
MEUS SONETOS VOLUME 001
Data 14/11/2010 07:47:15 | Tópico: Sonetos
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A cada aniversário Um tempo mais diverso Aonde eu me disperso E sei do necessário Caminho imaginário Embora mais perverso E nisto quando verso Refém deste cenário, Esboço envelhecer E sei do desprazer Ousando a cada engano E o todo se mostrara Na farsa que se ampara Enquanto em vão me dano
2 A cada amanhecer O sol se renovando E o tempo desde quando Pudesse perceber Gerando o bem querer Ou mesmo desarmando O quanto desdenhando Meu mundo a se perder. Já não consigo a paz E sei que o quanto traz Desfaz cada momento E deste desenhar Apenas o lutar Traduz o desalento
3 A cada ausência tua O todo se desenha Na face aonde a senha Além não se cultua, Presumo o quanto atua E tudo não convenha Marcando o quanto venha A sorte se efetua Vagando no passado Aonde quero e brado Vestindo esta ilusão, Depois de certos anos, Os dias mais profanos Os tempos me trarão.
4 A caça que se faz Nos ermos dos meus sonhos E os dia mais bisonhos Ausentes desta paz, No corte mais audaz Os olhos enfadonhos, Aonde os quis risonhos A face é vã, mordaz. Esbarro nos meus erros E sei destes desterros Nos cerros de além mar, Demônios cultivara E assim nesta seara Não pude mais amar.
5 A cabeça rodando E o tempo se revela Aonde esta procela Transcorre em ar infando, O sol não vejo quando A morte sempre sela E traz na dura cela O tempo já nevando. Ocasos entre casos E os dias seguem rasos, Vazios sem ninguém Do todo que quisera Apenas esta fera Imensa, ainda vem.
6 A brisa matinal vem me tocar Fazendo no meu rosto uma carícia, Roçando minha pele devagar, Com toques tão sutis, uma delícia. Recebo neste vento o teu carinho E sinto uma alegria sem igual. Amor quanto adentrou em meu caminho Da forma mais suave e natural Mudou a minha história com certeza Deixando minha vida bem mais leve Nas águas deste amor, a natureza Trazendo a mansidão que já me enleve E faça de meus olhos sonhadores, Cativos para sempre dos amores...
7 A brisa chega mansa e vem falar Do amor que tantas vezes fora um sonho, O encanto que me trazes e proponho Tomando a nossa vida devagar. Deitando sob os braços do luar, Deixando este passado tão tristonho, Um verso enaltecendo amor; componho, E sinto a poesia nos tocar. De mansinho, teus passos nesta escada, A porta do meu quarto; sempre aberta, Promessa de uma mágica alvorada Um dia em raro sol, beleza pura, A brisa me avisando num alerta Que a noite será plena de ternura.
8 A bosta da internet caiu de novo, Eu quero te falar, mas não consigo. Estorvo se transforma em desabrigo. E aqui sem ter ninguém, teimoso chovo. Não posso te dizer que ainda provo O quase que jamais se faz amigo. No fundo desdenhoso eu já nem ligo, Se tenho ou se não sigo quebrando ovo. Assando esta batata feita amor, Não posso mais dizer que enfim tou frito Se eu quero te falar não sei se grito Ou deixo este caminho e vou propor Que ligues para mim, meu celular Aguarda uma resposta. É só ligar...
9 A bossa do boçal faz lamaçal Aonde poderia pá e cal Fazer do meu caminho ritual Morrendo sem tempero, busco o sal. Enquanto viajar por outro astral, O vento se mostrando canibal, Realça o que eu queria bem ou mal. Não posso permitir tolo jogral. Abarco o pensamento e solto a nau Subindo escadaria em vão degrau, Degrado o que seria triunfal Matei tua figura divinal Escarro em teu cadáver. Meu bornal Esconde o que seria desigual...
10 A bossa do beócio é ter um sócio Na parte feminina que lhe cabe. Juntando uma vontade com seu ócio A pobre cidadã de tudo sabe Apenas mal percebe que o beócio Vagando quer demais antes que acabe Nem que se der vontade, amada force-o, Senão pobre infeliz, talvez desabe... Versões de várias vidas diferentes São quase repetidas como um todo. Esgotos não se afastam mais do lodo Nem deixam perfumar mais a cidade. Desejos que se fazem tão prementes Jamais retornarão felicidade...
11 A borboleta voa em liberdade Sem ter a falsidade da andorinha. Que migra todo tempo, tem saudade, Mas mesmo em denso bando, vai sozinha... Se quer a borboleta companhia Do triste e amargurado passarinho. Sabendo que voando todo o dia, Distante sempre está, mesmo do ninho... Porém essa andorinha anda tão tonta Com marcas doloridas, cicatrizes... Não pense borboleta que ela apronta Apenas nunca viu tempos felizes... Mas foge a borboleta na amplidão, Uma andorinha nunca fez verão!
12 A boca tão voraz que te descobre Entregue em mil lascívias, languidez. A pele delicada que me cobre No contato integral, nossa nudez. Insensatez profana e divinal, Desejos se misturam, lambuzados... No toque mais profundo e sensual Dois corpos por si mesmos, devorados... A noite fascinante não termina... Volúpias não se bastam, querem mais... O gosto desta boca determina Que o tempo nunca passe... amor... jamais... Na letargia mole de nós dois, Cigarros e carinhos do depois...
13 A boca quer a boca e se reboca Na toca que se entoca touca e tato Ministro quando quer a tapioca Depois de certo tempo é caro prato. Aparto cada porto que se importa Na porta dos meus olhos, vagabundo. Aguando com sabão a moura torta No quanto em teu retrato náusea abundo. Se a banda tem dobrado os teus joelhos Abrandas bandalheiras usuais Em talhos entalhados meus espelhos Sem bossas em verdade são boçais. Basilisco comido no jantar Repente repentino faz pensar...
14 A boca que vomito é minha lei, Nos pratos que apodreço, meus remédios... Verdades que senti, não te direi. Os olhos , os amores, plenos tédios... Teus seios semi-expostos, meus assédios... O monte que me estrumas, esperei. E Cuspo, escatológico, teus prédios. Se queres, na verdade, nunca amei... Aliás, meu temor são teus sorrisos... Os guizos e palhaços andam, cerco. O verso que te fiz, só serve, esterco. Os olhos escarrados, ambrosia. As dores que fingiste, tantos risos... Lágrimas vão causar hemorragia!
15 A boca que se mostra exploradora Não sabe de fronteiras quer bem mais, Meu corpo num desejo que se aflora Encontra estas carícias sensuais Que sabem o que querem, sem demora Fazendo estes carinhos magistrais Mulher que dos sentidos se assenhora Percebe como o amor é bom demais. Matando a minha sede em tua língua O amor que a gente quer não morre à míngua, Pois vive com certeza, saciado. Estou aqui aflito nesta espera Aguardo pela boca da pantera Querendo ser inteiro, enfim, beijado...
16 A boca que reboca não me toca Carrega suas manhas para o fim... A vida que embrenhei no breu da toca, Nas noites que mataste dentro em mim... Recebo as sensações da dura roca, Quem dera não tivesse tudo assim, Amor que não me leva, me reboca... De distantes estrelas donde vim... Não voltarei jamais de minha senda. No caminho, lembranças que se aplique Amor que não me leva, uma moenda... Não quero nem te peço, jamais fique... Amor que não me leva, traz a venda... Quem sabe então fazer um piquenique...
17 A boca que queria micareta Perneta se fez alho e quer beijar. Botando toda coisa no lugar Apenas o luar não me repleta. Quem dera se eu pudesse ser poeta Ao menos poderia me entranhar Sem nada que viesse me estragar, Comida entre tais coxas, predileta. Se é tarde o que não veio não retardo Apenas no verso qual petardo Um tapa no pescoço da ilusão. Capacho na verdade nunca fui, Macaco dentro em mim quando evolui Mineiramente mata de tesão...
18 A boca que me cospe? A que assim seja Nas horas que procuro, sempre escapa... A mão que acaricia dá um tapa, Quem me maldiz também, louca, deseja... Quantas vezes, carícia que corteja Quem me segura, empurra e cai, derrapa Quando Copacabana finge Lapa. Se não arranha céu, sempre rasteja... A rainha se faz de camponesa, Mal me devora, espera a sobremesa... Nunca se faz presente, mera ausência Quando ajoelho pede por clemência... Mas quando peco, nega o seu perdão Diz mente desmentindo o coração...
19 A bela sensação de ser feliz Ousando quando posso ser assim Riscando este cometa vejo o fim Além do que pudera ou mesmo quis Buscando a minha história, por um triz Acendo do caminho este estopim Vagando do começo chego assim Ao todo quando a vida contradiz Vestindo a fantasia que me cabe Bem antes que este todo venha acabe O passo se desvenda noutro engodo, Arcando com meus erros mais comuns Os dias mais sinceros, têm alguns, Os outros entranhando em lama e lodo.
20 A arapuca que armaste, minha amiga No fundo uma armadilha sem proveito E quando na verdade eu não aceito A sorte se desenha e desabriga. O peso se moldando inda prossiga Traçando deste medo todo o leito, Marcando o meu caminho em turvo pleito Ainda que pudera e não consiga. Espero qualquer dia ou qualquer hora O tanto quanto quis e não se aflora Marcando em insolência cada passo, E quando mais pudera ser de fato O parto aonde o todo mal retrato Traduz este cenário mais devasso.
21 A bela madrugada em lua plena A sorte desenhada noutro encanto O passo desvendando o que garanto E a morte noutro rumo enfim acena, A sorte que pudesse e me serena No caos se transformando, desencanto, A vida desnudando o velho manto A cada nova queda me condena. Espero ser assim um logo após Do todo desenhado um ser atroz Tomando com firmeza cada ponto, E o caos se originando do desejo Apenas o passado inda vejo E neste delirar prossigo tonto.
22 A bruma deita sobre cada sonho E o pássaro liberto da esperança Ainda quando além voando, cansa Traduz somente o engodo que eu proponho Refaço este caminho mais bisonho E o tempo se perdendo em vã lembrança O quanto se mostrara em semelhança Agora traz um cais mais enfadonho. Esqueço dos meus dias, sigo aquém Do quanto poderia e nunca vem, Audaciosamente sigo assim, Mortalha da alegria, medo e chão Os dias mais doridos que virão Matando o que restara vivo em mim.
23 Crivando de esperança cada verso Aonde a sorte fez a fortaleza A vida se demonstra sem surpresa E quando vejo a dor, eu desconverso. O pânico se desenha em ar perverso E o corte se moldando sobre a mesa O sangue se esvaindo em sobremesa E o manto se desnuda, e assim disperso Não pude controlar qualquer cenário O mundo se traduz imaginário E o tempo não sossega um só segundo E quando me percebo sem ninguém, Apenas o vazio me contém Nos ermos do infinito eu me aprofundo.
24 Já não me caberia mais sentir Sequer o doce brilho da esperança E a vida não propondo outra aliança Matando em nascedouro algum porvir. Quem dera se eu pudesse presumir O todo se mostrando aonde avança E traz a fúria espúria da lembrança Roubando desta sorte um elixir. Escassamente vejo o teu retrato E sigo o que deveras mais constato Ousando no vazio que inda vem, E sei que tantas vezes me enganara E a sorte se mostrando mais amara, Marcando o dia a dia com desdém.
25 Um copo d’água apenas, nada mais E o resto se desenha em tom venal O parto sonegando o sempre igual Desenho aonde o tempo diz cristais Moenda da esperança, mas jamais A vida se mostrara em ritual, Mortalha se transforma em tempo tal E nela se desdenha a sorte e o cais. Espero que algum dia surja após A sorte derradeira dentro em nós Amortecendo a queda de quem sonha. Negando o meu caminho em tom sombrio Os ermos de meu canto eu desafio E sei da sorte amarga e mais medonha.
26 A bela adormecida, esta alegria Ainda não se vendo em tal espelho E quando a cada dia me aconselho Caminho noutro tom se perderia. A morte na verdade, nada adia, O olhar se perde aquém, segue vermelho E quantas vezes tento e sei me engelho Nesta enrugada face em fantasia. Esvaio a cada instante um pouco mais, Restando dentro em pouco os funerais E os erros costumeiros de quem busca Tentando caminhar sobre os espinhos, Os dias são deveras mais daninhos Na estrada que bem sei atroz e brusca.
27 Já não comportaria A sorte que procuro Nem mesmo noutro dia Um tempo sempre escuro A velha fantasia Agora em ar impuro O tempo em agonia A vida sobre o muro, Esvaio no vazio E quando desafio Procuro apenas paz, Mas sei que nada vem Somente sigo aquém Do quanto o sonho traz.
28 Ouvindo a voz do vento Deveras me chamando Ainda o pensamento Pudera ser mais brando E quando desalento O todo diz do quando O mundo em sofrimento Aos poucos desabando. Esqueço cada passo E tento novo rumo, O tempo mesmo escasso É tudo o que consumo E sei que neste traço A vida nega o sumo.
29 Capacho da esperança Meu verso se desenha E nisto a sorte avança E sabe a velha senha O passo em aliança Acende a brasa, a lenha, E o todo em confiança Deveras nunca venha. Vestindo a sorte aquém Do quanto quero e tem Sorriso de quem ama, Apenas o cansaço E o tempo aonde o traço Apaga a velha chama.
30 Não quero mais saber Do quanto poderia Pousando no prazer O todo não viria E o sonho de outro ser Na farsa moldaria O quanto pude crer Além da fantasia. Esbarro no passado E vejo o que alegado Já não coubera mais, Os dias são diversos, Porém meus vários versos Soando sempre iguais.
31 A cabeça rodando: álcool, cerveja, Nos velhos botequins... Tantas verdades... Mentiras deslavadas? Se deseja Em todos os momentos, liberdades. Se eu não vejo; eu não creio. E que assim seja! Sorrisos escondendo falsidades Destilando em conhaque tais saudades. Futuro que não vem, tanto se almeja. Apenas uma sombra desfilando Daquilo que passei há tanto tempo... Amores que se foram, contratempo, Mas resta uma lembrança, vez em quando, De toda aquela festa semanal, Na mesa deste bar, nosso ideal...
32 A caça que se faz quando bem quer Um dia se mostrando em outra senda, No rosto tão bonito da mulher Segredo que decerto não desvenda No quanto amor se entrega sem limites, Não vejo mais teus rastros pela casa. Eu peço e necessito que acredites A chama deste sonho está sem brasa E morre tão somente em frio intenso, Vertendo a dor em forma de ilusão. Parece que o amor é contra-senso Vazio aumenta a força do tufão. Não posso te esquecer nem um segundo, No abismo em solidão eu me aprofundo...
33 A cada amanhecer eu já te espero Aguardo a tua voz, ansiosamente, Em meio a teus carinhos, simplesmente Encontro o que sonhara e tanto quero. O amor que às vezes cega, tolo e fero, Nos braços desta musa, de repente Sabendo do que anseio, o bem pressente E nele a cada dia, eu me tempero. Trafegas no meu peito e me dominas Com tuas mãos suaves, mansas finas, Diamantinos ritos que clareiam Todos os momentos em que o sonho Além do paraíso que componho, Enquanto estes prazeres incendeiam...
34 A cada amanhecer quero e pelejo Tentando ser feliz, fazer o quê? Apenas esperando por você, Eu sinto que se esvai este desejo. Se um novo amanhecer; mais claro, almejo, O meu olhar vazio nada vê. Nem mesmo na esperança ainda crê. O gris do céu roubou seu azulejo. Levando de vencida a caminhada, Eu tento inutilmente, e já me canso. Quem dera se tivesse algum remanso Imagem repetida: o mesmo nada. Uma alegria, às vezes, mas fortuita Ao menos a ilusão inda é gratuita...
35 A cada aniversário eu já percebo As rugas me tomando, sem disfarce, De todos os presentes que recebo Apenas o vazio. Recordar-se Do quanto fomos livres e não somos, Beber da nossa doce mocidade, Os frutos que apodrecem, velhos gomos, É perceber mais clara a realidade. Mas mesmo que isto seja tão cruel, A festa que tu fazes, companheira Permite que esta vida em carrossel Transforme em ilusão mais verdadeira O sentido de toda esta festança, Um louvor em que acorde uma esperança.
36 A cada aniversário que fazemos Olhamos mais distante para trás O barco vai levando os mesmos remos, Porém novo desgaste já se faz. Desejo-te, querida que tu sejas Feliz a cada dia que viveres, Que as sortes te sorriam benfazejas Do jeito e da maneira que quiseres. Uma alegria mostre cada etapa Vencida nesta longa caminhada, Ninguém desta viagem, sei que escapa Mas vale a pena sempre viajar. Mesmo que te pareça estar cansada, Valerá sempre a pena o caminhar...
37 A cada anoitecer a mesma prece Pedindo que tu venhas para mim, Destino caprichoso agora tece Amor que se percebe forte assim. Tomando nossos corpos, mesma chama, Chamando para a noite intensa e maga, O quanto eu te desejo e já se inflama Fogaréu que a distância não apaga. Deitando sobre nós vital beleza Entorna suavemente uma esperança Vontade se mantendo agora acesa Teu rosto não me sai mais da lembrança; Eu te amo e nunca nego este querer, Quem dera teus carinhos, receber...
38 A cada instante o sonho é revivido Em viagens sensíveis, sensuais Da festa e do banquete comensais No pão e nos prazer bem dividido. Do vinho em fartos goles, bem servido Desejos tão profanos e carnais, Eu quero desvendar raros florais Altar em ar profético erigido. Egrégia sensação em nobre incenso, No quanto em reais sonhos recompenso Com fartas emoções a quem me traz A boca que em deidade me sacia, Esplêndido cinzel que em alegria Esculpe a maravilha erguida em paz...
39 A cada instante penso mais em ti Distante de teus olhos, que saudade! O mundo mais perfeito eu conheci Nos braços deste amor/felicidade. O gosto desta boca que senti Me dando a dimensão desta verdade. Vontade, meu amor de estar aí. Contigo eu concebi sinceridade. Beber de cada gota do sorriso Que trazes como festa que não pára. Nos braços deste amor eu me harmonizo E sinto minha sorte bem mais perto. Amada minha perla, jóia rara. Meu peito ao nosso amor, pra sempre aberto...
40 A cada noite imerso em tal saudade, Eu vivo intensamente: imensa glória. Retida tua imagem na memória, Um vento em calmaria já me invade. E posso imaginar felicidade, Mudando todo o rumo desta história. Por mais que a realidade seja inglória, Tua presença traz tranqüilidade... Poder guardar nos olhos, nas retinas, As mãos tão delicadas, belas, finas Roçando a minha pele, frágeis dedos... Dizer que fui feliz e não sabia Talvez pareça até uma heresia, Saudade faz viver velhos enredos...
41 A cada nova estrofe sempre exclama O coração decerto doentio, Ao suportar o duro e forte frio Procura no teu corpo, acesa chama. Cobrindo minha pele com a lama Na chuva que anuncia um novo estio, Não vejo nosso amor mais por um fio, Sabendo que o carinho já nos chama. Mergulho cada beijo em tua pele, A sensação do gozo me compele A ter o teu amor mais plenamente. O rumo se extravia, mas retorna Meu coração de ti nunca se entorna Ao ver amor tão puro, claramente.
42 A cada nova noite um espetáculo Marcado pela leve transparência, Das mãos sempre vorazes um tentáculo Procura com delícias a dolência Do doce balançar de teus quadris, Na gula em que voraz eu me vicio, Orgástica loucura pede bis Gerando e recriando eterno cio. Perfaço com loucuras a viagem Por entre tuas sanhas, belas sendas, Na nudez encontra tal roupagem Dois corpos vão atados, sem emendas. A lua emoldurando da janela A cena que em delícias se revela...
43 A cada novo beijo em ti, mais penso No amor que se fez nosso e ninguém nega, Decerto deste sonho eu me convenço Enquanto alma deseja e assim se apega Ao mesmo tempo aberta essa janela Refestelado sonho me inebria. O quanto eu te desejo se revela E invade sem demora, a poesia. A vida transcorrendo sem entrave, Imersa em alegrias e prazeres. Carinho delicado e tão suave Do jeito e da maneira que quiseres. Amor em perfeição puro e sincero, Do mel de tua boca eu sempre quero...
44 A cada novo beijo, outra falseta E assim nós prosseguimos vida afora. Quem mama, na verdade é porque chora A sorte não se cansa em pirueta. O quanto se prepara em nova meta Menina de meus sonhos se assenhora. Vontade aqui ficou, não vai embora Por mais que veja a morte pela greta. Mergulho no vazio e quebro a cara, A sorte em nossa vida é coisa rara Prazer então? Apenas ilusão... Vencido pelo tempo e por cansaço, Deitando mansamente em teu abraço, O rio não tem mais inundação...
45 A cada novo dia; demonstrada, Fantástica emoção toma arrebol Vontade de tocar teu corpo, amada, Singrando por teus mares, ser teu sol, Manhã de nosso amor, cedo raiada, Guiando cada sonho, um girassol. A lua se entornara na calçada, Buscando o teu olhar, raro farol Assim percebo o quanto eu te desejo, Nosso sonho infinito- amor- almejo Enquanto a fantasia continua Vencendo os descaminhos, sigo em frente Beleza que se quer e que se sente Ao vislumbrar a deusa, agora nua...
46 A cada novo dia se agiganta O mar em que desejos aprofundo O brado feito amor já se levanta Espalha sobre a Terra um bem profundo, A dor para bem longe, amor espanta, Mudando a minha sorte num segundo. Minha alma extasiada, assim se encanta, Nas águas deste amor, enfim me inundo, E canto meu futuro venturoso, Tocado pelo amor em pleno gozo Cevando um claro tempo deslumbrante. Vivendo o que me resta em plena paz Amor que nos domina e satisfaz Nos olhos da morena provocante...
47 A cada novo dia te esperando... O trem da minha vida não descansa. Não sei nem se suporto ou até quando resistirá um resto de esperança. Ouvindo o trem de ferro vir chegando o meu olhar, destino, não alcança, eu penso em tua voz já me chamando; mas nada, nada e nada... Minha alma cansa. Mas volta pra estação num novo dia, refeito do vazio que encontrara. Ó prenda, meu amor e fantasia; quem dera se viesses neste trem. Porém, vai novamente e nunca pára, restando esta esperança que já vem...
48 A cada novo dia, renovada Uma esperança feita em juventude. O sol vem renascendo em alvorada, Trazendo a cada sonho, uma atitude Iluminando sempre a mesma estrada, Embora o calendário sempre mude. Singrando por espaços, ilusões, Vivemos deste sonho em mocidade, Abrindo com carinho, os corações Alçando sem limites, liberdade. Sangrando nas loucuras das paixões Podemos perceber felicidade Na boca da manhã que nascerá No sol que eternamente brilhará...
49 A cada novo dia, mais contente, Canteiro em profusão, perfeitas rosas, Um sonho mais feliz, vida consente, Distante das outrora temerosas Tempestas num vazio penitente Agora em emoções maravilhosas, Futuro mais suave se pressente Nas mãos das emoções tão caprichosas O sentimento ganha da razão Na força desmedida, uma paixão Que chega e que nos toma por inteiro, Nos olhos de quem amo, farto brilho, Caminho alvissareiro, cedo eu trilho Na busca deste amor mais verdadeiro.
50 A cada novo passo, decidido; Por mais que ainda pese o que passei, Vislumbro nos teus olhos bela grei, Legando ao sofrimento: adeus, olvido. Enquanto me defendo se eu agrido A culpa é do fantasma que criei, Verdade que jamais desafiei Escondo-me das trevas na libido. Abarco os pesadelos e os persigo E saibas que prefiro estar contigo Mesmo que a solidão me atraia tanto... Deixando meus vestígios no caminho, Ao menos nos delírios de um carinho Terei ingenuamente um manso manto...
51 A cada novo tempo que começa Recrio o que perdi não sei aonde. A história descarrila, vou sem bonde E tudo vai correndo mais depressa. Enquanto o dia-a-dia, adia e engessa Não tendo fantasia que me sonde Nem saia de mulher que ainda esconde Percorro o que me resta sem promessa. Seria o que talvez não fosse mais Se o mote que tentasse resistisse, Sem ter braço moreno que cobice As horas sei que são assim, iguais. Mas temo o que virá depois da curva, Enquanto a tarde vem nublada e turva...
52 A cada novo tempo, uma estiagem Diversa da que tive no passado, Vigores se perdendo na viagem, Contemplo o que deixei abandonado. Mas vejo que talvez uma esperança Mostrada num festejo, refletindo O quando vicejei, viva lembrança De um temeroso, embora lindo. A cada aniversário uma ansiedade Da conta que se torna bem menor, Mas vale pelo sonho e lealdade Daqueles cujo amor se faz maior. Desejos de bonança e de alegria Ajudam a viver a fantasia!
53 a cada novo toque sensual o nosso corpo em transe, frenesi. no quanto eu te desejo e sei de ti o amor se demonstrando sem igual. não mais um simples gozo casual um mundo em fantasia, tenho aqui, beleza em plenitude descobri num sonho que se torna ritual. Bem mais do que um momento, muito além, mergulho nos teus mares e naufrago bebendo dos prazeres cada trago, perfeita sincronia eu sei que tem, nas tramas que traçamos, peito aberto, aguando de esperanças, o deserto...
54 A cada vez que acendo meu cigarro, Um ex-fumante chega e já reclama. E tenta não deixar acesa a chama Reclama até de dentro do meu carro. Em todo santo dia já me esbarro Eu não escapo mais da mesma trama. Até você meu bem! E diz que me ama. Deixem-me em companhia do pigarro. O câncer que virá, se der eu trato, Mais fácil que curar sujeito chato. Só peço, por favor, me deixe em paz! A vida? Perderei nem sei se urgente. Um fumante incomoda muita gente? Ex-fumante incomoda muito mais!
55 A caixa de remédios tá guardada Escondida num canto desta casa. Se a fantasia há tempos vai mofada A mão de uma esperança sempre atrasa. História porcamente mal contada Com a verdade nua não se casa. Porém uma alma tola, apaixonada Sem ter mais coerência se defasa. Também pra quê pensar em suicídio? Amor quando se perde sem dissídio Assíduas ilusões jogo no lixo. Não quero a serventia de um remédio, E mesmo que inda morra aqui de tédio Prefiro a te buscar no antigo nicho...
56 A caravana segue o seu destino Embora os cães ladrando não se cansem, Enquanto estas estrelas nos céus dancem Bebendo dos seus brilhos me ilumino. A saga continua mesmo que Em meio a barricadas e armadilhas, Deslindam-se sobejas maravilhas Das quais a poesia sabe e crê. Enquanto cicatrizam-se as feridas, Por mais que nos pareçam tão perdidas As estradas nos levam para o cimo. Ao fundo, este horizonte azulejado Pra trás ficou o dia malfadado, Das pedras atiradas? Sequer limo...
57 A carne apodrecida da esperança Vagando pelas fétidas esquinas Desilusão atroz quando me alcança No mesmo instante; os sonhos exterminas. Antigas lendas vivas na lembrança Explodem novamente velhas minas. Nem mesmo a noite tépida me amansa Cavalgo meu cadáver, suas crinas. Esgoto as ilusões, redemoinho, Persisto embora saiba estar sozinho Catando o que sobrou da fantasia De ter ao menos paz, tranqüilidade, A boca escancarada da saudade Vomita meus pedaços: agonia!
58 A carne sendo fraca me permite Fazer desta amizade, sacanagem, O quanto te desejo, dinamite Que explode num prazer feito miragem. Embora confiança deposite Fazendo assim um tipo de blindagem, Na bunda em remelexo já se admite Vontade de invadir tão bela imagem. De noite tão distante eu te imagino Desnuda em minha cama, bem sacana. Querência se fazendo desumana Sobrando tão somente em desatino, O mundo em que sozinho, eu me perturbo De noite o que fazer? Eu me masturbo...
59 A carta de alforria, eu bem mereço Depois de falar tanto em nosso amor. Se o verso prometido num tropeço Tropeço em teu encanto sedutor Errando novamente de endereço Mandei pra moça errada a cara flor Virando minha casa assim do avesso Não tenho outra barganha a te propor. Eu venho oferecer o meu pescoço, Comendo mais voraz vai sobrar o osso Perfeito pra lamber, pois dá caldinho No rosto mais guloso da vampira Olhar apaixonado sempre gira Mostrando rara forma de carinho.
60 A carta mais pedida perde o senso E nega o meu mergulho pelas trevas. Do mar que outrora vira enorme, imenso, As hordas de alegria, novas levas. Seguir este passeio sempre tenso, Durante o que querias, mas não levas, Agenciando luzes, não mais penso No quanto em vão delírio ainda cevas. São breves os momentos de emoção, Mas tanto que me marcam, sei eternos. As luas se escondendo em meus invernos, O sol ainda queima sobre o chão. Querendo ao fim da tarde, a lua cheia, Eu morro sem ter praia nem sereia...
61 A carta que mandei, não recebeste, Por isso é que tu falas deste jeito, O amor do qual com fé eu me deleito Se grito para o Sul vai pro Nordeste... Invés de falar tchê, cabra da peste Vagando sem destino errando o leito, Saindo com furor do mesmo peito A roupa feita em gala, ele já veste. Mas saiba que talvez eu volte logo, E trague o meu carinho verdadeiro. O amor, velho andarilho, este tropeiro Nas ondas deste mar se faz em rogo E mesmo que demore dias, meses, Enfrentará quaisquer duros reveses...
62 A casa abandonada me trazia, Criança curiosa não tem medo... Descobre sem querer, tanto segredo... A noite me deitava a fantasia... Volta e meia, pensava que podia, Tentava, me ocultava, saia cedo Na entrada de tal casa um arvoredo, Como fosse, da casa, um bom vigia... Na casa abandonada, nunca fui, Os fantasmas habitam o esqueleto... A roupa que vesti o tempo pui, Nada mais serviria por completo... Na casa abandonada, minha vida, Minha infância feliz, ‘stá escondida...
63 A casa abandonada sempre eu via, Criança curiosa não tem medo; Descobre sem querer qualquer segredo, E a noite sempre deita em fantasia, Volta e meia, pensava que podia, Mudar de minha história o seu enredo. Porém já me impedia um arvoredo, Da casa abandonada, um bom vigia. Por isso nesta casa eu nunca fui. Fantasmas haveria no esqueleto? A roupa da saudade o tempo pui, Nada mais seria por completo; Na casa abandonei a minha vida, Minha infância feliz? Vive escondida..
64 A cascavel balança o seu chocalho Porém minha mulher não manda aviso, E mesmo quando encontro algum trabalho A vaca faz inferno. Perco o siso. Não sou nem quero ser penduricalho De alguma liberdade, eu bem preciso. Por vezes, num tropeço eu me atrapalho, E finjo que não vejo ou causo riso. Queria ter do amor algum proveito, Quando, com a serpente enfim eu deito, Eu faço dos meus sonhos, meu afã. Quem dera se eu pudesse e peço à Deus! Laçar a desgraçada, e num adeus Mandá-la de presente ao BUTANTÃ.. 65 A cena que em delícias se revela... Dos seios da mulher bela morena Estende em minha cama a rara tela Que em gozos e promessas já se acena. Apenas a nudez que se desfralda Formando tal cenário inesquecível, O amor vai sem limites e se esbalda, Fartura que se mostra além do crível. Criando fantasias, jogos feitos, Numa expressão divina e sem pecado, Vontades e desejos são aceitos Em cada novo rumo desbravado. Assim, bisando audazes, nossos coitos, Galopes que se mostram tão afoitos...
66 A chama da chamada calmaria, Mais forte que imagina toda gente, Verdade que supera a fantasia, Ateia tanto fogo, de repente... É pleno nevoeiro espanta o dia, É frio que me queima fosse quente. Num eclipse total ao meio dia, Devasta em tais tormentas envolvente... A chama que se esconde me apavora, Não posso perceber sua chegada... Não diz nem quando chega ou vai embora Disfarça-se de calma mas é brava, Não nega nem sequer a madrugada, Vulcânica mas gélida essa lava...
67 A chama no meu peito a palpitar Moldando a minha vida, traz o tom, Aonde a minha alma a gargalhar Encontra a vida em festa. Isto é tão bom... As horas que perdi, abandonadas, Em meio a vida intensa que escolhi, Decerto ao esquecê-las, maltratadas, Previa que teria, amor em ti. Tu trazes no sorriso, um belo sol, Que invadindo o meu quarto, traz em glória A luminosidade de um farol, Mudando todo o rumo desta história De amores e tristezas salpicados Mosaicos em mil cores matizados...
68 A chama que em carinhos convertemos Felicidade trama; eu sei de cor. De tantos sofrimentos que tivemos, Sabemos escolher o bem maior. Amigos pela vida nós perdemos, Não posso te dizer qual o melhor, O barco não caminha sem os remos, Tampouco existe um canto a se compor Sem ter nos traços firmes de quem sabe O quanto desta glória inda nos cabe Permite que se sinta este poder De um sonho inesgotável feito em luz, Nos braços da amizade, amor reluz Trazendo à nossa vida, paz, prazer...
69 A chama que me chama em tramas ganha O gosto deste beijo em minha boca, A vida se mostrando em nossa sanha Assanha esta vontade quase louca De ter o teu desejo junto ao meu Untando nossas peles com luxúria Sabendo que bebendo amor se deu Fornalha que se espalha entranha a fúria. Procuro o teu perfume e lume eu vejo Sentindo a tua pele junto à minha. Na fonte inesgotável que eu almejo Debaixo dos lençóis amor se aninha E veste de nudez nossa vontade, Até que chegue enfim, saciedade...
70 A chama que se acende toda noite, Fazendo desta cama uma fogueira, Das bocas e das línguas um açoite, Na flamejante lua feiticeira. A par desta vontade que nos chama Pra festa interminável, tão gostosa, A fúria em vendaval que agora inflama Preâmbulos da luz maravilhosa Estrelas se derramam sobre nós, Fronteiras desconheço totalmente, O amor um amo ardente como algoz Cravando em nossa carne um gozo ardente Amar sem ter limites, nem juízo Abrindo este portal, diz paraíso...
71 A chave do sucesso é a fantasia E nela, as mais diversas esperanças, Olhando para trás vejo crianças Rompendo em liberdade manhã, dia. Felicidade, amiga, tanto urgia, Tramando com certeza tais mudanças, Enquanto mansamente, em paz, avanças, Espalhas sobre todos, poesia. Gravando cada cena em minha mente, Palavras que propagas tenramente, Garantem complacência e mansidão. Servindo aos teus propósitos, meus versos, Dos olhos sofredores, tão diversos, Miram; lacrimejantes, a amplidão...
72 A chuva cai... Recebo o teu carinho triste De quem amou demais e não teve perdão. De quem sabia que, depois, a solidão Se instala e toma cada espaço que inda existe. Eu estou aqui. Sei que nada disso importa Para quem sofreu e não sabe disfarçar. Eu posso prometer a terra e o luar, Tua alegria está atrás daquela porta. Eu bem que tento embora eu saiba não consiga Trazer uma esperança. Espero que prossiga Sem esse sofrimento inútil que domina. O meu verso calado, o peito está cansado De saber que não tens o amor tão esperado. Minha esperança, Olívia, a cor esmeraldina...
73 A chuva companheira tão amada, Não deixa de cair sobre o telhado. A noite forasteira está tragada Pelos meus olhos tristes, vou calado. Não quero mais saudades, dores, nada... Eu trago meus detentos, sou teu gado Na sombra maldição que foi gerada No desamor pintaste nosso fado! Me desculpe, pretendo que não chores... Nosso beijo sombrio, embriagado. No canto que temias nossa dor... A chuva cai feroz, nunca implores Pelo perdão que sempre foi negado. Embalde queres luz. Mas peço amor...
74 A chuva dentro da alma vem ligeira Molhando os olhos tristes da morena. A luz da nossa lua feiticeira Nascendo atrás do monte já me acena. A noite que virá em claridade, Promete uma beleza a polvilhar Os olhos de quem quer felicidade Deitada sob os raios do luar. Os pássaros da noite vêm chegando Mistérios entre trevas, vaga-lumes O vento da saudade me tocando Dama da noite entorna os seus perfumes... Dedilho uma viola sertaneja Amor em minhas veias já poreja...
75 A chuva disparando nesta tarde Inunda tantas ruas, tantos sonhos... A cor do meu amor, decerto encarde, Meus olhos nessa chuva estão medonhos! São olhos tão perdidos, de quimera... Olhando sempre a esmo, sem sentido. A morte deste amor em primavera Deixando uma saudade, triste olvido... Mas sei que a tempestade passará Trazendo uma bonança em alegria. O sol do novo dia me trará Uma explosão de cores, fantasia... A chuva, quando forte, faz limpeza Minha alma renovada quer clareza!
76 A chuva dos meus olhos sempre cai Fazendo alagação no teu barraco, O amor quase imbecil por ser tão fraco Aos poucos sem juízo já se esvai. Facínora que um dia foi meu par, Um brâmane se torna um beduíno. Um sentimento frágil, genuíno Não sabe nem sequer anteparar. Paragens coletadas na memória, O risco poluindo minha história Não deixa quase nada pra depois. Seria o que talvez pudesse crer Aquele que nasceu só pra morrer Nos lagos inventados por nós dois...
77 A chuva em teimosia, sempre cai Penetrando a minha alma, transtornando. O sonho pouco a pouco desabando, Até a fantasia já me trai. Meus olhos procurando em Adonai A paz anunciada. Tropeçando, Eu sinto que as tristezas vêm em bando. Nem mesmo a poesia me distrai. Do quanto imaginara sou resumo, Os erros na verdade, eu sempre assumo, Mas nada mais me impele a prosseguir. Talvez na morte eu tenha a recompensa. Incenso se perdendo em noite imensa O pouco que inda resta a se esvair...
78 A chuva em transparência te tocando Deixando a sombra bela de teus seios, Colado em tua pele, desnudando Mostrando a maravilha, devaneios. Sentindo o teu perfume, teus enleios Os olhos do prazer já derramando Procuro te tocar, diversos meios, Distante. Eu te pergunto e não sei quando Eu poderei tocar tua nudez Entregue totalmente, louco e teso, Dançando meu delírio em fogo aceso Aguardo tão somente pela vez De ter a nossa noite desejada, Em louca tempestade demarcada...
79 A chuva que caía a noite inteira, amor Agora se dispersa e o sol já vem surgindo Trazendo pra manhã um brilho encantador, Promessa de outro dia imensamente lindo. Amar e ser feliz, entregue a tal torpor. A dor já se acabou em chuva se esvaindo Da tristeza em desamor; felicidade vindo Ternura em teu sorriso, um lume sedutor... Esqueça o temporal, a lua nascerá Em belo plenilúnio estrelas voltarão. A sorte renascendo, eu sinto desde já A chama da paixão intensa e sem limites, E eu peço, minha amada, não tema nada não, No amor em liberdade, espero que acredites...
80 A chuva que caindo dos meus olhos, Expressa uma saudade de um olhar Que quando foi embora, mil abrolhos Plantou no jardim. Mal cultivar. As lágrimas que caem, diamantinas, Qual prisma sob o sol em sete cores Permitem uma miragem cristalina Trazendo em esperança outros amores. Embora tão cansado desta espera, Ao ver os olhos mansos da morena Promessa de uma nova primavera Num belo amanhecer sei que se acena No límpido cenário que se borda, O peito que hibernara, agora, acorda...
81 A chuva que caiu naquela serra Caiu dentro de um peito sonhador Molhando, com carinho toda a terra, Matando, no meu peito, um grande amor... Você fugiu depressa e me deixou, Sozinho nesta estrada tão comprida O tempo foi passando e só restou Tristeza dolorida em minha vida... Mas hoje que eu lhe vejo tão distante E sinto no meu peito cicatriz De novo vou querer por um instante Que seja, novamente ser feliz... Agora ela já veio, eu esperava; A chuva que hoje cai, tristezas lava...
82 A chuva que caiu ontem à noite Batendo na janela do meu quarto, Por mais que a solidão ainda acoite, O sonho de um amor; jamais descarto. Embora tantas vezes andei farto, Da dor que maltratando feito açoite Nas tramas deste encanto, agora eu parto, Querendo muito além de um vão pernoite. O amor sabendo disto, numa espreita, Prepara outra tocaia. O que fazer? Minha alma de pensar, já se deleita Não quero mais sentir este ar tão denso, Quem sabe ainda posso amanhecer Ao lado deste sol divino, imenso...
83 A chuva que caiu ontem de tarde Deixando a terra assim, toda molhada, Enquanto o sol de agora queima e arde, Promete a noite enfim tão estrelada. A lua que virá decerto cheia, Deitando sobre ti belos clarões No fogo da vontade que incendeia, Viveremos então, mil emoções. Asseclas dos desejos, caminheiros Em busca da real felicidade, De todos os prazeres, prisioneiros No gozo da alegria, a liberdade. E nada impedirá nossos momentos, Distantes dos temores e tormentos...
84 A chuva que, caindo esfria tudo, Alaga de saudade o coração. Distante de teus olhos, fico mudo. Tomado pela dor da solidão... Porém uma esperança vem, contudo, Em forma de desejo e de ilusão... Que sabe se contigo, amor eu mudo E as enxurradas sejam de verão... Poder tocar depois da tempestade Teu corpo, uma bonança sem receios... Nos devaneios; vôos de verdade Chegando no teu quarto de mansinho, Deitar minha cabeça nos teus seios, Aquecendo esta tarde com carinho...
85 A chuva salpicando, ouvi chamar teu nome... Pretendo conhecer tuas farsas, enganos... Vou devagar, sofrendo, o mundo inteiro some... Ninguém quer mais saber de todos os meus planos... Estrelas percorrendo, a tristeza consome Não deixa nem restar sequer sombra de panos. A noite me trazendo a vigorosa fome. Os amores, por certo irão morrer tempranos... Procuro por teu canto, a sombra não ecoa... Cascalho, o que me resta, a festa terminou... A minha asa esquecida, inválida não voa.. A noite que se acaba aguarda novo dia... Um pássaro sem ninho aqui, quieto, ficou... Não cantarei jamais nosso amor: fantasia...
86 A chuva te molhando, as formas sensuais Aos poucos me tomando este desejo imenso De ter tua nudez, divinas catedrais Amor insensatez, perdendo todo o senso. Teu corpo – um manso cais, aonde ir aportando Prazeres sem iguais. O tempo inteiro penso No amor que a gente fez. O fogo me tomando Querendo-te outra vez; em ti me recompenso. Amor, pura delícia, matando a lucidez, Um corpo, uma carícia... E tudo recomeça. Reflete imensidade a beleza da tez Total felicidade, amor que não tem pressa, Num toque de malícia, além do que tu vês Além da eternidade, amor já se confessa... Tentei fazer um soneto em alexandrino com rimas encadeadas na sexta e na décima segunda, espero que tenhas gostado. te agradeceria se comentasses. abraços
87 A chuva vai caindo devagar, Batendo na janela e em cada pingo Vontade de contigo, amada estar, Assim da solidão, cruel, me vingo... Orvalhos que deixaste em minha cama, Molhando de prazeres meus desejos. O vento que teu nome ainda chama Fazendo da esperança bons cortejos. Anseio cada seio em minha mão, Roçando o teu pescoço em arrepios. A chuva, quem me dera, um furacão, Em explosões fantásticas, os cios Garantem cada orgasmo, cada gozo, Delírios num cenário esplendoroso!
88 A chuva vai caindo e traz teu rosto Em todos os lugares, eu te vejo, Meu mundo está desnudo, estou exposto, Às tramas tão banais deste desejo... Procuro me sentar, cadê encosto? A boca está sedenta do teu beijo, O sol qual esperança morre, posto; Nublando todo o céu, finda azulejo... A chuva recomeça nos meus olhos, Em gotas que se escorrem deste olhar. As dores me cegando, são antolhos, A vida vai mudando pouco a pouco, O mundo num eterno transformar Só esta uma saudade... E eu... Tão louco...
89 A chuva vai caindo lentamente Molhando toda a terra, devagar, Meu coração viaja de repente Até que possa enfim já te encontrar. Pensando nos teus lábios, beijo quente, Olhando tão sozinho pro luar, Carinhos que perdi, amor da gente Jamais esquecerei. Vou te buscar Em meio a tanta estrela sei que estás Voando tão distante, em noite fria, Estrela que deixei, meu astro guia, A chuva, esta saudade, então me traz. Nas gotas que desabam sobre mim, Molhando o nosso amor, que eu sei sem fim... 90 A chuva vai caindo no telhado, Chamando para a cama, o meu amor, Eu sei o quanto estou apaixonado, Só quero, neste frio, o teu calor... Preciso te encontrar, minha menina, Morena doce flor do meu desejo. Nossa noite, louca, não termina, Apenas recomeça em cada beijo... O nosso amor, sincero e tão infindo, Nos arrepia sempre num prazer. Amar-te! O coração batendo lindo Buscando o teu carinho pra viver... Meu peito, em sobressaltos, vai vivendo; Sem teu amor, melhor eu ir morrendo...
91 A chuva vai caindo no telhado, Molhando toda a terra, meu quintal... Vontade de te ter aqui do lado... Morena, tão bonita e sensual. Ao ver o teu retrato emoldurado, Sorriso belo e franco, natural, Meu coração batendo, disparado, Aguando essa saudade sem igual.. Morena delicada, amor sincero, A noite te esperando passa lenta... Tu és o que desejo, o que mais quero, Paixão que nos tomou, não cessa mais. Ao mesmo tempo é suave e violenta, Eu te amo, meu amor... assim... demais!
92 A chuva vai caindo o tempo inteiro, Em gotas lagrimadas da agonia. Uma esperança em mim, cedo morria, No sacrifício triste de um cordeiro. Amor que desenhara derradeiro, Distante do meu quarto adormecia, A voz do vento como que dizia Amor não voltará; irás primeiro... Em luta violenta, a natureza, Nos raios rebrilhando com beleza Formava vaga-lumes no meu céu. Surgiste já trazendo estrelas belas, Da dura solidão em frágeis velas, O amor se refazendo, em alvo véu...
93 A chuva vem caindo mansamente, Beijando toda a terra, acende o cio. Brotando nova vida da semente, Recomeçando o tempo, novo estio... A paisagem muda totalmente, Já não parece o campo mais vazio, O cheiro deste mato, de repente, Transformação divina em novo fio De esperança de vida sobre a terra, Reflexo tão profundo deste amor Que a vida, por si só, traz e se encerra No mago sentimento que se fez Nas mãos do nosso amado Criador, Que o homem por desleixo já desfez...
94 A chuva vem chegando devagar, Te espero em nossa casa... o tempo voa... Vontade de te ter e me entregar... A vida do teu lado é sempre boa; A brisa que se chega lá do mar; O vento em tua voz, meu peito ecoa... Total ansiedade me tomando, Aos poucos te percebo bem mais perto... Lá fora azul do céu, mesmo nublando, Uma esperança traz o tempo aberto. A chuva que virá, se aproximando, Garante esse alagar em meu deserto... Num aguaceiro lindo de emoção, Molhando nosso quarto de paixão...
95 A chuva; a tempestade, em toda a gente Num frêmito terrível sempre tem Sabor de uma saudade de outro alguém Que há muito já se foi, estando ausente. Parece que num átimo pressente A solidão eterna, sem ninguém, Chamado doloroso de um Além, De um vazio constante e mais presente. A paz que derradeira, não mais creio, Distante do que fora um ideal Mostrando uma agonia que receio. Na chuva necessária, a brotação, Refaz-se toda a vida, num jogral Brincando com meu louco coração...
96 A cíclica esperança natimorta, Implícitas verdades sonegadas. A lâmina afiada que nos corta, As bocas quando em fome desdentadas. O velho continente que se vende E troca esta pelagem tão imunda, Cadáveres de mártires, de Allende Enquanto a mão senil já se aprofunda. Nerudas e Buarques, os Guevaras, Meninos destroçados por canhões, Dos sonhos arrancados, pelotões, As marcas das torturas, paus de araras. A velha ideologia aposentada Jogada no porão ou sob a escada...
97 A claridade toma toda a grei Desejos que encontrei; agora tantos, A lua é benfazeja, disso eu sei, E dela amor recebe seus encantos, Nos mares desta lua eu mergulhei, Às vezes afogando duros prantos. Por tantas vezes, saiba, eu te amei, Olhando para a lua em belos mantos. Embora um cavaleiro e seu alforje Roubou-a num instante: velho Jorge Tornando bem mais clara esta amplidão, E tendo dos teus olhos farto brilho, A cada novo passo, amor eu trilho, Vibrando bem mais forte, o coração...
98 A coca quando cola coca cola O karma quando o lama no nirvana A lama que se trama não se engana E faz deste remendo medo escola O pé na lama chama e tanto atola Que vaga sem ter vaga e se explana A fome que não come não se esgana E o resto sem rastilho tudo empola O pântano se espanta com Brasília O mundo se remenda sem presilha No seio tão preciso da morena. Asseio com licor depois é cama O fogo que refoga a velha chama E sempre que quiser sem dura pena.
99
A corda se arrebenta para o fraco E quase sempre traz uma lambada, Nas costas da gentalha malfadada, Jogando o pobre assim para o buraco Da vida eu desejava mais que um naco Porém já não me sobra quase nada Senão a boca torta e desdentada, Na dura caminhada enfim me empaco. Pacotes mais pacotes, grana some, Um velho vira-latas se virando, Andando solitário busco um bando E o que resta, a vida vem e come. Malando que é malandro, deputando E a gente do outro lado passa fome...
100
A corja vende amor, rouba o perdão Nos bancos das Igrejas, tribunais Abutre se disfarça em vendilhão Engorda a súcia cada vez bem mais. Quem dera se eu tivesse o mesmo açoite Que um dia o Bom Judeu usou sem dó, Talvez ainda pudesse em plena noite Mostrar o amanhecer, dourar o pó Do qual nós fomos feitos, e voltamos Depois da caminhada sobre a Terra, Cuspindo nos venais e cruéis amos Sentindo o puro amor que assim se encerra Nos olhos de um amigo em cruz, liberto, Aguando em esperanças o deserto... Marcos Loures
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