
MEUS SONETOS VOLUME 055
Data 06/12/2010 13:18:56 | Tópico: Sonetos
| 401
Donde vem o corcel no qual flutuas? As asas, unicórnio galopante... Ao ver-te maviosa, as costas nuas, O sonho se demonstra radiante...
Sublime e delicada, corres luas, No céu és como estrela fascinante! Nas bocas entrelaças, continuas Cavalgando beleza alucinante...
Quem dera cavaleiro formidável, Nas frestas destas nuvens que cavalgas, De tudo que seria imaginável,
Meu mundo esqueceria vil temor, Nos mares dos amores, tantas algas, Nos céus das ilusões o nosso amor... Marcos Loures
402
Donde vem este amor tão desvairado? O sol vermelho queima tuas coxas. Mergulho neste mar, extasiado, As flores da saudade morrem roxas...
Meu doido coração bate depressa Beijando a carne inteira deste sol. E sinto que minha alma já se apressa, Morena, teu amor, meu girassol...
Voluptuosamente te procuro, Sereia que encantou meu coração. Teu verso enamorado, sempre puro, Invade meu viver, louca paixão...
O sol vermelho trama nesta praia Morena meu amor... Coxas e saia...
403
Dona do claro olhar, por ti estou chorando... Em toda vida tive o sonho, a fantasia; De ver aqui do lado, um brilho qual o dia. Pergunto-me em silêncio : sonharei até quando?
Depressa foste embora, a vida foi passando; Ao mesmo tempo fui, porquanto já sabia Que nunca mais aqui, teu brilho encontraria. Serei feliz? Jamais! A vida se escoando...
O brilho deste olhar não sai do pensamento, Relembro deste azul em cada vão momento. A noite dolorida, em sonhos, me revela
O canto da esperança está pleno de enganos. Jamais hei de encontrar, depois de tantos anos, Beleza sem igual, olhar de Manoela! Marcos Loures
404
Domine esta palavra meu amigo, Receba cada verso que ora faço Mínimas as chances que persigo, Fazendo a poesia traço a traço
Solfeje cada nota, sem perigo Lamento, e te replico sem cansaço, Simulo outro verão no olhar mais baço Doendo no meu peito em desabrigo;
Revejo cada dia que vivi, Miríades de estrelas, luz tão vária Fatídica verdade queima em fogo
Sol, esta estrela que una chega aqui Lançada sobre o céu, e solitária Sinônimo de brilho, Botafogo! Marcos Loures
405
Dominando em prazer, meu paladar, O gosto de teus lábios sedutores, Invadem minha noite, num luar, Semeia em minha cama, chama e flores.
Prometem em delícias, os albores Que cedo, na manhã vêm entornar Em luzes e perfumes tentadores, Na espreita do calor de luz solar.
Teus beijos, minha amada, paraísos, Que tanto imaginei ter noutra vida. Meus passos que antes foram indecisos,
Agora sem temores, decididos, Mostrando que encontrei uma saída, Para os meus passos tortos, desvalidos... Marcos Loures
406
Dominam, tal cenário, as solidões, Emoldurando as telas, o vazio. Rolando pelas trevas, amplidões Fantasmas que imagino, cedo crio.
Arrasto pelos pés, duras correntes, Estrangulando os sonhos que tivera, Os gritos desumanos e dementes Prenunciando a vinda desta fera.
Refúgios renegados já faz tempo, Apenas o silêncio ainda eu ouço Reflexos da vida em contratempo Do parapeito entranho o calabouço
Bem antes que esperança me socorra, Adentro a profundeza da masmorra... Marcos Loures
407
Domasse o tempo. Então a eternidade Pudesse ser além de um simples sonho. No azul do céu imenso assim componho Bem mais do que pudesse a liberdade.
Mantendo sob as rédeas, mocidade, Distante do futuro tão medonho, De todos os gradis, o mais tristonho. Vencer tal dissabor, não há quem há de.
Voltar aos dezessete. Ser mais forte, Beber a juventude novamente. Decifrar os desígnios, ter na morte
Somente uma distante fantasia. No fim que se tornasse, assim, ausente A cíclica visão de noite e dia...
408
Domada pelo amor, divina fera Entrega-se ao furor desta vontade De ter a rebeldia em que se esmera Poder já desfrutar felicidade.
Meu corpo no teu gozo se tempera Encontra, ao mergulhar, saciedade. Numa ânsia ilimitada, sem espera, Adentra no teu corpo com vontade.
Eu quero que porejes fontes, mel, Zangão, vou procurando uma rainha, Fecundo com tesão, arranco o véu
Tendo tua nudez fenomenal, Decoro deste mapa cada linha, E aporto em teu prazer, sacro e carnal.
409
Dois velhos caminhando pela praça Futuro nos trazendo um bom passado, A vida no momento em que se abraça, Meu braço nos teus braços, apoiado...
Amiga que me deu a vida inteira Nos braços que me dás, tantas histórias... De vida que mostrou-se verdadeira Guardada num recanto, nas memórias...
Aos poucos nos unindo sempre mais, Tornamos espelhares mas distintos, Unido sem ser uno, isso, jamais... Nos sangues tão diversos, todos tintos...
Dois velhos caminhando com ternura, Depois de tanta vida, uma ventura... Dois velhos caminhando pela praça Futuro nos trazendo um bom passado, A vida no momento em que se abraça, Meu braço nos teus braços, apoiado...
Amiga que me deu a vida inteira Nos braços que me dás, tantas histórias... De vida que mostrou-se verdadeira Guardada num recanto, nas memórias...
Aos poucos nos unindo sempre mais, Tornamos espelhares mas distintos, Unido sem ser uno, isso, jamais... Nos sangues tão diversos, todos tintos...
Dois velhos caminhando com ternura, Depois de tanta vida, uma ventura...
5410
Dois pássaros voando para o ninho Depois de revoarmos emoções Chegando em teu ouvido de mansinho Falando do desejo e tentações
Prometo te fazer tanto carinho Causar em cada veia ebulições Estar sempre contigo e tão juntinho Misturar mesmo sangue, os corações...
E em festas repetidas sem enjôo Fazermos toda noite este revôo Chegando ao doce altar destes prazeres.
Castelos que sonhamos: nossa cama, Rainha tome os lábios de um vassalo, Causando no reinado tanto abalo... Marcos Loures
5411
Dois meia nove nove quatro cinco, Foi este o telefone que me deste, Ligando o tempo inteiro com afinco, Não tendo nem resposta, isto foi teste?
Telhado em meu barraco, eu sei, de zinco, Porém meu coração mesmo que agreste Jamais desbotará, mantendo o vinco Há quem isso garanta e até ateste.
Eu tento e vem de novo aquela voz, Numa repetição tão chata atroz. Dizer que o telefone não existe.
Meu Deus o que fazer do coração Que teima em se perder, louca paixão, E toma a minha mão, de novo insiste! Marcos Loures
412
Dois filhos tão diversos; concebeu Mater original: Abel, Caim, Depois de ser expulsa do jardim, Na inveja do mais velho, padeceu.
A mão de um assassino, fratricida, Na fúria sem motivo; à traição Tirando o bem maior de seu irmão Caim rouba de Abel a própria vida.
E sendo, por castigo, deportado, Saindo da presença de Jeová Encontra em Nod aquela que será
A mãe de Henoc que ao ser assim gerado Distante do Senhor não reconhece A invocação de Nome feita em prece...
5413
Donzelas tomem cuidado Com o demo disfarçado Num poeta sem vergonha, A figura é tão medonha
Mesmo sendo desdentado, O bicho endemoniado Faz do verso uma peçonha. Pobre mocinha que sonha
Com seu príncipe e castelo, Caindo na sua lábia Vida segue em retrocesso,
O seu nome, eu não revelo, E essa é decisão sábia Pois senão tomo um processo,
5414
Donzela tão sacana no meu leito Tirando de repente esta calcinha, Deixando que perceba a bucetinha, Depois de um belo monte um vale estreito.
O rabo mais gostoso e mais perfeito, Aberta e bem raspada, esta xaninha Tão gostosa, cheirosa e bem lisinha, Licor que me deixando satisfeito
Produto deste orgasmo esparramando Entre suspiros mágicos, gemidos. Potranca que de quatro, requebrando
Engole o meu caralho em seu cuzinho, Nos teus buracos todos, já fudidos, Melando com a porra, de mansinho...
415
Em busca de emoções- loucos cometas, Andei por entre braços languescentes, Bebendo em vários gêiseres ardentes, Camas avermelhadas, violetas.
As rosas que eu desejo não prometas; Apenas me ofereças noites quentes, Em fome desenhadas; indecentes, Loucuras que eu imploro – amor, cometas.
Aromas sensuais e perturbantes, Desnuda insensatez que sem turbantes Se faz em turbilhão idolatrada.
Que amor não seja fogo manso e breve, Que uma explosão divina enfim nos leve À fonte do prazer, escancarada...
416
Em devaneios trago esta esperança Risonha de intocável majestade… Tramando para a vida, temperança, Apenas me tocando, veleidade...
Um sonho que se faz pura fiança Tal qual fosse um delírio/ realidade. A mão que quando busca nada alcança Identifica aqui a liberdade
Os meus olhos procuram pelo corpo Porém em total éter se desfaz E qual fosse um fantasma que eu encorpo
Domina minha vida totalmente, Poder que neste mundo ninguém traz, Existe em plenitude. É inerente... Marcos Loures
417
Em desespero busco uma saída Por entre sombras, gritos, tento a porta Que sei a tanto tempo destruída Apenas a loucura ainda aporta
Tantas mãos me agarrando, eu não consigo Sequer já vislumbrar a liberdade. No alpendre não pressinto algum perigo Voar por sobre os prédios da cidade...
O sopro que me toca, glorioso Redime dos meus erros? Mas quem sabe Saltando no vazio encontre o gozo Do pouco que me resta e que inda cabe...
A vida sem valor algum; decerto Mergulho em desespero num deserto...
418
Em desencanto pleno e sem mortalhas Vestido de ilusão por ti, querida. As horas se jorrando; qual navalhas, Formavam a grinalda dolorida...
Os céus resplandecendo parcas tramas Em tantas tramas loucas me dizia Das farpas e dar marcas das escamas De serpentes marinhas que trazia...
Sem nexo ou talvez sem ser possível, Amor me derrocava sem ter penas. Sobrara tão somente a dor incrível, Entranha em minha pele, morro, apenas...
Mas eis que superar calamidade Somente necessita da amizade!
419
Em contradança encontro nossa dança Que trança as pernas plenas num bailado, Quando alças nossos sonhos mão avança E toca sutilmente o bem guardado.
Se exprimo o meu desejo de criança Amanso o coração que cora ao lado, Meus víveres se fazem da lembrança Da dança que esqueci, tempo passado.
Mas suo em cada passo com vontade De ter sem ter disfarces diapasão Batendo bem mais forte o coração
Que sabe seduzir felicidade. Menina, fases, frases, fazes festa, Amor tocando a mente, gozo atesta... Marcos Loures
5420
Em agonia leva a vida em festa Imaginário gozo que se dá Aonde o sol de novo brilhará, Depois da noite amarga e tão funesta.
Ouvindo a melodia que em seresta Trazendo uma alegria desde lá Porém diapasão esquece o lá E a vida ao desafino já se empresta.
Ao mesmo tempo o beijo e o bofetão, A chuva se aproxima e em supetão Transforma o que era seca em alagado.
421
Elípticos caminhos Vagando sem destino, Andara tão sozinho, Sem rumo em desatino.
Um sonho determino De ter um novo ninho, Qual fora um passarinho Que cedo, me alucino...
Apenas amizades Ajudam a saber Por certo, as qualidades
Do que pretendo ter, Nas solidariedades Encontro tal prazer...
422
Elipse em carrossel, rondando cai, E a máscara não tapa e nem esconde. Enquanto a nervo aflito se contrai Amor perdendo tempo, esquece o bonde.
Aonde fiz a casa de sapê Tapera não espera mais resposta. Procuro e tão somente vem cadê No quê do quanto quero não se aposta.
Tostando nossas costas farto sol, Soleiras invadindo num mormaço. Nas brônzeas cercanias, no arrebol, Rebola essa morena a cada abraço.
Compasso mais perfeito em contradança O fogo que ela espalha já me alcança...
423
Em brônzeos nimbos, tarde vem caindo A Natureza em plena rebeldia Em brumas tantas vai reproduzindo O que, faz tempo, o coração sentia.
Futuro imaginado, calmo e lindo Morrendo sem vontades, dia a dia. Desesperança aos poucos vem agindo Portando em todo sonho uma agonia.
Mas quando, ao ver amiga o riso franco Que trazes com ternura e sensatez O céu de escuro breu torna-se branco
E faz da tempestade, leve brisa, Num porto de bonança e placidez Meu céu em belas cores já matiza...
424
Em brancura suave tal qual neve Minha alma embevecida te suplica. Num sonho delirante que a enleve Não tem porque e nunca sacrifica.
Espera pelo altar manso que eleve Branduras e carícias, se edifica Trazendo a calmaria. Quem se atreve A erguer-se contra uma alma que adocica?
Portando as esperanças de mudança Levando por caminho deslumbrante. Convida tão festiva à nova dança.
Nossas almas penetram-se, em conjunto, Tatuam-se de forma inebriante. Conversam; calmamente, o mesmo assunto!
425
Em belo altar, sonho introduz um deus De amores e vinganças; soberano. Teus olhos ao trocarem com os meus Palavras percebidas, desengano.
Quem teve em seu olhar, brilhos ateus Nos cardos/ solidão, alça seu plano, Um sentimento vil e desumano Deixando por legado duros breus
Ateia num momento dor imensa, Fazendo deste sonho um pedestal Louvando na verdade todo o mal
Legando uma tristeza em recompensa. Porém estreita fresta, claridade, Adentra com vigor, uma amizade... Marcos Loures
426
Em auras claras vejo a tua imagem Caminhas lado a lado com meus sonhos. Por vezes quero crer numa miragem Que torne meus caminhos mais risonhos.
Qual rio que se espalha pelas margens Em tempestades; ventos tão medonhos Ao ver tua presença são aragens, Deixando para trás dias tristonhos...
Isenta da maldade e da malícia, Nos braços da amizade, uma carícia Permite que renasçam esperanças
Adormecendo em paz, tranquilamente, Mudando o meu destino, de repente. Trazendo para a vida, temperanças. Marcos Loures
427
Em asas mais libertas e felizes, Angélica figura, mas mecânica Mudando o seu disfarce, diz satânica Que apenas foram tolos, seus deslizes.
Os céus que arremessou, agora grises Demonstram tal vontade quase onânica Do gozo ensimesmado. Sendo orgânica No fundo só deixou as cicatrizes.
Na senda, a maravilha em monte cônico Deixou meu coração audaz, afônico Sem tônico e sem técnica, sou quase.
Películas diversas que encobriam A fonte aonde os sãos já se inebriam Mudando feito a lua em cada fase...
428
Em argênteas doçuras, branca neve, Quando em trevas noturnas, um oásis... Aos poucos; com carinho leve e breve Mudando sua face em tantas fases.
Se das névoas, coberta é fino véu... Vagando solitária no deserto. Reina, maravilhosa, no meu céu Em seus braços - futuro vai incerto...
Eu amo as suas rendas, seu cetim. Em brancas, alvas luzes, me inundando. O bom de todo amor que existe em mim, Nas horas mais tardias, transmudando.
Beleza que me encanta clara e nua... Deitada em minha cama, amada lua...
429
Em Águas de Lindóia ou num boteco, Se a roupa é sensual, é puro incêndio, Não quero ler livreto nem compêndio, Graças a Deus, contigo eu sempre peco...
Bendita esta explosão de farto muco Ungida por sussurros e gemidos, E os gestos costumeiros repetidos, Espalham nesta cama, doce suco.
Cansaço tão gostoso de se ter... Iluminando a noite; o teu prazer, Certeza de que a dose se repita.
Até que a morte ou vida nos separe Retorna o velho bonde à mesma gare Na progressão voraz, porém finita...
5430
Egrégio sentimento, nobre amor, Insigne soberano da emoção, Nas vergastas inúteis da paixão Um néscio clama em luzes, o louvor.
Escárnios que provocam dissabor Sorrisos, ledas chuvas de verão. Nos beijos, um absinto. Esta ilusão Profana o que se espera redentor.
Da vala negra, estúpida esperança, Sorvendo cada gota, pensa ter Ao menos placidez e temperança,
Faminta, não percebe sobre a mesa, Imagem decomposta do prazer Tornando esta alma inútil e tão obesa... Marcos Loures
431
Egrégias sensações, belos cenários Em flamas e delírios decoradas Egresso dos meus sonhos temerários Em pênseis expressões mal decifradas.
Tetânicos desejos que sectários Abóbadas há tempos arqueadas, Nas pétreas ilusões, escárnios vários Esferas entre nuvens disfarçadas...
Borrascas que, terríveis se aproximam, Efeverscência em lúbricas promessas, As tramas que embrenhamos são egressas
Dos ventos que torturam e se esgrimam, Na luta interminável, mal e bem, Estrelas, meu farnel, quer e contém...
432
Edinho, veste a calça por favor A bunda quando exposta ao forte vento Resfria, depois chega então a dor, E aí compadre é puro sofrimento.
Um tal de sentir frio no calor, Decerto te trará tanto tormento Melhor eu te garanto é recompor Mesmo que tenha enfim, um outro intento...
Menino, quem provoca e não agüenta Depois vai reclamar, pedir colinho. A coça mesmo sendo violenta
Não basta, tu não tomas mais juízo; Procure tua turma então Edinho Senão eu não me responsabilizo... Marcos Loures
433
Ecoa pelos astros, mas sem pressa A verdade inegável e irrefutável Sobretudo, na qual já se confessa Um gozo outrora frágil e improvável.
Eu sei que; muitas vezes, eu menti Ao falar sobre coisas que não sei. Se em tantos descaminhos me perdi Da rota, eu percebi a nova lei.
Estampada, em meu rosto, esta certeza Buscada em arredios arrebóis, Ao ver tua presença, com surpresa, Deitada em minha cama, meus lençóis;
Sem titubear falo em destemor. A verdadeira força vem do amor.
434
Elevo o pensamento ao Pai supremo Que sabe distinguir joio de trigo, E quando, muitas vezes, eu extremo, Socorre nestas horas de perigo.
Contigo, Meu Senhor, eu nada temo, Reconfortante colo de um amigo, Cadáver dos enganos; logo cremo, Num libertário encanto que persigo.
Saber de Tuas mãos acolhedoras, As luzes do perdão tão redentoras, Vivendo esta alegria de ser Teu.
O Pai que entre os irmãos se fez Cordeiro Salvando com Seu gesto, o mundo inteiro, Criador que em amor total se deu...
435
Elevaria o tom desta conversa Se houvesse ainda um rito a se cumprir. Enquanto sobre o sonho já se versa Eu mato; sorrateiro, o que é porvir.
Um gole de café; outro cigarro, E o olhar refém das velhas tradições. As cordas; lentamente desamarro Relego antiguidades aos porões.
Mas tanto que inda teimo e nada vem Sequer algum proveito; não mudei. Mirando no horizonte, estou aquém Daquilo que em verdade, procurei.
E sei que, mesmo sendo um antiquário Ainda busco as chaves deste armário...
436
Elétricas faíscas que irradias Tomando toda a cena, num segundo, Na intensa claridade ora me inundo E vivo as mais sublimes fantasias.
Matizes de neons, belas orgias, Prismáticas loucuras vagam mundo E o coração poeta e vagabundo Decifra em plena noite, fartos dias.
Orgásticos caminhos deslindados, Desígnios de vitórias lançam dados Encharcam de beleza a terra e o mar.
Galácticos reféns, bêbados olhos, As florescências tantas, vêm em molhos Esplêndidas estrelas. Teu olhar...
437
Elementos que formam a paixão, O fogo se mistura então com a água, A lava delicada de um vulcão Nos lábios de quem ama já deságua Torrente se transporta em mansidão, Herança do prazer vertido em mágoa.
A tua voz me chama meigamente E disso faço o rito mais sublime, Rondando um cata-vento em minha mente, A louca sensação de gozo e crime. Enquanto a maravilha se pressente A tempestade insana nos redime.
Viver cada momento deste amor, Mosaico de emoções a se compor..
438
Elejo-te a rainha, mas não queres, Se nada inda puder fazer por ti, Seria muito além destes talheres Banquete que decerto não comi.
Não posso ser talvez teu escolhido, Embora me julgasse meritório, A porta que bateste, não duvido, Impede meu acesso ao escritório.
Deixado na ante-sala, nada espero, Contratos esquecidos na gaveta Olhando pela fresta ainda quero, O que escondeste após, mesma falseta.
Gananciosamente eu te pergunto, Porque vives fugindo deste assunto... Marcos Loures
439
Ela, a mulher que sempre desejei... Entrego meu amor completamente. Estrela que, nos céus, eu procurei. Vivendo seus caminhos, minha mente...
Agrado que à natura, fez Bom Deus, As formas mais perfeitas, formosura... Quem dera se esses olhos fossem meus. Teria em minha vida, uma ternura...
Ela, que ao caminhar recende rosas... Que traz, nas suas mãos, os meus segredos. Destila em sua boca as olorosas Manhãs que se prometem sem ter medos...
A luz que dentro da alma se revela, Mostrando os meus destinos, todos: Ela!
5440
Ela sempre retoca o seu batom Não deixa nem sequer saber seu nome... Viaja o pensamento, eleva o tom O quadro que apresenta me consome,
São tantas as batalhas neste front Meus olhos a procuram, e ela some Eu sigo rastreando cada som. Espero que me dê seu telefone
O bem que me quisesse nunca viu, Perdi o meu caminho em bem-me-quer Também a flor, decerto já mentiu
Pois sei que ela também se faz mulher De coração volúvel, mesmo vil. E sigo perguntando: ela me quer?
441
Ela esperando a noite que não vem Do amor mais comportado em que preveja Tranqüilidade imensa neste bem Que louco, tresloucado tanto beija
E rouba os seus sentidos. Ser alguém Além do que queria relampeja. Na sorte despencada e dorme sem Trocada por amigos e cerveja.
Deseja que outro dia seja santo, E o sonho não se mostre pesadelo. Refeito o rarefeito e manso encanto.
Da saia da menina curta e justa, No gosto prazeroso de sabê-lo. Realidade entanto, sempre assusta...
442
Ela chegava, amada e tão silente, Deixara minha porta escancarada, Passo a passo, senti que simplesmente Quase em nada lembrava minha amada...
Os olhos faiscantes do passado, Agora estavam foscos, parco brilho. Quiçá o que mudou, atordoado, Foi o sentido claro do meu trilho.
Talvez aquele ardor que já sentira Dormita nalgum canto tenebroso. Embora o fogo queime em mesma pira Contava nesse corpo o mesmo gozo...
Mas creia, meu amor inda é mais forte, É meu último trunfo contra a morte!
443
Eis o neto do soneto Que vivia muito bem, Escondido em poemeto Mas agora quer e vem,
Nos meus versos eu cometo Heresia com meu bem, Nos vazio me arremeto, Nem o nada me contém.
Um sujeito sem ter eira Quer a beira desta cama, A paixão quer ou não queira
Terminando sempre em drama, Hasteando esta bandeira Poesia já me chama... Marcos Loures
444
E transformando nossa realidade Em todos os espaços, santo, invade Não deixa nem sequer algum resquício Da velha solidão, meu precipício.
O amor que além de sonho é meu ofício, Nos versos que se tornam quase um vício, Sem ter melancolia que me enfade, Tampouco o mel amargo da saudade
Conheço as efemérides, procelas, E tinjo esmeraldinas minhas telas, Azulejando o pátio da esperança...
E mesmo que isto seja uma ilusão, O passo eu não refugo e da paixão Arqueiro coração faz sua lança...
445
E toma a nossa vida num repente A festa em amor feita, em que se esbalda O sonho mais gentil já se desfralda No qual farta alegria a gente sente.
Amor que em gêiser arde enquanto escalda Num verso que nos toma plenamente, Um doce que se faz em farta calda Encharca nosso sonho em fogo ardente.
Irei contigo amada aonde fores, Colhendo no caminho raras flores Extremas emoções são prometidas
A quem em verso e riso faz seu mundo Vislumbro a maravilha em um segundo Mudando todo o rumo em nossas vidas... Marcos Loures
446
E toda esta alegria que se sente Reflete uma amargura original. Sorriso de uma dama virginal Esparso, mas ainda tão presente.
Devoro tua boca, qual demente Que bebe dos teus mares todo o sal, Escada que partida, sem degrau Leva ao despenhadeiro. Tolamente.
Se ao menos eu tivesse um ás, um trunfo, Sonhando com vitórias num triunfo Que ao menos me trouxesse alguma glória.
Ceifando o que plantamos,tempestade Domínio da ilusão, a dor invade Mudando todo o rumo desta história...
447
É teu aniversário, disso eu sei, E tenho muito orgulho de poder Dizer da imensidão deste prazer Que sempre nos teus braços desfrutei.
Amiga, eu devo muito e posso crer Que tantas vezes quando procurei Eu encontrei em ti o que busquei. Só posso, nesse dia, agradecer.
Espero que inda possa estar contigo Usufruindo sempre deste abrigo Contando com palavras carinhosas.
Tu és uma pessoa soberana, Além de uma figura tão humana, Derramas quando passas, flores, rosas... Marcos Loures
448
É teu aniversário minha amiga E eu tento decifrar o sentimento Que toma a nossa vida no momento Em que esta maravilha nos abriga,
No teu abraço a sorte já prossiga Falando da alegria e deste alento Que trazes e que aqui, querida eu tento Traduzir, muito embora eu não consiga.
Festeja o coração de quem conhece A saga deste encanto feito prece, Este soneto é pouco pra dizer
O quanto em emoção, sublime data, Perfeita sensação, medida exata Numa grata expressão, tanto prazer... Marcos Loures
449
É terna a sensação de eternidade Que trazes com teus versos e carinhos. Estrela que o amor, manso, arrecade Imprime farta luz nos nossos ninhos
Assim quando emoção; mais forte, brade, Não ligue, meu amor, para os vizinhos, Mal sabem desta fúria quando invade, Sabendo penetrar vários caminhos.
Desejo se mistura com ternura, Causando comoção num louco incêndio. O fogo que devora enquanto cura
Num pêndulo de dores e prazeres, Amor igual ao nosso? Nos compêndios Jamais eu conheci: sopras e feres... Marcos Loures
5450
Eclodem-se desejos e vontades Libidinoso sonho em raro altar, Na sebe delirante desvendar Caminhos que eu descubro quando invades
Fronteiras? Não trarão felicidades, No jogo do prazer, perder, ganhar, Antônimos que fazem belo par, Do mesmo naipe irmanam qualidades.
Espalhas teu rocio no meu rosto, Num vício sem pudores sorvo o gosto Da lava que se escorre nos lençóis.
E volto ao percorrer sagrados campos, Envoltos por brilhantes pirilampos, Espalham-se no quarto cem mil sóis...
5451
E um gozo tão divino se esparrama Tocando tua boca mais sedenta Paixão que se demonstra violenta Acesa com fulgor em nossa cama.
Tua nudez faminta já reclama Abertas tuas pernas, língua esquenta E passa a te chupar sedosa e lenta Até reacender a fúria, a chama...
E sinto tua boca devorando Lambendo com vontade o duro mastro Que invade perseguindo cada rastro
Deixado com volúpia e com tesão. E novamente, sinto-te gozando Molhando com teu lago, ebulição..
452
E viva a sacanagem, pois é nela Que encontramos o tudo que buscamos, Embora sendo escravos, somos amos, Toda nossa loucura se revela.
Quando no teu corpo o meu se atrela, Os céus mais variados; navegamos, Em novas aventuras mergulhamos Felicidade assim, então se sela.
Falar nos teus ouvidos, de mansinho, Xingando-te em formato de carinho, Saber que sendo teu, eu me completo.
Fazer do teu prazer o meu remanso, E quando este infinito, enfim alcanço, Deleito-me no prato predileto...
453
É tudo o que pretendo e que cobiço A boca sensual desta morena Fazer, se necessário, uma novena, Teu corpo e teu desejo; quero e atiço.
Mergulho nas vontades e inteiriço Fartura que esta noite clara acena, Mereço algum favor em sorte plena? Com sonhos e delírios, compromisso.
Sinais que talvez tenha algum sucesso Desordenando tudo, te confesso O quanto necessito de teus lábios.
Preparo o coração para a viagem, Acumulando em sonhos a milhagem Que possa permitir caminhos sábios... Marcos Loures
454
É triste perceber quanto incomoda A roda que se faz em alegria. Na mão sinto a tesoura de quem poda O sol que não sabia e não queria.
Desculpe se um perfume bom açoda E traz para as narinas, a magia. Poeta que se fez fora de moda Eu canto amor, amigo todo dia.
Nos leves bruxuleios, lamparina, Vestidos de cetim, rios e riso, Na saia tão bonita da menina
Vislumbro a perfeição do paraíso. Um velho coração que descortina Amor que me tirou, decerto, o siso... Marcos Loures
455
É transformar o uno; universal, É não olhar por cima e nem debaixo Saber que o bem maior, da terra o sal, E perceber da luz, inteiro; o facho.
É ver no sofredor um seu irmão, Não suportar calado, uma injustiça. A todos perdoar, vivo perdão, Distante da ganância e da cobiça.
É dar tudo de si, sem querer nada, Estar sempre por perto e consolar. Não permitir a vida abandonada, Ainda mesmo assim, para se amar
Ainda falta muito o que fazer. Precisa; dos desejos, esquecer...
456
É tanta guloseima nesta cama Amor se bobear: indigestão O leite condensado ela derrama, É vinho com cereja em profusão,
Sorrisinho safado; logo chama Morango misturado com melão, A camisola bela de uma dama Na transparência vira tentação.
Até chegar ao prato principal O quarto revirado, um festival, Devoro tudo, tudo sem parar...
Porém, empaturrando o meu desejo, Final da bela história eu já prevejo Desculpe, mas preciso vomitar...
457
E também a loucura e o sofrimento Fazem parte do jogo dos sentidos, Ao acolher os párias desvalidos Entendo finalmente o bem do alento.
Enquanto em outros braços me apascento, Destinos tão diversos percorridos, Os dias já serão por Deus ungidos Cegando este passado tão sangrento.
Montado nos cavalos da ilusão, Corcéis que vencem léguas infinitas, Ourives que se encanta com pepitas
Fazendo com amor lapidação, Entrega a jóia rara e diamantina No olhar que reluzindo nos fascina...
458
E surge, renascendo em cada verso A vontade inerente de poder Vivenciar um mundo tão diverso Daquele que pensara conhecer.
Vagando em liberdade no universo Mergulho num instante no meu ser, E vejo num retrato mais perverso Reflexos do que eu quis sempre esconder.
Estampo o meu sorriso, este falsário E quando for preciso e necessário Disfarço esta vontade de esganar
Além do que julgara, agora eu sei, Mirando neste espelho um Dorian Gray Disforme, não resisto ao meu olhar... Marcos Loures
459
E sonho com delícias deste mar Depois de estar sozinho em fria areia, O vento vem chegando devagar, Tramando ao fim do dia, a lua cheia.
Sabendo quanto quero o teu querer, Sereia encantadora me domina. Vivendo a fantasia em teu prazer, Encontro com certeza a rara mina.
Na fonte delicada dos teus lábios, Sacio minha sede, estou feliz. Meu barco percebendo os astrolábios Adentra o cais do amor, sabe o matiz.
Depois da tarde cris, vou finalmente, Deitando esta vontade, claramente... Marcos Loures
5460
E solto meu desejo em sentimento Senzalas do passado? Nunca mais! Herdeiro dos cruéis e vastos sais A morte não me serve então de alento.
Sem paradeiro busco do tormento Singrar os violentos temporais, Fazendo do vazio, porto e cais. Enquanto um outro mundo ainda invento.
Não sou este excremento que tu pintas, Tampouco o que pensaste antigamente. As forças das palavras tão distintas
Tomando em corredeira minha mente, As luzes do que fomos vão extintas, Embora o sonho tolo siga, ardente... Marcos Loures
461
É tempo de viver e de sonhar Um sonho mais audaz e mais moleque A vida quando é feita pra se amar Querida ela nos abre imenso leque.
Não digo que é preciso navegar Antes que o mar um dia já se seque Transformado em sertão, e neste altar, Permita sem demora que se peque.
Galopa mais depressa o pensamento E toma teus castelos com magia. Amor, mesmo que faça turbulento
Um rio que vai calmo para a foz Mercê de uma vontade ou fantasia Alimenta, querida, a todos nós... Marcos Loures
462
É teima e nada mais, por isso escuse, Arestas aparadas, me liberto. Não tendo os meus cadáveres por perto Impeço que, do açoite, amor abuse.
Ao aguçar sentidos não mais cruze Caminho que inda possa ser deserto, Enquanto em outro braços eu me alerto, Concebo algum sinal que ora me acuse.
Luzindo sobre nós a lua mansa, Arejado solar das fantasias, Marulho se percebe da esperança
Lampreias e moluscos estrelares, Não nego meus temores e fobias, Somente apago, à noite, os meus luares... Marcos Loures
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É tarde quando o sono me domina, Envolto em tantos medos e lamúrias. A sorte que não veio me extermina O vento se transforma, vem em fúrias... Quase não reconheço meu sorriso, De aberto e de tão franco morre triste... Meu passo vai mais trôpego, impreciso, Nem Minas que eu amava, não existe... Restando a solução: morrer de tédio, Morrer na solidão que eu cultivei. Quem sabe o quanto é um remédio Sou eu que tantos males enfrentei... Mas vejo uma esperança derradeira, No teu sorriso amigo, companheira... 464
É tanto pé quebrado nesta mesa Que a gente mal percebe vai ao chão. Poeta que se mostra em gentileza Às vezes não consegue a solução
E o verso mesmo embora com beleza Expressa sem ter métrica a lição Que um dia disse o velho Gentileza Fazendo das pilastras seu telão.
Cada macaco fique no seu galho, Eu me atrapalho, às vezes nunca nego. Porém na refeição plena e completa,
Amiga, por favor, penduricalho Que trago no pescoço e que carrego Jamais tentei dizer que sou poeta... Marcos Loures
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É sempre bom poder cantar em versos O quanto uma amizade nos faz bem, Por mais que os dias sejam maus, perversos, O abraço de um amigo nos convém.
Trazendo ao dia-a-dia os universos Distantes que a verdade em si contém, Unindo estes pedaços tão dispersos, Permite-nos saber que existe alguém
Com quem nós poderemos caminhar Por mais que seja escura e sem luar A noite tenebrosa que virá.
Amiga, estou contigo, e com orgulho, Vencer qualquer espinho ou pedregulho É tudo o que proponho, desde já...
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E se fosse quem pensas que não é A mulher que trará felicidade. Não sabes que na vida tanta fé Às vezes se traduz em liberdade.
Pois veja na beleza dessa vida O lume que traçou uma esperança. Por vezes, nossa trilha vã, perdida, Renasce num momento de lembrança...
E se fosse a mulher que imaginara Aquela que ao teu lado sempre esteve. De tudo que na vida mais sonhara, Apenas esperança em ti, conteve...
Amigo, tua vida se revela Nos braços da mulher que sempre
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E se esbalda num sonho tão feliz Aquela que se fez maracutaia, Enquanto o coração tomando vaia Morreu sem ter no fim o que mais quis.
Um velho se disfarça em aprendiz, Tomara que ao final, seu mundo caia, E agente da ilusão não sobressaia Apenas refletindo o que desdiz.
Liberto-me das tralhas que trouxeste, Assumo os meus pecados, sigo em frente. Arranco a garatuja que reveste
A cara que se fez madeira dura. Do quanto fora gozo, em dor de dente Termina simplesmente em desventura...
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É rumo que me perde e que redime O fato de saber que não virás Tirando totalmente a minha paz Enquanto me alivia me deprime.
Andaimes da esperança tramam crime Aonde a fantasia nada traz Senão o que vivendo a dor voraz, Ainda com meus sonhos não me oprime.
Beirando ao suicídio vou capenga, A vida não permite nova arenga E acaso se vieres venha logo.
Que teimo ser arrimo da ilusão O amor que tanto enfarta o coração Um lago em placidez onde me afogo...
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É resto deste copo, nenhum trago Apenas o vazio como herança, Um espectro tão fúnebre: esperança Ainda em ironia traz afago.
Do quanto nada tive, o resto eu trago Tão somente, tristezas por fiança Enquanto o vento frio nos alcança, Procuro em vão um sonho audaz e mago
Que possa permitir um novo tempo Distante do passado em contratempo, Porém sem ter futuro, perco o sesmo,
E vago noutra grei, ledo destino, No quanto em desespero, desatino, Qual triste borboleta; vou a esmo... Marcos Loures
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E quero que tu voltes. Já me atrevo A ter tua presença, mesmo em sonho. Um sentimento nobre, se longevo, Permite esta ilusão que ora componho.
Dos velhos corvos ouço o crocitar, Rapineiros abutres que nos rondam, Penetram nos alpendres. Devagar, Antes que as aves frágeis lá se escondam.
Preparam numa espreita o salto, o bote As garras afiadas desafiam Os pássaros que, céticos, confiam
Expondo-se em fatal ingenuidade Até que a morte chegue e o tempo esgote, Iludem-se com tola liberdade... Marcos Loures
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É querida, o amor é mesmo assim A noite morrerá em outro dia... E quem pensar que achou amor sem fim, Tão tolo... Morrerá na fantasia
De que encontrou a boa sorte, enfim... Quem quiser ser escravo da alegria Vai ter o meu destino. A dor em mim Ecoa refletindo uma agonia...
De tanto que sonhei, nada restou... Somente uma saudade. O que fazer; Se eu já nem sei sequer para onde vou?
Eu peço paciência, por favor... O que eu disse? É melhor já esquecer... Mesmo com saudade, viva um grande amor!
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É que de amor, enfim meu mundo inundo Por isso é que não cabe quase nada Senão o teu sorriso, amante amada, Lotando o coração tão vagabundo.
Se a vida já não vale um só segundo O resto se perdendo noutra estrada, Permita que eu te mostre esta alvorada Que toma em maravilha todo o mundo.
Seria muito bom se tu viesses, Ouvindo com certeza as minhas preces, Carinhos espalhando pelo chão.
Assim com tal candura me extasio, Tomado de emoção, num arrepio Entregue aos desvarios da paixão...
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É prenda que se faz, voraz e amena, Morena que demente me enlouquece O quanto me seduz tanto envenena Vontade feita em gueixa se oferece,
Bandida que em vazante é minha foz, Estrela que seduz, sou girassol, Do todo que se mostra em nada após Estremecendo assim todo arrebol.
À toa sem ter culpa no cartório Catando os seus retalhos pelas ruas, Embora o meu futuro seja inglório Eu quero os cernes, todos, carnes nuas
Perpétua redenção em noite clara, O tempo de sonhar marca e declara. Marcos Loures
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É pouco, pode ser, mas já me basta Saber que ainda tens tal sentimento. As cordas que me prendem, arrebento, Por mais que a poesia esteja gasta.
Sem credo, sem perdão, resta a vergasta, E o verbo renascido do tormento, Pertuito salvador, deveras tento, Jamais respeitarei nenhuma casta.
Se é caso de tentar, recomeçamos, Podamos no passado, velhos ramos, E árvore foi ficando bem mais forte.
Na solidez do solo, a garantia A fome superando a bulimia E o sonho sobrevive à própria morte...
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E sinto o belo sol que vem surgindo, Trazendo amanhecer tão esperado. No quanto nos teus braços eu deslindo O sonho tanta vez anunciado.
Na face oculta lumes mais diversos Promessa que pensei nunca viesse Na trama que me entrego alma entre versos Amor eu sei além de simples prece.
Projetos de alegria que esquecemos Jogados nalgum canto desta casa Em teimas com certeza nos perdemos. Porém a vida segue e não se atrasa
Espaços entre espaços, fogo brando, Meus dedos andarilhos procurando Marcos Loures
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E sinto a chuva mansa e promissora Tocando minha pele quando cantas, Vivendo a maravilha desde agora Promessas e carícias, sempre tantas.
Esquife das tristezas, nosso amor Um tráfico sublime de emoções. Porquanto tantas vezes sedutor Explode sem quaisquer explicações
Percebo nestas lúdicas mensagens Os mágicos caminhos percorridos, Depois das mais estúpidas bobagens Agora tenho os sonhos concebidos
Trazendo realidades tão brilhantes Nas sendas mais longínquas e distantes.
Marcos Loures
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É sempre bom poder contar contigo, Amiga e companheira predileta. A mão que me protege do perigo, Futuro que pensei em linha reta.
Palavra mais bonita que persigo, Um coração que sonha ser poeta, Teu colo representa sempre abrigo, A sensação divina e mais concreta
De termos alegria e tanta paz, Capaz de nos tornar bem mais felizes. Ao perdoar meus erros e deslizes
Uma certeza enorme já me traz. Ao impedir que a dor, enfim prossiga, Fernanda, eu te agradeço. Minha amiga...
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E perco em teimosia, a direção; Devastações e guerras são constantes, Olhando para os sonhos fascinantes, Endosso os meus pecados sem perdão.
A voz em sortilégio diz do não Feridas entre noites fulgurantes. As trevas se espalhando por instantes, A lua se perdendo na amplidão.
E embora frágil, tosco, um idiota, A sorte que se mostra tão remota Rondando a minha mesa, aguarda o sim.
Tal qual um retirante num retorno, Sonhando superar qualquer transtorno, Espera florescer o seu jardim. Marcos Loures
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E o verde talvez volte- solução, Nos olhos da morena que deixei, O quanto desejar já desejei Só tendo por resposta a negação.
Nas aves da alegria, arribação, O parto em fantasias procurei Apenas solução não encontrei E o tempo vai tomado em viração.
À cântaros chovendo dentro da alma, A noite vai passando, a lua acalma. Quem dera se chovesse sobre a terra?
Talvez o mar não fosse mais meu porto. Do parto que eu queria, sem aborto, Uma esperança sobe agora a serra.
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E o toque dos teus lábios; mais preciso, Permite que eu me sinta satisfeito De tudo nesta vida que eu preciso Amor em paraíso dá seu jeito.
Afeito a tal vontade eu nada falo Apenas vou sentindo a suavidade Do beijo dado em forma de regalo Marcando com carinho esta verdade,
Pela cidade afora, feito um louco, Não olho para trás, atiço o vento, E bebo da alegria pouco a pouco Enfoco sem sufoco o pensamento
E vejo retratada a tua imagem, Amor que para a vida, dá coragem...
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E o tempo vai passando soberano... Por mais que a vida trague a tempestade, Vivendo tão somente o quanto explano Estendo no caminho a liberdade. Não quero mais saber de desengano Colhendo a flor divina da amizade.
Menina que se fez amante amiga, Trazendo esta florada ao meu canteiro. No quanto a vida às vezes desabriga Eu quero ser amigo e companheiro. Ao ter em meu caminho a forte viga Percorro sem temor, o mundo inteiro
Na força da amizade, amor sincero, Eu tenho o que desejo e que mais quero... Marcos Loures
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E o sol abrasador, enfim, aporta O coração moleque de um poeta Que tanto já se expôs à fina seta Jogada por Cupido atrás da porta.
Eu sei quanto a saudade sempre corta Aquele que sonhando com tal meta, Na dura fantasia se completa, Deixando esta amargura quase morta.
No passo quase trôpego de quem Vivendo por sonhar procura alguém Que sabe na verdade nunca vem,
Tentando a perfeição não mais contém As marcas desta noite de meu bem. Eu abro esta janela. Sem ninguém...
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E o jogo recomeça em transparências, A porta se fechando pra tormenta, Nesta penumbra brilham florescências Minha alma de teu corpo se alimenta.
Tomados por insânias e torpor Revoltoso mar adentra o quarto, Expondo depois disso no langor Quebrantado, feliz, exausto e farto.
Problemas que enfrentei não vêm ao caso, Apenas desfrutar deste direito Antes que venha e chegue o duro ocaso, Eu posso assim dizer que satisfeito
Vivi tudo o que eu tinha que viver, Sabendo desfrutar cada prazer... Marcos Loures
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E nunca se perdeu, jamais disperso Aquele a quem amor se deu inteiro. Exprimo com ternura em cada verso O sentimento livre e verdadeiro.
Rondando as minhas noites, sonho manso, Fragrante maravilha que me entranha. Nirvana desejado; agora alcanço Lançando o meu olhar sobre a montanha
Encontro, no luar teu brilho intenso, Espelho de minha alma, constelar No quanto eu te desejo e sempre penso Traduz completamente o bem de amar.
Além do entorpecente que vicia, Amor é soberana fantasia.
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E nunca mais farás qualquer download Das minhas fantasias, dos meus versos. Matando o nosso amor que jamais pode Vencer os sentimentos mais diversos
De quem tanto deseja e não promete Ao navegar abrindo outra janela, Num movimento audaz joga confete Ao mesmo tempo em que nada revela.
Somemos nossos sonhos e ganhemos Os infinitos bens que a vida traz. Eu quero tão somente céus amenos, Depois de tanta luta, simples paz.
Sou teu e nada disso mais importa, Apenas peço amor, que abras a porta... Marcos Loures
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É noite em plenilúnio dentro da alma, Em festas meus desejos qual crisálidas Percebem teu carinho que me acalma Deitando em tua cama flores cálidas.
Eu tento percorrer o teu sacrário Sabendo que encontrei a solução Que mata meu destino temerário E invade de prazeres a paixão.
Vogando meus carinhos nos teus mares Na doce sensação destes sargaços, Entregue aos teus delírios, meus luares, Encharcam-se na alvura dos espaços
E quero teu amor vivo e noctâmbulo Que sempre me procura, amor sonâmbulo...
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E ninguém calará tão grande amor, O teu semblante estampa esta certeza. Em cada novo dia te propor Um passo que se dê com tal firmeza.
Deitando nos teus braços com langor Depois do principal, a sobremesa, Deixando-me levar na correnteza Margeio com magia, sem temor.
Amor que nos tomando; insensatez, Na luz de uma emoção ele se fez Tornando nossa vida bem mais clara.
Meu verso enamorado já te diz Do quanto do teu lado sou feliz, E em cada novo canto se declara... Marcos Loures
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No silêncio que toma as cercanias Palavras nem precisam mais ser ditas, Se eu sei reconhecer raras pepitas, Lapido as mais sublimes pedrarias,
O encontro inevitável; não adias, Vivendo finalmente o que acreditas As horas serão calmas e benditas, Imersas nas mais nobres fantasias.
E por incrível que pareça ecoa A voz do coração tomando a proa Do barco que se entrega ao mar revolto.
Por mais que ao soçobrar pense em naufrágio Escapa das procelas, seguindo ágil, Sem conhecer correntes, livre e solto...
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É necessário, saiba muito amor, Para vencer o medo e todo o tédio, A vida nos concede este remédio Que aplaca o sofrimento, e traz calor.
Apascentando a fúria acalma a dor, Permita então que amor te faça assédio E adentre o coração e jamais vede-o Calando a doce voz, matando a flor.
Amar sem ter medidas, simplesmente, A quem te gosta ou não, traz lenitivo Secando as mágoas tantas; água o chão
E muda a nossa vida totalmente, Deixando o coração bem mais altivo. O segredo do amor? Pleno perdão...
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É por que sou teu amigo Que eu te falo companheiro Que o amor em desabrigo Não se faz mais lisonjeiro.
Tendo tudo o que persigo, Sem enganos, vou inteiro. Já não temo algum perigo És dos sonhos, mensageiro.
Dia-a-dia, corriqueiro, Quando tento e não consigo, Vou seguindo rastro e cheiro
O farol trago comigo, Na amizade um bom luzeiro, Separando joio e trigo! Marcos Loures
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É pleno contra-senso, um barco sem destino Andar nesta procura inútil pelos sonhos. Eu guardo ainda viva a face de um menino Que um dia se perdeu em mundos vãos, medonhos...
Agreste coração que busca em desatino Momento de alegria em meio aos mais bisonhos Caminhos que inda guardo em vasos cristalinos, Do diamante falso, os brilhos são risonhos...
Na ausência deste encanto a vida não tem graça, E mesmo que isso seja apenas ilusão, É dela que inda tento alguma solução.
Esvaindo-se nas mãos o tempo se esfumaça E nada restará, senão o meu reflexo Inexato e disforme, um mosaico sem nexo...
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É muito bom poder falar dos sonhos Em plena tempestade; aplaca a dor, Da vida; quem me dera, condutor, Talvez os dias fossem mais risonhos.
Enfrento com sorriso os mais tristonhos Momentos; imagino o bem do amor, Realidade surge furta-cor Tornando tais cenários tão bisonhos...
Propondo ao coração alguma trégua, Errando de medida, perco a régua E volto ao mesmo tom acinzentado.
O dia não virá trazendo o sol, Enquanto houver a sombra no arrebol, Não frutificará jamais meu prado...
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E mude, num momento, o velho Fado É tudo o que desejo de um amor. Do peito tão inglório e sonhador O sonho possa ser abençoado.
Quebra-cabeças; monto do passado E sinto que é possível recompor, Se não houvesse nada a contrapor O dia nasceria ensolarado.
O peito que se ilude assim se estronda Porém ao perceber reveses da onda Na areia, em plena praia se esvaindo.
Encontra o mesmo não, como a resposta Com alma solitária e fria exposta, O mundo desabando, vou sentindo. Marcos Loures
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É mote principal das poesias O amor, insaciável mandatário Enquanto muitas vezes fantasias Realidade muda itinerário.
Mas saiba que estarei sempre contigo Havendo a tempestade que vier O vento da esperança abre o postigo E amor faz a festança que quiser.
Mulher que, redimindo, traz a cura Livrando a minha vida deste tédio. Nos olhos com doçura e com brandura, Expressa com certeza toda a cura.
Antes de perceber este caminho, Querida, tantas vezes fui sozinho. Marcos Loures
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E mostra a claridade em mesmo tom Aquela se fez amante e amiga, O verso se espalhando tem o dom De produzir o sonho que me abriga
Urtigas que colhi em teu jardim Retratam todo o bem que tu me destes, Mantendo a fantasia até o fim Recolho em meu caminho tombos, pestes.
Carcaças carcomidas deste amor Montanhas de vazias esperanças. Do nada simplesmente vou compor Os cantos que tu trazes; tuas danças.
Depois de certo tempo eu percebi O quanto de amigável resta aqui
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É necessário ter sempre o apoio De quem durante a noite nos traz luz. Por menor que pareça um ledo arroio, Matando a nossa sede, aplaca a cruz.
O tempo separando trigo e joio Permite que se veja quem conduz Ao enfrentar deserto este comboio Demonstra onde esperança eu sei e pus.
Ao ter tua presença, companheira, A vida se tornou alvissareira Colheita prometida, se fez farta.
Do braço que estendeste em alegria, Eu vejo simplesmente quem me guia De quem o meu olhar jamais se aparta... Marcos Loures
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É necessário o gozo, com certeza; Prazeres são vitais, mas há quem negue; Depois não reclamar, se o carregue O diabo/solidão. Desfeita a mesa,
Ainda esperará por sobremesa? Depois uma vida oca, à sorte entregue, Reclama se uma luz, tão frágil cegue, Tentando desviar a correnteza.
O vento toca a face, um arrepio, Palavras sussurradas, ereções; Se a natureza traz desejos, cios,
Não venha me dizer que isto é pecado Ou outras- me desculpe – aberrações. Gozar e ser feliz: somente um Fado...
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É na amizade a força destas crenças Que possam permitir um novo tempo, Distante das antigas desavenças Não vejo mais sequer um contratempo
Que possa nos calar se a voz é forte Além deste estribilho num coral, Selando em paz intensa nossa sorte, Matando em nascedouro todo o mal.
Ascendo em esperança ao que se expõe Em luzes tão sublimes e magnéticas. O verso que em justiça se compõe Tentando usar figuras tão poéticas
Com força e com vontade agora flui No poder da amizade se conclui...
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É musa dentre musas, na alegria, Na dor, no sofrimento e na esperança. Encharca-se de amor e fantasia, Ao mesmo tempo mostra a contradança Maltrata e nos alenta todo dia, Convida novamente a ser criança, Num canto deste ator, é melodia, E traz ao sonhador, elo, aliança... É quase um sofrimento que se ri, Transborda mansamente em explosão, Distante, tudo muda e está aqui... E mente quando mais é verdadeira, Do nada faz surgir tanta emoção, A minha companheira derradeira!
5500
É muito mais que penso, nem espero Saber deste final, caindo fora, Quem vive com cuidado não demora E deixa para trás caminho fero.
Desvencilhar, decerto ainda quero, Porém quando ameaço, a moça chora. A jaca que sonhou ser uma amora, Num gesto gutural procura esmero
Qual rato vou fugindo deste gato Que mostra em suas garras a potência Tornando insuportável convivência.
Dizer que estou cuspindo neste prato Que um dia me serviu pra refeição? Carregue este estrupício, amigo, então... Marcos Loures
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