
MEUS SONETOS VOLUME 032
Data 28/11/2010 06:43:33 | Tópico: Sonetos
| 1
Apenas um resquício, o que sobrou Do dia em luz mais frágil e tão tacanha. O sol que por momentos me enganou Esconde-se detrás desta montanha.
Ambição de nudez em carnaval O preço que se paga vale a pena? Farol que se disfarça em sensual Segredo repetindo a velha cena.
Molambos que coleto enquanto peno Apenas fingimentos e lençóis. O resto serpenteia o seu veneno, Deixando quase nada, mesmo após.
Apostas que perdi, a vida mente Enquanto luz me banha corpo e mente...
2
Apenas uma fístula e não mais. Postulo o que jamais perceberia Não fossem os anseios de alegria, De tantas serventias, nave e cais.
Por mais que tantas vezes ancestrais Idílios em tramóias, alquimia, Desértico momento que se cria Em cardos, percevejos, nem notais.
Desejos e destinos boca e sexo, Fagulhas que não fazem fogaréus, Embora sem destino, rasgo os véus
E busco no vazio qualquer nexo Enquanto tua língua me percorre, Até que o farto líquido socorre...
3
Apenas uma noite e nada mais, É tudo o que eu desejo. Pelo menos. Dos gozos tão supremos, assim plenos Estrada que em delírios decorais.
Dos sonhos, arabescos em vitrais, Momentos tresloucados e serenos, Teus lábios com certeza tão amenos, Vontade que em ternura decifrais.
Vencendo os velhos pejos e pudores, Entre viagens mansas e suores A noite de meu bem tanto aguardada.
Se tu vieres nua e mais audaz De toda insânia; juro, sou capaz De crer no sol dourando a madrugada.
4
Aperte os cintos! Vamos decolar Em rumo da total felicidade, O pássaro de luz bebe o luar E vive a mais perfeita claridade.
O templo dos prazeres vai mostrar Que a vida merecendo liberdade Expressa esta alegria que sem par, Aos poucos com delírio nos invade.
Entregue a tais propósitos, querida, A gente modifica a nossa vida E traz um Eldorado em fantasia.
Por isso, venha logo e não se esqueça Que amor só se entregou a quem mereça Saber de seu poder, sua magia...
5
Apesar de todo podre mundo fero Que enquanto nos corrói, não deixa nada. Seguindo com firmeza a minha estrada, Encontro a paz suprema que ora espero.
Enquanto perceber tudo o que eu quero No brilho sem igual de uma alvorada, Uma esperança audaz decerto brada Trazendo à fantasia um raro esmero.
Assim, vencendo os medos, vou em frente, Por mais que a dor insista e ainda tente, Eu tenho um lenitivo na esperança.
Serpente que pulula nesta senda Aonde à fantasia o amor arrenda, Na mansa servidão, a paz alcança...
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Apesar dos pesares, mais felizes Corremos para o mar, buscando a foz Deixando no passado estes deslizes Amor que é tantas vezes qual algoz.
Em nós a profusão de lua, estrela Estende na varanda um farto brilho. Delírios de poder; sempre, sabê-la Na prata que emoldura nosso trilho
Um andarilho vaga em noite imensa Em buscas sem limites vago insano. Na boca da mulher, a recompensa O tempo se promete sem engano
E assim, ao adentrar salgado mar, Eu vejo o mel da vida se espalhar...
7
Aplacará em paz estes tormentos, A força deste amor que nos domina, Toando em alegria os pensamentos Já sabem, reconhecem, cada mina
Os dias sem amor são sonolentos, A glória de sonhar se determina Realizando em todos os momentos O que uma fantasia vaticina.
Eu tenho esta certeza inabalável De ter esta emoção irrefutável Trazida pelos braços em ternura.
O quanto eu te desejo e tu me queres Nos gozos que te dou e me transferes A vida sonegando uma amargura...
8
Aplaudes, tão irônica esta cena Aonde me desnudo em tua frente Amarga realidade surge plena, Sem ter sequer um brilho que a contente.
Arrasto em cada verso esta corrente, Negando em voz sombria, a noite amena. Nas mãos como um flagelo, o penitente Arranca os tristes olhos, se envenena...
Auto-retrato feito com minúcias Qual pária que emergindo de outras súcias Expressa na nudez, os seus sentidos.
E quero que me vejas face a face. Porém por mais que a vida, tola, embace Eu não darei um tiro em meus ouvidos...
9
Aplausos aos estúpidos canalhas Que fazem dos seus sonhos dura lei Na qual por tantas vezes escarrei Comendo a fantasia, podres gralhas.
No peito a falsidade de medalhas Nas guerras contra os frágeis, observei Pisar sobre os farrapos fazem rei Aquele que se esconde sob navalhas.
Vencer o frágil povo sem defesa Não traz a galhardia pra ninguém, Sugando este cadáver, sobremesa
Na fétida manhã ocidental, Da história esta gentalha perde o trem Mostrando o seu sorriso, mais boçal.
10
Apocalíptica visão do fim Aproximando-se feroz demônio. Mundo resume-se, navego enfim. Desde o primeiro virtual mecônio.
Em trevas frias más e desumanas, Reflexos desta podre solidão Nas hóstias as vontades mais mundanas, Revelando total escravidão.
Me lassas, danças resumindo, riso Me cremas farsas, resplendor e canto... Partícipe voraz me negas friso,
Destróis todos os lastros, satisfeito Terremotos marinhos, celacanto, Minha morte esperando-me no leito..
11
Apoderou-se inteiro, já de mim O sentimento nobre e soberano, Tomando em redenção o meu jardim, Professa um canto ameno sem engano.
Celebro a cada noite em harmonia Bebendo desta fonte cristalina. Concebo fielmente tal magia Que emana deste amor e nos domina.
Carrego nos meus lábios a lembrança De cada beijo dado em noite clara, A vida se fazendo em temperança A quem andara só, decerto ampara.
Secando cada lágrima, um sorriso De toda a sorte e glória, um doce aviso...
12
Aprisionados, loucos e desnudos, Na embriaguez insana, pele em pele. Momentos delicados, mais agudos, Insaciado amor sempre compele.
E juntos caminhamos sem repulsa Estradas extremadas pernas, seios... Vontade sem limites, cedo pulsa E nada nos detém, não temos freios...
Tomado por insânia em frenesi, Requebros e meneios, teus quadris. Recebo este calor que vem de ti, Em teu gozo, querida, sou feliz...
Estamos lado a lado, a vida inteira, Paixão que nos decora, verdadeira...
13
Apodrecendo em vida, as larvas companheiras, Amigas mais fiéis, bocas que me tocam. As luzes do meu quarto, ao tremularem focam Imagens do passado. Estrelas, nuvens, beiras...
A perna decomposta exposta à tais bicheiras Enquanto as emoções diversas se deslocam, Crisálidas do sonho, as moscas já se alocam E mergulham no esgoto as línguas derradeiras...
Encontro no cigarro, um contumaz abrigo, Vejo nas espirais reflexos do que fomos E o tempo carregou. Estúpido, os persigo.
Esvaem-se no fumo, e no bafejamento Da fera solidão, a carne em podres gomos Decepando-se traz enfim algum alento...
14
Apóia cada passo, dourada haste Que ergueste com cuidado em noite mansa. Do quanto tanto amor tu me entregaste A sorte desejada já se alcança.
Amor que se assenhora dos meus versos, Forrando a minha vida em calmaria. Legando à solidão vento reverso, Expressa tão somente poesia...
Talvez possas pensar ser pleonasmo, Falar do amor da forma que eu bendigo Embora repetido, sem marasmo Telúrica expressão; sempre persigo.
Atrelado no amor vou a reboque Usando cada verso qual bodoque...
15
Apoio mais seguro num tropeço, Percebo em tuas mãos quentes, macias, As flores, com ternura eu ofereço, Fazendo benfazejos nossos dias. Futuro feito em paz; deveras teço Dourando as minhas horas, alegrias.
No amor abençoado enceto os laços Forjando o quanto quero ser feliz. Seguindo os teus caminhos, nossos passos, Eu vejo que terei o que prediz Os sonhos mais sutis, sem embaraços, Sem ao menos deixar vil cicatriz.
Alçando ao infinito em cada verso, Não quero o caminhar, ledo e disperso...
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Apontam outros mastros desde agora, Caminham em trieieros, são as pistas, Deixadas por quem veio lá de outrora Ardente fogo, temo, não resistas...
A chama que os ouvidos tanto viram E sempre se atraíram pelo lume. Tantos resguardos foram e sentiram No teu oculto vulto bem sei miro-me
Nestes segredos tantos meus abraços Sem vistas entre nossas vãs paredes. Sem trancas me despindo nos teus braços Me entrego, minha amada em nossas sedes.
No fogo que devora nosso amor, Na cama onde estou a teu dispor...
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Aportas no meu cais em beijo e riso, Fazendo sempre mais do que eu pensara, Eu agradeço enfim, a jóia rara Que traz em boca e corpo o paraíso...
No toque mais sutil e mais preciso, Nudez maravilhosa se escancara, Adoça a solidão, peito dispara E pára a tempestade que em granizo
Caíra a noite inteira, sem parar. Agora que percebo neste altar A marca da cigana sedução,
Em luas argentinas sobre a mata, Reflexo de desejo já desata E trama em nosso caso, uma explosão...
18
Aporto neste cais cada desejo, Avanço por limites mais audazes, Usando sutileza, assim prevejo Momentos de loucura, tão vorazes.
Nas pernas que em prendem, já latejo Agradecendo a força das tenazes Na festa que se faz em louco ensejo O quanto satisfeita satisfazes.
E o gozo mais profano se revela Na intensa maravilha que singela Um lago em placidez bebendo a lava
Assim na ardência feita em calmaria O sonho mais feliz usufruía Amor que uma amizade sustentava.
19
Aporto o meu desejo no teu cais E encontro o que buscara a vida inteira, Depois destes mergulhos abissais Agora tenho em ti a companheira
Que mostra ser possível noutro passo Vivenciar o fogo das paixões. O quanto te desejo, amor eu traço Espaços infinitos, tentações.
Perceba quanto o sol já nos aquece E mesmo num mormaço nos suprime, Amor que quando vem rejuvenesce No encanto que quem ama não reprime
Estende sobre nós e em vento bom, Garante ao manso dia o raro dom.
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Após a luta intensa; um aconchego Que encontro nos teus braços, mostra a paz Que em nome deste amor, enfim, carrego
Mostrando quanto amor se faz capaz. Num mundo mais sincero em que navego A vida em esperança, amor me traz.
Eu quero o teu desejo e tua sina, Eu quero a maciez de teus cabelos. Bebendo meu amor em ti, menina Meus braços nos teu corpo são novelos.
Eu quero ser eterno namorado Desta morena bela e sedutora, Estar o tempo inteiro do teu lado, Num vôo sem cansaço, a vida afora..
21
Após a noite feita em fantasias Rondando mil estrelas, perfumando O mundo em maravilhas, alegrias O sol já vem nascendo e nos mostrando
Que a vida se refaz em novos dias, O céu tão depressa azulejando Do jeito que sonhavas e querias Amores e promessas nos guiando.
Juntinhos; caminhamos pela vida Sabendo de que sempre vale a pena A sensação que é mágica, sentida
Bebendo desta luz; estrelas, somos. A eternidade em lumes nos acena Comemos da esperança doces gomos.
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Após a tempestade, uma bonança E à Terra assim desnuda aporta o sonho Depois de um pesadelo tão medonho, Refeita a humanidade na aliança
Do Pai que demonstrando a Sua lança Expressa um novo tempo mais risonho, Sorriso sobrevindo ao tão tristonho Caminho onde morrera uma esperança.
Nas mãos de uma família, a redenção, Promessa de total transformação Ungida pelas mãos do Bom Javé.
Colheita agora farta, prometida, Mudando a direção de cada vida Surgida após a vida de Noé.
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Após as dores tantas que passei, Os medos que invadiram minha vida, Agora que, feliz, eu te encontrei, Do labirinto, encontro uma saída,
No mar de tanto amor, eu mergulhei Deixando a dor distante e já vencida. Entôo uma esperança, ser teu rei Vertendo esta emoção tão desmedida.
Eu quero que tu saibas deste encanto Da noite constelada em claro manto Na transfusão de estrelas pro meu quarto.
As luzes entornando maravilhas, Do quanto te desejo e não me farto, Percorro as mansas tramas, nossas trilhas.
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Após o banho, nua, tu desfilas Tua sensualidade pela casa. Mil olhos acompanham, fazem filas, Distantes, na janela, o fogo abrasa.
Eu sonho com teu corpo junto ao meu Entregue numa lúbrica avidez. Nas curvas deslumbrantes se perdeu Meu corpo com divina insensatez...
Não percebes ou finges quanto encanto Emanas nos teus passos, descuidados. Adentro em pensamento todo canto Os que vejo e os que são adivinhados
Ao ver tão bela cena eu me perturbo, Sozinho, sem remédios, me masturbo..
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Após um cansativo e longo dia Procuro descansar meu corpo lasso Deitando no teu colo, teu regaço, No fogo do desejo e da alegria.
O canto que distante não ouvia De pássaros canoros. No teu braço Se mostra divinal, cura o cansaço. Refaz meu mundo inteiro em tal magia.
A força que me trazes, vivifica Uma esperança a mais de ser feliz. A sorte se demonstra rara e rica
Em cada novo toque uma certeza: És tudo o que desejo, amor que eu quis, Um verso mais perfeito da beleza...
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Aposto que não gostas de ninguém! Apenas sou remendo e nada mais, Se a gente inda enfrentasse os vendavais... Apenas frágil laço nos contém.
Seria prazeroso ter alguém Que um dia me mostrasse um novo cais. Meu canto sem talento, de pardais, Procura qual radar quem queira bem
Um péssimo poeta, um vagabundo Que mostra os poucos dentes para o mundo, Deixando o seu traseiro descoberto.
Menina, vê se toma algum juízo, Meu passo sendo trôpego e impreciso Conduz somente aos ermos de um deserto...
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Apraz-me te saber assim tão forte, Amigo tantas vezes partilhamos Fazendo com vigor o nosso norte, Mostrando enfim poder o que sonhamos.
Ao passado tu queres que eu reporte Lembrando dos caminhos onde andamos. Guardado na memória qual recorte De tudo o que vivemos nos lembramos.
Nossa amizade sempre foi completa E encarniçadas lutas e batalhas Contaram com teu braço e sem ter falhas
A vida era, decerto, mais dileta. Depois de tantos anos, eis aqui. E saiba que jamais eu te esqueci.
28
Aprazo em noite clara o sentimento Que molda a plenitude, num momento. Trazendo um canto alegre e solidário. Querida, minha amiga e companheira
A Terra se vestindo em glória, inteira Festeja assim o teu aniversário. Quem tem uma alegria por bandeira Percebe este festejo necessário
E sabe desfrutar de tal carinho, Seguindo calmamente encontra o ninho Nos braços de quem sabe ser feliz.
Já tendo como guia uma esperança Encontro em ti decerto esta aliança O bem que desejei e sempre quis.
29
Aprendi respeitar o ser humano, Mesmo que decepcione, pois quem erra Merece ter perdão. Fugir da guerra Que mesmo com justiça, é sempre engano,
Fazendo da alegria um altiplano Alçando em fantasia a bela serra, Reinando sobre os mares, Inglaterra, Mudando cada sina em alto plano.
Não quero mais servis caricaturas, Nem mesmo quem desdenha as criaturas Encontra ao sofrimento, lenitivo.
O lobo que devora este Cordeiro, Matilha que se espalha, mundo inteiro, Mantendo este delírio corrosivo...
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Aprendo a traduzir felicidade Entregue a tal magia deslumbrante Outrora recebera da saudade Um gosto em azedume, nauseante
Herdando dos amores, o lirismo, Mortalhas esquecidas sem bravatas, Saltando sobre imenso e grave abismo Os sonhos mais felizes tu resgatas
Criando em raro encanto um verso breve, Destinos que se tocam; sinas, fados, Saudades para longe, o vento leve Deixando no lugar serenos prados.
Acendo novamente esta fogueira Na flama que se entorna, verdadeira.
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Aprendo com o velho caminheiro Que sabe decifrar sutis sinais Do amor guardando estrelas nos bornais, Colhendo em cada flor, sublime cheiro.
Dos sonhos perolados, garimpeiro, Lutando, não desiste e quer bem mais Que meros devaneios sensuais, Ao dar-se intensamente, por inteiro.
Nas mãos de um lavrador, rara colheita Usando da alegria como esterco De belas fantasias eu me acerco
Olhando a lua quando ela se deita Por sobre estas montanhas no horizonte, Percebo em cada ciclo eterna fonte...
32
Aprendo com teus versos, liberdade, Um dom que se pensava tão distante. A vida traduziu tranqüilidade Nos braços deste encanto fascinante.
Entre bares, calçadas, na cidade, Calada a madrugada de um amante Sem ter qualquer sarjeta que me enfade Teu canto tem a força de um gigante.
No reino da sublime poesia, Jamais eu andaria ausente e só, Pois tendo a companhia de Jacó
Permito-me saber desta alegria Que adestra o coração de um sonhador E nisso já distingo espinho e flor...
33
Apressa o coração saber que existe Um raio de luar após a serra, E quando a fantasia ali se encerra O sonho persistente não desiste.
Usando da emoção, meu peito em riste, Não quero a solidão que vaga a Terra, Tampouco esta amargura que desterra Quem cede aos vãos temores e vai triste.
Tu tens lugar cativo e sabes disto, Por isso é que decerto não desisto E sigo cada passo que tu dás
Na busca desta tal felicidade, Atemporal, tu rompes qualquer grade E bebes do infinito feito em paz...
34
Aqueces com teu corpo, a minha noite. Num jogo que; sem jugo, compartilha, Seguindo sem perguntas, mesma trilha, Saber cada delícia do pernoite...
Sarjetas que ainda trago na minha alma, Heréticos desejos do passado, Perdoe se hoje sigo tão calado, Sequer a fantasia já me acalma.
Os olhos marejados lacrimejam, A pútrida expressão do que vivi, Escombro dos meus sonhos; eis aqui
Em meio a tempestades que porejam, O verme que, teimando cisma e resta, Tentando insanamente riso e festa...
35
Aquecida ao calor deste verão, Felicidade faz-se sem cobiça Abrindo mansamente o coração, Não planeja nem guerra sequer liça.
Amor, se verdadeiro rega o chão, Não traz notícia falsa em dor postiça. Exorciza tristeza e solidão. Não precisa de padre e nem de missa
Amor sem ter mentiras nunca jura, Seus gestos traduzindo uma certeza. É feito de delícia e de ternura,
Não carece de sonhos temerários, Resiste a qualquer baque em correnteza, Navio que não teme mais corsários...
36
Aquela por quem meu ninho Se cobriu em flores tantas, Espalhando no caminho Rosas puras, belas, santas.
Quando em luzes me agigantas Já não sinto-me sozinho, Dos teus braços faço mantas Desta boca, bebo o vinho
Que inebria e que me farta. Nesta manga última carta, O meu trunfo derradeiro.
Dados lanço sobre a mesa, E o amor com tal destreza Vence o jogo. Vou inteiro...
37
Aquela por quem tenho rara estima E neste dia está bem mais contente, Por ter tanta amizade já se prima, Tocando o coração de toda a gente.
Amor com amizade traz a rima Que muda o meu caminho de repente, O sol quando da lua se aproxima Clareia a terra inteira, totalmente.
No teu aniversário, minha amiga Mergulho nas palavras pra dizer Do quanto é necessário ter prazer
Aonde uma esperança assim se abriga E mostra num sorriso, esta saída Na glória imaginada e tão querida.
38
Aquela que se foi e não me quis Não teve mais saudades nem saídas Entrave do que tanto tempo em bis Esbarra nas estrelas, distraídas
Colide contra os prédios e lambris Colando cada parte em novas bridas, Na boca dos anzóis os lambaris Estendem tuas farsas nas mordidas
Ardentes temporais vogando soltos, Em mares que não foram mais revoltos Assuntos diferentes se professam.
Os erros cometidos no passado Apenas cada fato revogado Nos ermos de teus braços se confessam...
39
Aquele amor que sonho, sei, virá Trazendo um manso beijo, tenso e puro Aos poucos, meu destino mudará Remédio que entorpece onde me curo.. Da moça, da menina que me anseia O gosto desta flor, perfume e cor; Invade o coração, penetra, ateia Neste fogão de lenha, imenso ardor, E vai queimando lento, devagar, Seu nome em minha boca, quase explode, Um dia com certeza, vai chegar, No templo deste amor, altar, pagode, Que a chama deste amor já se revele, Neste ar, no mar, no céu, nossa alma e pele...
40
Aquele cujos passos vão guiados Pela amizade imensa que se sente, Tem olhos nos espaços assentados, E toda a glória o faz ser mais contente,
Seus dias com certeza são honrados, E a voz do coração tão envolvente. Expressa o que deseja em altos brados Vivendo amor de forma previdente;
Não sabe de outro dia mais horrendo, As flamas da alegria, recebendo Mudando o seu caminho de repente.
A vida se transforma ao mesmo instante Em que sinto o reflexo deslumbrante No olhar de brilho farto, reluzente.
41
Aquele jardineiro que cuidava Com toda uma alegria desta flor, Um dia, adoecido não pensava Senão como era belo tanto amor.
Ardendo numa febre tão insana Sonhava com perfume inesquecível. Porém toda a certeza que se emana Não conta com fator imprevisível...
A flor não percebera que o jardim Por mais que parecia estar cuidado Não tinha mais o cheiro dele enfim, Daquele jardineiro adoentado...
Não sofra assim, dizia o velho cardo, À jovem bela flor lá do cerrado...
42
Aquele que deseja amor profundo E perde a direção, capota o sonho, Deixando um rastro amargo e tão bisonho Morrendo sem saber cada segundo...
O coração eterno vagabundo, Aonde a fantasia quero e ponho, Além da cordilheira que eu suponho Nos mares tão distantes me aprofundo.
E vejo no mergulho a solidez De quem ao desejar amor se fez Bem mais do que um vadio sonhador.
Fazendo do meu verso o mensageiro Clamando com vigor ao mundo inteiro O quanto é necessário e bom o amor!
43
Aquele que dirá do tempo em rito, A cargo da esperança segue em frente, Por vezes dos teus olhos necessito, Enquanto esta saudade mata a gente.
O amor que com carinhos é bonito Farturas entre sonhos já pressente, No corpo de quem amo, quando habito Eu vibro de emoções e vou contente.
Ausente tanto tempo, esta saudade, Derrama no meu peito enquanto invade Buscando nos teus lábios o bom dia.
Da seca agora tenho inundação Arando com vontade nosso chão, Tornando realidade uma utopia...
44
Aquele que em ternuras ensinou Que a vida deve ser bem mais suave, Usando o coração divina nave Amor, intensa glória nos legou.
Aos doentes, no amor apascentou Tirando do caminho algum entrave, Fazendo da amizade única chave Segredos são tão simples, nos mostrou.
Amar quem nos ofende e nos maltrata Usando do perdão que é sublime arma Que o peito dos ferozes já desarma,
E as tramas mais temíveis desbarata, Eu faço este poema em oração, Louvando o terno AMOR feito em PERDÃO...
45
Aquele que escapar do mau amor Embrenha seu futuro em plena sorte, Fugindo deste inferno, sem calor Aguarda bem mais calmo, a sua morte...
Amor que me parece ter dois gumes, Cortante ao mesmo tempo, caricia. Das luas em que rouba tantos lumes, Amor que tanto apruma já vicia.
Herméticos meus versos pueris Talvez de amor não façam suas tendas Amando com palavras mais gentis, Tampando a claridade, negras vendas.
Agora, num minuto já te digo, Amor quando é demais, sou teu amigo...
46
Aquele que jamais; ontem dizia Canção que te alentasse, vã, profana, Enquanto a noite chega soberana Mergulho o meu olhar num frágil dia.
A mão que se revela em falsa guia Ao mesmo tempo molda e desengana, A força insuperável feita em grana, Granando tal aborto, vil sangria.
Dos séculos e séculos, milênios A morte desatina em vãos convênios E muda a minha sorte ao mesmo instante
Em que rondando a casa, alerta, astuta Ambígua e de tocaia, a voz escuta E dá sobre o meu corpo este rasante...
47
Àquele que nos fez, sublime Pai Eu ofereço amor pleno e sincero. A vida muitas vezes já nos trai E mostra um sentimento amargo e fero.
Aos olhos de Oxalá ou de Adonai Felicidade imensa, o que mais quero. E a dor que nos maltrata já se esvai Nos braços de quem amo e que venero...
Nós somos passageiros desta Terra, Planeta abençoado e destruído. O mundo sempre foi mal repartido
Porém amorizade já descerra Cobrindo nossa casa de esperança No choro tão bendito da criança...
48
Aquele que somente se perder Nas asas deste amor mais envolvente Verá que encontrará no mesmo ser A boca que mordendo, sangra e mente.
Não mais que certas coisas na lembrança Guardei do que desprezo; me deixaste O vento que trazia essa mudança, Se avança rebentando uma fina haste.
Isento dos percursos da paixão Escrevo meu futuro em teu passado. Não presto mais a mínima atenção Ao gosto que roubamos do pecado.
Sorvendo cada gota do teu gozo, A mando deste amor tão desditoso...
49
Aqueles que se jactam de amadores Sentimentos ferozes, traiçoeiros, Perdendo o seu caminho timoneiros Dos sonhos quase sempre sofredores
Não vêm que a vida forja encantadores Caminhos mais reais e verdadeiros Deixando com certeza; lisonjeiros Momentos mais amigos onde fores.
Passos direcionados, na verdade Ao máximo fulgor/ felicidade, São dados por quem ama e sabe ter
Nas mãos toda a certeza necessária Deixando para trás a temerária Ausência de alegria e de prazer...
50
Aquém de todo sonho que tivera Espreito uma verdade insofismável. Amor perfeito eu sei inencontrável, É como regressar à primavera.
Sabendo que terei esta quimera, A fonte de esperança, inesgotável, Aos poucos se tornando dispensável, Mostrando em suas garras, louca fera.
Eu quis amar demais e me perdi, Eu quis felicidade e nada tive. Um louco coração que sobrevive
Ainda busca amor, deseja a ti. Será que inda terá, pois, solução, Quem quer em todo amor, a perfeição...
51
“Aqui jaz quem não jazera Se jazessse a medicina” Tanto amor que não nascera Se não fosse essa menina.
Na pele branca de cera Tanta coisa descortina. Procurei a vida inteira Essa beleza assassina...
Foste brilho das estrelas, Vives solta neste céu Onde posso recebê-las?
Quero tirar o teu véu... De tal brilho virei presa. Escravo dessa beleza!
52
Aquilo que vivemos restará Guardado na memória, nas lembranças Que cortam e maltratam como lanças Na dor que, fatalmente marcará.
Eu sei que no futuro não terás Daquilo que sonhei, recordação; Porém hei de saber não foi em vão; Ao olhar com saudades para trás
Terei a tua imagem radiante, E assim renascerei no mesmo instante E uma lágrima descendo no meu rosto
Salgando mansamente o meu sorriso, Então, neste momento, mais preciso, Cadáver da ilusão, de novo exposto... 53
Ar intelectual? Tanta besteira... Matar as emoções é ser poeta? Perdoe uma alma frágil e incompleta Que vê a rosa aberta e nunca cheira...
Não quero botar fogo na bandeira Que fez de tanta gente, a predileta, Tola imortalidade é tosca meta Eu quero a poesia verdadeira!
Falando do luar e da beleza, Deixando-me levar por correnteza Que entregue-me em teus braços tão somente...
O fato é que preciso deste verso Que mostre no infinito do universo A força de um amor, grão e semente...
54
Aragens e frescor de primavera Nas flores, nas abelhas, borboleta. Libélulas voando. Quem me dera Poder seguir seus passos, ser poeta...
Falar da imensidão do sentimento Que sinto sem segredos por você, Na doce poesia deste vento Amor que tudo sabe e tudo vê.
Fluir tão mansamente como um rio Que desce por cascatas, mais ligeiro. Vivendo a fantasia que recrio Do sonho deste amor mais verdadeiro.
Na música que canta um passarinho, No colo da mulher fazer meu ninho...
55
Aramos os canteiros, colho flores; Fazendo então o mais belo buquê Decoro nossa vida nestas cores, Perfeita sintonia é o que se vê;
Albores divinais, perfeito lume, No cimo dos meus olhos, monte e sol A mão que na colheita tem perfume Encontra a magnitude do arrebol.
Embosco teus desejos, de tocaia, Aguardo a ventania que virá, Levanta num segundo a tua saia, Belezas sem igual encontro cá.
Colírio pros meus olhos, eu garanto, Jardim que se floresce em teu encanto.
56
Aranha conquistando o seu parceiro, Fatalidade; estúpida quimera, Entregue aos desvarios de uma fera Que come sem ter pena o companheiro,
Um fato entre os humanos, costumeiro, A seca quando toma a primavera Sujeito não permite alguma espera E pros braços desta outra vai ligeiro.
Depois vem a pancada e o machadão, É sangue se espalhando no colchão E o riso embasbacado do defunto.
Rainha se livrando do zangão Aguarda o renovar de uma estação Novo acasalamento e o velho assunto...
57
Aranha preparando a sua teia Uma armadilha marca a triste sina Daquele que não vendo se alucina E mata em noite escura a lua cheia.
No quarto a solidão que te incendeia Às vezes o futuro descortina, Não vês quanto eu desejo-te, menina, O amor vai estourando cada veia.
Mas deixe isto pra lá, sejas feliz Enquanto a poesia for teu alvo, O coração tão velho, amargo e calvo
Batuca por quem nunca, eu sei, me quis. Faz parte dos meus dias a esperança. Quem luta sem ter armas nunca alcança....
58
Aranhas e moleques, bocas, becos. O gado vai passando na porteira Eterna sensação do que se queira E muitas vezes morre em repetecos.
Depois no bate papo traz botecos Numa impressão de eterna domingueira Na casa que se fez sótão soleira, A juventude segue sem ter ecos.
Amizade moldada na cachaça, Nas velhas discussões, sentido algum, O rumo tantas vezes foi nenhum,
Conversa que afiada, é só chalaça. O tempo ruminando feito boi, E tudo o que eu sonhei, depressa foi...
59
Arcádias que carrego, mineirices. Tolices entre vasos que quebrei. Matando uma princesa, não fui rei, Jamais me encantarei com falsas misses.
Os amores eternos são crendices, Quem disse que contigo não sonhei. Servindo ao que pretendo, mergulhei Nos vastos que deixaste e não cobices.
Apátrida emoção, amor é todo, No quanto ainda fora algum engodo, Rolando sobre as pedras, sigo inteiro.
Quem vê cada faceta desta cena, Não sabe que ilusão se concatena E mostra o alagamento no ribeiro...
60
Arcanas fantasias? Não suporto, Seria muito bom ser mais feliz, Quaresma de minha alma isso desdiz, Singrar inutilmente sem um porto.
Estando há tanto tempo quase morto, Não quero ser de novo um aprendiz, E quando em teus brilhantes eu me corto, A sorte vai mudando o seu matiz.
Acaso nada tendo senão isso, A vida não premia o compromisso E deixa ao deus-dará tal vaga-lume.
Catando cada vento que não vem, Queria ter quem sabe um novo bem, Porém a solidão virou costume...
61
Arcando com meu sonho mais constante Vagando pelo corpo ensandecido Bebendo desta fonte deslumbrante Meu passo sempre ereto e decidido.
Amor em louca entrega num instante Ao fogo do desejo recendido Vertente das vontades, triunfante O vencedor por ele foi vencido.
Delícias neste karma desejado, Alvíssaras, augúrios e festejos. No poderoso rei, um delicado
Momento em que decerto vou entregue, Na calmaria intensa relampejos, Na luz que se deseja, sempre cegue..
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Arcando com meus erros e vitórias Jamais me arrependendo, sigo em frente. Lauréis entre derrotas tão inglórias Depois de tudo, em ti, ando contente.
Aprendo a cada dia em novo enfoque Olhar com mansidão este horizonte. Por mais que tão distante eu nunca toque A lua tão sublime enfeita o monte.
Porém quanto é possível perceber A magnitude plena deste amor. No dar sem procurar nem receber Felicidade expressa o seu valor.
Assim amar além e sem fronteira Uma emoção maior, pois verdadeira...
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Arcando com os desejos mais profanos, Encontro nossos corpos bem unidos. Os cantos que me encantam, nossos planos, Adentram noite inteira em mil gemidos.
Assaz feliz me fazes, saiba disso. Sou teu e neste sonho eu me entreguei. Amor quando demais não perde o viço, Amar é na verdade, a nossa lei.
Somando nossos corpos, peles, vícios, Salivas e sussurros noite afora, Amar não tem momentos mais propícios, Preciso de teu corpo, justo agora.
Inundações atlânticas rebentas, Paixões que nos dominam, violentas...
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Arcos e marcos, passos nesta escada. Abrindo uma janela ao paraíso. Vertendo em mil gemidos, nossa estrada Perdendo em teus caminhos meu juízo.
Nas cores de teu corpo eu me matizo, E quero tua pele transformada No altar em que percebo sem aviso A fonte do desejo iluminada.
Oráculos perfeitos, peitos, lábios, Meus dedos com certeza vão bem sábios Até que ao encontrarem teus regatos
Molhados nos rocios dos prazeres, Fazendo de teu corpo, em mil talheres, Banquetes divinais em finos pratos...
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Ardendo um corpo em febre, latejando As dores recebidas, desafetos. Matando as esperanças feitas fetos As facas dos canalhas dardejando.
O medo de viver vai se espalhando Marcado pelos fatos mais concretos. A vida permitindo sempre os vetos Daqueles que decerto vão roubando
Os sonhos desta frágil multidão Vendida nos palácios, nas Igrejas, As carnes sem valor e malfazejas
Não sabem discernir a claridade No aborto que se faz em profusão. Talvez só reste um rumo: uma amizade.
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Ardente sentimento diz do sol Que toma nossa vida e nos faz crer Quão belo e mavioso amanhecer Tomando em fantasia este arrebol.
Não quero ser somente um triste atol Que estando solitário, do sofrer Não pode uma esperança conceber De todas as belezas, girassol.
Assíduas emoções que se prometem Enquanto tais loucuras se cometem Fornalhas das perfeitas emoções.
O amor que nos domina traduzindo Um dia tão fantástico surgindo No fogo que não cessa, o das paixões...
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Ardente; a nossa busca não se encerra Somente num prazer tão corriqueiro, A fúria dos desejos paz e guerra Misturas deste insano feiticeiro:
O amor que vai cevando em fria terra Sementes nesta espécie de viveiro. O olhar extasiado já se cerra Pensando neste amor mais verdadeiro.
Silêncio, não se escuta nesta noite, O gozo tão fantástico, um açoite Cortando nossas carnes, nos lambendo.
Salivas e suores; compartilhas, Seguindo estes caminhos, belas trilhas, Até que o sol ressurja, amanhecendo...
68
Ardentes maravilhas que descubro No corpo da divina criatura, O matiz de um desejo é sempre rubro, Assim como os lençóis de seda pura.
Tirando a camisola, de mansinho, Os seios pontiagudos pedem lábios, E envoltos pelas tramas do carinho Sabemos ser decerto bem mais sábios.
As chamas enrubescem nossa cama, As tramas deixam drama para trás; Vermelhas maravilhas entre as pernas.
A moça tão gulosa que me chama Querendo todo o gozo que o amor traz, Conhece estas carícias tenras, ternas...
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Ardentes sensações que nos provocam, Espero logo ali, tão mudo, inquieto. Sabendo que somente me completo Nos olhos mais divinos que me tocam.
Carinhos e detalhes que retocam Um sentimento enorme e predileto. Marcando cada noite com afeto, Meus braços para os teus já se deslocam.
Numa exclusividade que não nego, Amor sendo sensível, faz a festa. Uma alegria imensa que se empresta,
Num sonho tão antigo que carrego. Abrir de uma esperança mais que fresta No colo de quem amo assim me entrego...
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Ardis nos quais preparas cada bote, O mel em tua boca diz ferrão. A lua se enredando em solidão, Permite que este sonho se desbote.
Ao ver tanta beleza em teu decote, Meus olhos se encantando. Mas em vão, Apenas em teus sóis a negação, Apagas do caminho cada archote.
E sigo pela noite tão sombria, Noctâmbulo fantasma da agonia Amordaçando um sonho a cada esquina.
Embora tantas vezes eu quis crer Que a vida seguiria em teu prazer, Porém tanto vazio me alucina.
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Ardores insensatos, mil segredos, Apaixonadamente estamos juntos. Percorrendo o teu corpo, vão meus dedos, Decifro teus abismos mais profundos.
E crio um mundo louco onde o prazer Se torna um aliado inseparável. Em tantas alegrias converter Amor que a gente faz, insuperável...
Paixão! Desejo! Sonhos... Vibrações... Materiais que formam nosso canto. Renovam-se loucuras, sensações, Vasculho teus caminhos, cada canto.
Verter cada momento de emoção, No toque mais veloz do coração...
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Areias escaldantes do deserto. As brancas testemunhas deste ocaso. Amor que traduzimos por incerto, Morrendo na tardinha, findo o prazo...
Um pobre beduíno, céu aberto, Espera pelo oásis, ao acaso. A miragem do amor, sem nada certo, Olhar pleno e distante, morto e raso...
Areias escaldantes desta praia Delícias de morenas e sereias... O sol enamorado já desmaia,
Casais semi-desnudos se acasalam, Desfilam seus hormônios nas areias... Camelo e beduíno, nada falam...
73
Areias que em tufões sendo tocadas, Vibrando em tempestades, se perturbam, Nas dunas de teu corpo, derramadas Marés que num momento nos conturbam,
Eu sinto nosso amor nos areais Que em força sem limites não sossegam E movediça senda quer bem mais Que simples dedos mansos que navegam.
Num misto de loucura e sanidade A sede de poder ser teu se instala E a carne sequiosa então me fala Da doce sensação, voracidade,
Prostrando meus desejos em teus braços, Areias e procelas, sem cansaços...
74
Arengas e discórdias, cordas frouxas, Governador careca, este fascista Relembra-me a canção: “Pobre paulista” Misturas que se fazem: velhas trouxas.
Culpados são vermelhos camaradas. No fundo a burguesia sempre fede, E enquanto à bala, a força vem e impede Bem mais de mil pessoas infiltradas.
Outrora um comunista, agora expõe A face que o Poder já decompõe Cuspindo sobre o prato que comeu.
Descendo a serra, chego à conclusão Que o galo, papo cheio, esquece o grão Arrota o caviar que o elegeu...
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Arenosos caminhos deste amor Que se perdem desertos e desterros, Vencendo duras urzes do rancor Subindo por montanhas e por cerros.
As pedras da saudade nos maltratam Espinhos-solidão nos ferem fundo. As lágrimas nos mostram e retratam O corte que percebo ser profundo...
Em meio a tantas vespas dos ciúmes Nas pragas mais terríveis, tanta inveja, Nos sobram poucas horas em perfumes Mas nada faz; enfim, que amor reveja.
Vencendo as desvalidas, más quimeras; Podemos conhecer as primaveras...
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Ares de muares são luares Que atares entre frases indecentes Se os versos são versões incoerentes Eu colho cada abrolho em meus pomares.
No molho furando olho risco bares Calandras são meandros destas gentes Assando meus temores em teus dentes Pescando desde quando calabares.
As cáries vão roubando cada esmalte Destilo teu amor em puro malte E cevo da cevada a solução.
Se eu vejo o teu retrato na parede Cerveja vai matando a minha sede Depois não vem pedir explicação...
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Argênteas doçuras, branca neve, Nestas trevas noturnas, um oásis... Aos poucos com carinho leve e breve Mudando sua face em tantas fases.
Dessas névoas, coberta, fino véu... Vagando solitária num deserto. Rainha maviosa do meu céu. Em seus braços futuro vai incerto...
Eu amo suas rendas, seu cetim. Em brancas, alvas luzes, me inundando. O bom de todo amor que existe em mim, Nas horas mais tardias, transmudando.
Beleza que me encanta, toda nua... Deitada em minha cama, amada lua...
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Argutas seduções do verso fácil, Da rima sempre pobre e sem primor, Por mais que um mundo nobre, farto e grácil, Tentara; inutilmente, recompor.
Sou ácido, meu canto é de aridez, Na seca permanente, me atrofio, E enquanto a fantasia se desfez Perdi do meu destino, cada fio.
Apago os meus sonetos. Os renego. São tolas expressões de um sentimento Que um dia, ao caminhante amargo e cego, Serviram pelo menos como alento.
Vomito sobre cada poesia Que uma alma transtornada, aqui desfia
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Armando nos beirais, um alçapão, Ascendo à força estúpida do sonho. Aonde, caricato, ainda ponho O pássaro senil de uma ilusão.
Verificando os erros do passado, Aleijo o que talvez fosse esperança. A louca servidão serve de herança A bola foi além deste alambrado.
Cercárias que carrego, cercanias, Acerca do que a cerca não impede. Nas mãos, as velhas flores já murchando.
Delírios se transformam em manias, Sem crédito e sem sonho que me vede O que restou de mim, fugindo em bando...
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Armarinho divino, pois que seja, Eu vendo qualquer cura ou um milagre Se a empresa do fiel foi pro vinagre, Ou se tua ferida inda lateja
Terá aqui por certo, o que deseja, Desde que este Pastor, com grana sagre. Se não tiver dinheiro. Ele fica agre, E assim ninguém terá o que se almeja.
Só dez por cento, além destas ofertas Que servem para a glória do Senhor. As portas estarão, garanto abertas
Para aqueles que cumpram seu dever, Sabendo que ao dinheiro tinha horror, Eu faço um sacrifício: receber!
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Aroma sem igual eu percebi Além do que cultivo na lembrança Chegando de mansinho junto a ti, Recebo o doce vento da esperança,
Não quero mais saber do que perdi Se um novo alvorecer amor alcança. Depois que em alegria eu conheci Alguém que me convida para a dança,
Não nego que encontrei felicidade, Vivendo o nosso amor, que é de verdade... Eu tenho esta alegria que eu almejo.
Não deixe que isso acabe minha amada, A vida sem te ter, resume em nada Eu quero o teu amor tão benfazejo.
82
Arpejos dissonantes e lascivos, Carnívoras vontades luz sanguínea, Tentáculos mordazes, decisivos Decifro de teu corpo cada alínea
Convulsos e frenéticos espasmos Numa expressão por vezes violenta Serpenteando nua, seus orgasmos A noite em explosões já se apascenta
Flameja-se esta insana atracação Os mucos misturados entorpecem. Letárgico opiáceo da paixão Esculturando as cenas que se tecem
Enlanguescentes raios emolduram Vorazes explosões que se procuram..
83
Arquitetara outrora, uma saída Que pudesse fazer do labirinto Somente algum vulcão há muito extinto, Mudando a direção de minha vida.
Minha alma, sem destino, distraída, Sabendo que deveras tanto minto, Vestindo a carapuça em que ora pinto Forjou a alegoria, vã, fingida.
Dos altos edifícios, sou o térreo, O amor que antes julgara quase férreo Esvai-se qual papel numa enxurrada.
Notícias do que fui? Já não as tenho, Sementes que encontrei no mar que embrenho, Morreram sem deixar qualquer florada...
84
Arranco as emoções, liberto o peito Fazendo dos meus versos, lenitivo, Nas tramas mais fantásticas meu pleito Mantendo o sentimento ainda vivo.
Se tudo o que pedi tivesse aceito O desgrenhado amor, porém altivo Derrama a solidão sobre o meu leito, De todos os desejos já me privo
E sigo em falsos risos, tropeçando, Não tendo uma esperança uma alma à toa, Apenas fantasia ainda ecoa,
Na busca insaciável desde quando O vento que julgara manso e brando Afunda a cada dia, esta canoa...
85
Arranco as velhas flores desbotadas Deixadas por acaso em meu jardim... Limpando o que pior existe em mim As hordas em penúrias disfarçadas.
As farpas entre beijos demonstradas, Não servem para nada, e sigo assim, Rolando como as pedras vou ao fim Das fúnebres e estúpidas estradas...
Relendo o que escrevi sobre este caso Entendo cada vez o nosso ocaso, E sei que a ocasião faz o bandido.
Semente apodrecida da esperança Brotando num momento de vingança Restando o coração, já desvalido....
86
Arranco com vontade o coração Um simples adereço sem valor. Não quero teu olhar de compaixão Melhor matar o velho trovador.
Rasgando com vontade e sem perdão, Meus olhos vomitando num louvor Incandescências tolas, erupção Num último soneto, ingênuo amor.
A fome de viver e ser feliz Morrendo neste palco, pobre atriz As mãos impiedosas e venais
Vibrando um golpe duro ao qual me presto, Eviscerado e cego sigo resto, Desfigurantes brilhos sensuais...
87
Arranco do meu peito o sentimento E deixo para trás esta emoção. O vento transformado em furacão Levando para longe o pensamento
Encontra o teu retrato e num momento Ainda roça leve, o coração Verso como uma espécie de oração Reflete o que se fez duro tormento.
Meus dias vãos passando mais dispersos Dizendo de outros tempos tão perversos, Tornando este cenário, então nublado
Quem dera se tivesse uma ternura, A senda do viver sem amargura Traria um novo tempo. Abençoado...
88
Arranco esta emoção e esmago o velho peito, Matando o que restou de um louco sentimento. Quem tanto se entregou, agora vai sem jeito Depois da tempestade apenas manso vento
Tomando qual posseiro, inteiro o pensamento. Qual fosse um viajante a cada curva espreito, Aguardo, tocaiando, um novo e bom momento Aonde em salto livre, invada o parapeito
E sinto, finalmente, o gozo libertário Que faz do amor sereno apenas ilusão. Não quero esta palavra algoz de um coração.
Arrancando de mim o cruel adversário Meu verso se faz forte e até mesmo mais duro Ao despolinizar, tornando-me, enfim, puro...
89
Arranco minha pele esmago os olhos, E mostro uma nudez mal disfarçada. Andando por caminhos com antolhos, Durante tanto tempo não vi nada
Senão uma promessa que em abrolhos Demonstra uma dureza nesta estrada. Que é feita um puro espinho, extorque os molhos Das flores que morreram na invernada.
Meus versos são mais rudes e venais Porém só se amenizam quando escuto Um laivo de esperança que me traz
Palavra carinhosa e mais amiga. Por vezes escondido no meu luto, Teu canto assim permite que eu prossiga...
90
Arranco o que restou de minha vida Dispersas emoções, pratos quebrados. Momentos fragilmente deslumbrados E o gosto nauseabundo da partida.
Jogado sobre as pedras e alambrados Quem sabe e reconhece não duvida, A carne latejante e apodrecida Ainda teima e, às vezes gera brados.
Aonde restaria o que não pude Trazendo como brinde este alaúde, Helmintos devorando o que sobrou.
Vertendo a fantasia em farto pus, Percebo mais suave a minha cruz Depois que a fantasia me deixou...
91
Arranco os olhos e bebo a tempestade Na vastidão do nada que plantei. Vestígios do que fomos nesta grade Marcando o que em verdade não busquei.
Embalo os meus resquícios, liberdade, E tento confundir, mas nem mais sei Se o vento vestirá tranqüilidade Ou mesmo matará o que sonhei.
Se há penas ou penhascos, não me importa, A mesma solução é reta ou torta Depende do que os olhos me diriam
Mas como os arranquei, apenas vejo A boca escancarando um vão desejo, Estrelas que distantes sempre esfriam...
92
Arranco os olhos falsos da pantera Vencida pela força da ilusão. Algoz da fantasia, sem perdão, Matando o que restou em fria espera.
Beber felicidade. Quem me dera. Vivendo ao deus-dará, sem direção, A culpa destroçando o coração, Não tenho mais nem flor ou primavera
Aroma putrefato, risco imenso, Nem mesmo em teu retrato ainda penso, Jogado na gaveta mais sombria.
Porém terrível fera não se cansa, Voltando a reviver numa lembrança, Um carrossel soturno, rodopia...
93
Arranco os podres galhos do arvoredo Que trago dentro da alma carcomida E assim procuro crer que uma saída Virá no amanhecer. Assim concedo
E parto num cometa. Sei segredo Que possa permitir na nova vida A sorte que julgara já perdida; Supero com firmeza o velho medo
Refaço dos escombros a jornada Que tantas vezes, nunca deu em nada, Espero após a poda; o florescer
Apóio os cotovelos na janela, E o sonho que em teu sonho ora se atrela Talvez inda me trague algum prazer.
94
Arranjo alguma chance, nada além; Dos olhos feitos lanças, serviçal. Ao par que se perdeu não quero o mal, Mas posso confessar, não quero o bem.
Reflito sobre o espelho que ora vem Falar do quanto sou frio ou boçal, À velha fantasia digo tchau, Cremando o que restou, sobra ninguém.
Dispenso a tola ajuda da ilusão, Nem cálices nem bares, volto ao chão De tantas pedrarias, queda à vista.
Arrebentando assim minhas correntes, Trazendo a faca presa entre meus dentes, Fingindo ser somente algum turista...
95
Arranco vorazmente do meu peito As marcas deste amargo sentimento. Amor já se perdendo num momento, Teria o meu caminho satisfeito.
A noite se aproxima do meu leito Trazendo entre neblinas, duro vento, Teu rosto sobressai no pensamento. Risonho, neste instante, tudo aceito...
Depois tanto vazio me tomando, Aguardo alvorecer em vento brando, Persiste o mais temível vendaval.
Quem dera... Mas o sol inda não veio; O rio se perdendo do seu veio, Recebe do teu mar o fel e o sal...
96
Arrasta-me depressa, a dura correnteza Mostrando minha sina, eterno perdedor, Farrapo a me cobrir, frágil aquecedor Expõe a minha face, e nela uma certeza.
O dia que virá, imerso em tal tristeza De novo me fará um mero sonhador. Catando o que me resta um corpo exposto em dor, Jogado friamente aos mares da incerteza.
Somando o que eu já tive; eu vejo muito pouco, Andrajos que carrego, um riso insano, louco, Gargalho como um rude em vagas ilusões,
Afago em ironia, os olhos da serpente E bebo a fantasia em risos de um demente Sentindo o frio intenso em vagas tentações.
97
Giros arrastados na cantiga, Na roda que me deste nada fiz... As mantas que me cobres, forte viga Sustenta quem amou, foi aprendiz...
Não vejo nem desejo que consiga A mão que se caleja nada diz, O medo que me impede que prossiga, Fornalhas que incendeiam, céu mais gris...
Nas bordas dos recôncavos estrias, Nas cordas das sonoras melodias, Nos bancos que me trazem teu passado.
Nos cancros que causaste sem perdão. Amor que me percorre aliviado Explode num momento, o coração!
98
Arrastando correntes pelas ruas, Esfolo os meus joelhos na ilusão. Minha alma na total putrefação Procura na rapina carnes cruas.
Selando o paraíso que cultuas Eu trago o meu olhar de servidão, Porém sem ter sequer calefação No inverno que eternizas, continuas.
Helmintos me devoram; sorrateiros, Os olhos dos amores rapineiros Eu sei que são agudos, frias garras.
Os lanhos que ganhei, sublime herança, A morte talvez traga a temperança Rompendo assim as últimas amarras...
99
Arrastas mendigando um gozo pleno, Vergastas estalando em tuas costas, Afastas me entregando como gostas As pernas, me chamando em louco aceno.
Penetro com meus dedos cada loca, Rasgando com furor e tu deliras; Pedindo como escrava que te firas, Teu corpo aprisionado me provoca
E chama para o gozo feito em dor, Maltrato tal cadela que gemente, Delira nos meus braços tatuada,
Marcada a ferro e fogo, num torpor Numa explosão feroz e intensa sente Prazer como uma fera alucinada...
3200
Arrastas o teu corpo moribundo Por entre os espinheiros que cevaste. Um ser tão desprezível vaga o mundo Expondo assim seu cerne em vil desgaste.
Um verme simplesmente, nauseabundo, É tudo o que em verdade te tornaste Morfético canalha, ser imundo Com o lodo jamais fará contraste...
E teima em respirar, tal criatura, Cadáver ambulante, decomposto, O olhar que rapineiro vai exposto
Incrível que pareça; isso perdura, Um dia foi humano, hoje este bicho Entranha-se no esgoto. Resto e lixo...
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