
MEUS SONETOS VOLUME 096
Data 20/12/2010 14:12:28 | Tópico: Sonetos
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1
Não jogo mais biriba. Ou sete e meio, Esqueço do valete e quero a dama, Amor é necessário ter recheio, Senão fica quietinho e não se inflama.
No fogo que sem tréguas eu ateio, A moça sem vergonha não reclama. Mordendo com vontade cada seio, Acendo o fogaréu, o corpo em chama...
Não quero esta presença então arisca Quem joga sem ter riscos não petisca, Petiscos que comi dão apetite,
Mas logo na hora agá, ela fugiu, De forma carinhosa e até sutil, Porém amor passou já do limite... Marcos Loures
2
Não jogar mais fora a antiga cristaleira Usada pela avó para guardar seus potes. Motivos que me dás? Eu deixo até que esgotes, Pois tenho a sensação, que juro, é verdadeira
Que queres dominar a minha vida inteira. O goleiro conhece as manhas dos rebotes, A moça descobriu poderes de cangotes E quer me deixar louco. Eu não vou dar bobeira...
A minha casa é pobre; um velho barracão, Chovendo dá goteira e alaga todo o chão, Mas nesta cristaleira, um último guardado:
O doce que vovó fez antes de morrer Neste pé de moleque, a marca do prazer, Que importa se ele está um pouquinho mofado?
3
Não irei falar mais de bugalhos, São tantos os problemas que enfrentei Que mesmo sem saber destes trabalhos, Durante a vida inteira trabalhei.
Agora o coração vive em frangalhos, A culpa é de quem tanto desejei. A sorte de uma colcha de retalhos É tudo o que do Amor, tolo, eu herdei.
Na parte que me cabe deste todo, De tanto que mudei não criei lodo, Se acordo de manhã pão com manteiga
O pão tá bolorento com certeza, E a manteiga rançosa, sem surpresa A culpa é desta lua tosca e meiga...
4
Não há sonoridade que repita As dores que senti. Ó minha amada! Tu foste a maior gema, uma pepita; Ao me deixar, sobrou bem pouco ou nada...
As cores que roubaste, dor aflita, Desmaiam-se no fim da madrugada... Tempestuosamente a vida agita Os leques, minha luta abandonada...
Perdi os meus resquícios de hombridade, Verti as minhas pátrias pelo esgoto... Meu mundo decepado, nem um coto
Restou para trazer felicidade... Nas lutas que ganhaste, soberana... Nos vasos que quebraste, porcelana... Marcos Loures
5
Não me fazes favor algum se me amas... E nem tampouco faço se te adoro... Amor nasce por si em fortes chamas, Neste sonho divino me decoro,
Vibrando de prazer em nossas camas, Não peço nem te rogo, nem imploro, Apenas me enredei em nossas tramas No teu corpo, querida, eu me decoro...
E sinto que este amor é benfazejo Trazendo tanta sorte para nós. Além de todo amor que te desejo
Pressinto que contigo, estou feliz. Se temos um passado mais atroz, Esqueça para sempre a cicatriz...
6
Não me fale jamais do que não fomos, Cicatrizes ambulantes, vasos rotos... Pedaços de esperanças, ledos gomos. Vencidos pelo tempo, dois abortos.
Apenas eu te peço mais um dia. Outro dia, qualquer dia, que se sente; Pois talvez somente isso bastaria, A chance que eu queria, de repente...
Mas veja que esta estrela inda é teimosa E banha em tantas luzes nossas cores. Brilhando certamente em nova rosa, Servindo de consolo aos bons atores
Que penam pelas ruas, botequim, Salvando o nosso amor, princípio e fim...
7
Não me esqueço de você Seu lugar está cativo, A procuro, mas cadê Dos seus versos não me privo.
Muitas vezes já se lê Com olhar atento e vivo Procurando algum porquê, Coração ficando ativo.
Já não quer o meu carinho Quem gostava tanto, tanto. Seu amor pegou quebranto?
Pois agora de mansinho, A fogueira virou chama? Tá vazia a nossa cama... Marcos Loures
8
Não me esqueço das noites junto ao mar, Vivendo uma ilusão em nosso amor, À noite sob a luz deste luar, No frio imaginando o teu calor...
Porém tu não querias mais me amar, Trazendo sofrimento ao sonhador, Que tantas vezes louco a te esperar; Aos poucos foi morrendo em esplendor.
Agora, que esta angústia me domina, Distante dos teus olhos... coração... Somente a dor restando, me alucina
Repleto de amargura, desespero Sou vítima fatal desta paixão... Olhando o mar, nas ondas eu te espero...
9
Não me deslumbre o cheiro desta flor Que sempre me enternece mal a lua Nascendo no horizonte em esplendor Traga-me esta mulher tão bela e nua.
Não me deslumbre o gesto soberano De quem sempre esperou o meu cansaço Após ter se coberto em desengano Desnudo pela maciez do braço.
Não me deslumbre o canto mais audaz Em versos e desejos, que me encanta, A doce poesia já te traz Qual leve borboleta, livre e santa...
Eu quero deslumbrar-me simplesmente No amor que pelo amor se faz contente...
10
Não me deixes nunca mais, Pois assim serei feliz, Teus carinhos magistrais Todo o bem que eu sempre quis,
Na pureza dos cristais, Neste chão feito de giz, Na proteção dos corais Quero sempre e peço bis.
Vejo a vida pelos olhos Que vencendo urzes e abrolhos Florescendo o tempo inteiro
Diz da lua emoldurada Derramando na sacada Este brilho alvissareiro...
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Não me deixe pensar sem sentimento... Fratricida feroz, não sobrarei. O medo se espraiando leva o vento... O resto que resumo nunca sei.
A mão que me alivia no tormento Que fustigas velada tonta lei... É a mesma que beijei certo momento, Nas escórias escoras amparei...
Meu retrato espalhado na sarjeta Espelhando virtudes e moléstias. Estonteante, marcas na tarjeta
Me demonstram sinais que não presumo... Arrastam-me loucuras vêm em réstias Extraem de minha alma todo o sumo! Marcos Loures
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Não me deixe pensar que não me queres, Os sinais que emanaste, tanta fé, Com palavras mordazes tanto feres, Meu amor nunca esqueça, abaeté
Sou... Nas festas milhares de talheres, Estrelas e cometas fui a pé, Não pretenda ocultar, nem se quiseres De tanto que sofri, da morte até!
Teus olhos te traíram, minha amada, O brilho nunca nega teu desejo, Nosso caso, essa vida maturada,
Não pretenda nem podes me enganar, Vem... A noite convida para um beijo... É tempo de viver, tempo de amar... Marcos Loures
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Não quero rimar gozo com chicória Nem mesmo merencória com fartura Secura na verdade não se cura Com cura milagrosa, é outra história.
Se a pura é mais gostosa, sem vangloria Vontade sem limites já se apura Um verso que servindo de moldura Expressa uma amizade sem memória.
Após apoios tantos, tentos vários Os risos são decerto os estuários Vestindo a gargalhada em ironia.
Se há dias que se adia a poesia Há tempos que contemplo sem remédio. Sem sexo esse namoro vira tédio... Marcos Loures
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Não quero repetir o mesmo engano De ter a sensação de ser cativo Fugindo totalmente deste plano Ao qual me dediquei sem ser altivo.
Este erro cometido é bem humano Por isso irei manter olhar bem vivo. Amor é como um raro e belo pano Que não suporta um gesto possessivo..
Nas nossas diferenças um forte elo Que faz nosso futuro mais liberto, Andarmos lado a lado em paralelo,
Sabendo que o caminho é de nós dois. Na morte ou solidão, pois isto é certo, Certeza de viver, mesmo depois...
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Não quero rebuscar palavreado Nem mesmo misturar alho e bugalho, Amor é bicho esperto e disgramado, Conhece do meu peito cada atalho, Se um passo, na verdade, for mal dado, Lá vem o bicho solto a dar trabalho.
Dinheiro; eu nunca tive nem juntei, Tampouco quis fortuna, nem tesouro, Amar; esteja certa, é minha lei, Mesmo que arranque a pele e todo o couro, Nos braços da mulher eu me entreguei, No corpo da danada encontrei ouro.
Ali plantei semente e te garanto Frutificou a vida em puro encanto..
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Não quero que tu sofras se eu morrer, A ausência nunca existe na verdade, Mesmo que seja apenas na saudade, Amor perenizando faz viver.
A morte no teu peito se ocorrer Não sofra, restará nossa amizade, Talvez algum resquício em claridade Do tanto que brilhamos no prazer.
Prazer de ter alguém ao nosso lado, Neste caminho longo e complicado Da vida que se irmana em harmonia
Se ainda, mesmo assim, não resistir Mais nada amor, jamais vou impedir Teus passos rumo ao belo e claro dia.
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ão quero que tu sofras minha amiga. Bem sei quanto te quero. Isso é que importa. Tristeza se é demais sempre castiga, E o coração não fecha sua porta A quem sempre se deu e não cobrou, A quem sempre se fez e não propaga, A quem tanto carinho dedicou Não deixa essa emoção ficar amarga... Se eu pudesse sofrer em teu lugar! Mas isso não seria proveitoso, A dor sempre tem muito pr’ ensinar, A gente nunca cresce com o gozo. Por isso, por te amar e te querer Não posso, em teu lugar, a dor sofrer...
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Não quero que tu sintas a saudade Que tanto me maltrata, pois inútil. Por mais que inda resista a claridade E o mundo me pareça quase fútil
Saber que tu existes já me basta, Somente o teu sorriso satisfaz, A vida que aproxima nos afasta, Porém só te desejo imensa paz.
Saudade faz doer o coração, Machuca quando a ausência se apresenta. Repare no destino deste grão
Que se transforma na árvore frondosa. Se ter te conhecido me apascenta, Não ligue pra saudade caprichosa...
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Não quero que tu saibas destas crenças Que trago dentro da alma, falsos credos, No quanto; tantas vezes, logo pensas, Não temo demonstrar velhos segredos.
Distâncias se tornando, então imensas, Omissos os meus olhos mostram medos, As horas vão passando duras, tensas, Secando em sede intensa, os arvoredos.
Quem teve alguma fonte de esperança Percebe quanto o amor cego, secou. Na corda que me enforca se balança
O quando nada tive nem mais sou. Amor vai gargalhando esta aliança Cruel caricatura, o que restou...
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Não quero que tu penses, minha amiga Que toda a nossa vida foi em vão. O Norte que a alegria inda persiga Expressa em calmaria, a solução.
Enquanto agora eu busco alguma viga, Tentando finalmente ter um chão, Às vezes a verdade assim periga E trama novamente a negação.
Mas saiba do poder desta amizade Que nunca mais soçobra em ventania O quanto esta unidade já nos guia
Trará decerto paz, tranqüilidade, Dizendo ao coração que tudo passa, A dor irá sumir feito fumaça.... Marcos Loures
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Não quero que tu mintas nem omitas O que se mostra ser tão necessário, O amor quando demais, num relicário Guardado junto às mais raras pepitas.
As horas do teu lado são benditas, Não temo qualquer seja este adversário Que tente transformar em temerário O mar maravilhoso que ora fitas.
Vencendo algum ciclone que inda venha Erguer em maremotos solidão. O amor quando demais logo se empenha
E traz o suprimento de alegria Que sempre serenando o coração Espalha sobre nós farta magia...
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Não quero que transportes o meu sangue Em pleno coração mais distraído. Nem quero hemorragia que se estanque Nos beijos que te dou, estou vencido.
Não quero que me tomes a minha alma, Pois sinto que não tenho mais remédio. Nem mesmo uma emoção nova me acalma Pretendo me inteirar no meu assédio.
Eu na verdade sou o que preferes, O gosto desta boca é todo teu, Não guardo mais sequer os caracteres Pois tudo o que já fui, amor perdeu;
Eu sou simples cativo que te busca, De uma maneira mansa, mas tão brusca...
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Não quero que se aparte mais de mim, se pareados vamos ao limite. Seguindo cada passo vou ao fim num sonho em que jamais se delimite.
Um venturoso passo dia a dia inexoravelmente nos trará um sol incandescente ao meio dia, pois para onde tu fores estou lá.
Cintilas minha estrela, lua bela, teus raios iluminam meus caminhos. E sempre que eu consigo, amada, vê-la, pressinto como um mar em mil carinhos.
Vem logo meu amor, meu bem querer perfumas desde cedo o amanhecer... Marcos Loures
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Não quero que se adie a solução Que sei, redimirá tantos pecados. Eu tenho em minhas mãos a direção Na qual imaginei sinas e Fados.
O tempo que passara, outrora em vão Com passos vacilantes, pois errados, Depois de ter sentindo esta emoção, Agora, com certeza iluminados
Terão por recompensa um gozo pleno, Da sorte que se mostra em claro aceno, Trazendo finalmente imensa paz.
Perdoe minha pressa, pois eu trago O olhar que de quem jamais, tendo um afago, Devora esta esperança enfim. Voraz... Marcos Loures
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Não quero que renasça nem que morra A sorte que te trouxe sem disfarce Trazendo em nossa cama a tal Gomorra Do beijo em que se fez tal entrelace
A vida sem te ter, vida cachorra Gerando a cada dia um novo impasse Não quero que outra lua me socorra Nem ofereço assim uma outra face.
Apenas bebo a fonte, juventude, Nos trajetos risonhos deste mar. Tomando em cada tento uma atitude.
Quero sem limites, sempre amar, Nas úmidas vertentes deste rio, Enchendo um coração antes vazio.
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Não quero que me tragas a rainha Exposta na nudez de uma derrota, Desponta na certeza toda minha, A vida que se fez além da cota. Não posso permitir que assim sozinha, A noite traga a festa tão remota...
Meu verso vai buscando o teu cuidado, Amiga, não me deixes mais partir O sonho de viver sempre ao teu lado, Aos poucos sem certeza a redimir, Vai logo, se esparzindo abandonado, Não deixa nem sequer amor fluir...
Cuidando do que fora mais querido, Amiga, meu caminho decidido..
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Não quero que me fales destas dores Que tanto me maltratam quanto a ti. Vivendo o que me resta dos temores Do tempo, solitário, em que vivi.
Eu sinto que jamais terei descanso Se nada mais fizer em prol do amor. A noite, em pesadelo, não alcanço, Não quero ser somente um sonhador.
Eu quero o teu carinho, meu remédio, Eu quero o teu desejo em toda aurora. Eu quero que me venhas, teu assédio Eu quero minha senha: vem, agora.
Nos raios divinais, neste luar. Só quero o teu amor, somente amar!
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Não quero que dispares teu trabuco, Fuzil, metralhadora ou canivete. Se eu tenho o coração, velho pivete, Jamais serei além deste maluco
Da lata de sardinha ao ossobuco, A fome não escolhe mais confete, E quem gosta da coisa já repete, Porém se não quiser eu não cutuco.
Não quero ser godero nem ser cuco, Também não vou bancar um imbecil, Falar do que não sei, a alma não viu,
Nem mesmo na explosão do cio, o muco Molhando o meu lençol é garantia Da volta de quem foi levando o dia...
GODERO É UM NOME REGIONAL DO CHUPIM
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Não quero que condenes, simplesmente, Tampouco a tua pena me faz falta. Na dúvida que atroz agora assalta A vida em seus detalhes sempre mente.
Escravo deste sonho, qual demente, Palavra sem disfarce, dura, incauta, Mudando de versão, em outra pauta Transforma qualquer ser em penitente.
Indiferente a tudo que disseres, Teimosamente sigo sendo assim. Açoites e senzalas? Nunca mais.
Eu não farei decerto o que tu queres, Que se danem roseira, flor, jardim. Não quero estas imagens irreais... Marcos Loures
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Não quero puxar saco de ninguém, Não velo por cadáver fedorento Sequer irei usar do velho ungüento Que quando sem remédios, sempre vem.
Percebo que em verdade existe o bem Diverso do que guarda o pensamento, A boca no trombone, se inda tento, É porque sei dos sonhos, cada gen.
Não vou dizer apenas obrigado, Sendo obrigado a ter outra vertente, Jogando fora a cruz, um penitente
Não se cala nem mesmo amansa o brado. Sem sobras nem sobrados, vou ao térreo, Desejo libertário, o mesmo: férreo!
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Não quero piedade nem vingança Apenas muito amor, viva amizade, Quem pensa que na dor de outrem alcança A vitória e também felicidade Não sabe desta luz em aliança Que forma a sem igual fraternidade No Deus, o vero Pai de uma esperança Que traz em tanto breu, a claridade. Por mais que isso pareça uma mentira O tempo vai mostrando uma lição, Quem rouba as esperanças, sempre tira A própria num futuro tão incerto, A vida sempre dá contradição Sozinho, tal ladrão segue o deserto...
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Não quero picuinhas nem encrencas Beijar a boca amarga da saudade Amores que já tive quase em pencas Não deixam mais seus rastros. Rompo a grade...
Meu mundo não será jamais sozinho Depois de ter na moça esta partilha, Misturo amor/desejo num cadinho, Mas sei desta arapuca. Uma armadilha.
Engatilhando o sonho de um panaca A culpa é desta bala que perdida Penetrando numa alma tola e fraca Desdenha do que um dia se fez vida
Nas mãos do meu destino, sou joguete, Fingindo ser de angu, o meu banquete...
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Não quero pesadelo mais; querida; Eu quero nossas noites mais serenas. São tantos os caminhos desta vida, Decerto alguns machucam, causam penas...
Mas tenho uma certeza mais sensata. Não vejo solidão em nosso mundo. “A lua vem surgindo cor de prata” Inunda nossa vida num segundo...
Mexendo com as nossas emoções Metades se completam, nossa cama... Batendo sempre juntos, corações, Isso é comum; bem sabes, quando se ama...
Por isso, minha amada; não mais sonho. Acordado, meu mundo é mais risonho...
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Não quero perguntar d’onde vieste, Nem quero que me mostres cicatrizes. Dize-me que passaste podre peste Nos tempos, áureos dias, mais felizes.
No mundo sempre existem tais ciprestes: São duros, são gigantes, sem deslizes... No fundo, não resistem ventos lestes. Ao fogo da verdade, são perdizes!
Jamais te esconderei os meus pecados; São tantos, são venais, estão expostos... Não crio nem fantasmas nem sobrados.
Sou manso como fera em pleno cio. Cadáveres (passado) decompostos, Não trago essas mortalhas; vou vazio!
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Não quero perder tempo com você Enquanto beija logo dá seu bote, Juntando o nosso amor nesse pacote, Não resta nem sequer bundalelê
Quadril que foi talhado à bambolê Fungada tão gostosa no cangote, Amor que nem fusquinha ainda lote Deixando sem vontade e sem porquê.
Na boca, a gargalhada toma a cena, O beijo? Da mulher sobrou a aranha Eu tento disparar, mas não se engrena
Nem mesmo a fantasia me arrebanha, Porém é um pedaço de morena! Só resta, olhar do vale, esta montanha. Marcos Loures
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Não quero pagar mico, meu amor. E faço da mentira um estandarte, Não sou Mercúrio, Urano quiçá Marte, Em tese, um guerreiro a te propor
Um novo Paraíso encantador, Sabendo que no fundo sou descarte, O beijo que se deu ao procurar-te Sem pejos se apodrece, e quer valor.
O parto em que nasceu já preconiza O fim desta emoção que se agoniza Fingindo ser semente, mata o grão.
O amor que a gente quer nunca existiu, O tempo se tornando audaz e vil Entoa em desalinho esta canção... Marcos Loures
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Não quero pagar mico. Vou embora E deixo para trás os meus contrastes, Se os versos pegajosos formam trastes Apenas o vazio ainda ancora
O coração tão tolo que demora A perceber o quão são frágeis hastes O que julgara outrora mil guindastes E a minha poesia corrobora...
No pátio das perdidas ilusões Os ventos nas mangueiras balançando Dos frutos que hoje encontro desabando
Pensara a liberdade dos balões. Fortuitas alegrias vão e vêm, Ao fim vou novamente sem ninguém..
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Não quero ouvir do mar nenhum marulho Momentos que passei, as ondas levam... A fonte das maldades, teu orgulho. Os olhos meus, chorosos, sempre nevam...
Na vida carregamos tanto entulho, Os dias com eclipses já se trevam Amor que nunca deste sem barulho Morrera assim, depressa e já me entrevam...
No fio desta teia que teceste, Enredo meus desejos e defeitos. Nos braços de quimera me envolveste,
Sorrisos nos teus lábios podres, toscos Mordendo apodrecendo trastes feitos... Os olhos que me miras sempre foscos... Marcos Loures
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Não quero ouvir a voz da consciência, Tampouco vendo a minha insensatez, Alugo a fantasia que não crês, Quem sabe isso melhore a convivência?
A poesia tem esta incumbência, E nisso não demonstre esta altivez, A conta que venceu no fim do mês, Já foi; se não me engano, pra gerência,
Depois é discutindo futebol Que a gente reconhece que o anzol Trará esta traíra. Não me esqueço
Que tudo recomeça no tropeço E joga as tais verdades pelo chão, Formando, aos poucos; trégua e direção.
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Não quero os traiçoeiros beijos falsos Dos mansos viperinos lábios tétricos. Não quero mergulhar em cadafalsos Nem quero mais prever os botes métricos.
Depois de andar sem senso imenso mar Imerso no universo mais distante. Vestido de ilusão pretendo amar, Mesmo neste pretenso delirante.
Sou cálice do vinho da saudade Sem parte sem ter corte, estou curtido. Não meço se te peço ou se inda me arde Devido a tanta dor vou dividido.
Mas quero teu amor. Quem dera inteiro, Mesmo que seja falso ou verdadeiro...
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Não quero o teu perdão, tampouco o riso Irônico de quem jamais se deu. Teu mundo num momento fora meu, Porém logo secaste o Paraíso...
Partiste sem sequer qualquer aviso E o quanto foi demais tudo morreu, Dos sonhos falseaste este himeneu Jogado em algum canto que impreciso.
Mas nada do que fazes mais me importa Escolto a poesia atrás da porta Usando como escudo o teu sarcasmo.
O amor não se condena nem socorre, No fundo, não passamos deste porre Voltando novamente ao bom marasmo...
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Não quero o teu amor por toda a vida, Amor quando se quer a ultrapassa. Nem quero que me trague despedida, O tempo do teu lado nunca passa Tu és a sensação bem mais querida Não é apenas laivos da fumaça, Minha alma na tua alma vai cerzida, Colada e nunca mais dela se esparsa. Não quero o teu amor tão corriqueiro Que bata ponto à noite, manhã se esquece. Amor se necessita ser inteiro, Não deve ter nem dia ou calendário, Amar com tal fervor sugere prece, Não quero amor assim: um funcionário..
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Não quero o sofrimento de quem amo, Por isso viveremos tal ventura. Teu corpo toda noite, amor, reclamo, A vida sem te ter morrendo escura.
Teu nome tantas vezes, sempre chamo, Sinônimo de vida e de ternura. Vibrando uma esperança assim exclamo Na busca que não cessa por candura.
A luz que nos guiou, viva resiste, No peito de quem sabe o que é amor. Meu mundo sem te ter, morrendo triste,
Tu és a minha glória soberana. Contigo caminhando aonde for, No brilho que este amor pra sempre emana..
44
Não quero ser estúpido ou pamonha, Deixei de ser somente um imbecil. Por mais que com amor a gente sonha, A ponte dos desejos se partiu.
Restando tão somente um verso vil Que morrendo de tédio ou de vergonha Aguarda a solução que nunca viu Enquanto vai babando nesta fronha.
Sejamos bem mais simples: quero e queres? Porém se não quiseres há quem queira, Mas saiba que se um dia tu vieres
Verás que não fugi, nunca da luta, O amor rasgou há tempos tal bandeira A moça agora está bem mais astuta...
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Não quero ser apenas um cachorro Que segue sua dona vida afora, Por isso em outros braços me socorro A boca que ora beijo revigora.
Não diga que sem ti, querida, eu morro, Verdade é soberana e não demora. Ainda não te dei nenhum esporro, Mas jogue a fantasia agora, fora
Capacho que sonhaste mostra os dentes Por mais que com mentiras inda tentes Tampar o sol imenso com peneiras.
Não deixo que domines os meus passos, De ti nem garatujas, sequer traços A terra pegou fogo, sem palmeiras...
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Não quero ser a sombra do que fomos Besteira é procurar qualquer culpado O telefone está sempre ocupado Olhares entre rostos, tolos momos
A roupa já não cabe. Rasgo os tomos, O velho sentimento ultrapassado Beber do teu licor? Vou ilibado, Sem ser nem querer ser o que não somos.
Estou, digo a verdade, agora farto, Por isso quando em lágrimas me aparto, Apenas pra manter o antigo estilo.
Perdoe se te falo francamente, Não vou mais te enganar, estou contente, As lágrimas que correm? Crocodilo... Marcos Loures
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Não quero ser a estrela que morreu Nos céus de quem outrora fiz feliz. De tudo o que sonhara ser tão meu, Apenas o vazio que não quis.
Vestígios do que fomos, casa afora Rondando cada sonho, pesadelos... Escuto a tua voz chamando, agora, E sinto junto a mim, os teus cabelos.
Perfumes de gardênia, num bolero Que nunca dançaremos. Sem ninguém, Inutilmente tolo ainda espero Clamando pelo gozo que não vem.
A noite se embrenhando em solidão, Estrela que, cadente, veio ao chão... Marcos Loures
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Não quero sentir medo nem saudade Apenas esse vento me acarinha Trazendo, esse poder: felicidade. A noite sem talvez já se avizinha...
Promessa que me traga novo amor No brilho desta estrela que morreu. O vento que soprando traz sabor De tudo que minha alma se esqueceu.
Andava te buscando, minha rosa, Jardins que percorrera, tão vazios... Por mais que consideres vaidosa, Revive nos meus sonhos, velhos trilhos...
Amor que calmamente, tudo invade, Ao mesmo tempo sangra e não mais arde...
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Não quero nem sequer saber o nome Daquela que se fez ingratidão, Esqueço sem pecado e sem perdão Enquanto a poesia foge e some.
Minha alma sem carinho que inda dome Vagando sem ter rumo ou direção, Batendo mansamente em teu portão Olhando de soslaio passa fome.
Amor feito um trombolho me atropela Trombando com recônditas defesas, Não quero ser igual às tolas presas
Servidas na bandeja ou na tigela, Nem ser mais um otário, um serviçal Do escandaloso amor, este boçal...
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Não quero nem saber Se a noite vem com lua, Eu quero o teu prazer Potranca bela e nua,
Que a vida a se verter, Pra sempre continua, E assim vou conceber A vida nua e crua.
Eu quero o teu carinho Jamais eu te esqueci. Um canto assim sozinho,
Distante assim daqui, Já sabe que o caminho, Que existe leva a ti.
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Não quero nem saber se já me alcança O frio que promete um duro inverno, Contigo me esmerei em tanta dança Mostrando este futuro bem mais terno. Nos passos em que bailo uma esperança De amor que desejara ser eterno....
Andando em corda bamba a vida inteira Tu sabes todo o bem que em ti mais quero. Dançando logo um samba em gafieira Convido-te depois para o bolero. O frio desta forma, uma besteira, O tempo que perdemos? Recupero!
Não deixo meu amor assim tão só, Mineiro em contradança? Só forró! Marcos Loures
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Não quero nem saber se a mula é manca Tampouco se ela perde rumo ou passo. A lua que te dei, deveras branca Ocupa plenamente nosso espaço.
Enquanto sem destino ainda caço A boca desta noite que desanca, O tempo se tornando opaco e baço, Apenas poesia, os sonhos banca.
Não quero mais saber se tenho sorte, Tampouco se virá depois a morte, Amortizando os erros desta vida.
Não vejo solução pro nosso caso, Pra quem trouxe nas mãos o frio ocaso, A ausência foi herança merecida. Marcos Loures
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Não quero nem permito tanto estilo, Nas respostas que deste sem pensar... A vida tonelada me dás quilo, A lua não reflete teu mirar...
No que concerne, verme sou tranqüilo; As odes que cantei, levou o mar. Meus medos pertinentes aniquilo; As horas que escapei de teu sonar.
Embarco em tua nova embarcação, Nos lemes e nas proas, tempestades. Perdendo tanto tempo, o coração,
Não posso mais saber futilidades... As rotas que me destes, são quimeras. Saudades de quem fui e quem tu eras...
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Não quero nem mais banda nem confete, O velho carnaval perdeu sentido. Enquanto vou à toa, mal carpido Adoço uma ilusão que se repete.
No samba sem caçamba e sem bilhete A cada novo verso, mal servido, Inebriante gozo deste olvido Estou numa de bico pela sete.
Colérica ilusão já faz das suas, Enquanto em outro palco eu sei que atuas As tuas garras cravas: ironia.
Se a barca dos meus sonhos naufragou, Se a lua já se foi e não voltou Que danem-se as inúteis poesias... Marcos Loures
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Não quero nada além de um manso cais Aonde eu possa crer no ancoradouro De um bem tão desejado e duradouro Que não conheça nunca o que é jamais.
Propósitos da vida, desiguais, A uns traz a riqueza de um tesouro No sol onde deveras eu me douro, E a tantos tão somente os temporais...
No tanto que parece ser tão pouco Aos olhos de um hedônico farsante, Fazendo à glória; ouvidos, pois, de mouco
Não sabe mais medir qual a importância Da vida que se dá sem a ganância, E somente no afeto se agigante...
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Não quero meus poemas, os detesto! Expondo minha entranha malfazeja, Mostrando meus estrumes, sou o resto. A morte, companheira, me deseja...
Vou medonho, meus versos desembesto Trazendo a podridão que já me beija. A noite me trazendo seu incesto, Promíscua relação que nunca invejo.
A noite enluarada se engravida, Dos raios terminais deste deus sol. A morte que pensei, brotar da vida,
Refaz o seu caminho, sem farol, Meus versos, traiçoeiros, forte brida, Atando-se em teus braços, gira o sol... Marcos Loures
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Não quero me iludir com nosso amor, Embora te deseje noite e dia, Eu sei que não suportas trovador Que tenta te cantar sem poesia... Arrisco estes versinhos já sem graça Tentando te falar: te quero bem, Porém sem um sorriso, nem disfarça E passa sem me ver, eu sou ninguém! Quem dera ser poeta pra dizer Tantas coisas bonitas; te falar De toda essa vontade de te ter, De como é bom poder te namorar... Porém eu nunca causo um alvoroço, Banana, meu amor, não tem caroço!
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Não quero me apartar, assim, da vida; Nem quero te deixar tão insegura. Sabemos que vivemos de saída, Temendo não viver senão tortura.
Toda lembrança trago de meus dias Nos dias em que fomos aprendizes. Agora, mais maduros, na harmonia, Podemos nos dizer bem mais felizes...
As dores que te tocam,atormentam, São coisas que passamos desde outrora. De sonhos, os amores, se alimentam. Prazer já nos envolve e nos devora...
Eu quero te encontrar sob o edredom, Rolarmos nesta noite em mesmo tom...
59
Não quero mais ter lucro ou benefício Mal pago minhas contas, me liberto. O amor quando se torna precipício Não fico nem pretendo estar por perto.
O sexo se bem feito vira vício, Aguando em ilusões qualquer deserto. Porém quando o desejo é só fictício Em volta deste jogo eu fico esperto.
Metade do que fomos resta nada Outra metade guardo na lembrança. O fim da noite mata uma alvorada
Deixando bem distante esta esperança. O quando que eu te quis, ó bem amada Não paga nem garante uma fiança... Marcos Loures
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Não quero mais ter briga São estes meus anseios Depois de tanta intriga, Encontrei outros meios
Quem sabe não instiga Nem faz tantos rodeios, Confesso minha amiga, Que tu tens belos seios...
Amor tenho de penca E dou quando quiseres, Deixemos já de encrenca,
Prometo se vieres, Deitar-te qual avenca Assim como preferes... Marcos Loures
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Não quero mais te expor minhas entranhas, Nem mesmo transcender sobre teus atos, Sou vale povoado por montanhas Que formam os milhares de regatos Das dores que traduzem minhas sanhas; Os erros cometidos, meus retratos, As horas que passamos não são ganhas São ermas e não dizem novos fatos... Por isso não te quero conduzir Por vagas tempestades da existência, Nem quero em teu olhar reproduzir Toda essa obscuridade que há nos meus, Te peço, meu amor, tenha clemência, Jamais permita um fim em vago adeus...
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Não quero mais silêncio concebido Num momento fatal em despedida, Pois todo o sangramento foi perdido Encontro, agora toda a minha vida! Eu não quero saber se foi havido Ou sequer se ela vai despercebida, O sofrimento perde o seu sentido, Qual fruta sem valor, apodrecida... Não vou mais só, sem tempo e sem espaço, Vou levando a paz, perco o meu cansaço, Nem quero mais saber desse senão. Recuperando a cor, meu coração, Não quer mais ter limites neste abraço, Por onde vou, eu bebo essa amplidão!
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Não quero mais sentir tanta tristeza Como eu sentira há tempos, me abrasando. Saber que se encontrar tanta incerteza Por certo meu caminho irá guiando... Não sei se por temor ou por defesa As dores se chegavam como em bando, Minha alma já pesando, muito obesa, Em todas as amarras fui me atando. Depois que te encontrei, amiga minha, A vida foi rompendo estes grilhões. Do resto de esperança que inda tinha Fizeste real possibilidade De poder libertar-me dos senões Trazendo a força imensa da amizade!
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Não quero mais seguir rumos ateus Que façam das mentiras, a bandeira, Deitando uma ilusão sobre a liteira Escondo os meus olhares já dos teus.
Nos arremedos todos, teus e meus, Vendidos em barracas nesta feira A morte talvez seja corriqueira Ribeiras encarnando nosso adeus.
Barrancas de minha alma desabando Enchentes inundando em turbilhão, O parto em que geraste foi em vão
Os olhos da esperança, o mesmo bando Tocando na ferida mais preciso, Meu verso se tornando mais conciso. Marcos Loures
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Não quero mais saber se terei paz, Apenas te decoro passo a passo, De tanto que sonhei sou bem capaz De mergulhar bem fundo cada espaço.
Não sei se mais desejo ou se te quero Apenas comemoro teu prazer Envolto nos teus braços desespero E sigo com vontade de te ter...
Depois de nosso amor ter sido feito Desfeito nos teus braços, meu sorriso, De tudo que senti, vou satisfeito, Buscando novo mundo e paraíso...
Eu sinto cada vez mais que estou perto De semear prazer no teu deserto...
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Não quero mais saber desta tristeza Que um dia, foi sincera companhia, Rompendo das paixões, cada represa, Num mar de amor intenso, em ventania,
Transborda inundações, na correnteza Voraz que me transporta em alegria A vida não se poupa serve à mesa Imensa variedade em iguaria
Encontro a solução para os meus ais, No amor que me invadiu, meu porto e cais Promessa de festanças raras, ternas,
Expresso neste canto uma vontade De entrar e conhecer à saciedade Fornalhas entreabertas, coxas pernas.
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Não quero mais saber de teus carinhos Nem mesmo os teus conchavos, jogadora Que joga nosso amor janela afora E finge cuidadosa, mata-ninhos.
Os olhos como velhos passarinhos Buscando poesia desde agora São fúteis tão inúteis, a alma chora E bebe a solidão dos descaminhos.
Se à bruma ela me embroma e mal disfarça As pernas delicadas desta garça Esgarçam fantasias sem perdão.
A força desta moça empoça o sonho, Estúpida emoção antes medonha Agora morre aos poucos. Solução? Marcos Loures
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Não quero mais saber de coisa alguma Apenas vou fazendo que nem ligo. Por mais uma tristeza nos consuma, O amor não correrá qualquer perigo.
Mas quando uma esperança assim se esfuma, Em pleno desespero, sempre brigo. Não quero nos meus céus a velha bruma Que outrora condenou ao desabrigo.
Eu quero ter teu corpo em minhas mãos, Sem isso, os meus momentos serão vãos E nada me trará felicidade.
Tocando a tua pele com meus beijos, Matando com carinhos, teus desejos, Enfim me sentirei mais à vontade... Marcos Loures
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Não quero mais rimar amor e dor. Ouvindo o que dizia Monsueto, No quanto é necessário ser dueto Sozinho perde a graça e não tem cor.
Por isso eu bem queria te propor Vai ser bem gostosinho, eu te prometo. Com coração vazio; não me meto, Jardim só é bonito se tem flor...
Não vou ficar aqui quieto e parado, Sentindo de quem ama; pura inveja, Enquanto esta vontade assim lateja
Carinho e cafuné; do meu agrado, Quem vê bela morena e não arrocha, Desculpe companheiro, é gay ou brocha...
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Não quero mais reter este delírio Que teima em transformar todo o meu pranto Em serenata louca. Meu martírio: Querer receber ecos do meu canto! Quisera a mansidão de um alvo lírio, A sedução gentil sem desencanto. Podendo te enxergar, cura e colírio, Me salvando e trazendo o teu encanto. Não sei como viver na tua ausência, Não quero ser enfim, o fim da história; Pedindo, quero muito uma clemência Da vida. Foste canto, inda és glória. Não quero que me invada uma demência. Não quero uma saudade na memória...
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Não quero mais quimera que me queime Nem quero mais saudade que me alcance Por mais que tanta vida sempre teime, Sem ter amor, decerto, sem romance...
Amor é quase sempre tão temido, E faz da solidão, um prato amargo. Amor quando do amor vai esquecido. Decerto o seu destino some ao largo.
Eu vi nestes teus olhos, a saudade Dos tempo em que fomos mais felizes. A vida se desfez da claridade, Deixando na minha alma cicatrizes.
Eu quero o teu carinho, minha amada. Sem teu amor, a vida? É quase nada...
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Não quero mais qualquer insensatez Somente o que restou do coração. No couraçado perco minha vez Invado a carapaça da emoção.
Não sei nem me pergunte o que se fez Do verso que em feitio de oração Foi mártir, despedida onde fui rês Sonante como um sonho em explosão.
Sou bicho mansa fera sem clemência Vingando cada ausência repartida. No fundo não sou mais que uma excrescência
Sou vago, vou vazio, ganho o fim. Percalços? Encontrei em minha vida, Amante desta sombra que há em mim...
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Não quero mais palavras piedosas, Nem tampouco mereço condolências. Se eu tive no canteiro podres rosas, Que danem-se meus versos. Inclemências!
As horas que se foram; de saudosas Agora se transformam: indecências. Estradas tão divinas, luminosas, Capotam no final, impaciências...
Um resto de perfume na amizade Que um dia cultivei em outra senda. Talvez inda me traga a liberdade
Que nem esta saudade mais desvenda. Viver e conhecer felicidade? É na verdade, apenas, simples lenda...
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Não quero mais ouvir triste lamento Apenas escutar a mansa voz Que tantas vezes trança em fortes nós Felicidade imensa em um momento.
Amar é converter o pensamento Que temos, minha amada, dentro em nós Em rio que caminha para a foz Num passo mais seguro, mesmo lento.
Amor é luz intensa e não se apaga Nem mesmo a tempestade, imensa vaga, Consegue soçobrar amor bendito
Que tendo a resistência de um granito, Até u’a dura fera, amor afaga, Nas bênçãos que o transformam, infinito...
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Não quero mais ouvir os teus lamentos, Amiga estou contigo, não me vês? Deixando bem distantes estes porquês Abrindo o coração receba os ventos
Não sabes que estes sonhos são ungüentos? Despreze inútil busca. Não me crês? O passo libertário, o mais cortês Trará felicidade. E vem aos centos.
Apego ao que viveste sem sucesso, Decerto impedirá qualquer progresso E assim, cadê acesso à redenção?
Olhando para frente toca a banda Senão a maionese já desanda E o templo da esperança cai ao chão... Marcos Loures
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Não quero mais ouvir esta balela, Eu sou apenas pneu sobressalente Enquanto outro prazer não se revela Tu finges que estás sempre tão contente.
Por um momento o sonho nos atrela Depois tu buscas logo noutra gente O amor que na verdade já não sente Não posso suportar arreio e sela.
Pois quando tu me beijas, falsidade, O teu olhar procura um outro rosto, Eu sei o quanto é duro uma verdade
Mas não suporto mais o sofrimento De ter a fantasia, e num desgosto, Depois da calmaria, este tormento... Marcos Loures
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Não quero mais o mal a me enganar Forjando uma esperança em cada rosto. Não quero mais um duro despertar Nem quero conceber novo desgosto. Meus olhos nos teu corpo, luz solar, Trazendo um novo sonho assim exposto...
Quem fora dedicado ao grande amor, Não deve ser ferido por mentiras. Talvez uma manhã, neste esplendor, Refaça um coração cortado em tiras; Mesmo que seja assim, só por favor, Desejo que esta boca tu prefiras
E beije-me tranqüila e mais serena, Senão esta tristeza me envenena...
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Não quero mais o claustro em que vivia Bem antes de saber tua existência. Tu sabes que trouxeste uma alegria Meu riso não é mera coincidência...
Não quero esta prisão tão solitária Que sempre povoou os sonhos meus. Nem quero mais na vida, como um pária, Ouvir esta palavra: tchau, adeus...
Morena que me trouxe de outras eras O gosto de viver sem ter senões. Vencendo meu temor por primaveras Estamos desfrutando esses verões...
Não quero mais o claustro em que vivi, A chave de esperança, encontro em ti...
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Não quero o sofrimento como paga Nem mesmo a solidão, cruel herança. A mão que me maltrata, quando afaga Ainda me permite uma esperança.
A boca que me beija, sorve e traga, Tristeza,uma terrível contradança Depois chega mansinha e tudo apaga, Desanca enquanto marcha e não avança.
Espero neste céu, reviravolta, O amor que já partiu depressa volta A me falar do quanto eu te desejo.
Vencer as intempéries, simplesmente, Viver o amor que eu sonho, plenamente Bonança e calmaria, o bem que almejo... Marcos Loures
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Não quero o sofrimento como lema, Tampouco a solidão como estandarte. Amar é repetido e doce tema, Por isso é que pretendo sempre amar-te...
Não deixo que se perca o pensamento Em meio a tantas dores que vivi. Nas curas que pretendo, bom ungüento, No mundo sem amores, me perdi...
Cobiço teu carinho em meu carinho, Anseio pelos seios maviosos. Amor que louco sinto, é como o vinho, Inebria em milhares, tontos gozos...
Não quero o sofrimento nem o medo. P’ra ser feliz, amor, é meu segredo...
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Não quero o nosso amor assim exposto Qual fosse uma manchete de jornal. Não deixe que se estampe em nosso rosto A marca, a cicatriz, nada afinal.
Eu amo-te profunda, intensamente, Bastando teu amor pra ser feliz. Meu mundo tu dominas totalmente, É tudo o que sonhei e que mais quis.
De amor vivo repleto e nunca nego Tu és tão importante para mim, Decerto tanto amor; assim carrego, A vida que queria, encontro enfim...
Saiba que estou, por ti, apaixonado... Vivamos nosso amor, tão bem cuidado...
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Não quero o fero gozo desta fera... Sorver a servidão sem serventia... A pêra envenenada nada impera. A volta que velei da valentia...
No Crato já cravei minha cratera. O vento vai veloz é ventania... Quem dera te mandar pra termosfera, Acerca desta cerca e cercania!
Não quero o doce manso sem veneno. O par que me deu parto já partiu. Amor armou amores morreu pleno.
Os cacos tão caquéticos comi... Meu prato foi o pranto que pariu. Os restos recebi... E estão aqui! Marcos Loures
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Não quero o chororô da falsidade, Tampouco esta tristeza mentirosa, Recônditos caminhos matam rosa Que teima em procurar a claridade.
Sombrias existências querem jade, Porém a minha estrada é tenebrosa, E quando a caminhada é pedregosa Apenas espinheiro toca e invade.
Vou coroar meu mundo com tal cardo? Não quero ter nas costas este fardo Torrenciais tempestas são chuviscos.
E a brisa que querias temporal Denota o que se fez mero jogral, Em sonhos tão audazes quanto ariscos...
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Não quero nem silêncio nem torpor Nem tampouco a cruel indiferença, Vivendo tantos anos sem amor Perdendo nesta vida toda a crença.
Há muito procurando pela rosa Que quase não percebe um beija flor, Quem vive nesta vida tão vaidosa, Se perde muitas vezes, trama a dor...
Não deixe minha amiga que a tristeza Invada teu cantar suave e brando, A vida que é por si, maior nobreza, Em todos os caminhos perfumando...
Amiga; te bendigo e te agradeço, Teu canto é muito mais do que mereço!
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Não quero mais hermética palavra Que entrave a poesia e a desdiga A mão do agricultor, a terra lavra, Carícia que se faz em uma amiga...
Pássaros revoam nos trigais, São pontos delicados no horizonte, Abrindo o coração e seus umbrais Permito que este sol raro desponte
Bebendo a claridade em plenitude, Vivificando a sorte que se expressa No amor que a poesia em paz confessa
Tomando com firmeza esta atitude Eu posso descobrir raro tesouro No sonho fascinante em que me douro...
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Não quero mais limites neste sonho Que faz com que meu dia se liberte, O amor que tantas vezes te proponho Deixando que a saudade enfim, deserte
Iluminado ao sol de um novo tempo, Aonde uma esperança voe além. A vida que se faz sem contratempo Percebe nos teus olhos, farto bem.
Audazes pensamentos glorificam O sentimento imenso e solidário. O gozo destes sonhos edificam Um mundo aonde o riso é necessário
Vagando nos teus lábios, poesia, Quem sabe te terei por mais um dia... Marcos Loures
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Não quero mais lamúrias, estou farto De ter que prosseguir sem companhia. A morte tantas vezes inda guia A luz de quem distante, busca um quarto.
O verso que sozinho eu não reparto, Enquanto a solidão ainda urgia Provoca a mais temida ventania Aborta esta emoção, sonega o parto.
Agacho-me e procuro por teus passos, Depois de tantos anos, erros crassos Que outrora cometi, hoje repito.
E deixo os meus espectros no varal, Quarando uma esperança bem ou mal, Fazendo deste sonho, simples mito... Marcos Loures
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Não quero mais juízo E sim esta loucura É tudo o que preciso, Amor que não tortura
Não pede pelo siso, Se invade de ternura Transborda num sorriso, E marca com brandura...
Não posso te perder, Eu sei quanto te quero, Em ti, quero saber
Do quanto amor espero, Qual gato a te lamber, Menina, eu te venero! Marcos Loures
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Não quero mais incerta claridade Que tantas vezes queima, outras se esvai, O sol feito em mormaço nesta tarde, Promete a tempestade que não cai.
Deixando bem distante a mocidade, Palavra sem cuidado já me trai, O sonho de viver, casar, ser pai Morrendo devagar, mata a vontade.
De um dia ser feliz, mas não me cabe Sequer sonhar demais, vago sozinho. Quem teve uma ilusão, seca o caminho,
Espera simplesmente que se acabe, Na dura tempestade prometida, O que restou, amiga, em minha vida...
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Não quero mais fofoca, mas me conte Quem foi a disgramada fofoqueira. Embora uma verdade se desconte Não posso fazer nada que não queira.
Amor não permitindo tal desmonte Aumenta até chegar na Mantiqueira. Não posso permitir que alguém te afronte Pois sabes que tu és a companheira
Que sempre desejei, faz tanto tempo. Deitando em tua cama eu já me acampo. Amor jamais foi puro passatempo.
Eu quero desfrutar de cada campo Fazendo com ternura este plantio. Vem logo, meu amor, que estou no cio.
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Não quero mais falar; quero sentir Teu corpo em noite clara, maviosa. No brilho de teus olhos, refletir A lua que luzindo é fabulosa.
Somente o que me resta é te pedir Que voltes para mim, bela e fogosa, O gozo mais gostoso repetir Na noite que se dá voluptuosa
Senão esta saudade a maltratar, Pode, mais depressa, me matar, Por isso é que sedento agora, após
Meu corpo desbravando cada mina Que emana em nossa noite e determina As marcas dos amores nos lençóis...
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Não quero mais falar em poesia Dos temas mais estúpidos que eu sei. Enquanto um novo amor se fantasia Respondo ao coração: de novo errei.
O pinto que é de fora aqui não pia, Novo rabo de saia? Eu me estrepei, Tentando decifrar se é noite ou dia, Bobo da corte pensa ser o rei.
Cupido um cara chato e provocante, Tentando acertar o alvo, num instante Bagunça a minha vida novamente.
Moleque tão estúpido e safado, Olhando de soslaio pro meu lado, Não tendo o que fazer: não mais me atente! Marcos Loures
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Não quero mais falar do torpe amor, Alucinógeno, uma farsa vã. Estúpida serpente que a maçã À louca desvairada quis propor.
Um verso sem perfume e sem rancor Talvez inda trouxesse na manhã O cheiro de mortalha em seu afã, Do porto do prazer, estivador.
A par desta incontida tempestade, Velejo sem ter âncora ou timão. Fatídica quimera que em monção
Aguarda um manso cais, tranqüilidade. Não quero mais falar de tal torpeza, Exposta em podridão por sobre a mesa.... Marcos Loures
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Não quero mais falar deste danado Bichinho sem vergonha, o tal do amor. Cansei de ser pamonha, mato a flor E deixo o meu caminho assim de lado.
Se eu tentei vislumbrar um belo prado, O desgraçado fez este favor De matar em desencanto, o sonhador, O trilho que encontrei: esburacado...
De tanto que virei simples chacota Ao procurar o rastro da cocota A cota ultrapassei e já tou fora.
Chamego de morena? Nem pensar. Fechei minha janela pro luar Viola pus no saco e vou embora...
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Não quero mais eguinha pocotó Nem mesmo uma menina atoladinha, O coração de um cabra bate só Atrás de uma esperança que não vinha,
Se tudo o que eu disser já te dá dó, Perdoe se eu jamais andei na linha Dos tempos do bolero e Pedro Bó, Não quero guarda-chuva nem sombrinha
Apenas um momento em que eu pudesse Falar da maravilha que se tece Esquece que isso vira uma bobagem.
Nascido do luar do meu sertão Não sei cantar nem bonde nem Tigrão Meu verso se perdeu nesta viagem... Marcos Loures
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Não quero mais derrota nem vitória Que possa transtornar o meu caminho. O quanto em nosso amor se fez vanglória Não deve bagunçar o nosso ninho.
Teu corpo; é necessário que eu te diga, É fonte de prazer inesgotável, Por mais que te pretendo minha amiga Falar que eu te desejo? Inevitável.
Sem cobertas, desnuda em cada sonho Rasgando num galope as tempestades. O todo mais sincero eu te proponho Riscando pelos céus felicidades.
Tocando a maciez de teus cabelos, Nas pernas, entrelaces e novelos... Marcos Loures
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Não quero mais dentro alma esta tristeza Que dobra como um sino em duros dias, Algozes tempestades, ventanias, Rondando a minha casa em incerteza.
Não quero mais ouvir a triste reza Daquelas carpideiras, agonias, As noites solitárias são tão frias, Distantes de um sentido de beleza.
Não quero mais a chuva no telhado Nem mesmo a cantinela em ladainha. Alvíssaras ao meu sonho enamorado,
Que me impregnando traz tanta ternura, Deixando para trás uma amargura, Numa emoção sublime que é só minha...
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Não quero mais deixar de ter você Dona dos pensamentos que se assomam, Se tenho algum futuro em que se crê Que as vidas diferentes lá se somam,
É feito tão somente, amor por que Amores que nós temos sempre domam. Por isso, em cada dia a luz se vê Nos versos e delícias que nos tomam.
Agora, sei caminho que percorro, Em cada fantasia que criei, Nas altas cordilheiras dos meus sonhos.
Nos braços ofertados, meu socorro, Consigo a vida inteira eu viverei, Em dias com certeza tão risonhos...
9600
Não quero mais conter esse delírio Nem quero transformar todo esse pranto Em serenata louca, sem martírio. Quero perceber ecos no meu canto;
Eu quero a mansidão brotando em lírio Na sedução gentil, onde agiganto, Tua beleza intensa, meu colírio Pintando em minha vida seu encanto...
Na dor que sentirei na tua ausência, O que restou, no fim, da minh’história. Te peço meu amor, tenhas clemência.
Da vida, foste encanto, foste glória, Não deixes dominar-me esta demência Não quero só guardar-te na memória...
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