
MEUS SONETOS VOLUME 054
Data 06/12/2010 13:12:02 | Tópico: Sonetos
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Dos sonhos sou um simples cosmonauta Perdido entre fulgores mais diversos, Na sôfrega ilusão de um internauta Vagando por espaços tão dispersos.
Cadenciando o passo; mudo a pauta E busco naufragar tolos versos Nas ânsias dos mistérios, universos De uma alma transparente, mas incauta.
Aquém do quanto quis e nada pude, Mudando muitas vezes de atitude, As latitudes dizem mesmo não.
Augusto toma conta dos meus sonhos, E os olhos apodrecem, são medonhos, Sem eles; como encontro a direção?
302
Dos sonhos que tramei; tu és senhora. De tudo o que pensei, és sempre a dona. Quem sabe vou viver amor que aflora Depois desta emoção que me abandona...
As fases que, mutantes, me trouxeram, Tantas lamentações ao velho peito. Nem sempre em nossas vidas recuperam Os versos que fizera, satisfeito...
Na forma maviosa das cascatas Descendo pelos rios do prazer. De todas as maneiras me arrebatas Não deixa quase nada sem tecer.
De bálsamos teu corpo se vapora Não tema meu amor, chegou a hora!
303
Dos sonhos que me tomas e me privas Refaço as ilusões bem mais selvagens, Depois de teus senões e negativas As matas deste amor perdem folhagens. As horas se passando pensativas Percebem nos teus olhos, as miragens...
Somamos os vazios, nada sobra, Vou agonicamente em noite espessa. Ausência vai sentida e se redobra Ao mesmo tempo em que a noite recomeça. Vasculho nos lençóis em cada dobra Insano a procurar peça por peça.
Teu retrato por sobre a penteadeira, Gargalha uma ironia corriqueira..
304
Dos problemas que eu já tive Aprendi uma lição Quando a gente sobrevive Força em multiplicação
Quando amor diz de declive Logo chega a solução, Reconheço aonde estive, Hoje sei da direção
Dos passos que irei seguir Dos compassos que usarei. Dos caminhos dessa grei,
Da esperança de um porvir Onde a gente trace o norte, Bem mais livre e bem mais forte... Marcos Loures
305
Dos penhascos, jogado, o meu amor, Rolando pelas pedras da incerteza. Uma alma tão sincera, de pureza Repleta, sem saber sequer a dor.
Tormentas e tempestas, o pavor... Em plena rebeldia, a natureza, Rebenta com a dura fortaleza Que em torno desse amor traz o vigor.
Em tudo que fizeste, tanto dano, Minha alma não conhece mais brandura. Amor que me dedicas, tão tirano,
Não deixa simplesmente que eu te chame, A vida que prometes, tão escura, Que impedes, sem sentir que eu sempre te ame! Marcos Loures
306
Dos pêlos eriçados, arrepios Sussurros e gemidos, gozo e festa Enquanto a poesia reina e gesta Domínio dos delírios e rocios.
Momentos de loucura, desvarios, Penetro com furor úmida fresta E a gente sem pudores sempre atesta O fogo que percorre sendas, rios.
Numa explosão orgástica, delícias Volúpias entre chamas e sevícias, Sem pejos nem pecados noite afora.
Do mundo nem recados nem notícias, E nesse emaranhado de carícias À flor da pele a vida já se aflora... Marcos Loures
307
Dos paraísos transpõe cada alfândega Amor que traz pureza em alvo cisne. A solidão entranha leda pândega Tocada por fuligem, plúmbeo tisne
Ebúrnea insensatez já prolifera Deixando amor calado e sem domínio. Nas mãos desta temível, dura fera, Pressinto o desenlace em assassínio.
Porém amor toando um brado audaz Perfaz novo caminho, em senda flórea O quanto este prazer nos satisfaz Estende a solidão, vã, merencória
Recebo em explosão, ventos solares, Estrelas em tiaras e colares...
308
Dos Pampas vem a voz de uma menina Que encantos ela traz a quem deseja Viver uma alegria tão sobeja No brilho de um olhar que nos fascina
Reflexos sobre o mar, um raro azul, Maravilhosamente emoldurado, Contrasta com o sol claro e dourado, A pérola mais bela que há no Sul.
Distante, nesta terra capixaba, O encantamento imenso não se acaba E torno a te dizer, sigo os teus rastros
Permita que eu te cante em pobres versos, Que num fascínio intenso; vão imersos, Sabendo desvendar sublimes astros...
309
Dos Pampas ouço a voz de uma menina Que nina com carinhos, aqui me exponho Amiga em cada frase que componho, Tua palavra acalma e descortina
Um mundo em que esperança já domina, Tornando este caminho mais risonho. Do amor que tens demais, em alvo sonho Divina poesia em rica mina.
Eu quero tão somente agradecer O fato de poder estar contigo, E ser mesmo à distância, teu amigo.
Tua alma transparente eu posso ver, E nela me embebendo de alegria, Vivendo esta emoção que o sonho CRIA! Marcos Loures
5310
Dos olhos do poeta, um fogaréu Incendiando todo este arrebol, A par da solidão de um girassol, Procuro a luz ausente do meu céu.
Cansando de seguir, sem rumo, ao léu, Qual fosse uma falena vendo o sol, Inebriante sonho, o meu farol, Girando em minha mente, um carrossel
Palavras se misturam num mosaico, O verso tão prosaico e sempre arcaico Infernizando enquanto está guardado.
Ao romper as algemas vai sem nexo, Tentando decifrar mundo complexo Sem ter defesas, logo abandonado... Marcos Loures
311
Dos olhos da morena o meu colírio... Não sei e nem pretendo tal torrente Seguindo a procissão atrás do círio Amor embora audaz é penitente.
Intento contra o tento que não tenho Queimando os meus incensos derradeiros Sem senso muitas vezes, fecho o cenho. Das senhas escondidas meus tinteiros.
Nas sanhas programadas; gramas vejo. Nos veios são velados os protestos. O quase se traduz em meu desejo Os dias sem amores são infestos.
Nos indigestos risos de indigentes Amor eu trago preso nos meus dentes... Marcos Loures
312
Dos meus sonhos, a rainha Que se deu em amor pleno, Quando a noite fria vinha Protegendo do sereno
A mulher que eu sei ser minha Com sorriso mais ameno, Na vontade em que me aninho, No seu corpo eu me enveneno
Gota a gota vou sorvendo Com fartura este rocio, Os seus braços me envolvendo
Protegendo contra o frio, Com carinhos eu desvendo Seu desejo, nosso cio... Marcos Loures
313
Dos meus sonhos quebro imagens... São medonhos, ancestrais, Me perdi nas tais viagens, Velhos dias medievais,
Vilarejos, estalagens. Nas cantigas, madrigais... Minha amante, suas pajens, Mascarados carnavais...
Queimo meus sonhos terríveis Nos passos do meu rocim. Nos castelos mais temíveis...
Nessas pontes levadiças... Todo velho sonho, assim, Trazendo essas mãos castiças... Marcos Loures
314
Dos mares, navegante mais aflito Mergulho meus delírios tão audazes. E busco teus olhares no infinito Com lábios com certeza bem vorazes.
Amar é conhecer de cada rito Momentos mais felizes e capazes. Tu sabes deste amor fogo bendito E nesta sensação me satisfazes...
Quem teve em seu passado mundo insólito Já sabe valorar nosso desejo, Nós um só corpo, num monólito
Vagando pelo espaço sideral. Em flóreas avenidas eu prevejo Um boulevard de sonhos, sensual... Marcos Loures
315
Dos rastros deste amor calmo e profundo Eu fiz a tempestade em copo d’água Se a sorte noutra foz quer e deságua No peito sem rancores, me aprofundo.
Redunda-se do fato de não ter Ao menos um cortejo que me leve Ao vento que se segue após a neve, Golfando em gozo, hedônico prazer.
Acrescentando o sal, eis a receita, Se a gente se conforma e se deleita Problema de quem tenta crer na glória
Seria o meu reverso se não fosse A vida sem tempero ou agridoce A foice muda o rumo desta história...
316
Dos raios do luar, calmas dolências, Trazendo a dor intensa de um vazio. Nas marcas entranhadas, penitências, Um sonho que eu vivi, ora recrio.
Na boca da mulher, claras ardências, Momentos de emoção que fantasio, Agora tão somente as inclemências Mas tenho a sensação de um novo estio.
Relembro de seus olhos, seu sorriso, Chegando mansamente e sem aviso, Num átimo tomado em avidez,
Mergulho no passado e sua imagem, Além de simplesmente uma miragem, Em mágica alegria se refez... Marcos Loures
317
Dos raios destes olhos, um poeta, Vivendo as armadilhas deste amor, Ferido pelos raios, bela seta, Agora conhecendo o esplendor.
Seduzes com teus olhos, minha amiga, Em versos te dedico meu encanto, A vida sem amor já se periga, Por isso me encontrei sob o teu manto...
Mimosas tuas mãos que acariciam Desse divino Deus sacro presente, Carinhos por demais já me viciam Amor que sempre mostras, envolvente...
Amada por favor, meu sentimento, Não cabe mais em si, contentamento...
318
Dos lírios que plantamos no jardim, Abortos de esperanças os secaram, Matando o que existia dentro em mim Tristezas pouco a pouco dominaram
E a gente se perdendo em mar sem fim, Distante, as alegrias ancoraram. A sorte sonegando cada sim, Os olhos, amarguras, marejaram...
O céu agora imerso em fria bruma, Minha alma, sem apoio não se apruma, Restando tão somente a decepção.
A noite entre fantasmas do passado, Não traz jamais o dia anunciado, Só tenho como amiga, a solidão.... Marcos Loures
319
Dos lagos onde, ninfa, se banhava Sob os olhares lúbricos, sedentos De quem de tal paisagem desfrutava Sonhando com carinhos violentos.
Vulcânica expressão do amor, a lava Tomando os mais diversos sentimentos, Maré se anunciando cheia e brava Procuro em pleno mar, rosa dos ventos.
Sem bússola, sem vela ou astrolábios O barco ao prosseguir sempre à deriva Mantendo uma esperança ainda viva
De ter junto comigo, os rubros lábios Da Musa que desnuda, já se banha, Aos pés tão indiscretos da montanha! Marcos Loures
5320
Dos laços que nos atam, bem mais fortes; Em gestos, em ternura e mesmo em paz, Mudando num segundo nossos nortes Além de nossas forças, mais capaz, Trazendo para os sonhos, boas sortes, Mostrando o quanto sinto ser capaz,
No gesto mais sereno, teu apoio, Me dando uma certeza de vitória. Separa a podridão do triste joio, Ampara na derrota, sorri na glória.
Ajuda meu caminho, em força plena, Abrindo meu futuro em claridade. Tua palavra amiga não condena, Somente me demonstra uma amizade...
321
Dos idos decididos pelos dedos, Medos empedernidos nas montanhas, Meus vasos perfurados pelos medos, Nas novas valentias, velhas sanhas...
Quem dera se salvassem os segredos... As bocas que sensíveis sempre arranhas... Dos tempos que perdi nestes vinhedos... Os ossos que me deste, tantas manhas...
Dedos acariciam belos seios, Medos se vão esquecem capoeira... No que se pode ser serás os meios
Pelos desertos que conflagras da poeira, Dos idos que não disse meus anseios. A marca da pantera na soleira.... Marcos Loures
322
Dos grandes sonetistas que ora leio, Aprendo a maestria feita em métrica. Cevando a poesia de permeio, Eu vejo a minha estúpida, vã, tétrica.
A mão desafiando, vai elétrica Enquanto desafino, mais eu creio Que a poesia é maga quando obstétrica Num parto que se mostre sem anseio.
Perdoe então, querida, esta ousadia Da voz tanto teimosa quão sombria, Que ao destoar estraga este concerto
Esplêndida sonata em concordância, Quem dera se encontrasse ressonância... Do sonho- ser poeta, enfim, desperto... Marcos Loures
323
Dos gozos e prazeres insensatos, Deixando tão somente alguma pista, Por mais que a solidão inda resista Estendo a minha mão entendo os fatos
Que possam destruir qualquer vestígio Daquilo que já fomos. Descalabro Enquanto o coração manda, eu reabro Buscando dirimir qualquer litígio.
A par dos desencontros desta vida Propenso a te trazer uma saída Que possa transformar a velha imagem.
Os rastros que deixaste, tuas sanhas, Alçando cordilheiras e montanhas Inundam de poesia esta paisagem...
324
Dos frágeis vagalumes, tênues brilhos Que sonham enfrentar mar revoltoso, Seguindo do luar diversos trilhos, Um andarilho tão voluptuoso
Ultrapassando em glória os empecilhos, Sabendo ser o sonho caprichoso, Aperta; da ilusão, ledos gatilhos E tenta um novo tempo, harmonioso.
Dos gozos mais sutis, segue esfaimado, E encontra a placidez do imenso prado Que pode imaginar pós cordilheiras
Ao largo, no horizonte, um vasto campo, Aonde pôde, enfim, tal pirilampo Tocar luzes além das corriqueiras...
325
Dos filhos que geraste mais vorazes, As larvas, os insetos, as serpentes... Nas bocas e peçonhas não te aprazes, Os olhos, as mandíbulas, vertentes...
Demonstram toda força, são audazes, Nos mundos variáveis oponentes Traduzem mais banais os mais tenazes As fomes deflagradas, vermes, dentes...
Os falsos mergulhões temem segredos, Invadem superfícies mais sedentos... Nas patas tremulantes, ânsias, medos...
Não temo se não sinto ou se conheço... Reflexos medulares, mortos, lentos... A morte, p’ra quem vive, é sempre o preço!
326
Dos espaços celestes, bela flor, Trazendo tanta sorte e tanta paz. Encontro seu perfume e seu calor Nos astros que mergulho amor audaz.
Recebo desta vida o meu pendor Imerso neste brilho que me traz A flor celestial, seu esplendor... Quem me dera colhê-la! Sou capaz?
O perfume no lume em tudo espalha, Recendendo universo em sua malha. Uma flor generosa pelo astral...
Meus olhos a procuram pelo espaço, Uma mão divinal desenha o traço. Em Leilane esta flor, celestial! Marcos Loures
327
Dos mares um etéreo navegante, Entranha a cada passo um vil receio, Bebendo a solidão, quero e permeio Meu verso com um riso delirante.
Eu sei o quanto o sonho é desgastante, Realidade toma cada veio, Da vida tantas vezes eu me alheio Porém verdade chega num rompante.
A fantasia audaz já desafia Das lágrimas insana romaria Proclama em ironia amarga festa.
De toda uma esperança, deserdado, Reflito cada sombra do passado, A morte em sedução ora se empresta... Marcos Loures
328
Dos mares tão mineiros que tramamos Mergulhos nas montanhas das Gerais, Macios nossos sonhos decoramos Com mares que mineiros mostram mais.
Os ares das montanhas e das montes Das fontes que jorramos nesta cama, Das tramas que fizemos, do horizonte, Dos versos verdadeiros, veras chamas...
Eu quero versejar e navegar Os mares que me deste, por empenho. Vencido pelas minas deste amar, Das minas e montanhas cedo venho.
E cedo em teu carinho tal ternura Que vejo em teu amor, a nossa cura...
329
Dos mares que não sei e não navego, As ondas me falando da esperança Quem teima em fantasias, por herança Encontra o seu caminho amargo e cego.
Não tenho pela vida mais apego, A treva do vazio já me alcança, Minha alma por espaços vagos trança, Depois de tanta luta, enfim me entrego.
Eu sei, sou nada além de um simples zero, Perambulando à toa pelas ruas, Nos céus que imaginei, mortas as luas,
Apenas o final ainda espero, Um coração que segue em rumo fosco, Traduz este imbecil, amargo e tosco... Marcos Loures
5330
Dos lírios tu roubaste seus perfumes. Das rosas tu me deste seus espinhos. Da noite que invadiste de ciúmes, Rompantes delirantes, nossos ninhos...
Entrego-te meu ar quando respiro Entrego-te meu sonho quando queres. Em busca deste amor, quase reviro, Os mares, ares, ruas, se quiseres.
Sou frágil se não tenho sua brisa, Sou fácil quando queres namorar. Amor quando puder, então me avisa, Que a noite não se cansa de esperar.
O vão de nossos sonhos, infinito, Espera em teu calor, amor bendito...
331
Dos ermos desolados de onde vim, Num último segundo, diluído, O resto que sobrara dentro em mim Ao ser tocado veio ressurgido.
Uma esperança tenta até que enfim Um sonho que deixara já no olvido Trazendo um bom perfume de alecrim Apraza num momento tão querido.
Cada minuto agora, em alegria Demonstra quanto é bom poder amar. Toda palavra dita, mansa e terna,
Que em lúdica ternura se dizia Espalha esta canção que solto no ar E Amor, bem sacrossanto, nos governa. Marcos Loures
332
Dos colossais desejos que me guiam Querendo me fartar de tanta luz, Meus olhos sem juízo, sempre espiam, A doce maravilha, cura e cruz.
Apalpo teus recantos escondidos, Encontro nossa mina de loucuras. Invado estes caminhos proibidos, Em forma de desejo e de ternuras.
Qual fora um andarilho sem destino, Embrenho, explorador, matas e grutas; Mergulho nestas sendas, me alucino, As mãos tão traiçoeiras quanto astutas...
Nas delicadas dobras passo a ver As armadilhas belas do prazer...
333
Dos cofres eu encontro cada chave, Segredos desvendados; já faz tempo... A vida do teu lado vai suave, Não temo nos caminhos, contratempo.
Apenas me permito ser feliz, Roçando a tua pele a noite mansa, Não quero mais amores tão servis, Imensa calmaria, assim me alcança.
Amor robotizado sem malícia, Calor quando amornado traz marasmos. Mosaico de prazer feito em carícia, Tramando em nossa cama mil orgasmos.
Sarcasmos escondidos nos mormaços, Não quero e nem suporto, mesmo os traços... Marcos Loures
334
Dos céus das ilusões criei meu barco Que vaga entre procelas e bonanças. Às vezes universos vãos abarco Sangrando em oceanos, esperanças.
Quando em ventanias eu embarco, Aguardo cais em praias bem mais mansas, Quem dera se eu pudesse ser um arco E as poesias fossem setas, lanças
Talvez inda tivesse solução. Mas quando encontro apenas solidão Eu olho para os Céus, tudo agradeço.
A vida se refaz a cada queda, Porém não vou pagar, mesma moeda Reciclo o coração, nego o tropeço... Marcos Loures
335
Dos escombros de esta alma, algum resquício Que possa profanar minha carcaça. Resíduos do que fora fome e vício Enquanto a vida aos poucos se esfumaça.
À beira do que sei ser precipício O tempo em solidão quase não passa, Do amor que fora mote, sonho, ofício Perdendo a sensatez, o nó se esgarça.
Quem fora, no passado, mais arguto Já sabe não terá um bom final. Apenas a bandeira traz em luto
O riso de sarcasmo que me dás. Do nada que carrego em meu bornal O beijo em ironia,satisfaz... Marcos Loures
336
Dos erros que cometo pela vida Alguns são totalmente imperdoáveis Por mais que os versos sejam tão amáveis Lamento, com certeza, a despedida.
Minha alma tantas vezes vai perdida, Vagando as amplidões inalcançáveis, Alçando estes grotões insuperáveis, Na lágrima sincera, assim vertida.
Eu vejo o teu retrato dentro em mim, E sigo cada passo que deixaste; O sol que com a noite faz contraste
Iluminando em glória o meu jardim, Expressa uma esperança de poder, Voltar a ter em ti, gozo e prazer... Marcos Loures
337
Dos erros cometidos no passado A tua ausência agora, maltratando, Percebo ser somente o resultado Que aos poucos sem descanso vai matando...
Quem dera se pudesse noutro prado Seguir o tempo inteiro caminhando, De tanto que, eu bem sei, andei errado Castelo de esperanças desabando.
Tu foste minha amiga e companheira Amada amante, dona dos meus olhos. Agora que perdi minha esperança
Procuro uma mulher que inda me queira Depois de caminhar por entre abrolhos Prometo pra mim mesmo uma mudança...
338
Dormir, sonhar... Vencer as tempestades Causadas pelas dores do viver... Retorno aos meus princípios, veleidades, Espero tantas coisas esquecer...
Que bom seria ter alma liberta E versejar meu canto em liberdade. Que bom seria ser, enfim, poeta; Vencer com versos livres, ansiedade...
Quem dera se, nos sonhos e sonetos, Vagasse em asas soltas meu cantar. Falar de nossas dores nos quartetos Saber, sem ter receios, navegar...
Dormir, sonhar, soul fly, sobrevoar Sem medo de poder enfim, amar!
389
Dormir tão calmamente no teu braço, Depois de termos feito esta festança. Jogando contra a lua uma aliança O jeito é ser feliz, sem embaraço.
O resto na verdade nem mais traço E vivo o gozo firme da esperança Que enquanto nos amarmos sempre alcança O que se prometeu no antigo laço.
Eu juro, não farei qualquer lambança O corte do punhal que é feito em aço Matou o que restou de um ser devasso,
Legando o meu passado pra lembrança Amor jamais encheu a minha pança, Porém sempre garante um manso passo...
5390
Dormindo como uma onda em calma praia Te vejo suspirando, delicada... Na areia deste sonho, o sol desmaia Deitado em tua pele bronzeada...
Dormindo com pureza sensual, Cansaços e delícias desfrutados; A noite foi sem par, fenomenal, Meus sonhos se tornaram tão dourados...
Ao ver-te molemente extasiada Percebo como é bom poder te ter. Sacias meus desejos, minha amada, No livro que sabemos, juntos, ler...
Que bom que concebemos nosso caso, É sol que brilha forte em meu ocaso!
391
Dormindo com pijamas de bolinhas Pantufas cor de rosa, meu amigo! As noites de plantão são tão sozinhas, Correndo na verdade tal perigo
Ao soltar suas frangas as asinhas Batendo com furor Ah que castigo Tristezas que são suas não são minhas. Não posso conceder qualquer abrigo.
Doutor que sempre diz o mesmo não, Com medo deste bicho, o tal papão. Jamais pode sentir-se solitário
Ao ver tanta florzinha em seu pijama Desculpe se não venho quando chama Apenas meu caminho, é que é contrário...
392
Dormimos nossos cômodos de cal, Não posso declarar a todo instante, Que fomos prisioneiros deste astral... A vida não se fez mais elegante...
Amor que se mentiu, irracional, Trafego nossos passos adiante... As roupas vão quarando no varal, O tempo que restou, vai inconstante...
Não posso ter amor nem paciência, Jogados sem vontade de partir. As mãos que apedrejaram, por clemência
Num instante parecem refletir... Amor por que me juras inocência, Parede que me ecoa a repetir.... Marcos Loures
393
Dormia mansamente quase nua À sombra desta noite esfuziante Beijando o belo corpo, uma alva lua, Nos raios um desejo inebriante...
Sondando meus carinhos mais profanos, Sabia que podia me envolver Não tenho nem teria mais enganos Amor que sempre ajuda a reviver
A flor que dentro d’alma se perfuma Invade sem espinhos, o meu jardim, A dor ao ver a flor logo se esfuma, Amor que tanto quis, amando assim...
Se tudo o que fizemos, sem demora, Nos traz a claridade desta aurora...
394
Dorido ritual no fim que ora prevejo Sangrante tempestade açoda um velho triste. Apenas o vazio imenso ainda insiste E mostra-se cruel, temível e sobejo.
Aproveitando assim, não perde um só ensejo, Do nada que carrega; eu sei que ele resiste Embora trague o vago, expressa o quanto existe Da solidão completa, à qual jamais almejo
Mas é a companheira, amiga inseparável. A vida vai passando- amargura intragável, E deixa tão somente um rastro feito ausência
Quem dera se eu pudesse alçar este infinito, Liberto então soltar aos céus um forte grito Teria ao fim de tudo, alguma condolência...
395
Dorida madrugada em solidão, Acendo o meu cigarro, tiro um trago. A tua ausência causa tal estrago Descompassando logo o coração.
Ascendo ao infinito em emoção O vento frio beija-me em afago Quem dera a placidez de um manso lago, Mas tão somente escuto o mesmo não.
Aguardo mais um tempo e nada vem, Somente uma saudade inesgotável. Procuro, vago à toa. Mas ninguém...
Na janela entreaberta do meu peito A madrugada passa, interminável, Nem mesmo a tua sombra sobre o leito...
396
Dos cacos que nós fomos eu tentei Fazer algum espelho, pelo menos; Momentos antes raros, pois serenos, Na colcha de retalhos, eu juntei.
O resultado disso, agora eu sei Tomando a minha vida com venenos, Matando os sentimentos mais amenos, Apenas velhas penas, adiei.
O vaso que se quebra, sem conserto, Uma andorinha só não faz concerto, Nem mesmo um veranico, não dá certo.
Malhando em ferro frio, num deserto, O coração teimoso, estando aberto, Ainda que sem rumo e nexo, oferto... Marcos Loures
397
Dos beijos que pretendo em tua boca, milhares de carinhos sem ter fim. E seduzido em noite quente e louca, marcado pelo beijo carmesim.
Acordo do teu lado e recomeço a festa feita em gozos e prazeres. Virando o nosso corpo pelo avesso, do jeito que eu mais quero e que tu queres.
Mulher feita desejo, venha logo; te quero da maneira que puder, ardendo em nossa cama, tanto fogo, delícias em formato de mulher...
Vencendo tantos medos e pudores, misturamos orgasmos e suores... Marcos Loures
398
Dos amores que tive, foram tantos... Eu me lembro que fomos bem felizes. Embora eu te causasse tantos prantos Tantas noites passadas nas marquises
Esperando dizer, em serenatas, Dum amor que trazia tantos versos, Falando desses rios e cascatas Em dezenas de sonhos, tão diversos...
Mas, se te fiz feliz, disso eu não sei... Errei tanto, mas tanto que te amava Mesmo assim muitas vezes machuquei Quem, em mim, alegria só buscava...
Minha amada desculpe tanto dia Que deitei noutros braços... Poesia!
399
Dormita em noite vã, fria e nublada Aquela que se fez minha esperança, História há tanto tempo mal forjada Deixando uma poeira na lembrança
Do pó no qual amor ora se fez O risco de tropeço é inerente. O fardo tão pesado, insensatez, É tudo o que se tem; o que se sente.
Estendo ao infinito os meus olhares Enfronho a solidão neste horizonte. Aonde eu percebi que tu locares O sonho; já secou a antiga fonte
Que eu sei, pressagiara uma ilusão, Amor em amplitude, ao rés do chão... Marcos Loures
5400
Donde vinha a tristeza tão estranha Que dominou, por vezes, minha vida? Subia, em vertical, com dor tamanha, Deitada tão somente, em voz perdida...
A dor que simplesmente me tomava, Vertida nas sessões de nostalgia. Um anti-sol que sempre iluminava, Formando um só delírio em fantasia...
Minha alma arrebatada, quis fugir. O campo das estrelas, meu descanso. Seguido tal cometa sem pedir, Os olhos infinitos; não alcanço...
Meu lenitivo em forma de ungüento, O nosso amor, sereno e violento...
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