
MEUS SONETOS VOLUME 041
Data 01/12/2010 07:17:35 | Tópico: Sonetos
| 4001
Carrego estas tristezas no bornal Herança que virou um duro fardo. Nos caminhos que passo, tanto cardo, Vagando em solidão, mar abissal.
Toda noite o vazio dá sinal, O mundo nebuloso, um sonho pardo. As dores desfilando em festival. Solidão companheira, triste fado.
Meus males- as malas que carrego- Não sei porto algum nem descarrego A saudade que insistindo se avizinha.
Pesado; mal caminho e sigo triste, Um sonho pirilampo não resiste... Tanta dor neste mundo... Sempre minha...
2
Carrego meus fantasmas, pesam tanto... Depois de alguma chuva dor e riso. O toque mais audaz se faz preciso E nele, com certeza todo encanto.
Se venço a cada dia, este quebranto Permito ao fim da vida, este sorriso Que chega sem espera e sem aviso. Alimentando assim, ternura e pranto.
O risco de sonhar valeu a pena E mesmo que a saudade já se acena Depois deste horizonte, nuvem sol.
Recomeçando a cada nova queda O gozo em pagamento, vil moeda Os olhos da esperança, o meu farol...
3
Carrego mil estrelas na bagagem, Pesando desta forma, o coração, Tentando vislumbrar na paisagem Aonde bate forte, a direção.
Na moça mais bonita, uma bobagem Vendida como frágil solução, Permite ao sonhador, uma viagem, Cerzindo de um amor, tolo refrão.
Eu tomo um comprimido e vou dormir Sabendo dos porões deste porvir Que nada me trará de novo a lua
Que um dia se fez moça e foi só minha, E agora noutros versos descaminha Deixando a minha noite escura e nua...
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Carrego minhas dores, vou sozinho; Colhendo o que plantei. Problema meu! Se o rumo noutros braços se perdeu, Queimei e destruí o que foi ninho.
O coração que sempre foi ateu Cansado de buscar algum caminho Que possas deslindar qualquer carinho, Jamais atingirá este apogeu.
Quer queira ou quer não queira, vago só, Não tenho e nem desejo sequer dó, Adoço o meu olhar noutra paragem.
Que dane-se a ilusão, morta a quimera, Sem flores que fazer da primavera? Assim nossas andanças se interagem...
5
Carrego nos umbrais da sorte inerte O quanto verteria e não consigo. Por mais que a claridade me desperte Buscando a liberdade, enfim, prossigo.
Saliva que me morde e desafete No beijo sem confete e sem abrigo. Os olhos escondidos no carpete No quanto nada havia, inda persigo.
Legado dos amores escondidos Nas praças sem jardim, caramanchão. No fel imerso em sonhos desvalidos
Resumo o quanto quis e nada tive. Percebo um antepasto na amplidão Do amor que sendo inato não retive...
6
Carrego os olhos podres da esperança Vendidos num puteiro beira estrada No corpo da menina, da criança Uma alma sempre nua e disfarçada
Nas armas dos beatos, temperança Nas armas dos injustos, na facada Fuzis e batalhões, velha aliança Entre a corja que manda e a desmandada.
A fruta apodrecida nos motéis, Os risos destas gralhas indecentes. Bebendo da sangria dos bordéis
Cravando nos infantes frios dentes, Talvez algum resquício de amizade Permita depois disso, a liberdade...
7
Carrego-te nas veias minha amada, Em cada gota encontro tua imagem No sangue em que transcorre esta viagem Tua presença é sempre demarcada.
Ao coração seguindo nesta estrada Trazendo ao corpo a paz em nova aragem, Levando com certeza esta mensagem Em gotas de meu sangue transportada.
Nas horas em que estamos lado a lado, Sentindo bem mais forte esta emoção Vibrante sensação que enamorado
Encontro no teu corpo este caminho Levando a mais sublime redenção. Feliz em cada verso eu já me aninho...
8
Carregue pelos céus, meu coração, Levando assim, contigo uma esperança De toda a mais perfeita tentação Ao ter tua presença, a luz alcança
A dança que se faz em festa plena Permite que se estenda sobre nós, Beleza em que alegria nos acena Deixando bem distante a dor atroz.
Amar é ser feliz? Às vezes sim. Porém quando se trata de um tropeço A luz vai se afastando, então de mim Por mais que eu já repita: eu não mereço!
Amor com dor traz rima pobre e fria, Matando toda a sorte que eu queria...
9
Carro de boi passando pela estrada Distantes cantorias e lamentos... Trazendo as lembranças desta amada Que só deixou saudades e lamentos...
No gosto adocicado, da garapa Relembrando os teus lábios, puro mel; A solidão estende a negra capa E impede que eu perceba o claro céu...
No cheiro desta terra tão molhada Vivendo nosso amor, sem ter sossego. A chuva que caiu de madrugada Promete novo amor e novo apego...
E vejo-te querida, sentada do meu lado, Amiga, tanto amor não é pecado...
10
Cartas jogadas sorte desafio... Nos dados, rodam, giram... Nas roletas, Olhos negros, vermelhos. Sina, cio... Tudo passando, luzes violetas...
Estás distante, estática. Eu me fio Nos lunares lunáticos...Lunetas Mirando espaços; louco tempo, estio. A sorte não bafeja, lambo as tetas
Da ganância; mas falta puro leite. Não há sequer ninguém que isso aceite, As cartas viciadas gritam não!
Espero o final, lento inexorável, Quem me dera tivesse mais amável, A lança que perfura o coração!
11
Casais que se completam num motel, O sexo faz a noite mais gostosa, Certeza de adentrar depressa o céu Deidade se expressando quando goza.
Rolando numa cama de bordel, A gente se procura e; se antegoza Felicidade plena num dossel, Mulher que me sacia, maviosa.
Prazer quando se é dado e recebido, Atiça com vontade uma libido E faz desta luxúria sensual
Uma homenagem feita ao deus bacante Orgias e menages, corpo amante Se entrega num divino bacanal...
12
Castas e mantras, discorres As postas expostas sangrando As bocas, as tocas porres Nas hóstias hostes passando
Nas tumbas, as lufas, morres Os restos, as rotas vagando Carpas, percas, escorres Mudo, imundo naufragando
Mas meus mastros e matizes Mês a mês mestres e bruxos Cartas, cotas e cartuchos Atos egos e atrizes
Citras cítaras e cânticos Roma amor romã romântico!
13
Castelos construídos de um desdém, Vazia madrugada, noite fria. Vagando solitário, sem ninguém, Minha alma vai morrendo, assim, vazia.
Quem teve nesta vida um doce bem, E um dia se banhou em alegria, Percebe como é triste ser alguém Que morre, pouco a pouco, todo dia...
Perguntas: -Por que choras meu amigo? As horas vão passando cruelmente, Somente no meu peito, uma tristeza
E um sonho em que buscando um novo abrigo Perdido em solidão, vou tolamente Beber da seca fonte da incerteza...
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Castelos construídos são de areia, Decerto o mar virá e nada sobra. A solidão se mostra em fria teia O quanto amor nos deu, a vida cobra.
Recobro os meus sentidos, vou sozinho E o peito solitário bebe o vento Deixando em pensamento antigo ninho. Agora a noite trama o sofrimento
Momentos de paixão? Eu sei que tive Platéias delirantes, mil cenários. Nas mãos todo o vazio que retive Decerto amores foram temporários
O quanto que pensei que fosses minha Perdeu-se numa noite vã, sozinha...
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Castelos desabados, meus desejos... Capitulei vencido pela treva. Nas guias dos luares, sem lampejos, A morte traiçoeira, sempre ceva...
Passando por terríveis relampejos, Minha alma que é desértica já neva Meus olhos sem mirada, simples pejos, Buscando meus castelos, dor releva...
Amar teria sido meu delito? Viver sempre será fatal conflito. Da guerra só conheço derrocada...
Não podem rudes pedras florescer... A morte, enfim, ajuda-me a viver, É torre do castelo, destroçada
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Castelos dos meus sonhos, realeza Há tempos destronada sem reinado, O dia em nevoeiros, abortado A morte sem remédio da princesa.
Enquanto a vida segue, com certeza O jeito é reviver o meu passado. Guardando o que sobrou deste legado, O prato sem comida sobre a mesa.
Beirando os precipícios continuo, O amor que se fez uno pede duo Mas nada além de um falso diamante.
Os dedos arrancados sem anéis, Apenas labaredas, os corcéis Enfurnam-se na senda mais distante...
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Castelos e sereias, a princesa... O corte tão profundo já levou. De toda a fantasia que ficou, Um gosto tão amargo da tristeza...
Mas a tarde trará nova certeza, Mesmo que o sol que veio não brilhou Outro virá trazendo o que sonhou. Enfim te cercará de tal beleza
Que nunca lembrarás do antigo sol. A vida te promete este farol Que sempre te trará a claridade!
E tudo que parece tão distante Muda-se, de repente, num instante, O amor já te trará felicidade!
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Castrados pela vida e pela espera, Não sabem mais se vão ou permanecem... Se submisso ao leão, finge-se fera E os pobres dos cordeiros já padecem...
Desfolha totalmente a primavera As rosas despetala e já fenecem... Porém ao ver os tigres numa espera, Baixando os olhos meigos obedecem...
Eunuco que se esconde, disfarçado, Um gigante na audácia, mas anão Os pobres que conhecem tal castrado,
Pisando, maltratando, este infeliz Aos trancos e barrancos, bofetão, No amor e na amizade, meretriz!
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Castraste o cachorrinho? É sacanagem! O bicho não tem culpa, companheira, Olhando deste prisma, a molecagem Que faz dando latido até rasteira
É coisa tão pequena, uma bobagem, Eu ouso até dizer que é corriqueira, Melhor seria então nova abordagem Usando para o pênis, focinheira.
Tirando do coitado qualquer chance De se realizar em um Romance, Tu não verás jamais ele contente.
Por isso é que te falo esta verdade, Somente pra evitar tal crueldade: Melhor raça de cão? Cachorro quente...
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Catando meus caquinhos pelas ruas, Jogado neste canto vou a esmo. As dores me invadindo, podres, cruas. Quem dera o nosso amor... Não sou o mesmo...
Carrego esta mortalha que me cobre, Mas dela tenho orgulho, é minha pele. Não há força no mundo que recobre, Que cure quem de tanta dor repele.
Não quero mais abraços nem conselhos. Meu tempo de sonhar está no fim. Os olhos se castanhos ou vermelhos As dores são só minhas, sendo assim
Não peço nem apoio nem migalhas, As mortes que são minhas, sem batalhas...
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Catando os meus pedaços espalhados Nos cantos e botecos da cidade, Repito em tantos ecos os passados Caminhos sem destino ou liberdade.
Os versos que te trago, garimpados Em meio a tantas rugas da ansiedade Soando feito os guizos agrupados Misturam vaga-lume e claridade.
No lusco-fusco busco a solução Que trague algum resíduo do que fui. O rio de meus sonhos não mais flui
Inflando o medo em forma de balão. Do quanto fomos fontes e desejos, Vagamos sem foguetes ou festejos.
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Catedrais dos meus sonhos, minha crença. A vida não deixou sequer cascatas, Viajo num segundo tuas matas; Queria recolher a dor imensa!
Nas horas que sonhei, cruel doença, Nas formas desse corpo, me retratas, A lágrima que tenta está suspensa! A garganta retêm mas, cruel, matas!
Catedrais, orações, a rebeldia... Não quero ter sequer um novo dia; Apenas a verdade é que liberta!
Não temo nem clamor nem fantasia. Meu mote se perdeu na poesia. Minha dor, insolente, me desperta!
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Catetos e co-seno, hipotenusas Triângulos retângulos quadrados. Meninas levantando suas blusas Olhares mais famintos e safados.
Palavras balbucio vão confusas, Jogando meus compassos, meus esquadros, Perdido no porão buscando as Musas, Encontro tão somente os meus pecados.
Na trigonometria desta vida Distante do prazer, pela tangente Percebo que não tenho mais saída.
Em tua geometria eu me perdi, Agora o que fazer se estou descrente, E nesta confusão cheguei a ti...
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Cativas e cultivas com carícias, Rompendo a fortaleza que cercara, Ao dar com tanto ardor, a jóia rara Que agora me permite tais delícias.
O amor que se mostrou já nas primícias A fonte que sacia e assim me ampara, Sentindo corpo a corpo e cara a cara Entregue a profusões, loucas sevícias.
Proféticos enigmas decifrados, Segredos, com certeza, mais ousados , Pecados esquecidos no quintal.
E quando ao me tocar com maestria Delitos insensatos o amor cria, Torna a nossa vida magistral...
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Cativas minha vida com sorrisos. As doces melodias, tua voz. Travando nos ouvidos paraísos, Matando uma tristeza tão atroz...
Deitando no teu colo, quero o som; Das ondas que rebentam nesta areia. A vida se promete; nosso dom, Amando noite e dia vida cheia...
Recebo a maciez do teu respiro, Beijando a minha face em cicatriz. Nos braços deste encanto já me atiro, Por certo tentarei ser mais feliz.
Agora, minha amada, me perdoa, Que a noite é tão bonita; a vida é boa
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Passarinho que cantava no primeiro de janeiro canta sua liberdade, e eu choro meu cativeiro. Cativo da saudade, o quê que faço Se esta mulher não quer mais meu carinho; Procuro sempre em vão, estendo o braço, Depois é que percebo: estou sozinho! Amor que nos levita, ganha espaço Morrendo me levando ao descaminho... Estrela que do mar, num rubro laço, Deixou solitário passarinho... Agora, na gaiola da saudade, Olhando para a vida, sem sentido... Amar demais será que é crueldade? Pressinto o teu perfume, mas cadê? Vazio, sem amor, vou desvalido; Pergunto: minha amada, mas por quê? A trova mote é da região central de Minas Gerais
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Cativo de teus versos, sonhador, Não tenho mais desculpas, quero mais. Bebendo de teus lábios sensuais, Desfraldo esta bandeira, puro amor
Poder que se mostrou transformador, Vencendo tais distâncias abismais, Amar, querida eu sei, nunca é demais Fazendo da esperança o seu louvor.
Afogo-me nas águas cristalinas, Descendo pelos rios chego à foz Dos sonhos que embalaram nossa vida,
O amor alimentando fontes, minas, Unindo com firmeza nossos nós, De todos descaminhos, a saída...
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Cativo deste amor, puro prazer Recebo de teus lábios, deusa e diva. Minha alma concebendo o bem querer Da tua, prosseguindo em paz, cativa.
A gente não se cansa de tentar Viver a fantasia, ser feliz. Deitando sobre nós raro luar Expressa o que emoção jamais desdiz.
Eu venho sem descansos, noite afora Buscando tua pele, corpo inerte, Amor quando demais não se demora, Fartura em alegrias cedo verte,
A cada instante um sonho moldurando, Sentindo a tua mão me procurando.
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Cativo deste sonho em ti vou preso, A gente briga tantas vezes... tolos... Tristeza vem regando nossos solos, Depois- parece até que estou surpreso,
Chorando pelas ruas, indefeso Buscando em outras sanhas, outros colos, Encontro tão somente duros dolos Jamais escaparei, não vou ileso...
Tentando te esquecer eu volto a ti, Eu mal consigo acreditar: perdi... Apenas me rondando uma saudade.
O nosso caso vai chegando ao fim, Trazendo nosso amor dentro de mim, Eu não conhecerei mais liberdade...
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Cativo dos jardins em águas turvas, Descendo pelos rios da amargura. A vida ao preparar terríveis curvas No desamor e inglória se segura.
Salgando o que já fora tão potável, Impede que ressurja a fantasia. O sonho que busquei, inalcançável, Floresta tenebrosa, o que se cria...
Torrentes de fantasmas, solidão, Vestígios do que fomos, não mais vejo. Apenas a completa escuridão Matando em nascedouro o meu desejo
De ter quem tanto amei e já partiu. O céu em treva eterna se cobriu.
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Cativos para sempre dos amores Jamais me perderei do que eu desejo. Um paraíso feito em raras cores Vivendo junto a ti, cedo prevejo.
Almejo a claridade em teu olhar, Refeito dos meus erros, vou contigo, Sabendo finalmente onde encontrar Depois da tempestade, pleno abrigo.
Couraças que aprendi; eu descartei Agora o peito aberto nada teme. Do amor que inoculou a paz em lei A vida encontra o firme e leal leme.
Calor que uma emoção assim ateia, Cantando amor supremo em lua cheia Marcos Loures
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Catulo da Paixão, com seus poemas Mistral deste País que sem memória Abandona na estrada sua história, Com tanta hipocrisia cria algemas,
Usando da Natura nos seus temas, Louvando o que foi visto como escória Beijando a lua imensa e merencória, Criou raro tesouro em frágeis gemas.
Do Luar do Sertão, Jeca Tatu Um tapa bem na face desta gente Deveras orgulhosa e prepotente
Se nega a ver sua alma e corpo nu. Usando da palavra, o seu buril, Mostrou a face oculta do Brasil...
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Causando a mais feroz inundação O que era gotejar já se transforma A vida não detém tal furacão Que muda num momento a sua forma
E o que era placidez não mais comporta Ebulição extrema rompe o cais, Abrindo em supetão, arromba a porta Em pânicos divinos, sensuais.
O quanto que se entorna eu não duvido O amor quando em total efervescência Expandindo o arrebol com alarido Mostrando a mais cruel, viva potência.
No fogo que se faz tão inclemente, Conturba enquanto acalma toda a gente... Marcos Loures
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Causando a mais total transformação Um sonho que se fez abençoado Taquicárdico e louco coração Nos passos do desejo vai, levado
Pelos raios mais fortes da emoção, Recebe a ventania em calmo prado, Fazendo sem saber, revolução, Completamente insano, assim tomado,
Fagulhas incendeiam cada dia, Tornado em sentimento, fantasia Sabendo deste amor que é de verdade,
Enquanto em fortaleza se oferece, Destino mais saudável ele tece Na força desta luz que nos invade. Marcos Loures
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Causando em reboliço, as alegrias, Por mais que sejam frias madrugadas Nos madrigais; as horas quando estias Espiam entre as estrelas alvoradas.
Atadas nossas crias nossos risos, Jamais se saberá quem começou. Azuis bebendo as trevas são precisos Enquanto o sol, mais tímido, raiou.
Na luz que entranha, arranha cada olhar, Cantares encharcando este arvoredo. Segredo que se mostra a desvendar Mantendo o fogo aceso desde cedo.
Num acalanto um manto tenta em canto Tateio tatuado em teu encanto... Marcos Loures
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Cavalgo o pensamento, sem conter Sequer alguma estrela ou vão cometa, Quasares e pulsares posso ver Usando o coração como alvo e seta
Quem dera se pudesse ser completa A refeição que um dia pude crer Ser feita em alegria, mas sem meta Arremessado sigo ao bel prazer.
E vindo de onde vim, nada terei Senão o peso enorme desta grei Que marca, em cicatrizes, meu costado.
Carcaças que devoro sobre a mesa, A morte se servindo em sobremesa, Apenas tão somente um desgraçado...
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Cavalguei nesta noite sem Maria... Das estrelas fiz norte e companheiras; As minhas mãos cansadas, montaria... As mantas que cobri, as derradeiras...
O vento passageiro melodia. O sol que não pretendo deita esteiras... Nas artimanhas loucas, meio dia. Nas vésperas da vésper, corredeiras...
Mas quando percebi, nada restava... A trama que engabela, foi gestora.. Martirizei comédias, fui gaiato...
O que não percebi não me enganava... As trevas que nasci, na manjedoura... A vida que vivi, simples hiato.. Marcos Loures
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Cavalo bravo, sorte desregrada, Viajo um pantanal dentro de mim. Na mão esquerda eu trago sempre o nada; Na mão direita a rosa carmesim.
Destino que se fez em vaquejada Charneca apodrecida foi meu fim, Minha esperança tola e destroçada Eterna seca toma meu jardim...
Cavalo bravo, sina sertaneja Estrias vão tomado o meu futuro, Não há mais solução que se preveja
Nem gesto que demonstre liberdade. A sorte vem sem cobre em chão mais duro. De graça nesta vida? Uma amizade... Marcos Loures
39
Cavalo dos meus sonhos, eu encilho, E sigo pela noite em liberdade, Usando o nosso amor, divino trilho, Encontro o paraíso em deidade.
Na sílfide em luz, me maravilho Roubando o que sonhei felicidade, Atinge; o pensamento, o tombadilho, Permite se vislumbre a claridade.
No fogo que me queima e me extasia, O gozo das vontades soberanas, Repletas de querência e fantasia
Marcando com divina cicatriz, No amor que, cedo invade; tenho ganas De ser imensamente mais feliz.
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Cavalo galopando sem domínio Vazando pela estrada, um poeirão Causando em quem olha tal fascínio, Acelerando sempre o coração.
A liberdade é feita em cavalgada Em sonhos que ninguém pode conter. Sem hora de partida ou de chegada Assim também a vida deve ser.
Como um cavalo solto sem amarras, Viver sem montaria em rédeas soltas Do amor não se prender em frias garras
O céu sendo o limite sem rodeios, A crina e a cabeleira sempre soltas, Enfim: amor perfeito em meus anseios.
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Cavalo quando é bom vale tesouro, Mulher é como pedra lapidada, Se tudo na verdade não diz nada, Eu quero na morena ancoradouro.
No sol do seu olhar, sempre me douro, E sigo a vida inteira na invernada, Porém se a mata quer ser desbravada Ainda com certeza dou no couro.
Amansa o coração de um bom mineiro A moça quando espalha o doce cheiro Fazendo nesta noite uma arruaça,
Bebendo em sua boca a maravilha, Encontro nesta prenda uma armadilha E entorno poesia com cachaça.
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Cavalo quando xucro é um perigo, Ninguém segura as rédeas nem peão. O vento que causou tal furacão Condena o coração ao desabrigo.
No fundo, desdenhoso eu já nem ligo, Não quero o teu amor, repito: não! Tampouco camarada nem amigo, Comigo é sempre assim, zero ou milhão.
O amor que se fez regra, norma e lei Já não agüentaria cabisbaixo A casa vou botar, agora abaixo
Humilhação jamais eu suportei, Porteira vai fechada sim senhora, Quem quer a mamadeira sempre chora
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Cavalo quando xucro; é um problema Difícil resolver esta parada, O coice prometido é um dilema Se eu fico, de presente, uma pernada.
Usando da palavra quebro algema Não quero ser figura carimbada, Não sendo carioca, sou da gema, Embora não freqüente esta balada.
Abalo que senti na mesma queda Aonde vou pagar; outra moeda Sem ter sequer nem juro ou dividendo.
Deixando este corcel assim de lado, Eu volto ao meu caminho mal traçado E o que sobrou de nós, vou recolhendo...
44
Cavaquinho tocando este chorinho Que me trouxe lembranças do passado... Do tempo que passei sem teu carinho, Da vida que tivestes ao meu lado...
O resto que pensei ser tão sozinho, Muitas vezes vivi acompanhado, O choro companheiro, de mansinho, Jamais me fez assim, tão desolado...
Cavaquinho chorando me traz Glória, Morena que ficou na minha história... Nas noites do Sovaco, sem tristezas...
Misturando saudades contradança... Cavaquinho me dando estas defesas, Enquanto esta velhice já me alcança!
45
Ceder à sedução louca e voraz Que faz com que eu me entregue totalmente, Ousando este carinho mais audaz, A boca percorrendo lentamente
Os vales, as montanhas, os canteiros, Aos poucos, decorando a geografia Em todos os relevos verdadeiros, Vertendo em cachoeiras, a alegria...
Tremores, terremotos, furacões, Marés, ventos solares, tempestades, Correntes, maremotos, convulsões, Em ondas de fatais felicidades.
Num grito de vitória e de conquista, No revirar dos olhos, céu avista...
46
Cedo ou tarde verás quanto eu te quero E neste momento eu sei que tu virás, Sabendo deste amor que é feito em paz, E em mansas fantasias já tempero.
Cuidado com carinho e tanto esmero, A placidez de um lago, amor me traz Sem ser um sentimento vão, fugaz, Mostrando ao fim da vida, a luz que espero...
Apenas calmaria, suave brisa, Nas cores de um outono se matiza, Preparo para o inverno que é fatal.
Eu quero estar contigo a cada dia, Sentindo finalmente a poesia Harmônico prazer consensual...
47
Cegar em luz pacífica, os tormentos, Teimando em ser feliz mesmo que venha A negra solidão. Mantendo a lenha Acesa, enfrentar sempre fortes ventos.
A vida proporciona os seus proventos Por mais que tanto medo, às vezes tenha, Escrevo em mansidão minha resenha Sabendo das feridas, sei de ungüentos.
Numa expressão audaz e flamejante Amor em força intensa e deslumbrante Estende a claridade em meu quintal.
Aguando com sorrisos, a alegria, Um novo alvorecer me propicia Retratos deste sonho sem igual...
48
Ceifeiros, os meus sonhos te procuram, Arando uma esperança a cada verso. Distantes de teus olhos me torturam, Semeiam ilusões pelo universo.
Nos dedos tão macios, sensuais, As mãos de quem adoro me chamando. Formando com estrelas, festivais, Em brilhos, pelos céus, vão desfilando...
Transcendem tanta paz pelos espaços, Mostrando o bom caminho que me guia. Estreitam mais fortes, nossos laços, Além do que, talvez, se poderia...
Deitar em tuas pernas, sonho e cais, Meus sonhos te buscando... Nunca mais...
49
Celebração à vida. Posso crer Na força da franqueza e da alegria, A mesa não ficando mais vazia Um tempo bem tranqüilo se faz ver.
Depois de tantas sendas percorrer O coração em paz se fantasia Da luz de uma amizade em que se cria Um templo feito à glória de viver.
Visão que mesmo utópica, eu persigo, Querendo um novo dia mais amigo, Sem lobos ou cordeiros. Plena paz...
Quem dera se pudesse sem tormentos, Sentir mais benfazejos os momentos Que o vento da esperança agora traz...
50
Celebrando divino pensamento Que me embaça qualquer nova empreitada Levando meu canto sem tormento Passeando sem rumo pela estrada
Que me guia sem planos de partida Nas celestes visões angelicais, Caminhando porquanto longa vida Embalando meus sonhos no teu cais.
Neste caos absoluto, sem amor, Num momento fiando minha história Na procura de ter novo sabor, Encontrando amor em plena glória.
Descrendo te encontrar após distância, Mas amor que se preza, traz constância!
51
Celebrando teu nome com meus versos Pedindo o teu desejo em meus anseios. Vagando por centenas de universos Depois de tudo deito-me em teus seios... Nossos sentidos que antes bem dispersos Se encontram, se misturam sem receios. Viemos de outros mundos tão diversos Agora nos unimos. Os esteios Que formam nossa base em tanto amor; São os meios que usamos sem temor Nas lutas contra a dor e a solidão, Deitado nos teus braços; manso, rio. Deságuo no teu mar, braças do rio E vivo tão feliz nossa emoção...
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Celebro nosso amor em vinho e festa Num ato de paixão e de querência Não quero mais da vida uma inclemência A mocidade enfim renova e atesta
Que a vida que passei, sendo funesta Renasce nos teus braços com decência Jamais quero viver em penitência O tempo que não sei quanto me resta...
Assim, em meio a beijos e vontades, Que satisfeitas tramam liberdades Sem prazo, sem limites, mas constantes.
Amar é caminhar no que bendigo, No verso que se faz bem mais amigo, Certeza de prazer na doce amante...
53
Celebro uma lembrança do moleque Que um dia se fez rei e não sabia. Uma alma tão travessa quão vadia Abria no horizonte um vasto leque.
O tempo faz com que este rio seque Restando esta saudade tão vadia, Distante da divina rebeldia, Jogando na defesa, viro beque.
Pudesse ter nas mãos o meu destino, Voltava a ser sem dúvida, o menino Que a vida, dia-a-dia destroçou.
Correndo atrás do tempo, uma saudade Dizendo desta Angústia que me invade, Goleiro que falhou em cada gol.
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Célere veio a noite entranhada de medos... Um sorriso resiste, a noite não perdoa. O pensamento livre, os céus já sobrevoa. Quem sabe desta noite encara seus degredos.
Pensamento me leva, acima d’arvoredos. A noite se revolta, um brado forte ecoa. Da luta não me solta, embarco na canoa Dos sonhos, companheira... Eu guardo seus segredos...
Também conheço o dia, aurora é minha amiga. A noite não percebe a morte que periga! O brilho da alvorada, espreita este martírio.
Bem sabe que travei com a noite em tempestade. Na luta que sonhei, venceu a claridade! Em Lílian minha amada, a força d’alvo lírio! Marcos Loures
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Cenário desta insânia deslumbrante A cama feita em trágicos lençóis Farol que se perdeu a cada instante Negando uma alvorada plena em sóis.
Se de soslaio eu vejo antiga cena A lúgubre passagem repetida, O quanto que o desejo me envenena Matando minha sorte de saída.
Assíduo expectador da fantasia, Há tempos que eu perdi força e vontade. Noite que solitária já se esfria Prenúncio do vazio em tempestade.
A faca que se entranha no meu peito, Por ironia, eu sei ser teu direito...
56
Cenário em alegria a nos tomar Um mundo a se mostrar maravilhoso A chuva vai caindo devagar, Trazendo um frio manso e tão gostoso
Vontade de poder já te encontrar E dar o meu carinho mais fogoso, Vibrando num desejo de tocar Beijar o corpo belo e tão cheiroso
Da moça que me encanta e me domina, Mulher com ar eterno de menina Brilhando nos teus olhos clara estrela.
Sentir o teu perfume junto a mim, Florindo em fantasias meu jardim Na festa prometida em noite bela... Marcos Loures
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Cerrando estas fileiras contra a dor Que teima em nos tocar, de vez em quando, Sabendo o sentimento e seu valor, O sol no fim da tarde nos tocando; Com raios de raríssimo esplendor O bom de nosso amor vai consagrando...
Olhamos para o sol, futuro e brilho. Saboreamos juntos, tal promessa. Seguimos cada raio com seu trilho Mostrando que o porvir já nos confessa Que não mais haverá um empecilho Que a sorte em nossa vida, enfim, impeça.
Estou contigo passo a passo, amada, Na busca da manhã em alvorada...
58
Certa manhã, o sol mostrando a cara Prepara o coração para a viagem Que sei será difícil, mesmo amara, Mas tenho uma esperança na bagagem
E sei quanto ela vale e quanto ampara E mesmo que fizer qualquer bobagem, A lua que de noite alumiara Com mansidão me traz a fresca aragem.
Carrego no bornal o teu retrato, O peito vai aberto, sem temor. Caminhos com espinhos, pedra e mato
Porém uma amizade verdadeira Esperando quem chega vai compor A tralha que carrego na algibeira.
59
Certeza de outro tempo anunciado Na fonte da alegria já se abriga E bebo cada gole, extasiado, Feliz por te saber, querida amiga,
Depois que achei perdidos rumo e fado, Agora ser feliz, talvez consiga, Matando esta tristeza do passado, Permite que meu passo, enfim prossiga,
Alvorecendo um mundo em liberdade, Às custas deste amor feito amizade Que em plenitude e paz, vencendo, avança.
Nos olhos deste sol que nos luzindo Permite um amanhecer mais claro e lindo Proporcionando a glória em temperança.
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Certeza de que sou, enfim feliz, Quarando nossas roupas no varal, O bem deste querer pra sempre diz Do vento que nos toca sem igual.
Cansado de viver só por um triz Em toda madrugada, um vendaval, Agora que encontrei o que mais quis Tempero a minha vida com teu sal.
Amar a quem nos ama de verdade, Sem medo de enfrentar a tempestade Que a vida nos prepara de tocaia,
Garante o riso franco e benfazejo Que é tudo o mais quero e mais desejo. Meu mar já se entregando em mansa praia. Marcos Loures
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Certeza de um prazer delicioso Iridescente dia se anuncia Num toque com certeza fabuloso A gente se entregando em alquimia.
Estrelas ejaculam raras luzes E nelas a tiara de um prazer. Caminho aonde em luas me conduzes Permite num momento perceber
Em forma de delírio a sobremesa Deitando nossos corpos, sede e fome, O quanto se deseja, amor nos preza Escuridão e treva, em brilhos some
Meu corcel libertário nas estrelas, Contando vaga-lumes, tu atrelas. Marcos Loures
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Certezas de que nada tanto fui Embora abarrotado de esperanças. Amor que sutilmente, vai e flui, Descansa nas alturas onde alcanças.
Meus passos são retrógrados, insossos, Recebes as lufadas do carinho. Embora não mereça os alvoroços, Decerto minha sina é ser sozinho...
Não deixo essas pegadas no deserto Por certo nada sou do que sonhei. Amor quando distante morre perto Tão perto que jamais te esquecerei...
Amada me perdoe se não vivo Se sou um simples sonho, então te privo
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Cerzindo esta mortalha com as dores Que sempre me fizeram companhia. Adentro o pesadelo em que se cria Os ventos/tempestades, sem alvores.
Cansado de buscar os teus pendores, A morte dos meus sonhos se anuncia E galgo ao infinito, a velharia Dos versos imbecis matam amores.
O fardo vai pesando em minhas costas, Ignaros antiquários, torpes cantos. Contemporâneas formas de prazer
Invertidos meus passos, perco apostas E tramo tão somente os desencantos Teimando em ilusão, sobreviver...
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Cerzindo uma esperança com as linhas Que amor tanto me deu quanto roubou. Vontades desmembradas, tolas, minhas Dizendo deste pouco que restou.
Cevara, no passado, ricas vinhas, O tempo, o doce vinho, avinagrou. Decifro cada enigma que tu tinhas, Mas nada do que fomos me encantou.
Por isso, sigo só e não pretendo Tocar cada disfarce que desvendo, Contendo os teus diversos sentimentos.
Ausência de prazer, talvez não fosse O fim desta aventura que agridoce Domina em plenitude os pensamentos...
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Cevando a mais sublime liberdade Vestimos a esperança a cada dia, Escrevo nas estrelas fantasia Alçando a mais completa claridade.
O parto que gerou felicidade Exprime todo amor que eu bem queria, Um novo amanhecer já se recria Ao estender a paz, tranqüilidade.
E vamos nesta mesma direção, Banquetes que se faz do mesmo pão, Multiplicando assim, a simples soma.
Atados, mas libertos, conseguimos, Do mundo em que felizes, prosseguimos, Reféns do amor imenso que nos toma.
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Cevando em harmonia nossos cantos A vida se promete em fantasia Rascunhos de esperança amores tantos Trazendo para a vida uma alegria
Em meio à fantasia, teus encantos Espalhas em meu peito, todo dia. Coberto pelo belo destes mantos, Declino meu amor em poesia.
O coração dispara em alvoroço, Nas garras deste amor, eu me remoço E passo num segundo a perceber
O quanto é necessária esta viagem Em meio às maravilhas na paisagem Dourada pelas mãos do bem-querer... Marcos Loures
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Cevando o coração de um andarilho O amor por vezes mostra-se exigente, Levando a solidão ao triste exílio Exibe o corpo audaz em chama ardente.
Arpoadores mãos que me tocaram, Ceifeiras emoções, finas promessas. Teus olhos, com certeza conquistaram, As setas que sorrindo, já arremessas.
Destino se moldando em luzes várias Ao subverter assim, velhos oráculos, Enobrecendo versos antes párias Coloca sobre mim, os seus tentáculos.
A par do que imaginas ser um jogo, Em teu amor, por certo eu já me afogo...
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Cevando o que sonhei: farta alegria, Debruço o meu olhar por sobre as ondas, Os medos quais temíveis anacondas Rebordam cada passo em agonia.
Além do que meu sonho prometia Em luas sempre cheias e redondas Palavras que se fazem como sondas Encontram farto gozo em maestria.
Tua nudez clamando para a festa Sedução que à noite já se empresta Em lânguidas imagens, sedução.
Eróticas promessas, cama e mesa, Desejo nos tomando como presa Encharca nossa noite em tentação... Marcos Loures
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Cevando uma amizade tão constante, Gigante sensação que se apresenta, O vento que, sulino, me apascenta, Ao mesmo tempo forte e deslumbrante.
Dos pampas, a paisagem fascinante Que excita enquanto acalma e nos alenta Palavra de consolo, rara e Benta Tão próxima que mesmo assim distante
Nos momentos difíceis desta vida, Tornando-se em verdade tão querida Expressa a plenitude em maravilha
Tu tens toda a magia em tuas mãos, Meus olhos de teus versos são irmãos Pelas coxilhas belas, segue e trilha... Marcos Loures
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Cevando, vou colhendo o meu prazer; Acendo a brasa intensa da paixão, O quanto que inda tenho de saber Às vezes me transtorna uma emoção.
Decrépito, este velho passa a crer Que a vida tem sentido e solução. A cada novo fruto passo a ver Amor chegando à minha direção.
Preparo os alçapões, enteso a linha, A fisga na mirada, já se alinha E o tempo da colheita não se esgota.
Recolho o quanto posso, vou à luta, Silêncio no meu peito não se escuta A solidão morrendo, tão remota... Marcos Loures
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Cevaste meu amor por tanto tempo, Agora que me tens fazer o que? Não quero que me vejas passatempo Apenas um brinquedo em que se vê
O gosto da vitória na batalha, A sensação suprema de ganhar, Meu canto enamorado já se espalha O que fazer senão te amar?
Cavaste na minha alma uma esperança De ser além do amor, ser imortal. Eu vejo, do brinquedo já se cansa, Não quero ser apenas um jogral.
Eu quero me perder nestes teus rios Embora eu já perceba, são tão frios...
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Chamando cafundó de cafundéu Como permite a nobre poesia, Quem sabe e reconhece logo cria, Com mãos mais soberanas, novo céu.
Jamais se negará tal raro véu Que cobre com solene maestria O verso do poeta em que a magia Descreve e desenvolve o seu papel.
Aplaudo, caro amigo, esta coragem Que tens ao se propor neologista. Faz parte dos desígnios de um artista
Distante de quem diz tanta bobagem. Prossiga desta forma que verás, O sol nascer supremo, em rara paz.. Marcos Loures
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Chamaste de romântico até lírico O verso que embuti noutro poema, Às vezes eu repito o mesmo tema, Num ato quase métrico ou empírico.
Não bebo e com certeza um bem etílico Talvez ajude a gente a caminhar, Parado e sem sair do meu lugar, Não tenho mais defesa, morro acrílico.
Aliciando os sonhos de quem posso, O risco de viver é muito grande. O quase se transforma em fundo poço, Só pedindo afinal: Tocai a glande.
Assim quem sabe a gente recomeça Aonde terminou num ato, a peça...
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Chamaste-me: teu filho, solidão... E voluntariamente me entreguei Sem ter ao menos rumo em precisão, Os olhos em teus braços, eu salguei. No barco que emprestei, meu coração, Por mares tão distantes, naveguei...
Despido do que fora uma esperança Vivendo em velas soltas, incertezas. Achando que encontrara uma bonança Nos braços de quem dera... sutilezas Da sorte que, longínqua não se alcança; Povoa minha vida de tristezas...
Eu necessito ao menos respirar, Quem sabe uma amizade em seu lugar?
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Chamei-a de gostosa, ela fingiu Que não era com ela, depois disso A rosa foi perdendo todo o viço E o que era sentimento não fluiu.
Não quero ser coleiro nem tiziu, Apenas um pardal sem compromisso, Porém se a vida mostra tanto enguiço Eu mando para a ponte que partiu.
Ouvidos delicados respeitando, A moça disfarçando deu pinote, Fazendo da cantada um mero trote
Já não suportarei saber nem quando, Apóio os cotovelos na janela, E a moça agora pensa que é com ela...
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Chegada deste amor deu cambalhotas, Entrou pela janela, fez estrago, Abrindo do meu peito as tais comportas Negando com usura algum afago.
A direção perdida enquanto trotas Galopo na esperança que inda trago, Invés de precisão, velhas lorotas Rompendo a placidez do antigo lago.
Na troça da morena, os meus destroços, Os frios tiritaram os meus ossos A vida se perdendo neste trevo,
Viver desta ilusão é ser boçal, Se o amor fez no meu peito bem ou mal, Resposta pra pergunta, eu não me atrevo... Marcos Loures
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Chegamos das senzalas e bordéis, Dos ocos da existência, medos, trevas. A vida nos mostrou nossos papéis, A glória nos negou cantis e cevas.
Mas somos, da esperança mais fiéis, Rasteiras, pequeninas, boas ervas. Bebendo sem discórdias mesmos féis Nascemos e morremos, tantas levas...
Chegamos das cidades e favelas, Chegamos das mentiras, dos engodos. Nos restam nascimento, morte e velas.
Amor nos concebeu e nos criou. Quais perlas que surgindo destes lodos, A paz do eterno amor glorificou!
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Chegamos dos lugares mais diversos, Dos bares, das igrejas, dos bordéis, Cumprimos com louvor nossos papéis Unindo corações antes dispersos.
Tentando respeitar os universos Distintos; da esperança, mais fiéis, Vencendo com ternura tantos féis Nos laços da amizade, enfim, imersos.
Sabemos que a verdade nos liberta, E a porta estando sempre em paz e aberta Permite que se veja o quão é belo
O sol que nos doando a claridade Reparte seu calor com igualdade Usando a liberdade à qual me atrelo...
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Chegando à apoteose da paixão, Não deixo mais pedaços na avenida. Amor iluminando o barracão Grandiosidade toma a nossa vida.
Atados pelo mais forte cordão Levamos qualquer mágoa de vencida. Pisando com suor o mesmo chão, Vitória anunciada e já cumprida.
Sem ter alegorias, sempre junto, O amor abrindo as alas da esperança. A força que se mostra no conjunto
Garante nota dez, eu te garanto. Contrapartida feita em contradança Demonstra em sintonia, o nosso encanto... Marcos Loures
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Chegando à velha casa onde nasci Depois de tantos anos, encontrando A imagem deste amor sereno e brando Que vejo tão somente por aqui.
Se muitas vezes, tolo eu me perdi, Errante coração vai sem comando, Em ruínas, a esperança desabando, Dizendo das mentiras que vivi.
Sentir o seu perfume, mãe querida, Ouvir a sua voz num manso tom. É como perceber que o bom da vida
Ainda permanece dentro em mim. Quem fez da fantasia quase um dom Renova as velhas flores do jardim...
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Chegando de manhã, trazendo o sol, Depois de uma balada/madrugada Entrando por debaixo do lençol, Sorriso de quem traz carta marcada
E brinca com desejos do arrebol, Esconde quanto vale o quase nada. E eu, qual imbecil seu girassol, Refém de outra mentira mal bolada.
Cigarros espalhados nos cinzeiros, No quarto, suas fotos e retalhos. Na beira de um ataque, nada digo.
Apenas sei dos bares e puteiros, Dos corpos das vadias em frangalhos E assim no quase sendo, inda prossigo...
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Chegando de mansinho no meu quarto Vem sorrateiramente esta vontade De ter o teu amor, até que, farto; A vida se refaça em liberdade.
Velejo sobre ti amor imenso E trago o meu desejo sem limites. Se sempre em teu carinho eu sempre penso E peço meu amor que me acredites
Pois és minha esperança mais serena De ter a sensação de ser feliz. Se a vida, tantas vezes envenena Tu és melhor antídoto que eu quis.
Amar e ter certeza deste sonho É mar onde meu barco eu sempre ponho... Marcos Loures
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Chegando depois disso aos braços teus Após os erros todos cometidos, Enganos que já foram esquecidos Percebo o quanto é triste um vago adeus.
Alegrias se dão em himeneus Deixando os meus terrores destruídos, Os dias mais felizes pressentidos Invadem os sentidos, nossos, meus...
A par do que sentimos nada temo, Nem toda a aleivosia, nem o Demo, O mal adormecido não me alcança.
Ao ter tanta certeza aqui comigo, No passo mais audaz sempre prossigo Contendo em minhas mãos esta esperança. Marcos Loures
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Chegando mansamente como a brisa Que roça nossa pele, devagar. Perfume que me toma cedo avisa De uma paixão, delícia a transbordar.
Agrisalhado sonho aromatiza O templo em que se fez divino amar A mão que acaricia mais precisa Permite um paraíso vislumbrar
Por entre estas montanhas, belos vales, Caminhos no teu corpo percebidos, No quanto em tanto amor tu já me fales
Ecoam nesta noite, mil gemidos, Meu corpo se matiza nos teus beijos, Afloram neste instante, mil desejos...
85
Chegando mansamente, amor nos lança Aos mais sublimes gozos. Fanatismo... Entranha meus desejos, fudelança Sublime num mergulho em louco abismo.
Por entre as tuas coxas, minha lança Provoca insanamente um louco sismo, Enquanto os teus quadris, perfeita dança, Na insânia dos prazeres, eu me crismo.
Encharcas meu caralho com teu gozo, Um jogo aonde sempre vitorioso, O amor jamais se cansa, pede bis.
Fuder tua buceta, teu cuzinho, Umedecida senda, descaminho, Promessa da manhã clara e feliz...
86
Chegando neste mundo em plena festa Uma alegria imensa para os pais. Agora mais um ano que se empresta À sorte de te ter, é bom demais,
Querida amiga, assim o que nos resta É ter uma certeza que este cais Uma esperança nova sempre gesta Trazendo uma emoção que é feita em paz.
Outro ano a mais depois daquela data Dever ser sempre tão comemorado Pois a alegria viva quando inata
A todos ilumina com certeza, Querida, como é bom te ter ao lado, Sentado frente ao bolo, nesta mesa.
87
Chegar ao infinito num instante Depois de percorrer distantes léguas Amor se faz sublime e dominante Não deixa e nem permite simples tréguas
Adentro os templos todos deste amor Refaço em cada prece uma oração Que feita com ternura e com fervor Permite que eu encontre a solução.
De tanto que eu errei a vida afora Por tanto que eu sofri, ora eu persigo A fonte que alimenta e revigora Abrindo nos caminhos o postigo
Eu quero o teu querer e nada mais, Aporto o meu desejo no teu cais... Marcos Loures
88
Chegaste à minha vida devagar, Sem ser anunciado, passo a passo, Agigantando aos poucos cada traço, Tomando todo o espaço, sem falar.
Andava sem respostas, sem destino, A vida não trazia soluções. Olhando para várias direções, Tão frágil coração, tolo menino...
As mãos que ora me amparam são as Tuas, Senhor dos meus caminhos, meu Pastor. Nos olhos a pureza deste amor,
Deixando as almas mansas, quase nuas. Permita-me, afinal, nesta oração, Pedir pelos meus erros, Teu perdão...
89
Chegaste bem mais perto e neste zoom Tomei-te entre meus braços de surpresa. Mostravas com certeza medo algum De ser tão devorada, bela presa.
As pernas eu prendi, enrodilhei Entre as minhas, sem chance de dar fuga E dentro de teus braços mergulhei, Fingiste resistência. A boca suga
A língua desejada e mais gostosa, As coxas se misturam, mãos e seios. A noite se passando maviosa Os olhos se tocando nos anseios
Do amor que se fez firme e tão presente Nos gozos e nos risos, amar urgente..
90
Chegaste com os olhos tão trementes Mal percebia seres a rainha Que à noite, no meu quarto sempre vinha Tornar os meus momentos mais contentes.
Vontade de tocar-te se avizinha E mostra num segundo o quão ardentes Desejos deslumbrantes, fortes quentes De unir a tua pele junto à minha.
O fogo do desejo me incendeia Profusa sensação de gozo e morte, Vislumbro na mulher uma sereia
Na boca que me morde um bom veneno, No lábio que devora em fundo corte Prazer feito em volúpia faz aceno...
91
Chegaste como um dia de verão Num vento mais suave e bem ameno, Deixando um velho peito mais sereno, Regando com ternura um duro chão...
Meu canto se perdendo na amplidão Envolve em alegria cada aceno, Destrói da solidão cruel veneno E mostra enfim caminho e redenção.
Quem veio de um inverno que em frieza Tornou meu passo lento e sem destino, Chegando bem mais forte a correnteza
No sol de uma paixão, calor a pino, Impede a mutação da natureza Mostrando uma verdade à qual me inclino...
92
Chegaste devagar, bem de mansinho Já chegou ocupando o pensamento Tomando para si o sentimento, Com palavras gentis, tanto carinho...
Na boca que beijamos verde vinho Sorvendo em cada gota avivamento Que refazendo a vida num momento Abriu uma esperança: novo ninho...
O som do teu silêncio se espalhando Por toda a minha casa-coração. Quando vi... Reparei; estava amando
A mando do que fala-se tão quieto; Na voz tão delicada da emoção Tomando minha vida, por completo..
93
Chegaste mansamente como a brisa, Tomando num segundo, toda a senda. Amor em que não cabe mais contenda, Invade este cenário e não avisa.
Agora que minha alma se matiza Nas cores que emoção, cedo desvenda, Tornando a solidão, apenas lenda, Por sobre nuvens claras, vai precisa
E segue cada rastro que tu deixas. Sentindo o teu perfume delicado, Na maciez que encontro nas madeixas
Dos teus cabelos longos e macios. Viver cada momento do teu lado, Em meio a mil gemidos e arrepios... Marcos Loures
94
Chegaste mansamente e pouco a pouco Tocaste bem mais fundo o coração Deixando em profusão, confuso e louco Entregue sem limites à paixão.
Amor que sem medidas foi tomando A casa, a sala, o quarto em fogaréu, Do gozo de um prazer veio inundando Translada para a Terra imenso Céu.
Na barca de meus sonhos, timoneira Vergastas e delícias me trazendo. A noite se mostrando lisonjeira Da sede do desejo eu vou bebendo
E sei o quanto quero a fantasia Que molda em nossa vida, esta alegria..
95
Chegaste mansamente em hora boa E sorrateiramente, devagar Pingando no peito uma garoa Em pouco começou a trovejar
Meu coração que andava meio à toa, Assim já começou a disparar. Agora, bem mais forte ele ressoa Parece que do peito vai saltar...
Moleque coração mais sem juízo Achando esta morena se perdeu. Não pôde resistir ao teu sorriso
Que faço meu amor, se já sou teu. Te espero aqui sozinho no meu quarto, Senão meu coração vai dar enfarto... Marcos Loures
96
Chegaste mansamente em minha vida, De forma tão sutil que nem senti. Aos poucos, minha história em ti querida, Meu rumo simplesmente, já perdi.
Eu sinto tanta falta de te ter, Queria a cada aurora ser mais teu. Que faço nesse mundo; quero ser Aquele que em teus braços se perdeu...
Que pena não te ter sabido outrora, Embora sempre estive assim tão perto. Mas tendo teu carinho, desde agora, Meu mundo não é mais triste deserto.
Eu quero teu amor assim vital, Por certo, estava escrito em nosso astral...
97
Chegaste no meu quarto de surpresa Vestindo transparente lingerie Senti-me no momento, tua presa Em meio desta fome eu me perdi.
Comeste cada parte em sobremesa Depois lambendo os beiços, percebi Que a noite prometia uma princesa Safada e generosa viva em ti.
No quase que não fomos, sofrimento, Depois em doces gomos, um banquete; Amor que não perdeu nenhum momento,
Se mostra com a cara e a coragem. Na gula em que se mostra, amor repete A festa extasiante, sem miragem.
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Chegaste no momento derradeiro, A minha alma em fatal putrefação Servindo de repasto e refeição Ao gozo deste insano rapineiro
Que crava as fortes garras no meu peito, Os dedos amputados, minhas pernas, Carícias das bicheiras, mornas , ternas A carne apodrecida, mesa e leito.
Minha antiga dispnéia se agravando, Buscando na janela, um vento brando, O calor me sufoca, procuro ar.
A morte me tocando em mil tentáculos. Aos teus olhos terríveis espetáculos, A vida sinto aos poucos me deixar... Marcos Loures
99
Chegaste num sorriso, primavera Trazendo o teu canteiro perfumado. Depois de tanto sonho, farta espera, Amor no coração vem batucado,
Fazendo toda a festa que quisera, Deixando o que não presta ali, do lado. Amar a vida inteira, assim à vera É quase ser um ser abençoado...
Entornas teu jardim em flores tantas, Mostrando que os espinhos são enganos. E qual a cotovia tu me encantas
Em versos e delícia sensual. Sentidos se mostrando soberanos, No aroma do jardim celestial..
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Chegou lá de Goiás um novo vento Trazendo uma alegria sem igual, Amiga, como é belo o sentimento Que entranha a poesia, sensual...
Tua pureza imensa sempre agrada A quem possa te ler, e faz feliz. Tu tens delicadeza de uma fada Escreves com ternura e bom matiz.
Pois; Loures os lauréis conquistarás Com versos delicados e mimosos, Por certo no infinito brilharás, Teus dias, com certeza, gloriosos...
Eu tenho tanto orgulho em ser teu primo, Aracelly com carinho sempre rimo!
Para a poetisa goiana Aracelly Loures que, para meu orgulho, é minha prima e minha amiga
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