
O MAIS QUE SOU
Data 23/11/2010 10:46:29 | Tópico: Poemas -> Introspecção
| Não sei se morro se permaneço Nesta angústia velada Como o cadáver espera a sepultura…
Vou Ainda que sem caminho Aos encontrões com a vontade Dando tudo, querendo tudo E ao mesmo tempo Morrendo tão cedo…
O eu lutador de todas as lutas ideológicas Cabeça erguida, sorriso resplandecente Dá lugar à brancura obscena da carne morta Ao odor putrefacto de quem deixou a vida Num misto de loucura sem mistério!
Mas vou… como quem indo fica Como quem procura na ânsia da ausência Um mistério esclarecedor Para justificar – não a vida partida Que se evidencia no medo de ficar - Mas o excessivo pulsar No tubo de ensaio da solidão.
Permitam-me que chore todas as mágoas De que me lembre Todos os traumas Que por bem me saciem Que mate em mim a retórica que fui – Cadastrado da vida Enforco-me em cada palavra Quero ser feliz à força de loucura E suicídio!
Porque a loucura é um mito!?
Da grandeza dos sonhos que nos fazem grandes O soslaio de um pedestre Que corta os pulsos com o punhal do tempo E não sangra porque o sangue coagulou… A miséria humana Deixada num saco de plástico Ao lado do contentor vazio…
Insistir na fictícia verdade Não é ter mais que essa grandeza de vento Exposta no museu de mim À insanidade de um público descrente… É o círculo vicioso da estupidez!
Sou grande à força de nada ser! Cresço como erva daninha num deserto Convivo com répteis e aridez Convencido que o mundo é pleno…
Pleno do lixo que me queima por dentro! Pleno da exaustão que corrói as entranhas! Pleno da desgraça que aos poucos constrói!
Nada quis… Ou tudo quis… Sei lá!? Talvez na ânsia de mostrar ao mundo A imagem do espelho que lhes reflecte Esqueci-me de mim num beco qualquer Sem vontade, dor ou sentimento Qualquer coisa que me fizesse mais humano À margem do descontentamento!
Nada fui… Nada sou… Nada provei! Afinal Como um pedinte pelas ruas Emagrece no ódio que por mim verte Sobre culpa que desfaz o ego E o transforma em martírio Nas desculpas que invento Para poder sentir uma culpa maior E assim perder-me mais uma vez Em todos os caminhos que não sou eu Não trilhei, não estive, nem fui!
Morro aos poucos na ilusão duma heroicidade Que me perturba a medula e dilacera Sem temor, sem raiva, sem piedade!
Sou o que sou e não sou nada! Quis o que quis e não tenho nada! Que mais me resta querer ou sonhar?
Aos poucos tudo vai perdendo o interesse Como se o mar fosse apenas um substantivo E a vontade um verbo impessoal…
O mais que sou… É igual!
antóniocasado
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