
O PORTEIRO DO MEU PRÉDIO
Data 20/11/2010 12:36:46 | Tópico: Poemas
| . O PORTEIRO DO MEU PRÉDIO
Viajou no improviso No impulso sem esteio Impelido pela saturação Queimado pelo desespero O fez sem um puto no bolso Sem juízo ou endosso de alguém...
Primeiro deslizou pelas canoas, Depois brigou por comida Por fim desfilou de pau-de-arara Em direção à essa patifaria (Ilusão por tantos bem-falada) Das riquezas do sul maravilha
Passou fome e sede Dormia por exaustão Acostado numa rede, Deitado em papelão Ao relento, no calçada No contrapiso das marquises Em construção
Mastigou farinha de mandioca Só ela, seca Sem o dente do siso Sem o dente canino Sem os incisivos Sem dente nenhum Isso e muito mais...
Agora, depois de Engolir o pão amassado Pelo próprio satã E agradecer aos céus Por poder comer Virou porteiro Aqui do meu prédio...
Ele diz que hoje Finalmente tem dinheiro (Pouco, mas tem) Para comprar seu alimento Jogar sua sinuca, seu truco (Que aprendeu aqui no sul) Tomar sua cerveja gelada...
Conta que, para ele, Que nunca teve nada "Nem uma panela furada" - frase dele - E do jeito Que a coisa anda Está muito bom...
Reafirma sempre Com olhos vidrados, Escuros, Sofridos (Mas ternos...) Que é feliz com a mulher...
Agora estampa um sorriso largo De dentes alvíssimos e retos Sorriso que comprou Em dez vezes (Essa é uma alegria dele)
Ele ama conversar e rir E mostrar que tem boca (Nunca o vi reclamar De nada, nada Apesar das dores, das marcas Que não são poucas)
Pois é... Esse é o Porteiro do meu prédio, Seu Esteves... Ele é a real gente De carne e osso (e dentes), e sonhos, quantos sonhos Desse meu país, Brasil
Seu Esteves é negro, Nordestino, banguela, coxo, pobre Tudo o que os poderosos daqui Abominam ver, sentir, perceber E ele é, sim, (Estranho paradoxo) feliz...
Mas sou eu, Que ele acha burguês, Que aprendo com ele A jamais prejulgar alguém...
|
|