vida me virando em cada pulo, Porém jamais ganhei alguém no grito.
Batráquio vez em quando sei que engulo, Se vejo confusão, eu logo evito, Mulher comprometida? Eu nunca bulo O que falam de mim é simples mito.
Tomando uma cachaça vez em quando Cerveja é muito cara pro freguês, Dinheiro nunca chega ao fim do mês.
E desse jeito, amigo, vou remando, Do jeito e da maneira que Deus quer Topando qualquer coisa que vier...
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Vou vendendo o meu peixe deste jeito, Fazendo um arremedo de soneto Que embora saiba nunca ser perfeito É feito com carinho e com afeto.
Nos erros costumeiros que cometo, Algumas vezes, minto e me aproveito, E quando noutros braços me arremeto, Pretendo na verdade ser aceito.
Passando pela vida simplesmente, Fazendo do meu verso, meu abrigo, Palavra muitas vezes delicada
No fundo, sei que engano a minha mente, Tocando um velho tango tão antigo, Pois de funk, me perdoe não sei nada...
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Nascido no sertão de Quixadá, Um coração moleque sertanejo, Vibrando de alegria e de desejo Vivendo tão somente ao deus-dará
Sonhando que outro dia chegará Mostrando neste sol, o bem que vejo O gosto da saudade num lampejo Encantos que deixei, há tempos, lá;
Banhado nos riachos da esperança Fazendo nas estrelas uma andança Chegando num minuto ao infinito.
O rosto da manhã já sem disfarce, A corda da lembrança que se esgarce Traçando em minha vida um novo rito.
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Nascido na pequena manjedoura, No reino de Judá, sacra Belém, O rei que perseguido é muito além Do sol que sem perguntas sempre doura.
Dos Anjos, os avisos já diziam, Que aquele que nasceu rei proletário, Vencendo sem temor este adversário Que os males e os fantasmas vis procriam.
Palavra do Senhor que nos redime, Adorações, louvores, sem altares, Falando nas montanhas, mil lugares,
O Amor sem ter limites, Verbo exprime, E mostra a perfeição do Amor eterno, Que traz a claridade em pleno inverno
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Nascido em força intensa e vivo em nós O claro e intenso fogo da paixão, A vida se divide; antes e após. Aposta em que faz revolução.
Na comoção que causa em nossa vida, Numa ávida loucura que não cessa, Confessa-se na força desabrida Que a cada novo dia recomeça.
O corcel indomável que te espera Deitada em minha cama, exposta e nua, A pele bronzeada da pantera A boca que se dá faminta e crua,
A fome insaciável que entornaste Debaixo dos lençóis, me declaraste. Marcos Loures
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Nascido e só por isso condenado A ter o quase nada como herança Aquele que se viu já destroçado Promete no futuro uma vingança
Depois de tanto tempo abandonado, Na fome e na batalha, enfim alcança O gosto do prazer já revelado Enchendo com cadáveres, a pança.
Roubado a cada dia, em desamor, Cuspidos nos sertões e lotações. Na face deste povo em franco horror
Os gozos das chacinas e mortalhas, Sem ter mais esperança em soluções. Amores às carniças, nas batalhas... Marcos Loures
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Nascido de um momento mais sublime, Verdugo de ilusões ,cala em meu peito. Às vezes, insensato, me deprime, Noutras já se mostra satisfeito.
Dos erros cometidos, me redime, Em fúria estremecendo no meu leito, Na sensação voraz remete ao crime, Mortalha que emoldura do seu jeito.
Mas quando penso em ti, deusa vestal, Recende teu perfume; raro olor. Se torna levemente sensual.
Apascentando sempre, sem batalha, Repleta meu caminho em puro amor, Meu sonho, vivo fio da navalha...
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Nascida no sertão, estrela d’alva, Rainha dos desejos, nua e bela. Enquanto o Paraíso me revela, Perfumes de jasmim, lírios e malva.
Um Refém desta insânia não me canso E vivo tão somente por poder Sentir em frenesi, tanto prazer, Cativo deste encanto, o teu remanso.
Cultivas com delírios, meu desejo, Farturas que decerto vejo em ti, Do amor em sedução farto e sobejo
A pérola raríssima que encontrei. Sorvendo imensidão que conheci Um pescador de sonhos, mergulhei...
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Nasci para poder viver contigo Legado tão fantástico que trago, Sentindo o teu carinho e teu afago, Nos braços de quem amo, o meu abrigo.
Por mais que a noite trague dor, perigo, O amor tem o poder divino e mago, Na placidez sublime, feito um lago, Traduz tranqüilidade que persigo.
Não tenho mais os medos que sentia Na estrada solitária, amarga e fria, Sem ter tua presença junto a mim.
Agora que percebo quanto é belo, O amor que num momento te revelo, Florindo uma esperança em meu jardim...
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Nasci na batucada dessa vida, Em pleno carnaval, sem esperanças. A marca dum cigarro foi tingida, A primeira e mais forte das lembranças...
Minha mãe, colombina noutra lida, Fazia cada noite mais crianças. Suas pernas abertas, foi tangida Feito gado, nas danças, contradanças...
A velha prostituta enfim morreu, Tuberculose escarra podridão. Desses dez que pariu, sobreviveu
Um só moleque, feito solidão, Minha sorte vadia, feito meu. É que inda vou cuspir nesse teu chão. Marcos Loures
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Nasci em meio a tantas profecias, Um filho que sonhavam velhos pais, Qual fora da esperança um manso cais, Apenas ilusões e fantasias.
Os bares e as andanças por orgias, As noites entre putas, madrigais, A seca se espalhou nos milharais E as nuvens esconderam sóis e dias.
Hemoptises de uma alma insaciável, Moldando este perfil de um suicida, A mão que acaricia, já me acida,
E a vida se tornou insustentável... No pútrido sorriso da serpente, O bote que se espera, de repente...
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Nasci em meio a crises mais febris, Meus olhos vasculhando esse planeta. No rosto transfiguras formas vis, Vadia a vida vivo qual cometa...
Não pude conviver, as mães gentis, Nem pude conhecer vida dileta. Na boca que me beija já cuspis, Nos templos que me matas, sou poeta...
Descido pelas cordas abastadas, Meus restos espalhados nas searas... As mães que me negaram são bastardas,
Um verme vasculhando sua loca. Perdido sem saber sequer da toca, Ganhei minhas heranças, tais escaras... Marcos Loures
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Nasci deste cometa que partiu. Um pasto que composto não me basta. Repasto indefinido quer buril. O morro dos degredos verde pasta...
Quem disse que seria varonil, A mão que não carinha, cedo afasta... O trâmite correto nem um til. A cada safanão já me desbasta...
Vendi meus patrimônios cerimônias... Venci os meus fantasmas sem quermesses... Nos olhos e na face tem criptônias
A banca de revistas minha esquina. Os trapos que vesti me dão benesses Na boca que beijei desta menina... Marcos Loures
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Nasceste; meu amor na flor de maio Mostrando o teu encanto multicor Na lua que mostrando seu desmaio Debruça sobre o mar raios de amor.
Num acalanto breve da esperança Num gesto carinhoso da paixão... Na festa que se faz em louca dança Nas cordas tão sonoras, violão...
Nasceste desta luz caleidoscópica Do fim da tarde raro, inesquecível... Achei-te como fora ilusão de ótica Depois te percebi, amor incrível....
Não sabes por que em ti amor se aninha? Nasceste simplesmente pra ser minha!
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Nasceste tão divina dos meus braços Em plena insensatez, noites titânicas... Vivemos tão atados, redes, laços. Nas emoções indômitas, atlânticas...
Eu quero majestosa nossa trama Num lance irradiante fulminado. Ardendo tremulante, em tua chama, Rasgando o teu conceito de pecado.
Dardejantes olhares vitimizam Um lasso coração de ti refém, Nas mãos que tanto caçam, imprecisam, Buscando em cada toque o teu também...
E vamos neste amor que é tão fremente Nas vagas deste mar, mais envolvente...
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Nasceste sendo minha. Sempre minha... Transcende, nosso amor, ao infinito, Ao mesmo tempo em que teu corpo vinha Compartilhava enfim, num mesmo rito
Tua alma que em minha alma se avizinha Num sonho interminável e bonito, O corpo que ora aqui no meu se aninha Na uníssona vontade em que eu habito.
Não me pergunte mais, se tudo que A gente possa ter será talvez Vertente de improvável sensatez;
Respostas; se eu procuro, sem cadê Não cabem com certeza, explicação, Seguindo sempre em mesma direção... Marcos Loures
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Nasceste para mim, eu não duvido, Caminhos que entrelaças com doçura, O bem que se deseja e se procura Deixando a solidão em triste olvido.
No gozo da alegria repartido, Não sinto mais nem medo ou amargura, Teu braço com firmeza me assegura, Momento quem em ventura é concebido.
Não deixe que isto acabe e sem tropeço Ao Éden, Eldorado, sigo em paz. Encontro muito além do que eu mereço.
Num agradecimento em cada verso, O gozo que o Amor perfeito traz, Unindo cada passo antes disperso... Marcos Loures
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Nasceste no netúnico reinado, Em meio a tempestades, calmarias... Cachalotes, medusas, conchas... Fado. As ondas os abismos são teus guias...
Num grito aterrador, tão delicado, As águas que te cercam, gelam, frias. Marulho sempre mostra seu recado, Nas lutas calabares, nas orgias...
Nasceste entre tritões, teus protetores, Amante das estrelas e da lua... És símbolo : prazeres loucos, dores...
Descansas teus cabelos, fina areia... Meus sonhos te imaginam, bela, nua. Rainha dos meus mares, és sereia! Marcos Loures
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Nasceste nesta terra árida e dura Amanhecendo doces temporais. Ribeiro de teus olhos, amargura, Derrama sobre o solo águas e sais
Ainda que tentasse uma ternura, Das farpas costumeiras mais e mais O campesino sonho se procura À foice e enxada, louros milharais...
Olhos esverdeados, azulejos, E as alvas nuvens ditam os desejos No avermelhado sangue socialista.
A luta continua, dia-a-dia, Viver traz no seu bojo a poesia, E a terra dividida; uma conquista...
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Nasceste na nascente do universo, Olhar primaveril tão envolvente! Te canto mergulhado no meu verso, Procuro teu olhar em toda a gente.
Meu mundo sem teu canto é tão disperso, Em tristes melodias, de repente, Transborda neste mundo. Sou reverso, Avesso, sem te amar perdidamente!
Nos céus donde vieste, na alvorada, Promessas benfazejas de fortuna! A noite em tempestades, mais soturna,
Espreita, de tocaia, me alucina! Eu canto esta canção desesperada, Na espera de te amar, linda Celina!
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Nasceste em meu desejo, rubra rosa, Em sonhos infinitos, sensuais. A boca que te busca desejosa Sempre te quer muito, muito mais...
Desculpe-me esta fúria voluptuosa Que não descansa nunca, nem jamais. Na pele tão morena e mais cheirosa, Vontade de te ter... Suor e sais.
Imagem delicada da mulher Que sabe seduzir em mansos versos, Além deste desejo que vier,
Além deste perfume, rosa amada, Carinhos e delírios mais diversos, Na noite, toda nossa, iluminada...
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Nasceste em meio a urzes decompostas. Esgoto que apodrece a céu aberto. És serpe que envenena quando gostas. Caminhas por latrinas, mar infecto..
A carne que te trai, devora em postas, És aborto incompleto. Sei, decerto, Das lanhas que já abriste em tantas costas. Produzes com teus beijos, um deserto...
Meus dias ao teu lado, tristes lutos... Descarnas os meus ossos com lambidas... No pé, apodreceste tantos frutos.
Mataste vorazmente quem te quis... As minhas mãos, em vão, vão decididas, Cortar nossos destinos, infeliz! Marcos Loures
88
Nascentes dos meus gozos, raras fontes Adentro qual intrépido turista, A cada novo ponto que se avista Amplio do desejo; os horizontes.
Em vales, cordilheiras, grutas, montes Geógrafo em prazer passa em revista E toda a maravilha cedo lista Ecólogo não quer outros desmontes.
Apenas desfrutar esta beleza Que é dádiva sublime, com certeza Da mãe Natura em festa, em fantasia.
Orgásticas lições; vou aprendendo, Enquanto este rocio, percebendo, Sorvendo com total, farta alegria.. Marcos Loures
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Nascente maviosa deste Rio Que mostra em suas margens, os segredos, Deriva em esperanças, santo estio, Deixando para trás tantos degredos.
Esquecimento amargo, duro e frio, Provoca na minha alma velhos medos. Porém na fonte insana principio A trama delicada dos enredos.
Tesouros que guardados nas areias Das praias onde o rio tem a foz. Meu coração batendo mais veloz,
Em mãos audaciosas me incendeias, Quem teve em seu passado curva atroz, Recebe os teus carinhos, minhas veias... Marcos Loures
90
Nascendo nos seus braços vou sem fim, Em vaga tempestade que me esconda. Navego em pensamento, sempre assim, Morrendo em sua praia, pedindo onda.
Temo a fugacidade de um momento, Vivendo em seu desejo, por inteiro. Ao mesmo tempo quero o sentimento Aprisionando; amor tão verdadeiro...
Mulher que sempre foi demais tão mansa e crua, Ao mesmo tempo pinta e me descora. Vagando pelas ruas, alma nua, A boca que me beija me devora...
Nas fases deste amor, tão fera e calma, A lua lhe entranhando lhe traz a alma...
91
Nascendo das estrelas mais brilhantes, Da lua que me cobre em raios claros; Nós somos sonhadores navegantes Degustando sabores que são raros.
Jardins de tantas flores faiscantes Nos servem de consolo, bons amparos, Em sentimentos puros, castos, caros Das dores, dos apuros, bem distantes.
Que noite sempre surja venturosa Traçando uma esperança em cada verso. Recebo com carinho tua rosa,
Trazida em belo gesto, amor sincero. Desculpe se pareço-te disperso, Mas sabes, meu amor, quanto te quero
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Nas vozes de meus sonhos, tão diletas Escarras com escárnio mais feroz, Teu riso na verdade é meu algoz E corta em profundezas, finas setas.
Sombrios teus desejos, frias metas, Cortantes, perfurando, nega a foz Do quanto percebera, vou veloz E as horas; em verdugos sais, completas.
Encardes com teus cardos alvos linhos Fantoches do que fomos; vão incertos, Atingem meus segredos pelos flancos,
Apodrecendo agora velhos ninhos Prometes tão somente tais desertos Turvando estes quereres antes francos...
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Nas vísceras expostas, postas paz... Cada pústula repulsas postulas, Mas és éter, flutuas. Tuas gulas São meus guias, vadias; vou atrás.
Se temo teu veneno traz antraz. Se cedes teu remédio, negas bulas... Devoras, todas horas, mas anulas... Teu beijo pedra, perda, Satanás!
As mãos vãs e vazias vagam vilas, Das frestas frenesi, fórmicas, filas... Dos céus véus e meus veios, meios, fim...
Sexo verbal, venal, vogal verdades... A saúde amiúde traz saudades; Veleidades, vazio vago assim...
94
Nas vezes que persigo seus segredos, Amor em plenitude trama os dias, Deixando os desencantos ermos, ledos, Numa expressão sublime, galhardias. Vencer dos descaminhos os penedos, Urgindo no final, benfeitorias.
Arcaicas e prosaicas servidões, Não servem como lastro para o barco Aonde além de termos os porões Encontro este Eldorado que ora abarco, O Amor fiel aos sonhos e emoções, Transforma o sofrimento em mero e parco.
No canto majestoso da graúna, A solidez concreta da braúna!
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Nas vestes que adornavam meu passado Em vivas ilusões foi-se meu mundo. Se sinto meu amor abandonado, O sono que embarco é tão profundo.
Caminho nos botecos, nas bodegas, E bebo até não mais poder sair. Vagando pelas ruas, nas entregas Encontro esses amores sem pedir.
Mal chego a minha casa, estou vazio. Ressaca se promete verdadeira. Na cama, revirando, sinto frio E deixo esfumaçar a vida inteira...
Sorrindo recomeço minha sina. O coração deixei em cada esquina...
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Nas ventanias verbos regulares, Nas costas das meninas as vergastas... Cafezais e rebanhos meus pomares... Mulheres e crianças, velhas castas.
Os jovens vão lutando por Palmares. Nas bocas escancaram sangue em pastas. Pelas ruas definham morrem pares. Os olhos vomitando e não te afastas...
Em todas ventanias revolutas, Em tantas esmeradas ditaduras Nas praças e nos portos, tantas putas,
Não sei de qualquer ato sem torturas, Por mais que mentirosa, me refutas, As noites que vivemos são escuras...
97
Nas velhas putarias do Congresso Vendetas e leilões, farta ganância O nojo me tomando, assim confesso O quanto isso se mostra em tal constância; Apenas o que resta é o meu avesso. Na pança da canalha, a morta infância
Servindo de alimento à corja vil, Em tantas bacanais negras orgias, Matando pouco a pouco o meu Brasil Exposto a tantos cortes e sangrias. Aquele que se mostra varonil Devora as pobres putas e vadias.
Amores, amizades, com ternura, Na carne que é servida com fartura... Marcos Loures
98
Naufrágios de nós mesmos, irmandade Nas ânsias e desejos incontidos. Torpores invadindo em quantidade Deixando para trás dias sofridos.
Amor vai dando à vida qualidade Anunciando dias comovidos, Teus passos transmitindo a liberdade Tão firmes, sempre vão mais decididos.
A boca que ofereces, num sorriso, Receberá meus lábios, com certeza. Mergulho que se faz sem dar aviso,
Enfrenta com vigor a correnteza, E assim, ao conceber um paraíso Roubamos deste amor, farta beleza... Marcos Loures
99
Naufrágio do desejo Nos braços prediletos, Num lindo relampejo Meus sonhos mais completos.
Na boca roça o beijo, Numa expressão de afetos A cada dia vejo Prazeres tão concretos...
Viajo sem malícia Teu corpo divinal, Tocando com perícia,
Num rumo sem igual, Vivendo esta delícia, Do amor tão sensual...
10300
Naufragando essa vida, num contexto, Procuro por tais flechas que m’atiras... Não quero mais saber de teu pretexto. Nem quero conviver com tais mentiras.
Anos passam, amores são bissextos, Velhas matas cascatas rotas tiras... Esquecendo palavras do meu texto, Nas sanfonas dançavas nos catiras...
As vozes que se calam sabiás; As bocas que se beijam pedem paz. Os olhos que se queimam nunca riem,
Impedem os que pensam vidas criem... Não quero mais naufrágios da saudade... Madrugaste tristezas falsidade...
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