
MEUS SONETOS VOLUME 040
Data 01/12/2010 07:14:55 | Tópico: Sonetos
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Camões teria infarto, com certeza Ao ver a flor do Lácio maltratada, Num esplendor com esse, sem surpresa, Palavra deve ser mais bem cuidada.
Ortografia é coisa que se preza, A língua não merece esta mancada, Poeta fala tudo e não diz nada, Quebrando todo prato sobre a mesa.
No fundo é coisa bela de se ver, Quem tenta sem sucessos aprender, Falar da vida alheia, como tu.
Permita a correção deste teu verso Que segue sem destino; vai disperso, A colher? Eu coloco neste angu.
3
Campeio por terrenos, desalinho... As luas me cintilam suas fases... O resto do que fui, perco o carinho. Amor que já não fiz, decerto fazes...
Botão florido, rosas, passarinho. Minhas cartadas tristes sonham ases... No fundo me deixaste mais sozinho. Desculpe se não sei voltar às pazes...
Estrelas me dirão que nada somos... Por certo tais arcanjos comunicam. Das frutas que cultivo, peço pomos,
Pensando nas estradas, traço trilhas... Asteróides vagando não me explicam, No fundo sem saber por que tu brilhas!
4
Campos mineiros, belos arvoredos, Luas mineiras, cheiro de café... Nos sóis mineiros, tantos os enredos. Nos domingos mineiros, tanta fé...
Silvestres morros, límpida esperança. Da dança que se entranha neste povo. Da liberdade, um sonho que se avança, De ver, desta janela, amor mais novo...
Nos braços encantados da morena, Que o sol enamorado já bronzeia. A noite enluarada sempre acena Com doce tentação de lua cheia.
Tão bela que parece ser um queijo Desnuda se entregando ao solar beijo...
5
Canção do amor imenso. Sons diversos Melódica emoção que já se aflora As ternas harmonias, tons e versos, Eterna sensação de quem se adora.
Canção do amor em paz, rumos imersos Nos olhos da ilusão que desde agora Unindo corações antes dispersos, Um sonho noutro sonho, amor ancora.
Dançar as valsas, tangos e boleros, Com toda a maravilha, com esmeros, Promessa de uma festa inesquecível.
O amor que em tanto amor confraterniza, Na dança costumeira, a mais precisa, Encontra em par perfeito, a voz incrível...
6
Canções que nos convidam para a dança Melodioso sonho que nos toma, Num gesto traduzindo uma esperança Vontade de viver, o amor retoma...
Dos corpos que se unindo em aliança A multiplicação bem mais que soma, No peito enamorado uma festança, Tão belo sentimento, ninguém doma
Sentindo o teu perfume, o teu respiro, Ao fogo da paixão quando me atiro Eu sei que poderei ter afinal
Felicidade extrema em minha vida. A noite vai passando e decidida Minha alma faz do gozo, um ritual..
7
Candelária me traz ainda odor Dos corpos podres dos meninos mortos. Esse cheiro que exalam, pelos portos, Nas nossas praças, cemitérios. Flor
Brotada num esgoto, sem calor... Nossos caminhos seguem sendo tortos; Nossas manhãs nas xepas nossos votos De Bom Natal, na podridão d’amor...
Os olhos cegos, solidão da morte, Mesmo assim, tantas vezes fundo corte. Navalhas penetrando com seu aço.
E passam os meninos, nem os sente... A bicheira das almas nem pressente Quanto te custará, simples abraço...
8
Candura que me trouxe amada que sonhei, É casta em sua alvura, abraços da ventura... Castelo da princesa espera por um rei, A vida sem temor, retrata esta aventura.
Por quanto tempo quis, é tanto que nem sei, A noite terminada, um gesto de brandura, Na pompa desta festa amar se torna lei! A sina de quem ama envolta em amargura...
O meu sonho de amor, castelos que deliro, Princesa virginal, mentiras que não vejo. Na faca que me corta, o gesto que prefiro.
Esqueça tal quimera, esqueça essa ilusão! Esqueça a madrugada, esqueça o meu desejo! Esqueça esta princesa, esmague o coração!
9
Cansaço de tantos medos Segredos destes cansaços, Quero saber teus segredos, Me prendendo nos teus braços... Cansado dos temores mais insanos Que o nosso caso traz por uns momentos. Nas mudanças de ventos e de planos Esqueço de meus próprios sentimentos. Assim vivemos juntos, muitos anos; Lutando contra as dores e os tormentos Nós vamos cometendo mil enganos E logo talvez venham sofrimentos. Mas quero conhecer os teus segredos, Atando-me em teus braços, pois quem sabe, Terminem os meus velhos, tristes medos E a gente possa ser o que sonhamos, Porém venha bem antes que se acabe Amor por quem sonhamos e lutamos.
10
Cansada de viver assim sozinha Uma ave procurando o seu descanso Encontra a poesia esta avezinha No bico sem pudores deste ganso.
Enquanto a fantasia inda continha Julgando sem perigo este remanso, A moça com ciúmes da galinha Pensou: “se não lutar, agora eu danço”.
O pobre não sabia dos problemas E em pleno galinheiro desfilava Galo desconfiado mal cantava
Roubando da avezinha, ovos e gemas... Não sei como rolou este babado, Só sei do seu final: ganso afogado!
11
Cansado de buscar o amor intenso Que um dia desejei, faz tanto tempo. Difícil de encontrar. É um consenso, A cada novo passo, um contratempo.
Sem ter tua presença junto a mim, É dura e pedregosa a caminhada, A voz do coração, sendo chinfrim, Torna a minha alma assim, desafinada.
Viver sem ter motivos pra sonhar, Melhor é desistir, mas sou teimoso, Deitando sob os raios de um luar, Amanhecer que sonho, fabuloso.
E quando eu te encontrei, eu percebi, Que tudo o que eu queria, estava ali...
12
Cansado de cantar minhas tristes mazelas, Preparo uma canção que seja cristalina, Dedicada à mulher. Num olhar me fascina, Desejoso e voraz, com o brilho das velas
Acesas qual a brasa. A vida, em torno delas, Apresenta-se sempre imersa em paz divina E tão profundamente amável que domina. Um olhar feminino emoldurando telas...
A mulher em desejo, um cio bravo, indócil, Transforma a solidão num simples, mero, fóssil. É flor que, delicada, amargura destila,
É languidez audaz, caçadora voraz. Sua voracidade um agridoce traz. Sou vítima fatal de t’as garras, Odila!
13
Cansado de enfrentar as corredeiras Na busca interminável pela foz, Sabendo deste amor, temido algoz, As dores enfrentando, costumeiras.
Rasgando as ilusões, velhas bandeiras, A noite que me açoita, vil e atroz, O quanto que esperava mais de nós Traduzem fantasias derradeiras.
O amor quando nos torna seus capachos, Apaga da esperança, lumes, fachos, Não deixa sobrar pedra sobre pedra.
Aquele que lutando pela vida, Não vendo mais esquina e nem saída, Abandonando a batalha cedo medra...
14
Cansado de esperar a tua volta, Pensando na distância que deixaste; Não vou querer perdão, nem mais revolta... Num átimo, meu mundo, terminaste...
Vencido pela dor, não quero escolta, Tampouco quero o canto que entoaste; Me transformei, tira essas garras, solta Meus braços, deixe-me viver! Sangraste
Todos os poros, me perdeste, enfim... Não quero o gosto de saber se sim, Ou se não; nada mais importa, agora...
Foste cruel, nada mais temo, vivo... Se me negaste, sou nefasto, altivo. Suma de vista já. Vá logo embora...
15
Cansado de esperar felicidade, Por vezes me imagino tão sofrido... Andando sem ter rumo, na cidade, Caminho muitas vezes percorrido...
Meus olhos imaginam a mulher Que foi e prometeu não mais voltar. Espero pela dor que, se vier, Talvez mate a vontade de cantar.
Mas logo, a tua voz meu grande amigo; A voz de quem viveu bem mais a vida; Quem sabe dos caminhos o perigo.
Me diz que é necessária a paciência Meu velho me demonstra experiência!
16
Cansado de nadar em mar sombrio, Distante desta praia que imagino, As rédeas; não tomei do meu destino, E o tempo anunciado se faz frio.
No dom deste analgésico, vicio, E sonho um paraíso cristalino, Nas gotas de morfina me amofino Enquanto em desespero, fantasio...
Implacável terror se aproximando, As rédeas eu perdi, não mais as tenho, Por mais que inda lutasse; é vão o empenho
As tolas emoções fogem em bando, Deixando este cadáver insepulto, E os sons da morte em vida, enfim, ausculto...
17
Cansado de saber de desenganos; Momentos infelizes, corriqueiros, Cultivo uma esperança nos viveiros Sinônimo complexo; dita os planos
Deixando para trás versos insanos, Os sonhos são mordazes companheiros, Envolto por olhares feiticeiros Promessas sensuais, ritos profanos.
Coração à deriva busca um porto, Felicidade além de um vão aborto Esconde-se detrás da bela prenda
Não quero em tua vida ser adendo E quando os teus segredos eu desvendo; O Paraíso deixa de ser lenda...
18
Cansado de saber maracutaia Da tralha que governa este país Por mais que se balance e nunca caia A gente não suporta o que não quis.
Brasília a moça nova e meretriz Fingindo que não vê levanta a saia, Recebe a dita dura e pede bis Ô peste pra gostar de uma gandaia!
Abusa da divina paciência Contrária aos bons costumes e decência Adora bacanal, safada orgia.
A dama tão espúria, esta sacana Ainda vem com pose de bacana, Total desfaçatez. Que putaria!
19
Cansado de ser verme, um ser humano, Exposto a hipocrisia e pedantismo. Refém da podridão de um egoísmo Achando ser o ser mais soberano.
Espalho o desencanto e o desengano Cortando minhas veias sem lirismo. Matando quem passeia neste abismo Na fúria que me embala sou insano.
Andando calmamente pelas ruas, Vomito em fedorentos esmoleres. Ao mesmo tempo quero todas nuas,
E ataco sem motivos mil mulheres Meu corpo está pendido em fino arame, Assassino depois quem já reclame.
20
Cansado de somente ser cobrado Vencido pelas tramas da paixão, Querendo ter você sempre ao meu lado, Buscando a tão sonhada redenção.
Às vezes tão falante, outras calado, Alada fantasia chega ao chão, Vivendo esta incerteza, solto o brado Escuto por resposta, a negação.
O beijo prometido numa noite Cortando a minha pele feito açoite, Deixando no lugar somente o frio.
E quanto mais procuro, mais me perco, A saudade apertando assim o cerco, Herança que recebo? Este vazio...
21
Cansado de tentar a solução De todo esse problema que causaste. Amor que foi, da vida, base e haste Aos poucos me derruba até ao chão.
Nas cordas do sonoro violão Meus dedos se perdendo, de desgaste, Os pés, meu bem, eu sei que não lavaste Depois de ter passado esse verão.
Amor por tantos poros, já destilas, Mas muito mais nas fétidas axilas. Amar é muito mais que simples hábito.
É ter que te enfrentar por todo o dia, E, bem pior, gostar da melodia. Agora, o mais difícil? Mau hálito!
22
Cansado de tentar achar alguém Que possa me trazer amor em paz, Meu sonho já não vale nem vintém Apenas solidão, dura e voraz
A cada novo dia, sempre vem Nem mesmo uma esperança satisfaz. Depois de tantos anos sem ninguém Uma ilusão se torna tão fugaz...
Não tendo quem deseje um coração, Usado e com remendos, sem juízo, Meu barco outro caminho, agora traça.
Não quero mais sofrer, assim em vão Embora dolorido, num sorriso, O meu amor ninguém quer. Nem de graça!
23
Cansado de tentar dizer ao vento Do quanto é necessário se saber Compor com alegria e com prazer Fazendo da esperança o meu fomento.
Expondo a cada verso o sentimento, Da fonte mais sublime me embeber, Depois de tantos anos, pude ver Que inútil foi cantar cada momento.
Quem dera se eu pudesse me expressar Sem ter estas correntes, as algemas, Errante passageiro a caminhar
Rasgando os meus poemas sem proveito. Difícil discernir merda de gemas, Assim, no suicídio; satisfeito...
24
Cansado de tentar saber sinais De Amor, que se mostrando um empecilho Adentra no meu quarto, nos beirais, Ilude o coração, esgarça o trilho.
À par das artimanhas do moleque, Preparo o contra-ataque em outras sendas. Abrindo o sentimento em amplo leque, Retiro de meus olhos, negras vendas.
E faço deste fardo a solução Para inclemência tola das tempestas, Aniquilando enfim, uma ilusão, Aguardo por vingança novas festas
Nas frestas da janela a claridade, Permite adivinhar, nova amizade...
25
Cansado de tirar tanta meleca Nariz quando gripado; um desespero, Debaixo da sacada ainda espero Aquela que é bonita, mas moleca.
Quem faz amor jamais, querida, peca, Da vida, talvez seja o grã tempero Quem sabe usufruir com tanto esmero Não deixa mais cair esta peteca.
Eunucos são terríveis, fuga deles, As pobres criaturas são tão reles, Queriam, na verdade ao menos naco.
Por isso meu amigo. Caridade, Em nome do que resta da amizade, Eu peço, por favor: NÃO ENCHA O SACO!
26
Cansado de viver inutilmente, Refém dos meus anseios sem proveito, O quanto que vier, eu quero e aceito, Um pouco me fará bem mais contente.
Às vezes te pareço displicente, Mas sei reconhecer cada defeito, Se tudo nesta vida tem um jeito, Por mais que o sol pareça-te inclemente...
Não tenho as ilusões; as arrebento, Apenas não queria o sofrimento, Mas cada vez que a dor chega mais forte
Eu chego a Te pedir, ó Pai supremo, O alento derradeiro e num extremo Eu faço uma oração pedindo a morte!
27
Cansado de viver tão maltratado Erguendo o meu olhar e nada vendo, Agora ao encontrar-te aqui do lado, Segredos do prazer; logo desvendo.
Fogueira da paixão, amor acendo E tendo o corpo meigo e delicado Da moça mais bonita; recebendo Do deus do amor, Cupido, o seu recado.
Tomando este energético potente, Garanto que ninguém vai reclamar, Vontade de te ter é mais urgente
Que a própria decisão de crer no amor. Um só não vale nada, eu quero o par, Aí meu mundo, enfim, encantador!
28
Cansado dessas brigas, meu amor, Parti para outros braços mais serenos Mas os mesmos espinhos noutra flor, Iguais ressentimentos e venenos...
A culpa, com certeza é toda minha, Vivendo sem trazer felicidade, A noite que em minha alma se adivinha Trará para o meu peito só saudade...
Decerto não consigo ser feliz, Sabendo que não posso te esquecer. Por isso, meu amor, eu sempre quis, O doce dos teus lábios p’ra viver...
Não deixe-se levar pelas intrigas. Paremos, por favor, com tantas brigas
29
Cansado dessa lida sem sentido, Percebo que não há mais solução Um copo que quebrei, tão distraído, Nos cacos, seus pedaços, pelo chão,
Me mostra quanto tempo foi perdido, Me rasga, mais veloz, o coração! Rompendo esse silêncio, meu ouvido Percebe, fundo breu, essa canção.
Pintanda de sonora poesia, A noite que pensei desperdiçada... Aurora nunca vem adia o dia.
A mansidão dessa alma abandonada... Não ouço repetir a melodia... Dos restos da canção não sobrou nada!!!
30
Cansado dessas noites bar em bar, Minha alma espedaçada e sem paragem. Vagando sem lugar, quero parar Vivendo em sentimento, nova aragem..
Cansado deste sonho em dissabor Na busca amargurada por um colo. Pressinto nesta vida tanto horror A terra vai se abrindo e perco o solo...
Cansado de viver sem liberdade Sem ter um só descanso.Espinho e cardo Não deixam nem sequer tranqüilidade Meu sonho: ser feliz, já sepultado...
Arranja um lugarzinho para mim, Não deixe seu amor tão triste assim...
31
Cansado desta imensa caminhada, Nos ermos da floresta me perdi... Espera-me o vazio, o resto, o nada... Tantas vezes te aguardo e nada vi.
Minha tola emoção vai exilada, Nos mares que velejo, me esqueci... Sonhei com caravela prateada, Mas somente naufrágios, eu vivi!
Cansado desta noite em solidão. Procuro companhia nas estrelas. A lua, enciumada, diz-me não.
E dela não recebo nem centelha, Fazer o que? Nudez; tu me revelas, A lua ruboriza, se avermelha...
32
Cansado desta viagem Procuro pelo recanto Espero tal estalagem Nunca encontro... Desencanto!
Mas penso logo: é bobagem! Logo terei esse canto... Mas nem sombra nem aragem!!!! Só a lua como manto!
Passam noites, morrem dias Correndo, nunca mais param Minhas noites são tão frias
Para a morte me preparam... Onde poderei descansar? Me apontas, fria, o luar!
33
Cansado dos amores mentirosos Verdugos da esperança; num fiasco, Veneno que procuro em cada frasco Prometem muito além de simples gozos.
Os olhos destemidos, belicosos, Aos poucos iluminam com tal asco Que faz do nosso amor vilão, carrasco Momentos com certeza, tenebrosos.
Aquém do pensamos ser amor, Gaiato sentimento nos açoda. Amar não se traduz por simples foda
É mais do que um sorriso sedutor. Não quero mais espelhos dentro da alma, Mortalha do que fomos não me acalma...
34
Cansei da contramão, quero ir em frente, Não vou mais babar ovo da donzela Que mostra com sorriso garra e dente E finge que não falo assim, para ela.
Balango muito beiço, de repente, Mas nada de fazer uma esparrela, Esperneando muito, não se sente, Porém eu vou vazar, senão pau mela
E fico sem ninguém, sozinho, à míngua, Secando minha boca, queimo a língua E nada de fazer o que Deus manda,
A maionese estraga se desanda A calça vai furada nos fundilhos E a moça fecha as pernas, trava os trilhos.,..
35
Cansei de ouvir o mesmo lero-lero, Joguei a velha rosa na fogueira. Rasgando do lirismo esta bandeira, Desejo tão somente amor sincero.
Dizendo na verdade o que mais quero, Acabo com a velha bandalheira, Botando assim mais lenha na fogueira Com sal e com pimenta, amor tempero.
Princesa que morreu engoliu sapo, A vida vive dando mais sopapo Na cara de quem pensa que ela é frágil.
Agora desfilando de dondoca Da mansa foz fazendo pororoca, Romântico passeio? Deu naufrágio...
36
Cansei de ser o otário comportado Tomando porretada o tempo inteiro, No verso que ora esculpo o mensageiro Do meu talento há tanto demonstrado.
Eu agradeço a Deus por ter me dado O poder de escrever não corriqueiro, Fazendo o meu repente, vou ligeiro E tudo o que recebo é de bom grado.
Regalos e elogios? Agradeço, E até um certo ponto, isto eu mereço, São vinte mil sonetos, sim senhor.
Porém não pertencendo a qualquer máfia, Eu serei acusado pela empáfia, Mas isso não me traz nenhum pudor...
37
Cansei de tanta briga em nossas vidas, Qualquer motivo, agora, discutimos, As pedras que se mudam, vão perdidas, Sem rumo pois jamais criaram limos... Pressinto esse perigo que vivemos Embora, meu amor ainda é grande Depois de tantas coisas que tivemos, Não quero que este caso, assim, desande. Saudades do começo tão feliz, Trazia-te até água na peneira. Feridas em terrível cicatriz; A casa está ruindo por inteira… Parece que esquecemos nossas juras, Eu não te aturo e quase não me aturas...
38
Cansei de urucubaca em minha vida! A gente mal disfarça esta vontade De ter no amor intensa liberdade Por mais que a luz esteja em vão, perdida.
Na sórdida mentira, distraída A noite nega a plena claridade, Procuro o meu caminho, mas quem há de Dizer falsa emoção, que não me agrida.
Pacato sei que sou, mas não admito, Que alguém sonegue a trama, nosso rito, Recôndita alegria ainda pulsa.
Mas saiba que talvez depois de tudo, No enredo desta história eu não me iludo E venha tão somente uma repulsa... 39
Cantada nos delírios,poesias A face desgraçada da ilusão, Marcada pelos sonhos, ardentias, Afere o meu futuro, escuridão...
A voz que insana e mouca não ouvias, Falava do vazio sem razão, Envolta por fatais mesquinharias Morria a cada dia. Podridão...
Esguio-me entre pedras, trevas, noites. Os sonhos se transformam, nos açoites Do olhar envilecido da pantera
Que há tempos atocaia a minha senda, A máscara caída já desvenda Mostrando a face nua desta fera...
40
Cantando de manhã quer acordar A todos os que pode, barulhento. Não deixa descansar um só momento Quem passou noite toda a trabalhar.
Parece que fofoca quer contar A todo o galinheiro, o xexelento, Eu já disse pra mulher que não agüento Este bicho que quer cocoricar.
No cacarejo chato me transtorno, E descansar, eu juro, não consigo. O caldo; deste jeito; amigo entorno
E taco em cima dele uma tigela. Esperto sempre foge do perigo, Mas qualquer dia vai para a panela...
41
Cantando deste amor, tantos cuidados Tomando uma esperança como guia Meus olhos vão felizes aninhados No peito de quem amo e preferia.
Não quero mais meus dias magoados, Nem quero mais sangrar a poesia. Apenas converter em mansos Fados Os sonhos temerários dos meus dias
Bem sei o quanto dói ledo destino, Talvez amarelando verde rama, Neste amadurecer salve o menino
Da dor que em juventude se derrama. Meu coração, antigo peregrino, Atende ao teu chamado e já se inflama...
42
Cantando e caminhando, aberto o peito Sem medo dos espinhos do caminho. Vibrando nessa luta, nosso pleito, O nosso verso é pleno de carinho.
Mas não se mostra nunca satisfeito Com toda esta injustiça em desalinho, A todos demonstrar nosso direito De termos bem mais forte o nosso ninho.
Se não tocar o dedo na ferida, Jamais se curará terrível chaga, A dor que nos maltrata, cala a vida
Não deve ser deixada, assim num canto. A mão que já nos toca, e sempre afaga Conclama, minha amiga para o canto...
43
Cantando em serenatas, na calçada Escrevo com carinhos o teu nome, A noite de mansinho, calma, some, E traz em recompensa uma alvorada.
O sol trama a manhã iluminada E antes que a lida venha e já retome O rumo. O coração matando a fome Encontra a refeição tão esperada
Nos beijos e desejos interpostos, Brilhando em emoção eu vejo os rostos De dois amantes loucos, insensatos.
E como cada pote da alegria, Fartura que se dá pra quem queria Não deixo nem resíduos em meus pratos.
44
Cantando em versos, sonhos nosso amor Que é feito de um carinho inesgotável. No canto que se faz libertador Além do que se mostra imaginável.
Querida como é doce te propor Fazermos deste mundo um sonho estável Distância? Uma palavra vai transpor Mostrando ser possível, até palpável.
Nas danças e cirandas; toques, beijos. Nas noites um arcanjo libertino Expõe com mais vigor nossos desejos.
Que são insaciáveis, sem limites, Quem sabe sejam ditos do destino? Realidade? Basta que acredites...
45
Cantando já me diz que a vida é boa, Momento que ressoa desse jeito Afeito à precisão desta canoa Alcanço o teu realce, satisfeito.
Relances, vão girando em minha frente E de repente vejo a mesma imagem Que um dia me fazendo mais contente Preciosamente vira tatuagem.
Ourives lapidando a jóia rara, Eu quero este momento eternizado, Além do sonhara, imaginara Em brilhos nosso amor é temperado.
Dos pampas às montanhas quero mais, Na foz de nossos sonhos, porto e cais...
46
Cantando nos meus versos a Fortuna De ser bem mais feliz que merecera, A sorte desejosa e tão soturna Por tantas vezes quase se perdera. A lua conselheira e mãe noturna Em seu abrilhamento convencera Qual mar que vai vencendo uma alta duna Salgando todo o canto me tempera E faz de cada verso encantamento Forjado nas fornalhas de um amor, Que traz contentamento ao pensamento Buscando em mansidão; quase encantado, O sonho delicado de compor A sorte deste amor, mudando o Fado..
47
Cantando nosso amor em poesia, Sem medo da distância nem do tempo. Fazendo deste sonho, alegoria, A vida não se faz em contratempo.
Eu quero ter teus sonhos verdadeiros, O gosto delicado de teu toque, Nos passos que vibramos, companheiros, Amor que já se entrega sem estoque.
Fulgura nosso céu em lua cheia, Nos rastros luminosos, te procuro, A noite do teu lado se incendeia, O coração clareia, mato escuro...
No mundo um bem maior já não existe, O coração mineiro: jamais triste...
48
Cantando o meu coração Transbordando em euforia Na noite plena emoção Tanto bem que eu te queria
Vibrando no violão Todo acorde que fazia Carregado de paixão, Nos trazendo esta alegria...
Se tanto eu quero o teu beijo Não me canso de sonhar Tanto amor tanto desejo,
Vontade de namorar. Somos macarrão e queijo, Agora é só misturar...
49
Cantando o nosso amor, nada me impede De ter uma alegria feita em festa. Carinho desejoso que me cede Aquela a quem a sorte já se empresta.
Amor que na verdade, não se mede, Entrando na janela arromba a fresta. E molha em fantasia o coração, Com todo o bom vigor de uma paixão.
Amor é um moleque sem juízo Que tantas vezes grita, impertinente. Roçando em tua boca, o meu sorriso,
Prevê que a vida traga, novamente, O mundo sem maldades, que enfim biso Depois de tanto tempo, finalmente.
50
Cantando o pleno amor, tão docemente Em termos que me fazem namorado Da lua que se explana totalmente Em brilho, com teu colo prateado. Percebo uma ousadia mais presente Num ato que se mostra delicado.
Na sutileza calma deste gesto Invade meu jardim, clareia as rosas, Senhora do meu sonho em que eu empresto As mãos em seus carinhos, desejosas. Quem veio de outro tempo tão funesto Se esbalda com delícias perfumosas...
Procuro amada lua em qualquer parte,
51
Cantando sozinho Sem eira nem beira Vejo a companheira Fugindo do ninho,
Amor foi vizinho Da dor verdadeira Solidão ligeira, Chegou sem carinho,
Matando meu sono, Deixou um vazio, Total abandono,
Coração tão frio, Vagando sem dono, Inverna um estio..
52
Cantando um bem-te-vi no meu telhado Trazendo uma notícia mentirosa, Dizendo que encontrou a minha rosa Que um dia me deixou enamorado.
Sem ter o que vivemos no passado, A vida se tornou tão pedregosa, Sereia que se foi, pois caprichosa, Castelo dos meus sonhos destroçado.
Vontade de te ver, meu bem, não vi Senão este cantar de um passarinho Mostrando a solidão que toma o ninho
Procuro e nada achando, sigo aqui Morrendo de tristeza e de saudade, Iludido por falsa novidade...
53
Cantando, um passarinho, traz saudade... Saudade desse tempo, fui feliz! A vida me deixou essa vontade A vida que deixou sempre me diz
Nos prantos que rolaste, falsidade, Nas horas me roubaste, um aprendiz... A vida, passarinho, como me arde! Saudade, neste palco, bela atriz!!!
Farsante que não deixa nenhum rastro, Arrastão dos sentidos, desgoverna... Enegrecendo, assim, um alabastro,
Saudade sentimento mais voraz, Ao mesmo tempo mansa, azeda, terna... Passarinho feroz, cruel, audaz!!!
54
Cantar a alegria que sempre me traz Amor todo dia roubando meu sono, Perdendo o sentido, te quero demais, Amor tão doído, cheirando abandono... Mas sinto o perfume da rosa vermelha Se tenho ciúmes, desculpe querida, Te quero comigo, fogo quer centelha Senão não consigo, perco minha vida... A boca que beijo, morena fogosa Trazendo um desejo de ser mais feliz Tu serás só minha, rosa vaidosa Meu canto se aninha, somente te diz Que nada seria sem ter teu amor De noite e de dia, me dê teu calor!
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Cantar em tom maior, felicidade! O amar quando se faz em luz intensa Promete uma alegria em recompensa, Cativa enquanto mostra a liberdade.
Deixando esta tristeza na saudade, A gente não tem medo e sempre pensa Na festa que virá sem desavença, Vivendo amor em paz, sem ansiedade.
Vibrando nas cantigas coração, Fazendo do sorriso, um bom refrão, Dançando a noite inteira junto a ti.
Nos bailes da esperança, vou liberto, O verso que demonstre o rumo certo, Beleza sem igual eu nunca vi!
56
Cantar esta emoção que não carrego, Falar do sofrimento inexistente A voz que em teimosia ainda emprego Tornando o meu sorriso, um penitente.
O beco sem saída, o labirinto, Deveras não consigo imaginar, E enquanto um céu escuro agora pinto, Deitando sob os claros do luar
Eu minto simplesmente. Nada mais. Fingindo ser aquilo que não sou. Um cavaleiro estúpido e fugaz, Goleiro que sofreu, falhando, um gol.
Tentando imaginar o que ora sente Alheia e tão diversa; uma outra mente...
57
Cantar minha alegria de existir De ser, estar, pensar, viver... enfim... O tempo de existência que há de vir, Mostrando todo amor que habita em mim.
O som da melodia do porvir Dos dias que passei, trazendo assim O gosto do lutar e redimir, Os erros que cometo e digo sim
Ao teu carinho imenso musa amada, Que sabe como é bom a dor do amor. Dançar junto aos meus braços, encantada
Fazendo em cada verso uma esperança De vida em sintonia, que é louvor Ao amor gigantesco,essa aliança.
58
Cantar uma canção que fale em paz, Roseiras espalhadas pelos prados... Sangria nestes corpos torturados Momento tão terrível, vida traz.
Mostrar o bem querer e ser audaz, Delírios entre bandos, olhos, brados; Vasos pelos cantos destroçados E a boca amortalhada mais voraz.
Falar da mocidade que se afasta, O beijo da saudade é meu sudário... A poesia amarga feita em fel
E a imagem da mulher serena e casta Jogada pelos cantos de um armário Girando em cata-vento, carrossel...
59
Cantarolando amor vou sem descanso Ateio este desejo que não cessa. Querendo no teu colo o meu remanso, A gente num carinho se confessa.
O jeito é refazer velha promessa E ter depois de tudo o bem que alcanço, Enquanto na verdade amor à beça Promete o que em delírio eu afianço.
Seremos um só ser, eu não duvido, Deixando esta tristeza em vão olvido Eu sigo pareado com teu sonho.
Assim sem ter limites, me aprofundo, Meu coração outrora um vagabundo Agora em parceria, amor componho...
60
Canteiro em dura seca, busca a flor A voz inebriante da saudade, Suporte mais perfeito para o andor Embora traga sempre a falsidade.
Abrindo estas janelas, sinto o ardor Que em plena madrugada fria, invade. Relembro num segundo, o nosso amor, E nele bebo alguma liberdade.
Distante da verdade que omiti, Retorno giramundo e chego a ti, Estrela que se foi pra nunca mais.
Sonhando com teu beijo, o fogo brando Aos poucos novamente vem queimando Ritos fantasmagóricos, carnais...
61
Canteiro onde cultivo as minhas flores, Lembrando de Cecília: framboesas, Embrulho nos meus sonhos tais belezas Seguindo, meu amor, por onde fores.
Os véus das esperanças, multicores, São frágeis, mas denotam fortalezas, Nos versos que tu crias; as grandezas Que impedem o surgir de velhas dores.
Fazendo do dueto, a comunhão, Florindo de alegrias o sertão, Servindo como ponte à fantasia.
Nos olhos delicados, mãos serenas, Futuro mais airoso; cedo acenas, Regando os meus jardins com poesia...
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Canteiro onde cultivo as minhas flores, Lembrando de Cecília: framboesas, Embrulho nos meus sonhos tais belezas Seguindo, meu amor, por onde fores.
Os véus das esperanças, multicores, São frágeis, mas denotam fortalezas, Nos versos que tu crias; as grandezas Que impedem o surgir de velhas dores.
Fazendo do dueto, a comunhão, Florindo de alegrias o sertão, Servindo como ponte à fantasia.
Nos olhos delicados, mãos serenas, Futuro mais airoso; cedo acenas, Regando os meus jardins com poesia...
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Cantiga de esperança ao fim da tarde, Veredas que vislumbro no horizonte, O fogo da paixão deveras arde E bebo esta alegria em clara fonte...
A vida se passou sem dar alarde, A luz que se escondia atrás do monte Por mais que muitas vezes se retarde, Mesmo que em brilho efêmero desponte
Promete um doce alento ao caminhante. E ao ver o encantamento num instante Tomando todo o céu, esplendoroso,
Além de um relampejo tão somente, Iridescente e terno, permanente, O olhar torna meu dia fabuloso!
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Cantiga de viúvo, solidão, Oráculos previram tal caminho, Sangrando e devorando o coração Deixando quem amou triste e sozinho.
Aos poucos vou perdendo rumo e chão, Meu passo prosseguindo em desalinho. A dor vem repetindo este refrão E mata suavemente de mansinho...
Ouvindo a tua voz a noite inteira, Por mais que eu te garanto, já não queira Distante de teus olhos, sem luar
Saudade me deixando assim, mais triste, Sabendo que distante amor resiste Vontade de morrer e me entregar...
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Cantilenas da frota Corsário sem sentido, Saudade que me corta Noutras noites, olvido
Senda que segue torta Sonho que vai perdido Felicidade morta Não ouviu meu pedido.
Escarpa? Eu não pulei Meu barco naufragado Mar que não naveguei
Canto desesperado Amor que foi minha lei Deixando-me de lado...
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Canto tanta saudade da morena Que foi a minha flor tão delicada, Trazendo esta beleza da açucena A mais cheirosa e sempre desejada... Morena que se foi e quer voltar Na tarde desta vida que se acaba Promessa da grandeza do luar, Que à noite em minha cama se desaba. Morena como é bom saber que tenho O gosto desta boca é chocolate, Do tempo mais tristonho donde venho Nem mesmo uma tristeza mais se abate. Seu nome eu conto à lua bem faceira, Paixão tão poderosa e derradeira...
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Capazes de voar além do espaço Vencendo os universos mais distantes. Amor que aos poucos trama este compasso Em luzes e delírios fascinantes.
Recolho da ilusão cada pedaço E crio os mais sublimes diamantes Um mundo abençoado agora eu traço, E chego a Paraísos deslumbrantes.
Hedônicos caminhos percorridos Nas margens tão floridas da esperança. Prazeres e vontades divididos
Sentenças que se cumprem, amor, paz. À noite este convite pra festança, Delírios que este amor sempre nos traz...
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Capino uma esperança, e visto a lua, A velha prostituta dos poetas. Usando desta enxada uma alma arrua Colhendo dos trigais safras completas.
O coração vadio não se amua, Enquanto desdizendo as minhas metas, Aguindastando a sorte, monta a grua E veste as farsas, farpas, bebe setas...
Desembestando o sonho vaga-lume, Rosário de ilusões, como costume Amilagrando a vida, busca o sim.
Na babascenta boca desta moça, A vespa da emoção, amor adoça Rumina uma alegria, mel, capim...
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Caprichos deste mundo sem fronteira Cabeça traz piolho, corpo sarna, Enquanto alma não sobe e desencarna Eu vou levando a vida sem canseira.
Porteira que se abriu não fecha mais, O gado se perdeu? Cadê problema? Apenas não suporto mais algema, Meu sopro diz tufões e vendavais.
Agüenta coração, velho palhaço, Restando de um amor, resto e bagaço Cuspindo neste prato que comi
Iscando outra minhoca em meu anzol Expondo o sentimento sob o sol, Pensei vir tubarão, é lambari...
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Caprichos dos amores que geramos Gerânios e fragrâncias de jasmim, Dourados os destinos que traçamos Morrendo sem amor dentro de mim...
Mas nada mais recorda que teu canto Em cordas e versões mais delicadas. As portas, escancaras, não sei quanto; Deitada nessas camas mal amadas...
Recordas nossos ramos, arvoredos, As árvores morrendo sem teus olhos, Jardins que te procuram, sem segredos De flores que desmancham-se, sem molhos...
Amores que geramos não vivemos, Apenas abortados mal nascemos...
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Carcaça carcomida? Nada disso Saudade vem trazendo o gosto bom Que um dia com supremo e raro viço, À minha vida deu teor e tom.
Por mais que no porvir, meu compromisso, Eu vejo no passado o raro dom De assim permanecer. Sem ser omisso Eu como em tua boca este bombom...
O cheiro da comida a cama feita Convite pra regalos, faz tão bem. Velha estação querendo o mesmo trem
Que volta e meia, vivo nos deleita. Mergulho dentro em nós reflexo tanto Como escarificasse raro encanto...
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Carcará faminto não tem jeito... Devora todo tipo de comida. Sertanejo lutando por direito Direito mais sagrado: pela vida!
Carcará perigoso leva jeito De não deixar viagem ser perdida. O povo sertanejo contrafeito, A morte tocaiando na saída!
Um animal arisco, o CARCARÁ! Consegue devorar até serpente. Onde irá passar, nada deixará.
Come restos de bicho em agonia. Ao ver forte esse povo, de repente, Na tocaia esperando um novo dia!
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Carcome-se com ar devorador A fera que não vê mais resistência, No mundo que se faz em desamor, A vida se transforma em penitência, Nos olhos semeando tal pavor, Não traz sequer um laivo de clemência.
Mas tendo o canto livre e alvissareiro, A mão se fortalece por encanto, Depois de mergulhar o tempo inteiro, Escuto da alegria este acalanto, A mão de um grande amigo e companheiro, Protege contra o frio, sacro manto.
Sabendo deste bem grave a jogada: O jogo sempre foi carta marcada.
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Careço de saber aonde existe Algum recanto plácido e sereno. Se tanto te desejo e me enveneno Minha alma passarinho sem alpiste
Agreste coração seguindo triste, Enquanto solitário concateno Querendo qualquer mar que deixe pleno Quem luta o tempo inteiro, inda resiste.
Meu verso esquizofrênico sonega Esta verdade estúpida, vil, cega Sem ter a profilática ilusão.
Balbúrdias são heranças quase heréticas, As distorções? Defesas; que genéticas Embaçam sem pudor, minha visão...
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Caricatura, apenas, o que resta Deste amor que arrasou o quarteirão, Do quanto tive outrora riso e festa Naufraga a mais sutil embarcação;
Projetos que eu tivera no passado, Agora estão pra sempre engavetados. Do amor um bandoleiro desarmado Gravetos de arvoredos mal plantados.
Espinho que se encrava na garganta Escravo desta imensa estupidez. A deusa que se fez rainha e santa Mostrando suas garras de uma vez.
Nas altas madrugadas te procuro, Apenas o que vejo: o céu escuro...
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Caricaturas várias, garatujas, Assim eu me desnudo em cada verso; Não trago as minhas mãos pesadas, sujas, Nem quero parecer sequer disperso.
Eu busco a companheira que me traga A noite que perdi, profana festa, Que não esconda a lâmina da adaga, Que venha simplesmente. Nada resta
Daquele que partira sem destino, Atrás de um brilho cego em negra luz. Nem mesmo volto a ser um beduíno, Que apenas ao deserto se conduz.
Persiste e com mais força esta vontade De ter depois de tudo, uma amizade...
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Carícias sensuais, desejo à tona, Nos seios doces tanta sedução. Minha alma no teu corpo se abandona Guiada pelo incenso da paixão...
Eu amo teus mistérios de menina, Me queimo nesta brasa sem juízo... A vida se desperta e me domina Mãos dadas; vamos rumo ao paraíso...
E beijo teu umbigo, teus joelhos, Em cada uma excursão, a descoberta. Teus lábios tão macios e vermelhos A mina que procuro, encontro alerta.
Invado tantos vales e montanhas, Neste jogo em que eu ganho e sempre ganhas
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Carinha de sapeca, Brincando sem parar, Coitada da boneca Cansada de apanhar.
Depois de uma soneca, Já vai recomeçar No chão quando defeca É bosta a se espalhar...
Criança bem levada, Não deixa nada em paz, Depois de madrugada,
Acorda. Isso é demais, Paixão desenfreada, No fundo sempre traz...
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Carinho nunca tive, agora vou sozinho Sabendo que talvez; jamais eu poderei Fazer de uma esperança o que sempre busquei, Certeza de encontrar ternuras e carinho.
Enquanto noutras sendas, estúpido me aninho, Eu faço da ilusão; cenário, quase lei, Aonde um novo tempo; ignaro, eu procurei. Deixando para trás um manso e bom caminho.
À margem do que outrora, um dia fora o Norte, Sem ter quase ninguém ainda que se importe Eu morro a cada dia, um pouco e muito mais.
Verás o que restou de um velho sonhador, Matando esta semente, esqueço de uma flor, E o barco sem destino, esconde-se do cais.
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Carinho que conquista um brutamontes, A mansidão que vence um ser tão bruto. Tornando o coração bem mais arguto, Abrindo para os olhos, horizontes.
De todas as benesses, ricas fontes Mudando em placidez que fora astuto. O amor não conhecendo um estatuto Usando das carícias, fortes pontes.
Fascínios descobertos negam pejos, Imersos nas vontades e desejos Impedem que se aflija uma alma pura.
Embora tão voláteis, os amores, Superam preconceitos e rancores, Deixando um rastro imenso de ternura...
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Carinhos que busquei e não mais tive Durante a vida inteira, amor eu quis E sei que na verdade um infeliz Apenas tão somente, sobrevive...
Quem desta fantasia em dores prive Matando esta ilusão jamais me diz, Que o tempo se moldando em falso giz Prepara tão somente um vão declive.
Agora um prisioneiro da amargura, Tentando a liberdade, na clausura Expõe o peito nu, sem mais disfarces...
Do cálice dos sonhos transformado No vinho pelo tempo avinagrado, Minha alma segue rota em teus esgarces...
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Carinhos que trocamos; sedução... Olhando ternamente em teu olhar Hipnotizado tenho a sensação De dentro de teu corpo navegar. Nossa alma assim desnuda na paixão Se eleva ao infinito e vai buscar As cores e matizes da amplidão, Depois mergulha solta no luar... Percebo o leve toque de teus dedos, Tocando meus cabelos, fecho os olhos.. Conheces bem de perto meus segredos, E vives como eu vivo por amor... Ternuras são colhidas como em molhos, Na eterna primavera, toda flor...
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Carnais, nossos desejos sem juízo, Os trêmulos carinhos se procuram. Vivendo sem temer perder o siso, Os males e as dores já se curam...
Nos frêmitos audazes lácteos veios, Palpitações felizes e mordazes, Enveredar meus lábios nos teus seios Sugando em meus delírios, nossas fases.
Em cada frase sempre te dizer, Nesta visões secretas, arrepios. E sempre que sonhar estremecer O mundo nos atando, nossos fios...
Carnais tocando os sinos da loucura Na noite que te quero, nua e pura...
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Carnificina à vista, avisto nua A dama feita em podre serventia. O quarto iluminado mata a lua Enquanto vai descrente, a poesia.
O medo que decerto continua Encarando incertezas busca o dia, E embora uma alma amarga, álgida e fria Fantasma do que fomos vem, flutua.
A barca dos meus sonhos, tão dantesca Durante os meus tormentos não refresca E vaga pelo limbo da ilusão.
Fermenta o pão no claustro que legaste, Fazendo com a lua este contraste Mordisca e vem propor putrefação...
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Carnificina em gozos mais profanos Apodrecendo em vida quase seres. Vendendo seus destinos, desenganos, Calando em plena noite, alvoreceres,
Mendigos que se encontram quase insanos Com ratos disputando seus talheres, Nos pântanos, charnecas, semi humanos Profanam em amor, semi mulheres.
E as hemi vidas nascem pelas ruas, Vendidas como carnes, duras, cruas Ou braços que sustentam engrenagens.
Depois nas armas, balas, cocaínas Nas pernas esporradas das meninas, Vinganças preparadas nas viagens...
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Carnívoros olhares, fera audaz Na fúria desejosa e mais sangrenta, No corte em que se esvai de forma lenta O gozo que maltrata e satisfaz
Convulsas sensações que a noite traz Enquanto esta emoção no peito assenta. Paixão tendo por norma a violenta Tempesta que se mostra então voraz.
Arcando com os olhos de serpente Na viperina glória, sigo ereto Letárgica vontade que se sente
No visceral desejo: ser feliz. No amor em farto lume eu me completo E tenho em minhas mãos o bem que eu quis.
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Caro amigo José de Lindomar, Teu mote me inspirou tenha a certeza, Embora tão distante do teu mar, O verso vai seguindo a correnteza.
Servindo de consolo pra jumenta, O fumo dando rolo não dá certo, Vontade sem igual que me atormenta Vencendo no final qualquer aperto.
O gosto da saudade é tão amargo, Porém quando se mostra sem embargo Desnuda o nosso canto mais singelo.
Se tenho em minhas mãos este rastelo, Comendo minha alface sonho aspargo, Do meu casebre faço este castelo...
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Caro amigo, por vezes vi teu nome Nos atos cometidos, desenganos. Facão que corta fundo, mata planos E a sorte desdenhosa vai e some.
A corda no pescoço me consome Deslizes dos meus passos desumanos Vagando por daninhas, meus abanos Não lavram e me matam já de fome.
Fardos ficam leves sem o peso, Que trazendo nas costas deixam manso O coração que sem ternura e sem remanso
Em noites vagamundas andou preso E faz deste jiló a liberdade Adocicando a mão desta amizade...
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Carpindo meu carpete multicor As travas da chuteira em minha pele. O bar aonde fui estivador, O fogo em que me queimas me compele.
Derivas de meu barco sem rancor Coral que entre esperanças sempre apele. O prazo que me deste a teu favor Destino em desatino se revele.
Mamilos e martírios, mares tontos, Contra-sensos sorvidos olhos prontos. Nos ósculos teus óculos, meu céu.
Carpindo em meu enterro, tu gargalhas, Nos lábios a promessa feita gralhas Cadência repetida, fel e mel...
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Carregando meus sonhos nas espáduas, Atravesso os desertos, sem temer. Areias, tempestades, marchas árduas, De tudo que vier, mas vai valer...
Desertos esquecidos, tenebrosos; Deixados em minha alma, sem descanso. Por vezes, os caminhos pedregosos, Valoram o destino que eu alcanço...
No fundo deste céu tão azulado, O sol tão inclemente, me embeleza. O rumo, por sinal, desencontrado, Transforma-me, por vezes, simples presa.
Mas quero teu amor, vale as viagens, Passando por enganos, mil miragens...
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Carregas a beleza de outra vida Em todo esse mistério da natura. Eu sinto que transborda, assim, querida; Amor que em ti achou toda ternura...
Eu quero que me escutes, vale o tempo De espera pelo brilho que virá. Não tema assim sequer um contratempo Que o sol mais uma vez radiará.
Depois dos tantos dias de cultivo Na doce sensação, fecundidade. Do sonho que risonho; sinto e vivo, A força que te move: eternidade.
Em toda essa ternura, a maciez Trazida pelo amor, na gravidez...
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Carregas em tua alma, sortilégios; Que não consegue conceber , quem vive, Buscando, desta vida , privilégios. É o mais sublime templo onde eu estive,
Tens a sabedoria dos colégios, Ao conhecer-te, juro que contive, Meu amor tão capaz de sacrilégios, Bem capaz de galgar esse declive,
Somente por prazer de ter teu solo, Pela delícia frágil, de te ter. Deitado tão solene, no teu colo,
Vivendo tantas glórias, por prazer; Envolto em tuas rendas, já me embolo, E censurar-me, diga, quem há dê?
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Carrego a cicatriz desta paixão. Exposta e corrosiva, mil vestígios. Nos sonhos que travamos, nos litígios As horas mais difíceis sem perdão...
Quem vê logo repara nesta marca Estranha e dolorida, a ferro e fogo. Quem pensa ser feliz nunca me abarca, E corre mais depressa do meu jogo.
Como pode meu Deus esta quimera! As garras deste amor, cruel pantera, Rasgaram e me impediram ter futuro.
Como teu preconceito me transtorna! A morte deste amor tomando forma De cicatriz felina. Como é duro!
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Carrego a minha dor que desde a infância Preconizada estava, não me iludo. O velho coração prossegue mudo, A luz não há jamais que inda alcance-a.
Corcel das ilusões segue sem rumo, Enfrenta os vendavais e não percebe, Que amor abandonando a antiga sebe, Não deixa que se encontre enfim, o prumo.
Uma alma desditosa vai ao léu, Sentimental, sensível, mas boçal, De uma esperança resta este jazigo.
Girando o pensamento, carrossel, Amor predestinando amargo aval, Eu tento ser feliz e não consigo...
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Carrego dentro da alma o sertanejo Que lavra com carinho, ceva o chão. Enfrenta a dura seca, e crê no grão Numa explosão da vida em seu desejo.
Ao fecundar meus sonhos, neles vejo De todos os pecados, redenção, Fazendo da esperança a profissão, Terei toda a vitória que eu almejo.
Não posso me calar; soltando a voz, Eu creio no amanhã, mesmo que atroz, Usando este meu canto como espada.
Se a noite está sombria, não desisto, Na fantasia teimo e até insisto, Prevendo o sol surgindo na alvorada...
96
Carrego dentro da alma, a juventude Que eternizei em sonhos e desejos. Às vezes do passado estes lampejos Transbordam com vigor de um grande açude.
Bem mais do que busquei ou mesmo pude Momentos tão felizes, sem ter pejos Salvando nos cruéis, duros ensejos Ajudam a tomar uma atitude.
Das Minas que Drummond disse não há Resquícios salvadores; recolhi A cada novo dia eu percebi
Que eternamente viva brilhará A chama das lembranças do passado, Guiando cada passo, lado a lado...
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Carrego dentro em mim já tatuada Tua presença amada e tão constante. Vencendo do teu lado a madrugada A lua nos decora clara amante
Seguindo os rastros teus em mansa estrada Encontro meu retrato a cada instante Minha alma de tua alma geminada Espelha o teu reflexo deslumbrante.
Se eu sou é tão somente por tu seres; Dois seres diferentes num só ser. Caleidoscópios, somos do quereres
Pois sendo o que tu queres vou em ti. Mosaico indescritível do prazer Que encontro tão somente e sei aqui.
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Carrego dentro em mim uma alma triste, Afeita a tantas dores, agonias. Porém o coração teimoso insiste E chove em tempestades nos meus dias. Parece que ilusão, não sei, existe. Contaram-me em sonho as fantasias...
Por que viver assim, Senhor Meu Deus? Permita que eu te implore meu descanso. Embora em meu olhar pressinta adeus, O sol volta a brilhar quebra o remanso. Quem dera se estes olhos tão ateus, Pudessem vislumbrar, mas não alcanço.
Ó vento da saudade, seja forte Presenteando então com minha morte...
99
Carrego dentro em mim, tantos retalhos De sonhos que eu já tive e nada veio. Olhar buscando a fonte em cada veio Repete os meus atos, sempre falhos.
Enquanto um arvoredo em tantos galhos Traduz a quem amou, tanto receio, Ao ver desta morena o belo seio Viajo ao infinito em bons atalhos.
Colhendo no caminho, cada abraço, Reúno o que sobrou então de mim, Juntando assim pedaço por pedaço
Refaço esta esperança e passo a ter Além de simples flor em meu jardim, Razões para sonhar, para viver..
4000
Carrego esta moléstia aqui comigo, Futura causadora da cegueira, Embora em tratamento, sei perigo, Que a vagabunda causa, esta daneira.
Fumante desbragado, já nem ligo, Olhando de soslaio, a vida inteira, Eu tento até parar, mas não consigo, Fumaça é do pulmão, a companheira.
Depois de ser pacato cidadão, Que escreve sobre amor, dor e paixão, Cansei do velho tema, e me compete
Vestir o capetinha que cutuca Tornando a hipocrisia mais maluca, Abrir meu arsenal de diabete...
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